IAB-DF divulga o documento “Por uma Agenda para as cidades brasileiras”

São Paulo. Image Courtesy of newcomers-sp       São Paulo. Image Courtesy of newcomers-sp

O perfil das cidades brasileiras passou por grandes transformações nos últimos 60 anos. Se na década de 50 a taxa de urbanização era de 36%, hoje somos 175 milhões de pessoas vivendo em centros urbanos. Infelizmente, esse crescimento não foi acompanhado de políticas públicas que ajudassem a inserir esses novos habitantes no território de maneira planejada. Pensando nesse problema, o IAB-DF, por meio da Comissão de Políticas Urbanas, divulgou, no dia 11 de junho, o documento “Por uma Agenda para as cidades brasileiras”, que procura expor e analisar a problemática de urbanização no Brasil.

Leia a seguir o documento na íntegra.

Por uma Agenda para as cidades brasileiras

Na oportunidade da passagem de um ano das manifestações de junho de 2013, iniciadas a partir dos problemas urbanos das grandes cidades do país, o Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento do Distrito Federal, por meio de sua Comissão de Políticas Urbanas, instalada em março deste ano, conclui seu primeiro semestre de trabalho com este documento.

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A Cidade é a grande Agenda do século XXI, assim como o foi o ambientalismo a partir da década de 70 do século XX.
   O mundo, nesta segunda década do século XXI, já tem mais população urbana do que rural, fato ocorrido no Brasil em meados da década de 60 do século passado. O país conta mais de 85% de população urbana, dado revelador da ausência de políticas efetivas sobre a ocupação no território de modo articulado e planejado.
   Grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas não são a causa das mazelas no espaço urbano brasileiro, mas escancaram nossos problemas de gestão e de governança, bem como nossas deficiências estruturais, tais como a de mobilidade e, em especial, a exclusão sócio-espacial. Esses problemas levam gradativamente à resolução dos conflitos pela idéia da “justiça com as próprias mãos”, por um lado, e pelo uso da força, truculência estatal e autoritarismo, por outro.
   Não se conhece, na história recente, o fenômeno de  êxodo urbano. Urge, portanto, reorganizar o território, descentralizando-o e articulando-o em redes de pequenas e médias cidades, evitando a polarização em poucas metrópoles.
   Necessitamos de cidades compactas, o que não implica densidade desmesurada. Entretanto, ao contrário do que se intui a partir da percepção do “caos urbano”, calcado na imobilidade e no privilégio ao automóvel particular, as metrópoles brasileiras de hoje são significativamente menos densas do que eram 50 anos atrás.
   A expansão desordenada, patrocinada pelo Estado e pela sociedade brasileira por meio de projetos e políticas urbanas desintegradas, promove a exclusão sócio-espacial ao distanciar a parcela mais pobre da população do acesso aos serviços públicos.
   Vidas são perdidas em horas gastas no trânsito, problemas de saúde pública são exacerbados e o custo de uma economia imóvel torna-se alto. Todo o Brasil perde com a opção pelo rodoviarismo individual.
   Uma ocupação territorial mais intensiva que extensiva consome menos recursos naturais e tende a tornar-se socialmente mais justa, viabilizando o direito à cidade, como preconiza o Estatuto da Cidade.

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Os dados censitários mostram que mais do que novas casas, precisamos reconstruir a noção de cidade, qualificando e reformando imóveis precários, sobretudo aqueles abastecidos de infraestrutura. Responsabilidade com a cidade e o meio ambiente é não desperdiçar recursos.
   O programa Minha Casa Minha Vida, apesar de correções bem-vindas ao longo de sua ainda curta história, vem se apresentando, na prática, mais como incentivo e subsídio estatal para a economia, do que propriamente uma política habitacional. Não leva em conta a complexidade do espaço urbano e soma casas, mas não faz cidade. Pior: torna-se vítima dele mesmo ao promover o aumento excessivo do custo da terra, afetando e até desestabilizando a economia nas cidades pequenas e médias.
   A localização e qualidade da inserção urbana e da própria obra construída devem ser o tema central na política habitacional. Entre outras ações, é preciso levar a população, sobretudo a mais carente, a ocupar os centros abandonados das cidades, aproximando a moradia do trabalho, da oferta de serviço e das opções de lazer.

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Os programas de subsídio fiscal à indústria automobilística e de combustíveis, em conjunto com a opção pela ocupação espraiada, vêm  agravando o caos urbano ao promover a “imobilidade” nas cidades brasileiras. Para as grandes cidades, só há solução para o transporte público a partir de um planejamento que evite o movimento pendular e constitua cidades sem pólos predominantes, com fluxos difusos, integrando transporte de alta capacidade e eficiência, isto é, metrô e trem, aos de média e pequena capacidade de abrangência vicinal, como os ônibus.
   Não há política urbana calcada na mobilidade e no direito à cidade que não gere conflitos e seja, em um primeiro momento, impopular, assim como não há política de transporte público que não dificulte e imponha restrições ao automóvel individual.

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Planejamento Urbano e Territorial não se faz obedecendo aos tempos e interesses eleitorais. Necessitamos de um profundo e novo pacto social, a partir da constituição real do poder comunitário, que considere a universalização e a qualificação do que é público.
   Para tanto, o IAB-DF, por meio de sua Comissão de Políticas Urbanas, reivindica a criação de Institutos de Planejamento Urbano, como autarquias independentes, multidisciplinares, com atribuição para formulação de políticas urbanas e habitacionais, mas também com o poder de programar e projetar as cidades brasileiras.

A Comissão de Políticas Urbanas do IAB-DF.

Para baixar o documento em .pdf, clique aqui.

Fonte:Romullo Baratto. "IAB-DF divulga o documento “Por uma Agenda para as cidades brasileiras”" 29 Jun 2014. ArchDaily. Accessed 30 Jun 2014. http://www.archdaily.com.br/br/623204/iab-df-divulga-o-documento-por-uma-agenda-para-as-cidades-brasileiras?utm_source=ArchDaily+Brasil&utm_campaign=fe9203214e-Archdaily-Brasil-Newsletter&utm_medium=email&utm_term=0_318e05562a-fe9203214e-407774757

O futuro da mobilidade está nos pés

Em 1939, o futuro era a cidade para os carros. Deu no que deu.
Leia o editorial do Mobilize Brasil

Nesta semana, assistimos a uma apresentação do pesquisador Lincoln Paiva que lembrou a mostra "Futurama, construindo o mundo de amanhã", de 1939. A exposição foi organizada pela General Motors, durante a Feira Mundial de Nova York, para mostrar aos cidadãos do mundo como seriam as cidades por volta de 1960, quando o automóvel seria a principal forma de transporte. A "futurama", de fato, virou realidade, com suas autopistas repletas de carros, em todas as partes do mundo. Mas as pessoas, ao contrário do que imaginavam os homens de 1939, não estão felizes e sorridentes no interior de seus carros e nem fora deles.

