Novo presidente do IAB/SP para o biênio 2012/13 apresenta os planos para a instituição

Acertada para as 16h30 de uma sexta-feira, no início de fevereiro, a entrevista precisou ser remarcada para uma hora mais tarde. Adiamento compreensível para quem assumira, havia poucos dias, a presidência do IAB/SP e estava ainda se inteirando do dia a dia da entidade. Aos 52 anos e com quase 30 de profissão, José Armênio de Brito Cruz será responsável por dirigir a instituição no biênio 2012/13.

jose-armenio A primeira manifestação pública da diretoria que assumiu a gestão do IAB/SP no começo de fevereiro teve como pauta a conflituosa desocupação do Pinheirinho, área que abrigava famílias carentes em São José dos Campos, SP, cujo pedido de reintegração de posse aceito pela Justiça levou à expulsão das pessoas das casas em que moravam naquela comunidade. “Nós nos manifestamos pelo direito de permanência delas no terreno em que estavam”, explicou o arquiteto José Armênio de Brito Cruz, atual presidente do IAB/SP.

Na metade da década passada o senhor concorreu à presidência do IAB/SP. Qual a diferença entre o instituto que o senhor pretendia presidir e o de agora?

Os motivos que nos levaram a organizar a chapa para concorrer às eleições vêm de algum tempo e são praticamente os mesmos que pautaram as eleições de alguns anos atrás. O que se alterou é que, talvez, hoje esse pensamento esteja mais maduro e mais passível de estruturação socialmente. Há alguns anos organizamos uma chapa e foi uma experiência muito boa. Politicamente, porém, não estávamos ainda entendendo como elaborar uma proposta. Talvez por isso não tenhamos obtido sucesso. Agora, acredito que de uma forma mais objetiva - o meio mudou e a situação política entre os arquitetos de São Paulo também - estamos mais maduros para essa proposição. Muitos conflitos que estavam presentes naquela época não eram, de fato, conflitos de ideias. Porém, o IAB vem passando, nas últimas décadas, por um processo de desgaste que acabou tornando-o uma entidade com muitos representantes e distante de seus representados. Um dos nossos objetivos é corrigir essa situação e aproximar o IAB do conjunto de arquitetos.

O IAB seria então, atualmente, uma entidade sem muita representatividade?

Não diria que o instituto tem pouca representatividade, mas que ela reflete um afastamento do conjunto dos arquitetos, o que não é saudável para uma entidade e acaba gerando desvios. Nessa gestão, nosso olho estará sempre na sociedade, na arquitetura e sociedade e no conjunto dos arquitetos. Temos que olhar o que a arquitetura é hoje e sair do grupo fechado de um pensamento só. Atualmente, o universo de atuação do arquiteto é muito maior e temos que estar prontos para entender e trabalhar politicamente dessa forma. Esse é um dos objetivos que propomos para nossa gestão: abrir ao máximo a entidade e aproximá-la do maior número de arquitetos possível. Pretendemos aumentar o número de associados e isso vai se dar através da presença forte da opinião do IAB na sociedade e também diante do conjunto dos arquitetos.

Qual é a situação do instituto hoje?

Organizamos diversos grupos e estamos nos aproximando dos vários capítulos do IAB. Avaliaremos desde a situação financeira até o processo da sede, a situação institucional, com relação ao poder público e dinâmica de trabalho. Paralelamente, estamos estruturando um planejamento de ações de curtíssimo, curto, médio e longo prazos para a gestão.

O que precisa ser feito a curto prazo?

A curto prazo estamos concentrando nossos esforços, ainda na transição, no processo de comunicação com a sociedade e com os associados. Diante das questões que estão ocorrendo nas cidades, estamos, por exemplo, publicando uma nota a respeito do Pinheirinho, em São José dos Campos. Essa vai ser uma prática constante do instituto: manifestar‑se e criar pautas com essa manifestação. As medidas de curto prazo estarão nessa exposição e na transparência imediata de nossas ações com relação aos associados e também com a participação e o fortalecimento da comunicação entre o IAB e a sociedade - seja poder público, movimentos sociais, sociedade civil organizada. Já estamos fazendo e vamos continuar a reforçar cada vez mais esse aspecto. Com relação ao lado financeiro, colegas estão fazendo um levantamento da situação. Tanto integrantes da gestão anterior como os funcionários estão colaborando muito para começarmos uma administração planejada e estruturada estrategicamente.

armenio-brito Manifestações como essa deverão se tornar cada vez mais frequentes na entidade. “Faltou a arquitetura e o urbanismo estarem em pauta ali, porque eles encontrariam uma solução sem ordem judicial e sem necessitar de ação policial”, afirmou Brito Cruz. Trabalhar mais a face pública da arquitetura e posicionar-se forte e claramente a respeito dos problemas urbanos é uma das promessas da atual gestão para revigorar tanto a profissão quanto o instituto.

