Não é uma tarefa fácil construir cidades mais inclusivas. A cidade de Medellín, no entanto, nos deixa com um pouco de esperança. Quando vemos notícias e mais notícias da cidade sendo eleita como “City of the year” (2013), sede do Fórum Urbano Mundial da ONU Habitat (2014) e recebendo recentemente o destacado Lee Kuan Yew World City Prize, é natural questionarmos e desejarmos compreender qual é o segredo de sua transformação e do tal do seu “urbanismo social”. Isso foi o que me motivou a escolhê-la como destino, por um pouco mais de um ano.
Quando cheguei em Medellín, percebi que não seria tão simples compreender as dinâmicas que motivaram e possibilitaram que essas transformações ocorressem. Afinal, não é fácil: Ser latino-americana, ter sua população quadruplicada em um curto período, situar-se em um vale, ter seu território urbano desenvolvido nos desdobramentos da cordilheira andina, ter sua história marcada por disputas armadas e pelo narcotráfico, e ser uma das cidades colombianas que mais recebe campesinos vítimas de conflitos armados, com os quais tive o prazer de trabalhar.
Os índices de criminalidade da cidade atingiram níveis inadmissíveis no final do último século. Algo precisava ser feito, não era justo que sua população carregasse nas costas o peso de viver na cidade mais perigosa do mundo. Nesse momento, instituições da sociedade civil, do setor privado, do setor público e acadêmico se reuniram em um processo de reflexão sobre o futuro da cidade e de sua região metropolitana. Uma troca de paradigma acontece: Cresce o desejo de se transformar a imagem da cidade para que ela se torne competitiva no mercado mundial e mudanças na concepção de desenvolvimento econômico da cidade ocorrem. O processo de formulação de um Plano Estratégico de Desenvolvimento é apoiado no planejamento territorial, no qual o espaço público ocupa um papel preponderante como agente transformador e de inclusão social. Com isso, normas são desenhadas para regulamentar a vida cotidiana de seus cidadãos nos novos espaços coletivos implementados.
Surge uma visão multidisciplinar na maneira de compreender os projetos urbanos e a população começa a estar no centro dessas propostas. Os PUIs – Proyectos de Urbanización Integrales, buscavam integrar as áreas de transporte, saúde, espaço público e educação. As administrações municipais começaram a utilizar slogan para sintetizar os objetivos de suas ações. Medellín foi “Ciudad Viva, Ciudad Botero”, foi “Medellín Competitiva” e foi “Medellín la más educada”, na administração de Sergio Fajardo (2000-2004). Nesse período, o objetivo era claro: “levar o melhor para os mais pobres”. Muitos projetos foram desenvolvidos em áreas estratégicas da cidade, em bairros caracterizados pela vulnerabilidade física e social, conectados por transporte público, atuando como centros de desenvolvimento social e cultural. A taxa de homicídios baixou cerca de 70%.
Fonte e artigo completo: http://www.courb.org/pt/qual-e-o-seu-segredo-medellin/
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