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Futurama, 1939: a cidade pensada para o carro virou realidade. E agora?
Nesta mesma semana, publicamos um texto sobre a interessante exposição "Direito de Passagem, Mobilidade e Cidade", em cartaz na Sociedade de Arquitetos de Boston (EUA). A mostra, que  segue aberta ao público até maio próximo, reúne informações sobre inovações tecnológicas que poderão otimizar o ir e vir nas cidades. E também se debruça sobre o modo como os humanos - serão mais de 5 bilhões nas cidades até 2030 - ocupam e se movem nos espaços urbanos.

A cidade do futuro, ensina a exposição, até poderá ter carros voadores, mas provavelmente a maior parte das viagens será feita a pé, de skate, bicicleta, metrô, ônibus e bondes elétricos, sem fios, como revela o miniartigo de nosso colaborador Cláudio Mantero, de Portugal. Ou, ainda, por meio de carros compartilhados, como aponta a iniciativa posta em prática no Recife, uma das primeiras cidades no Brasil a utilizar carros elétricos e aplicativos para a localização dos veículos disponíveis.

A propósito, o governo do estado de Pernambuco anunciou ontem um plano para dotar a capital de 590 km de ciclovias nos próximos dez anos. A proposta envolve o investimento de 354 milhões de reais, parte da Prefeitura do Recife, parte do Estado. É uma boa notícia e esperamos que não seja apenas mais um factoide publicitário pré-eleitoral.

Mais ao norte, em Belém, ciclistas e pedestres criticam a estranha obra realizada pela Prefeitura local, que instalou uma faixa de asfalto sobre a calçada de uma avenida como forma de estimular o compartilhamento do pavimento entre andantes e pedalantes. A novidade não agradou ninguém, e em tempo, a Prefeitura anunciou que a obra ainda não está pronta. Vamos aguardar.

De São Paulo vem a notícia de que o site Catraca Livre e o pessoal do aplicativo Colab irão publicar um relatório sobre a (má) situação das calçadas na capital paulista. O mapa foi elaborado a partir da colaboração de voluntários, que postaram fotos e comentários sobre os passeios públicos da cidade, tal como fez o Mobilize entre 2012 e 2013.

Os organizadores também pretendem entregar este novo relatório ao prefeito da cidade, Fernando Haddad. Esperamos que desta vez ele leia os dois documentos e inicie já uma ampla campanha para melhorar este importante item da mobilidade urbana. Óbvio demais?

Cidade futurista, segundo a Audi: bicicletas de al

Futuro segundo a Audi: bikes, metrôs e...carros!

créditos: Höweler+Yoon Architecture

Fonte: http://www.mobilize.org.br/noticias/5829/o-futuro-da-mobilidade-esta-nos-pes.html

Workshop Internacional Arquisur para estudantes de arquitetura e urbanismo

O Workshop Internacional Arquisur 2014, que acontece de 28 de agosto a 01 de setembro, tem como foco de discussão a habitação. A proposta é reunir estudantes de 29 Faculdades de Arquitetura, de diferentes países, para debater projetos, habitat, dimensionalidade, espacialidade, processo de desenho, entre outros assuntos.

Podem participar do workshop alunos do último ano do curso de Arquitetura e Urbanismo, que tenham interesse pelo tema em debate e familiaridade com os meios de comunicação online. Cada Faculdade selecionará entre 10 e 12 estudantes por contexto acadêmico. Cada unidade acadêmica selecionará os alunos através do seu próprio sistema de convocação.

No Brasil, as faculdades que participarão são: Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal de Pelotas, Universidade Federal de Rio Grande de Sul, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal de Santa María e USP – São Carlos.

As inscrições podem ser feitas aqui. Para mais informações, acesse a página do Taller Virtual en Red Arquisur.

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Via IAB

Fonte:Romullo Baratto. "Workshop Internacional Arquisur para estudantes de arquitetura e urbanismo" 28 Jun 2014. ArchDaily. Accessed 29 Jun 2014.  http://www.archdaily.com.br/br/623179/workshop-internacional-arquisur-para-estudantes-de-arquitetura-e-urbanismo?utm_source=ArchDaily+Brasil&utm_campaign=70ab518f8a-Archdaily-Brasil-Newsletter&utm_medium=email&utm_term=0_318e05562a-70ab518f8a-407774757

O que é uma cidade compartilhada?

© I. Prefeitura de Santiago, via Flickr     © I. Prefeitura de Santiago, via Flickr

Cidades compartilhadas são aquelas onde os habitantes contam com plataformas - digitais ou presenciais - para se organizarem e compartilharem  espaços, serviços ou bens. Dessa forma, as cidades procuram se converter em lugares mais animados e sustentáveis.

Embora como conceito não as temos tão presentes, os meios para fazer das cidades lugares compartilhados estão mais próximos do que imaginamos. Por exemplo, quando uma organização comunitária lança uma campanha para arrecadar fundos e financiar um projeto como uma intervenção urbana - falamos de financiamento coletivo ou crowdfunding, uma das práticas que torna possível as cidades compartilhadas.

Para que mais pessoas conheçam esse conceito e suas potencialidades, o think tankLaboratorio para la Ciudad listou quatro categorias do que é possível compartilhar nas cidades. Enquanto isso, as organizações canadenses Cities for People e Social Innovation Gereration (SIG) propuseram cinco ideias para implementar essas práticas.

Confira as definições a seguir.

De acordo coma definição do Laboratório para a Cidade, os produtos e serviços que podem ser divididos em uma cidade são classificados em:

1402953723_bicicletas_arriendo_publicas_providencia_por_bilobicles_bag_flickr   © bilobicles bag, via Flickr

1. Conhecimento compartilhado

Como as cidades compartilhadas podem ser construídas a partir de experiências físicas e digitais, o think tank mexicano aponta o Moodle e a Wikipedia como exemplos de ferramentas de aprendizagem, já que através delas a informação é reunida e compartilhada.