Quais são as estratégias de médio e longo prazos? Como o senhor pensa o instituto nessa situação?

Os eixos da nossa instituição são o reforço do papel da arquitetura na produção da sociedade e na produção da cidade. A arquitetura enquanto espécie de conhecimento pela qual nós fomos formados e para a qual fomos talhados, sem separação entre arquitetura e política. Nossa ação é íntegra: a política está no nosso projeto e nosso projeto está na nossa política. O IAB/SP será um fio condutor das propostas dos arquitetos, do pensamento arquitetônico que está nas universidades, nos escritórios, nas assessorias técnicas, no arquiteto funcionário público. A médio e longo prazos, a questão da sede é um de nossos objetivos. Digo médio prazo para começar a ver resultados. A curtíssimo prazo vamos tomar ações nesse sentido.

Que ações estão sendo tomadas para acelerar a recuperação do edifício-sede?

A primeira é a compreensão do processo e da documentação que já foram feitos por colegas das gestões anteriores. Há documentação pronta, como a aprovação de leis de incentivo e aprovações nos órgãos de proteção ao patrimônio. Nosso trabalho não vai começar do zero. O primeiro passo é tomar conhecimento efetivamente disso tudo. Logo que tivermos esse conhecimento, ele será amplamente divulgado para todos, de modo a angariarmos força para buscar o que efetivamente é preciso para a recuperação da sede, ou seja, a forma de financiamento e os fundos. As maneiras para captar os fundos são os instrumentos que esses documentos de legislação, de isenção preveem e serão somados a outros instrumentos. Faremos todos os esforços que pudermos para a recuperação da sede. Trata-se de prioridade porque é simbólico para o arquiteto ter organizada, reestruturada e reconsolidada a sede de seu instituto. Porque é também simbólica a situação em que ele está, pelo inverso.

Nosso olho estará sempre na sociedade, na arquitetura e sociedade e no conjunto dos arquitetos. Temos que olhar o que a arquitetura é hoje e sair do grupo fechado de um pensamento só. O universo de atuação do arquiteto é muito maior.

 O senhor acredita que o projeto de recuperação terá facilidade para captar recursos?

Vejo que, a partir do momento em que o instituto começar a se colocar na sociedade e esta entender a que vieram os arquitetos, se tornará mais fácil a captação. Ela é difícil a partir do momento em que a sociedade nota os arquitetos dentro de um cercado de idiossincrasias. Porém, se a arquitetura estiver inserida na produção da sociedade, na produção da cidade, de forma consequente, buscando uma cidade mais justa, mais democrática, o arquiteto estará do lado da sociedade. Essa é uma das nossas estratégias: o IAB como um espaço público para a sociedade, debatendo tanto a cidade quanto o futuro da construção da cidade.

O senhor é sócio do Piratininga Arquitetos, um escritório de arquitetura consolidado. Algum processo de gestão aplicado no escritório poderia ser implantado na entidade?

É inevitável que a experiência de gestão do escritório contribua para o nosso pensamento. Não só o meu, mas também o de colegas que estão juntos na diretoria. Mas o que contribui mais é a experiência política que procurei ter ao longo desses 28 anos no escritório, não separando minha ação profissional como arquiteto da minha ação política.

O IAB/SP ficou numa posição frágil com a aparente desorganização das bienais de arquitetura. Os conflitos entre a direção do IAB e a da Fundação Bienal e a transferência do evento para outro prédio tiveram repercussão nisso?

Eu discordo de sua afirmação. Não acho que o IAB tenha perdido força. É impressionante a força do instituto. O IAB se distanciou dos arquitetos, mas não se enfraqueceu diante do poder público, diante da sociedade organizada. São impressionantes as solicitações que o IAB recebe e a credibilidade que tem é muito forte.

Os associados têm essa percepção?

Eu mesmo não tinha. No período de maior aproximação com o instituto, em razão da realização das eleições, impressionou- me como o poder público, por exemplo, compreende a importância e a história do IAB. O IAB é muito forte, mas está internamente frágil. Externamente, porém, tem ainda uma força muito grande. Mas temos muito para fazer. A situação de nossa sede mostra isso e a presença da arquitetura na grande imprensa também. A questão deve ser vista como a participação do pensamento arquitetônico e urbanístico na sociedade, sendo o IAB o reflexo disso. Se ficarmos analisando só aqui dentro, ficamos em um mundo fechado. A questão é externa. O fortalecimento da compreensão social, da contribuição possível da arquitetura aos problemas brasileiros nas últimas décadas enfraqueceu. O constante afastamento da participação dos arquitetos na elaboração dos destinos do país, que vem desde a época da ditadura, gerou esse cenário. Então, a situação do IAB deve ser entendida como a situação da arquitetura na sociedade, e ele pode contribuir bastante com isso pela importância que tem, por sua credibilidade.

