estampa da coleção jamac, idealizada por monica nador e desenvolvida em parceria com artistas da periferia de são paulo
Há dez anos, a artista plástica Monica Nador decidiu que queria desenvolver um trabalho artístico com comunidades da periferia da Grande São Paulo, capacitando com técnica e expressão pessoas que estão fora do circuito artístico. "Fui ao longo do tempo desconstruindo uma ideia de arte que tinha, e hoje aposto no aprendizado e no potencial pedagógico da arte, muito mais que na sua capacidade de ser produto, tão enfatizada hoje", diz ela. Através de oficinas, Monica passou a desenvolver o projeto Paredes Pinturas, que transforma o muro de casas simples em suporte para padrões coloridos feitos com estêncil, com motivos criados em compartilhamento com as pessoas. O projeto a fez se mudar para o Jardim Miriam, em 2004, onde fundou o JAMAC - Jardim Miriam Arte Clube, de onde passou a atuar tanto no bairro quanto fora dele.
"Percebi que o projeto dava visibilidade às comunidades, e que deveria aproveitar isso para gerar uma renda definitiva para eles", diz Monica, sobre o insight de transportar a extensa cartela de padrões criados para tecidos. Munida de uma mesa de serigrafia - conseguida a duras penas com o apoio do governo estadual - a fabricação manual dos tecidos estampados foi incorporada ao dia a dia do JAMAC. No ano passado, o trabalho chegou aos ouvidos de Deny Barbosa, diretor da marca de tecidos Donatelli.
"Sempre tive vontade de fazer uma coleção voltada ao social, devolver para a sociedade o retorno que tivemos nesses 70 anos de existência", diz Deny, que selecionou junto à Monica, seis estampas e as transformou em uma coleção que passa a ser fabricada pela empresa. A Coleção JAMAC - Autoria Compartilhada, foi incorporada à linha permanente da Donatelli, e 100% do lucro de sua venda será revertida para o projeto.
Aplicadas sobre tecidos de algodão branco, as estampas foram feitas em duas versões, uma mais comercial, com uma cor apenas - preto ou azul marinho - e outra com sobreposições de cores. Elas trazem figuras de papagaios, tendas de circo, guarda chuvas, a representação estilizada do trânsito de São Paulo. Monica conta que costuma pedir que as pessoas desenhem suas memórias e coisas que lhe são importantes. "São populações desautorizadas de si próprias, muitos vem de zonas rurais e chegam a esse mar de informações urbanas, então tento recuperar e valorizar sua história, sempre no sentido de empoderá-los", diz ela. Assim, cada estampa está intimamente ligada a história de quem a criou. A oferta de padrões deve crescer à medida que o projeto avança. "A ideia é ter sempre novos tecidos, para ser uma fonte de renda permanente para o projeto", finaliza Deny.
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