2. Consumo de bens e serviços

Os sistemas de empréstimo de bicicletas que existem em diversas cidades do mundo são uma prática de cidades compartilhadas, pois são bens usados por períodos de tempo determinados e em espaços públicos.

3. Financiamento coletivo

Nessa categoria entram as doações que as pessoas fazem a certos projetos culturais, sociais e tecnológicos através de plataformas coletivas como Kickstarter e Catarse.

4. Produção

“Faça você mesmo” (ou DIY – Do It Yourself) é como trabalham certos grupos que procuram fabricar seus próprios produtos; algo semelhante ao que ocorre na agricultura urbana.

Por sua vez, as organizações Cities for People e Social Innovation Gereration (SIG), propõem o seguinte:

1402953348_mes_de_la_tierra_plantabanda  Oficina de horta comunitária, via Facebook.

1. Práticas de economia colaborativa

Provavelmente o crowdfunding é uma das práticas mais conhecidas nessa categoria. Entretanto, existem outras que já podem ser vistas em diversas cidades, com a aprendizagem, consumo e produção colaborativa.

Nesse sentido, um exemplo de aprendizagem coletiva são as oficinas de agricultura urbana organizadas pela ONG Plantabanda juntamente com os moradores de alguns bairros de Santiago, Chile, que ensinam a construir hortas que produzirão, num futuro próximo, parte de seus alimentos.

Quanto ao consumo colaborativo, um bom exemplo são as feiras de bicicletas e de reciclagem; estas oferecem uma alternativa aos cidadãos, que podem escolher comprar produtos usados aos novos.

2. Receber a mudança

Adotar estas práticas faz com que os cidadãos possam ser parte desse tipo de atividade de um modo muito mais próximo, já que em certos casos são elas acontecem em lugares frequentados cotidianamente por eles.

3. Tudo é questão de compartilhar

É comum guardarmos em casa objetos sem utilidade; no entanto, se estes fossem compartilhados, não beneficiariam apenas quem os recebe, mas também entrariam num ciclo mais amplo de reciclagem de recursos preexistentes.

4. Conectar as necessidades

As redes de contato entre vizinhos e pessoas de outros bairros surgem por necessidades comuns. Nesse sentido, encontrar alguém para dividir o carro ou praticar algum exercício pode acontecer através de conexões comunitárias que permitam desenvolver novos mercados. Em Londres, um programa que já está funcionando é o GoodGym, que põe em contato vizinhos que estão interessados em se exercitar na companhia de outras pessoas.

5. Tendência transformadora

Um ponto em comum das práticas de economia colaborativa é a tecnologia; esta possibilita a conexão entre os organizadores e os demais cidadãos. Também nestas práticas são comuns três fatores: a confiança é centralizada em redes comunitárias; elas permitem ver diferentes realidades econômicas presentes numa cidade; e proporcionam transformações nas comunidades (e, em menor medida, em suas economias).

Via Plataforma Urbana. Tradução Camilla Ghisleni, ArchDaily Brasil.

© I. Prefeitura de Santiago, via Flickr
© I. Prefeitura de Santiago, via Flickr
© bilobicles bag, via Flickr
© bilobicles bag, via Flickr
Oficina de horta comunitária, via Facebook.
Oficina de horta comunitária, via Facebook.

Fonte:Constanza Martínez Gaete. "O que é uma cidade compartilhada?" 29 Jun 2014. ArchDaily. Accessed 29 Jun 2014.  http://www.archdaily.com.br/br/623208/o-que-e-uma-cidade-compartilhada

Iwan Baan entre os jurados do concurso de fotografia "Avant Guardian"

Makoko, Lagos, Nigéria (Obra: Makoko Floating School by NLE Architects). Imagem © Iwan Baan    Makoko, Lagos, Nigéria (Obra: Makoko Floating School by NLE Architects). Imagem © Iwan Baan

A revista Surface Magazine está relançando seu famoso concurso de fotografia Avant Guardian, uma competição que ajudou a deslanchar a carreira de muitos grandes fotógrafos. Os editores da Surface e o renomado júri - composto pelos fotógrafos Iwan Baan, Johan Lindeberg, Klitos Teklos (Air Paris), Benoit Lagarde (Splashlight), e Keren Sachs (Offset) - selecionarão 10 finalistas. Os trabalhos escolhidos serão publicados na edição de outubro desse ano da revista Surface e expostos em exibições itinerantes.

Para inspirá-lo a participar, reunimos a seguir algumas impressionantes fotografias de Iwan Baan. O prazo para as inscrições é quinta-feira, 24 de julho.

39_tower_studio_tsa_2491    Fogo Island, Newfoundland, Canadá. Imagem © Iwan Baan45_larabanga_2843     Larabanga, Gana. Imagem © Iwan Baan50_home_for_all_tia_7004       Rikuzentakata, Japão. Imagem © Iwan BaanArk_nova_isozaki_5269      Matsushima, Japão. Imagem © Iwan Baan57_perot_museum_ma_2799     Dallas, Texas, EUA . Imagem © Iwan Baan56_yinxian_1891  Nanping Village, Anhui Province, China. Imagem © Iwan Baan04_shodoshima_rna_0347    Shodoshima, Japão. Imagem © Iwan Baan54_new_york_12-10_b_3607     Nova Iorque, EUA (durante o furacão Sandy). Imagem © Iwan Baan

Fonte:Quirk, Vanessa. "Iwan Baan entre os jurados do concurso de fotografia "Avant Guardian"" [Iwan Baan to Judge Avant Guardian Photography Contest ] 28 Jun 2014. ArchDaily. (Romullo Baratto Trans.) Accessed29 Jun 2014.  http://www.archdaily.com.br/br/623184/iwan-baan-entre-os-jurados-do-concurso-de-fotografia-avant-guardian?utm_source=ArchDaily+Brasil&utm_campaign=70ab518f8a-Archdaily-Brasil-Newsletter&utm_medium=email&utm_term=0_318e05562a-70ab518f8a-407774757

Lina Bo Bardi: Um segredo brasileiro muito bem guardado

MASP, 1968. Image © Pedro Kok     MASP, 1968. Image © Pedro Kok

Texto escrito por Jason Farago e originalmente publicado na BBC Culture com o título “Lina Bo Bardi: Brazil’s best-kept secret”.