Faremos todos os esforços que pudermos para a recuperação da sede. Trata-se de prioridade porque é simbólico para o arquiteto ter reconsolidada a sede de seu instituto. Porque também é simbólica a situação em que ele está, pelo inverso.

A sociedade compreende o que é a arquitetura e qual a função do arquiteto?

Ela fica se perguntando a que veio o arquiteto. Será que o arquiteto é alguém que fica buscando fazer projetos estranhos, ou será que ele é um ativista político? Nós sabemos que o arquiteto é o profissional que trabalha com a organização do espaço nas suas diversas escalas e que tem um compromisso com a sociedade. Um compromisso social de buscar, através da sua técnica, a melhor organização espacial da sociedade nas suas diversas escalas, da menor à maior. A situação da bienal é fruto de como está a inserção da arquitetura na sociedade. Não é só resultado de uma gestão ou outra do IAB. A ação que essa gestão pode ter será íntegra. A partir do momento que estiver reforçando o papel da arquitetura diante da sociedade, estará entendendo a bienal como um fórum de discussão da arquitetura e não como portfólio de um grupo de arquitetos eleitos. Será um fórum de discussão da arquitetura e suas questões, e uma curadoria vai determinar qual é a pauta desse fórum, a ser debatida nacional e internacionalmente. A bienal é uma responsabilidade que o Departamento de São Paulo assume diante do IAB nacional.

Alguma possibilidade de a bienal voltar a ocupar o espaço anterior?

Vamos discutir com o grupo responsável e o curador. Porque minha experiência de administração diz o seguinte: é preciso haver responsáveis, divisão de tarefas, metas e resultados. Vamos funcionar dessa forma. Haverá um grupo responsável por isso e ele vai ter autonomia para organizar e buscar o conteúdo. Não vai ser simplesmente um evento. Será um foco temporal e espacial de discussão de arquitetura, devidamente pautado pelos melhores pensadores da arquitetura.

O senhor disse que os associados do IAB não sabem a representatividade que a entidade tem. Quantos arquitetos existem hoje em São Paulo e quantos são associados ao IAB?

O colégio eleitoral de São Paulo no Conselho de Arquitetura e Urbanismo, o CAU, é de 33 mil arquitetos. O IAB tem 10,5 mil associados.

Quantos são efetivamente contribuintes? E quantos são atuantes? Porque num momento como o da eleição houve participação de menos de 500 pessoas.

Uma parcela significativa [é contribuinte]. O número não tenho, mas logo que tiver falo. A quantidade de votantes é mesmo muito baixa, mas a arquitetura, como já disse, vive uma crise institucional, que, de certa maneira, a sociedade também vive. Há descrédito em geral com relação às instituições. Nossa proposta de atuação parte justamente do fortalecimento da instituição IAB e da instituição arquitetura. Quando falei que a arquitetura não tem um espaço explícito e claro dentro da sociedade, é porque a instituição arquitetura está frágil. E, consequentemente, a instituição IAB também está frágil. O que significa isso? Significa que cada arquiteto, na hora em que está fazendo seu projeto, não enxerga o caráter público de cada ação sua, qual o caráter institucional dela. Em cada ação do arquiteto existe uma parcela de contribuição cívica, como existe na do médico, por exemplo. A arquitetura, sob esse aspecto, está frágil e é isso que precisamos reconstruir. Com isso, a instituição IAB também vai estar forte. A baixa votação é um reflexo disto: um descrédito na instituição, um descrédito no caráter público que a arquitetura pode ter. Vamos nos empenhar para construir essa face pública. A arquitetura vai ter um lugar na sociedade e o fortalecimento do instituto será consequência, o fortalecimento da bienal será consequência, a verba para a sede será consequência.

Em algum momento histórico a arquitetura já teve esse vigor institucional?

Num outro momento em que a sociedade era muito diferente, o meio era totalmente diferente e o posicionamento histórico-econômico do Brasil era também completamente diferente. A construção da face pública que mencionei não é a reconstrução de algo que já tivemos. É uma face que estamos construindo. A reunião, nessa gestão, de colegas de diversas áreas de atuação profissional já coloca uma nova face pública. A preocupação de montar uma gestão com essas ações já coloca uma face diferente. Estamos construindo, através de diversas atuações, uma ação pública. Procuramos somar forças nesta gestão de modo a reunir as ações sociais, empresariais, acadêmicas, políticas e históricas em relação ao instituto, e acredito que conseguimos.