Como nenhum outro país de seu tamanho, o Brasil projetou seu caráter para o mundo através da arquitetura moderna: os edifícios governamentais e projetos habitacionais de Brasília, os arranha-céus ao longo da Avenida Paulista, em São Paulo, e seus palácios do prazer – o Sambódromo o Estádio do Maracanã no Rio. Achamos que conhecemos a aparência do Brasil. Apesar de toda a beleza de Copacabana e da Amazônia, o Brasil, em nossa imaginação, é um ambiente construído, um lugar onde o modernismo do Estilo Internacional foi corrompido pelas curvas, por detalhes orgânicos e pela vegetação exuberante.

Uma mulher em particular pode nos ajudar a expandir nosso olhar, não apenas em relação ao Brasil, mas também em relação a toda  arquitetura moderna. Lina Bo Bardi, uma arquiteta italiana com o incomum compromisso de construir para as necessidades da sociedade, estava apenas iniciando na profissão quando Lúcio Costa e Oscar Niemeyer começaram a adaptar o modernismo internacional para propósitos locais. Mas enquanto a arquitetura brasileira passava por sua fase utópica, Bo Bardi se manteve à distância, construindo algumas das edificações mais incisivas e bem sucedidas do Brasil, não somente na parte mais rica, ao sul do país, mas também em sua amada Bahia, região culturalmente vibrante mas em desvantagem econômica. Ela foi chamada de “a arquiteta mais subestimada do século 20,” e apenas no centenário de seu nascimento, finalmente atraí a atenção que merece.

No ano passado o curador suíço, Hans Ulrich Obrist montou uma exposição na residência de Bo Bardi em São Paulo, na qual artistas brasileiros e estrangeiros se envolviam com a vida e obra da arquiteta. Uma exibição itinerante, Lina Bo Bardi: Together, rodou recentemente toda Europa; sua última exibição inaugurará no Deutches Architektur Zentrum em Berlim. E no dia 13 de junho o museu Johann Jacobs em Zurique abriu uma temporada de seis meses dedicada à Lina Bo Bardi com uma exibição que foca em seu legado na Bahia e como essa região, influenciada pela cultura africana, influiu em seu obra ao longo de sua vida. Roger M. Buergel, curador da exibição em Zurique, argumentou que “Bo Bardi é excepcional pelo entendimento formal dessa... entidade vasta e misteriosa chamada ‘o social’”, e essa é a melhor razão para analisarmos seu trabalho hoje em dia. Num momento em que muitas arquiteturas parecem projetadas para fotografias promocionais desprovidas de pessoas, Bo Bardi fez prédios para a interação, a experimentação, enfim, a vida.

Projetar para a vida

Achilina Bo, como foi batizada, nasceu em Roma em 1914 e após seus estudos foi trabalhar em Milão para Gio Ponti - arquiteto e designer que também fundou a notável revista Domus, editada posteriormente por Lina. Em 1947, quando seu marido Pietro Bardi foi convidado a fundar um novo museu de arte no Brasil, o casal se mudou para São Paulo. Um de seus primeiros projetos no Brasil foi o de sua própria residência, a Casa de Vidro, no então suburbano bairro do Morumbi: uma inserção harmoniosa de uma caixa transparente sobre palafitas em meio à exuberante vegetação brasileira. Internacional e local, urbana e tropical, a Casa de Vidro de Bo Bardi carrega as marcas do racionalismo italiano - os materiais industriais; as formas simples e repetidas - mas também incorpora elementos da arquitetura rural tradicional brasileira, como dois volumes compactos e sólidos que sustentam a caixa de vidro da parte traseira. 

1323699434_selmie_1     Casa de Vidro, 1951. Image © flickr selmie

A Casa de Vidro foi precursora de seu mais importante projeto de meados do século passado: o lar permanente do Museu de Arte de São Paulo, que seu marido estava dirigindo a partir de um espaço temporário. O MASP foi criado para expressar a ascensão do Brasil no cenário internacional - bem como a subida para a riqueza, a São Paulo cosmopolita contra o seu tradicional rival, o Rio de Janeiro - e Bo Bardi propôs uma edificação ousada e icônica digna dessa tarefa. Num terreno privilegiado na Avenida Paulista, o museu consiste em uma caixa de concreto e vidro suspensa a oito metros do chão, sustentada por pilares vermelhos e que cria um grande espaço público de encontro. Ela o descreveu como sua "estufa tropical" e hoje em dia muitos paulistanos ainda relaxam, fofocam, praticam skate, e, ocasionalmente, protestam no enorme vão do edifício.

1342286032_wikiarquitectura_1311629433_wiki_2      MASP, 1968. Image Courtesy of Wikiarquitectura

Espaços caseiros

Ao contrário de Niemeyer, Costa e os modernistas brasileiros mais famosos, Bo Bardi sempre insistiu na importância, até na supremacia, da própria cultura brasileira, deixada de lado por muitos da elite brasileira em favor de um internacionalismo que na verdade não passava de um europeísmo. O coração do Brasil, para Bo Bardi, não era o sul metropolitano, mas a Bahia, a região que adorava. Ela a chamava de “o mezzogiornobrasileiro” - fazendo uma analogia entre o norte mais pobre, com sua região vasta e semiárida conhecida também como sertão, e o sul subdesenvolvido de sua Itália. No início dos anos de 1960 quando morava na capital baiana, projetou e dirigiu dois museus, um dos quais, o Museu de Arte Popular, repleto de artefatos locais expostos de um modo completamente diferente das hierarquias modernistas ocidentais.

No entanto, em 1964, apenas seis meses após a abertura do Museu de Arte Popular, as forças armadas realizaram um golpe de Estado que derrubou o governo democrático do Brasil. "Os acontecimentos de 1964 calaram a Bahia e todo o Brasil por quase 20 anos", escreveu Bo Bardi; de fato, o governo militar fechou o Museu de Arte Popular quase que imediatamente. Muitos artistas e arquitetos foram exilados - Niemeyer, um comunista obstinado, foi para o exílio na França em 1966 e permaneceu no exterior por duas décadas. Bo Bardi ficou. Ela não recebeu grandes encomendas de projeto por quase uma década - dedicando-se a projetos teatrais e de curadoria - e sua insistência em permanecer no Brasil explica, de alguma forma, o quase desconhecimento de sua obra fora do país.

No início dos anos de 1980, no entanto, conforme a rigidez da ditadura se amenizava, Bo Bardi concluiu um dos projetos mais extraordinários da recente arquitetura brasileira: oSESC Pompeia, um centro social e cultural adaptado a partir de uma fábrica obsoleta de tambores de óleo no centro de São Paulo. O projeto inclui campos de futebol, uma piscina e um teatro. Ao invés de derrubar a estrutura de concreto pré-existente, Bo Bardi analisou como os habitantes locais já a estavam usando, e, então, refinou seu projeto de modo a favorecer as funções realmente necessárias para a comunidade. Numa cidade e num país com profundas divisões de classe, o SESC Pompéia de Bo Bardi é o raro espaço urbano aberto a todos - de frequentadores de galerias internacionais a antigos moradores dos bairros procurando companhia para uma partida de xadrez.

2       SESC Pompeia, 1986. Image © Pedro Kok

Em 1958, numa palestra em Salvador, Bo Bardi definiu a arquitetura como "uma aventura em que as pessoas são chamadas a participar intimamente como atores". Apesar de toda a beleza e surpresa de seus projetos construídos, o maior legado de Bo Bardi foi estabelecer um vocabulário arquitetônico que favorecesse a colaboração, participação e mistura social, e ela viveu isso tanto quanto pregou. Ela não tinha escritório, preferindo trabalhar nos canteiros de obras durante o dia e em casa à noite; refinou seus projetos anos após serem construídos, ouvindo e colaborando com as pessoas que passaram por eles. Poderiam seus excepcionais edifícios terem surgido em qualquer outro país? Ou será que Bo Bardi precisava do Brasil para romper os pressupostos de um chamado estilo internacional e estabelecer uma forma mais social e mais democrática de arquitetura? Suas palavras sugerem a segunda opção: "Eu não nasci aqui. Eu escolhi viver neste lugar. É por isso que o Brasil é meu país duplamente."

MASP, 1968. Image © Pedro Kok
MASP, 1968. Image © Pedro Kok
MASP, 1968. Image Courtesy of Wikiarquitectura
MASP, 1968. Image Courtesy of Wikiarquitectura
Casa de Vidro, 1951. Image © flickr selmie
Casa de Vidro, 1951. Image © flickr selmie
SESC Pompeia, 1986. Image © Pedro Kok
SESC Pompeia, 1986. Image © Pedro Kok

Fonte:Romullo Baratto. "Lina Bo Bardi: Um segredo brasileiro muito bem guardado" 27 Jun 2014. ArchDaily. Accessed 28 Jun 2014.  http://www.archdaily.com.br/br/623151/lina-bo-bardi-um-segredo-brasileiro-muito-bem-guardado?utm_source=ArchDaily+Brasil&utm_campaign=14d1efd7d8-Archdaily-Brasil-Newsletter&utm_medium=email&utm_term=0_318e05562a-14d1efd7d8-407774757

O Ato Arquitetônico / Igor Fracalossi e Ruth Verde Zein

© Archivo Histórico José Vial Armstrong     © Archivo Histórico José Vial Armstrong

«Falamos ainda do ‘nascer’ e do ‘pôr’ do sol. Fazemo-lo como se o modelo copernicano do sistema solar não houvesse substituído irreversivelmente o ptolomaico. Metáforas vazias, figuras erodidas de discurso, habitam nosso vocabulário e gramática. Elas são pegas, tenazmente, nas andaimadas e recônditos de nossa fala comum. Lá elas vagam como velhos trapos ou fantasmas de desvão.»

Assim George Steiner começa seu livro Presenças Reais: falamos ainda do pôr-do-sol. Que paradoxo este entre o saber e o querer, entre conhecimento e vontade, entre verdade e beleza. Não nos interessa o porquê de que seguimos falando do pôr-do-sol, senão o fato de que seguimos falando. Sim, seguimos falando, todos os dias. Ainda. E, sim, seguimos sabendo que o sol é imóvel e é o centro do sistema solar. Um não altera o outro. Eis o paradoxo. Que a certeza de um não supere a beleza do outro nos parece o ponto. Que o objetivo e absoluto de um não negue o subjetivo e o relativo do outro nos abre as portas para escrever este ensaio.

Triada    A tríada arquitetônica

Distinções

Neste escrito foram utilizados termos terminados por –ção para reforçar o caráter de ação de cada um deles. Eles são os termos fundamentais e que tem por si mesmos e em conjunto a condição de hipóteses. Para precisar cada termo, se faz uso da lógica linguística, mais que de definições de dicionário. Mas também buscamos evitar e superar as banalizações e derivações, digamos, invertidas, para assim voltar ao uso de termos que conservam de fato seu caráter essencial. Para cada termo se designará uma letra maiúscula, que serão retomadas ao longo do escrito. Concepción (C) é a ação de conceber ou produzir conceitos (C’); conceitos em quanto ideias, imagens mentais inacessíveis.Projeção (P), por sua vez, é a ação de projetar ou elaborar um projeto (P’). Utiliza-se o termo projeção, e não projetação, deliberadamente. Projetação é um termo derivado inversamente de projeto; projeto tomado em quanto fato ou produto do labor do arquiteto, no sentido de que um vaso é o produto do oleiro. Projetação produz a conotação ou indica mais acertadamente a ação de fazer um projeto, não a ação de projetar; um projetodespojado de sua condição projetiva, isto é, como algo que não projeta para mais além. Ao contrário, o termo, original, projeção conserva esta condição: ainda indica a ação de lançar para além, e não de produzir algo. Logo, se utiliza o termo original que denota movimento e tempo, projeção, e não o termo derivado que denota estática e espaço, projetação. No entanto, o termo projeto (P´) é utilizado carregado por ambas condições: o movimento e o fato, ou se poderia dizer que o projeto é um fato em movimento. Edificação (E) é utilizada em quanto a ação de edificar ou de materializar um edifício; edifício em quanto produto material de um labor construtivo num sitio determinado. Não é utilizado em seu lugar o termo construção, pelo motivo que indica a criação de um constructo, que é um termo mais universal e que, portanto, se adequa a mais ofícios e âmbitos, podendo ser material ou não. Utilizam-se duas adjetivações do termo edifício: o edifício imaginário (I) e o edifício real (R). O edifício imaginário (I) é aquele que se produz através da concepção (C); para isso também se utilizará, embora em poucas ocasiões, o termo edificação imaginária ouedificação virtual. O edifício real (R) é aquele que se produz pelo labor construtivo material, a edificação (E), o mero edifício definido anteriormente. Retração (T) é utilizada em quanto a ação de trazer novamente ou de elaborar um retrato (T’); retrato em quanto o produto gráfico da tradução mimética de uma imagem vista ou imaginada, tendo portanto o caráter de representação. Ademais, utiliza-se retração (T) como ação oposta à projeção (P), e em consequência, retrato (T’) como oposto a projeto (P’). Não se utiliza o termo retratação pelo mesmo motivo dado à projetação.