Uma instituição mais nova do que o IAB, a Asbea, da qual o seu escritório participa, fortaleceu-se também em função de ter indústrias associadas. O IAB cogita a possibilidade de trabalhar com esse tipo de parceria?

A direção do IAB é um pouco diferente. Ele reúne os arquitetos, e não escritórios de arquitetura. Não estou aqui como representante de escritório de arquitetura, e sim como arquiteto. Na hora em que o IAB reúne esses profissionais ele tem autoridade para falar pela arquitetura, porque agrupa arquitetos que são funcionários públicos, professores, integrantes de escritórios, da assistência técnica, dos movimentos sociais. Não é uma organização setorial, e sim da profissão do arquiteto, da promoção e esclarecimento dessa profissão. É uma entidade que está ligada à arquitetura em seus diversos planos de atuação. Essa é nossa compreensão a respeito do IAB. Quanto a sua pergunta, o IAB terá formas e fórmulas próprias de aproximação com a indústria, com a sociedade, com o poder público, com movimentos sociais e organizações internacionais.

Como fazer para a entidade ter mais associados, uma vez que eles representam menos de 1/3 do colégio eleitoral?

Primeiro, com uma direção política e objetivos claros como o que estamos procurando expor. Uma comunicação aberta com os associados é fundamental. Essa comunicação e a transparência vão fazer crescer o número de associados, o que irá aumentar nossa credibilidade. A ação política vigorosa, colocando o fortalecimento da arquitetura na sociedade, vai trazer os arquitetos para cá. E vamos começar um círculo virtuoso, vamos romper o círculo vicioso da entidade só de representantes e com poucos representados.

Onde se encontram ou se separam hoje o IAB e o recém-criado CAU?

Com respeito às instituições, os seus estatutos. Uma leitura breve deles esclarece o seguinte: um regulamenta [a profissão] e o outro promove. Temos que trabalhar juntos e devemos estar próximos, porque a promoção gera uma regulamentação e a regulamentação fortalece a promoção. A formação do CAU foi uma das razões de termos concorrido, porque é um momento novo para o IAB. O CAU libera o IAB de uma série de ações corporativas que foram assumidas em diversos momentos. Ao IAB cabe, agora, o esclarecimento da profissão no sentido cultural, científico, artístico e político e a promoção dessa ação na sociedade. Tudo que diz respeito à regulamentação e à fiscalização é atribuição do CAU.

Que outras atividades culturais o IAB pode promover nas suas estratégias de curto, médio e longo prazos?

Temos uma série de ideias, e não estou blefando. Não quero falar ainda porque não se deve expor coisas que estão no casulo. Estamos engendrando algumas ações nesse sentido, mas não posso revelar nesse momento. Elas vão no sentido de colocar o IAB diante da sociedade como um fio condutor do pensamento dos arquitetos. Colocar esse pensamento à disposição da sociedade e atuante nela, no sentido de buscar a contribuição possível desse pensamento aos problemas que a sociedade enfrenta.

A ação política vigorosa, fortalecendo a arquitetura na sociedade, vai trazer os arquitetos para cá. E vamos começar um círculo virtuoso, vamos romper o círculo vicioso da entidade só de representantes e com poucos representados.

O senhor tem um escritório muito próximo do centro da cidade e está presidindo uma instituição que está no coração da capital. Grande parte da população de São Paulo tem receio de se mover por essa região. O centro de São Paulo o amedronta?

Não. Eu convivo e tenho escritório na região há 17 anos. Sou um estudioso do centro como profissional e o conheço muito bem sob o ponto de vista de índices e da população que mora nele. Quando afirmam que o centro está vazio, recorro à comparação do copo pela metade: ele está meio cheio ou meio vazio? Para mim, o centro está meio cheio, porque nele existem relações sociais e vida que, se fortalecidas, enchem o copo da vida social mais saudável que existe na cidade. Não existe esse medo. Essa é uma visão estranha ao nosso território. O centro não é uma região insegura e a população que está aqui é criativa. O IAB e o meu escritório não são lugares diferentes, estão a 300 metros um do outro. Eu vou de um para o outro a pé. O centro vai ser fortalecido a partir do momento que o Estado, em seus vários níveis, enxergar que a habitação de diversas rendas, juntas, aqui nesse recorte de São Paulo, tem que ocorrer. Então se verá o copo cheio, e não pela metade.

Por Adilson Melendez
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 385 Março de 2012

Fonte: http://www.arcoweb.com.br/entrevista/jose-armenio-brito-cruz-iab-sp-04-06-2012.html

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