Esquemaobra1     O ato arquitetônico, esquema inicial

O ato arquitetônico[1]

Aqui descreveremos exploratoriamente o ato empreendido pelo arquiteto com o propósito de materializar um edifício. Utilizaremos como ponto de partida o caso hipotético relatado no frontispício deste ensaio (ler A Obra). Temos claro que não se trata do caso normal, este sendo aquele onde o corte entre o âmbito da projeção e o âmbito da edificação é sobressaliente, sendo o arquiteto o encarregado pela concepção e projeção, mas não diretamente pela edificação. Nesse sentido, o caso hipotético é um caso excepcional. Não trataremos de casos parciais, onde o edifício não se materializa, ou onde não há projeção, por exemplo, O ato arquitetônico é o conjunto de ações entrelaçadas no tempo e no espaço empreendidas pelo arquiteto e que determinam a obra de arquitetura.

Assim temos que C + P + E → O

Antes que se inicie qualquer movimento e se gaste qualquer energia em busca de forma, um catalizador (Z) é necessário. Sem ele, não se ativa a reação interna do arquiteto. Sim, uma reação interna ao arquiteto, individual, única, incomensurável. O catalizador não é mais que uma mera vontade: uma decisão, desde a qual não se pode voltar atrás, que determina um ponto inicial preciso. Quero uma casa, dizem ao arquiteto. Farei uma casa, se diz o próprio arquiteto. Diz-se, porém também escuta a si mesmo como se fosse outro. Tal é a sutileza de falar a si mesmo ou ler em voz alta: fala-se e escuta-se, duas ações simultâneas, dois sujeitos. Escuta-se como uma ordem, e a aceita como verdade. A decisão torna-se necessidade, necessidade de algo: uma casa. Algo preciso, e ao mesmo tempo tão genérico. O som casa interpela o arquiteto, que se infla de vontade. Seus instintos são atacados e se exaltam. A onda sonora casa ativa o que lhe é mais natural. Aqui tem lugar o início da reação que lhe levará por uma longa busca por forma. Obviamente a reação só ocorre quando o arquiteto carrega a capacidade da arquitetura. Em outros casos, será como por a nona sinfonia de Beethoven a uma pessoa que gosta de techno. Ou seja, no arquiteto devem existir os reativos (A) em estado latente, à espera do catalizador que vai ativá-los.

Assim temos que A + Z → C + P + E → O

1 Concepção

O catalizador da reação –a vontade, a decisão, o pedido, a ordem, a alucinação– instala o gérmen de conceito que se instala na mente do arquiteto. O som casa é esse gérmen. Interpela o conceito de casa já formado na mente do arquiteto. Isso é a ativação Z + A, quando a função tempo é igual a 0. E sua primeira fase é a concepção. Não pode ser outra. A não ser que o arquiteto tenha o despropósito e a inocência de uma criança, que é um ente meramente ativo, e ainda não reflexivo. O arquiteto reflete; reflete tão logo escutacasa. Então vem uma primeira imagem, uma primeira forma. Esta ainda não é o esboço do edifício ao qual se propõe, senão sua forma universal; no exemplo: a forma de casa, que somente depois começará a ser transformada, recriada, subvertida, negada, etc. A concepção detém também seu âmbito menos formal, quase aformal, aquele desde onde surge o pensamento reflexivo sobre uma condição, ação ou circunstância. Por exemplo, a reflexão sobre a condição e a ação de habitar, que irão interferir no desenvolvimento da projeção e edificação. A esse âmbito é o que chamaremos de concepção, enquanto que seu âmbito formal chamaremos de edificação virtual ou imaginária.

Assim temos que quando t = 1, Z + A → C. E quando t = 2, C → E | E ⊂ C

O edifício imaginário surge da edificação virtual, que se desenvolve em dois frentes: um construtivo-material e outro plástico-formal, embora ambos operem em base a imagens. Porém o primeiro frente da conta de uma previsão da faina mesma da edificação, enquanto o segundo é em grande medida independente dela, estando vinculada à geometria. O edifício imaginário deve surgir de uma conjunção de ambos os frentes em proporções diferentes.

Assim temos que quando t = 3, E → I | I ⊂ E

Não obstante, o sistema é dinâmico. A edificação virtual surgida da concepção prontamente começa a retroalimentá-la, e logo a alimentar o surgimento do edifício imaginário, que tão prontamente retroalimentará a edificação ao mesmo tempo que a própria concepção.

Assim temos que C ↔ E ↔ I ↔ C

Logo o edifício imaginário começa a crescer em importância dentro da concepção, criando certa independência tanto dela quando da edificação virtual. Em outras palavras, o edifício imaginário começa a cobrar razão de ser; já possui alguma formação.

Assim temos que quando t = 4, o sistema universo U = I ∪ C | C ⊃ E

Ato-arquitetonico-1     O ato arquitetônico, parte 1

2 Projeção

Há quatro frentes desde os quais surge a projeção.
Possibilidade 1: a projeção surge de uma tradução mimética do edifício imaginário, isto é, a tradução de uma imagem mental a uma imagem real. É uma operação formal que se desenvolve num contexto de totalidade a partir do frente plástico-formal da edificação.
Trato de copiar o edifício em minha mente.
Possibilidade 2: a projeção surge do desenvolvimento de um método/etapa/fragmento/detalhe da edificação virtual. É uma operação formal mas que surge de um contexto de parcialidade a partir do frente construtivo-material da edificação.
Trato de precisar um método.
Possibilidade 3: a projeção surge de uma tradução indireta da concepção; a tradução de uma ideia, contida no âmbito aformal da concepção, a uma imagem formal. Surge a partir de um contexto de totalidade.
Trato de compatibilizar uma forma a um conceito/ideia.
Possibilidade 4: a projeção surge do projetar mesmo, do traçar linhas. É a criação de imagens. Surge; sem uma origem determinada.
Trato de desenhar despreocupadamente.

Os quatros frentes irão em seguida hipertrofiar e se interceptar entre eles, para logo se tornar uma única ação projetiva. A projeção é então o resultado de quatro frentes simultâneos: um mimético-formal, um construtivo-material, um conceitual, e um poético-formal, respectivamente.

Assim temos que quando t = 5, U = (C | C ⊃ P3, (C ⊃ E | E ⊃ P2)) ∪ (I | I ⊃ P1) ∪ P4
E quando t = 6, (P1 ∪ P2 ∪ P3 ∪ P4) → P ∴ U = (C | C ⊃ E) ∪ I ∪ P

A projeção, desde seus frentes originários, começa a retroalimentar cada ação que lhe deu origem. No entanto, a existência semi-independente do edifício imaginário produz um diálogo-contraste mais direto e mais forte entre essas duas instâncias em relação às demais, que começam a hipotrofiar, enquanto aquelas hipertrofiam; o edifício imaginário primeiramente. Ele é, nesse momento, o guia da projeção, a qual lhe é submissa. O arquiteto é aí um tradutor desesperado. É justamente quando o edifício imaginário começa a hipertrofiar e ganhar cada vez mais independência, e portanto forma, que a projeção perde aparentemente seu caráter projetivo. Em outros palavras, é nesse momento quando a projeção se torna retração, e o projeto, um retrato; a fase de inconsciência do arquiteto: vê o projeto como produto, e não como processo. Este é o caso normal do labor do arquiteto, que então deixa de ser um projetor para se tornar um retrator, e assim sendo, não seria tão banal dizer um retratista.

Assim temos que quando t = 7, I → P | P ≈ T

A hipertrofia máxima do edifício imaginário coincide com a ciência da impossibilidade do retrato fiel daquele edifício imaginário, o que leva em seguida ao recobro da ciência da condição projetiva do projeto, ou, nos casos pouco afortunados, da desistência do impossível retrato preciso, em prol de um possível retrato impreciso.

Assim temos que quando t = 8, P ≉ T ∴ P → I

Ato-arquitetonico-2     O ato arquitetônico, parte 2

3 Edificação

Concepção, projeção, edificação e edifício imaginário seguem se retroalimentando entre eles levando à hipertrofia da edificação virtual. O auge dessa fase é a irrupção da edificação real propriamente dita, e com ela sua independência parcial da concepção e projeção. Faz-se patente, então, a sequência cronológica concepção-projeção-edificação. Somente em raras exceções, das quais não temos notícias, a edificação é anterior à projeção. A edificação refere-se ao início da materialização do edifício real num sítio determinado. O irremediável avanço da edificação, e em consequência a germinação de um edifício real, leva a hipotrofia do edifício imaginário, que diminui até voltar a fazer parte do interior da concepção. A edificação toma o mando do sistema. Concepção e projeção agora a alimentam, embora sigam sendo retroalimentadas por aquela. No caso do relato hipotético (A Obra), aqui se inicia o momento de maior conjunção entre as três ações: é quando as três ações adquirem cada uma o caráter de todas, abrindo a possibilidade de que a edificação conceba e projete, que a projeção edifique e conceba, e que a concepção edifique e projete. Sendo que o caráter fundamental adquirido por elas é o da projeção: cada ação lança às seguintes. O sistema se torna finalmente uma tríada dinâmica indissolúvel.

Assim temos que quando t = 8, (C ∪ P ∪ I) → E ∴ U = (C ∪ P ∪ I ∪ E)
E quando t = 9, I ⊂ C ∴ U = C ∪ P ∪ E

É quando o edifício imaginário alcança sua importância mínima que se produz sua metamorfose e a irrupção do edifício real, desde a interseção entre concepção, projeção e edificação. No entanto, nos casos normais, quando o projeto adquire a condição de retrato, o edifício imaginário persiste em sua existência, o que leva à deformações tanto do projeto quando do edifício real por motivo da constante disputa comparativa entre eles. Nesses casos, não se produz uma tríada dinâmica, senão um trio inter-competitivo.

Logo, quando t = 10 temos que I ≈ R | (C ∩ P ∩ E) → R

O edifício real, surgido da interseção entre as três ações fundamentais, se hipertrofia unindo as três. A edificação hipotrofia de tal modo que se torna parte do edifício real. Concepção e projeção mantêm sua independência parcial.

Assim temos que quando t = 11, E ⊃ R

Chegado a esse ponto, o edifício real está próximo da sua consolidação e a faina do arquiteto próxima a seu fim. Com a preponderância do edifício real, como o primeiro produto a se revelar definitivamente no sistema, projeção e concepção iniciam sua divisão, decantação e independência do edifício real. Estando ainda unidas dinamicamente, projeção e concepção atraem em seu movimento centrífugo parte das demais ações. Esse movimento produz uma tripartição de cada uma das três ações, que passam a configurar três tríadas idênticas. O núcleo independente da projeção dá lugar ao projeto. O núcleo independente da concepção dá lugar aos conceitos. A divisão e decantação do projeto e conceitos coincide com a formação do edifício.

Assim temos que quando t = 12, C → C’ | C’ ⊂ (C ∪ P ∪ E), P → P’ | P’⊂ (C ∪ P ∪ E)

Cria-se então, uma nova tríada formada pelos três produtos do ato arquitetônico: o edifício, o projeto e os conceitos, cujos núcleos são formados cada um pela mesma tríada de ações: a edificação, a projeção e a concepção. Cada produto, então, conserva a presença de cada uma das três ações que o geraram. Em outras palavras, através de cada produto é possível entrever cada uma das três ações.

Finalmente temos que quando t = 13, U = (R ∪ P’∪ C’) | R ⊂ (C ∪ P ∪ E), P’⊂ (C ∪ P ∪ E), C’⊂ (C ∪ P ∪ E)

Ato-arquitetonico-3     O ato arquitetônico, parte 3Esquemaobra2   O ato arquitetônico, esquema final

Notas
[1] Ato arquitetônico é um termo tomado emprestado de Juan Borchers e Alberto Cruz, arquitetos chilenos que iniciaram sua atuação teórica e prática nos anos 50, embora utilizassem o termo para fins distintos e com significados distintos, inclusive entre eles.

Referencia: Igor Fracalossi e Ruth Verde Zein, La Paradoja de la Puesta del Sol: una Inútil Aproximación a la Obra de Arquitectura (extrato: parte 2 de 3), Atas Digitais do I International Conference on Architectural Design & Criticism, Critic|All Press, Madri, 2014, pp. 442-448 (pp. 443-446).

* Leia a primeira parte do ensaio: A Obra.

Fonte:Igor Fracalossi. "O Ato Arquitetônico / Igor Fracalossi e Ruth Verde Zein" 27 Jun 2014. ArchDaily. Accessed28 Jun 2014.  http://www.archdaily.com.br/br/623159/o-ato-arquitetonico-igor-fracalossi-e-ruth-verde-zein

“The Snake”: a nova ponte para ciclistas de Copenhague

Courtesy of Plataforma Urbana     Courtesy of Plataforma Urbana

Muitas cidades do mundo estão investindo em infraestrutura para ciclistas com o objetivo de promover esse modo de transporte e suas muitas vantagens para as cidades. Uma das cidades que lideram essa tendência é Copenhague, considerada uma referência mundial no ciclismo urbano.

“The Snake” é a nova ponte para ciclistas da capital dinamarquesa que será inaugurada oficialmente amanhã, 28 de junho.

1403113244_the_snake_2    Courtesy of Plataforma Urbana

Projetada pelo escritório Dissing+Weitling, “The Snake” – que começou a ser construída em 2012 – mede 235 metros de comprimento, tem 4 metros de largura, promove o tráfego nos dois sentidos e teve um orçamento de 5 milhões de euros, financiados pela Prefeitura de Copenhague.

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Embora não tenha sido ainda oficialmente inaugurada, a ponte já está sendo utilizada por ciclistas que trafegam pela região, já que permite cruzar por cima um bairro comercial sempre muito movimentado.

1403113256_the_snake_4        Courtesy of Plataforma Urbana

“The Snake” complementa a ponte Bryggebroen, de uso peatonal e cicloviário, que une o bairro de Vesterbro às Ilhas de Brygge.

Via Plataforma Urbana. Tradução Romullo Baratto, ArchDaily Brasil.

Courtesy of Plataforma Urbana
Courtesy of Plataforma Urbana
Courtesy of Plataforma Urbana
Courtesy of Plataforma Urbana
Courtesy of Plataforma Urbana
Courtesy of Plataforma Urbana
Courtesy of Plataforma Urbana
Courtesy of Plataforma Urbana

Fonte:Equipo Plataforma Arquitectura. " “The Snake”: a nova ponte para ciclistas de Copenhague" 27 Jun 2014.ArchDaily. Accessed 28 Jun 2014.  http://www.archdaily.com.br/br/623156/the-snake-a-nova-ponte-para-ciclistas-de-copenhague

Estádios da Copa ilustrados pelo estúdio Vapor 324

Estádio Beira Rio - Porto Alegre. Image Courtesy of Vapor 324     Estádio Beira Rio - Porto Alegre. Image Courtesy of Vapor 324

O estúdio Vapor 324 compartilhou conosco uma série de ilustrações dos estádios de futebol da Copa do Mundo. Os desenhos foram produzidos para o “Guia da Torcida Gol”, da companhia Gol Linhas Aéreas.

Chama a atenção o traço bastante expressivo de cada ilustração, destacando os aspectos mais marcantes do projeto de cada estádio. Outra marca das ilustrações é a inusitada escolha das cores que, embora pouco se relacionem com a obra em si, tornam as imagens muito vibrantes.

O estúdio Vapor 324 tem sede em São Paulo e é composto por quatro arquitetos – Fabio Riff, Fabrizio Lenci, Rodrigo Oliveira e Thomas Frenk – e atua através de três frentes: meios gráficos, audiovisuais e arquitetônicos.

Veja a seguir todos os estádios da Copa ilustrados pelo estúdio Vapor 324:

Gol6       Maracanã - Rio de Janeiro. Image Courtesy of Vapor 324Gol1       Mineirão - Belo Horizonte. Image Courtesy of Vapor 324Gol11       Arena da Baixada - Curitiba. Image Courtesy of Vapor 324Gol10     Arena Pantanal - Cuiabá. Image Courtesy of Vapor 324Gol3   Arena Castelão - Fortaleza. Image Courtesy of Vapor 324Gol2       Estádio Mané Garrincha - Brasília. Image Courtesy of Vapor 324Bol8      Itaquerão - São Paulo. Image Courtesy of Vapor 324Gol9     Arena Pernambuco - Recife. Image Courtesy of Vapor 324Gol7          Arena Fonte Nova - Salvador. Image Courtesy of Vapor 324Gol5    Arena das Dunas - Natal. Image Courtesy of Vapor 324Gol4    Arena da Amazônia - Manaus. Image Courtesy of Vapor 324

Estádio Beira Rio - Porto Alegre. Image Courtesy of Vapor 324
Estádio Beira Rio - Porto Alegre. Image Courtesy of Vapor 324
Arena da Baixada - Curitiba. Image Courtesy of Vapor 324
Arena da Baixada - Curitiba. Image Courtesy of Vapor 324
Mineirão - Belo Horizonte. Image Courtesy of Vapor 324
Mineirão - Belo Horizonte. Image Courtesy of Vapor 324
Arena Pantanal - Cuiabá. Image Courtesy of Vapor 324
Arena Pantanal - Cuiabá. Image Courtesy of Vapor 324
Arena Castelão - Fortaleza. Image Courtesy of Vapor 324
Arena Castelão - Fortaleza. Image Courtesy of Vapor 324
Estádio Mané Garrincha - Brasília. Image Courtesy of Vapor 324
Estádio Mané Garrincha - Brasília. Image Courtesy of Vapor 324
Itaquerão - São Paulo. Image Courtesy of Vapor 324
Itaquerão - São Paulo. Image Courtesy of Vapor 324
Maracanã - Rio de Janeiro. Image Courtesy of Vapor 324
Maracanã - Rio de Janeiro. Image Courtesy of Vapor 324
Arena Pernambuco - Recife. Image Courtesy of Vapor 324
Arena Pernambuco - Recife. Image Courtesy of Vapor 324
Arena Fonte Nova - Salvador. Image Courtesy of Vapor 324
Arena Fonte Nova - Salvador. Image Courtesy of Vapor 324
Arena das Dunas - Natal. Image Courtesy of Vapor 324
Arena das Dunas - Natal. Image Courtesy of Vapor 324
Arena da Amazônia - Manaus. Image Courtesy of Vapor 324
Arena da Amazônia - Manaus. Image Courtesy of Vapor 324

Fonte:Romullo Baratto. "Estádios da Copa ilustrados pelo estúdio Vapor 324" 27 Jun 2014. ArchDaily. Accessed28 Jun 2014.  http://www.archdaily.com.br/br/623163/estadios-da-copa-ilustrados-pelo-estudio-vapor-324?utm_source=ArchDaily+Brasil&utm_campaign=14d1efd7d8-Archdaily-Brasil-Newsletter&utm_medium=email&utm_term=0_318e05562a-14d1efd7d8-407774757

 
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