O Estado de S.Paulo
Triste destino o do vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp),
instituição que tem um dos mais importantes acervos artísticos da
América Latina. Primeiro, tornou-se um símbolo do desrespeito às regras
que devem pautar as manifestações públicas. Qualquer grupo que deseja
apresentar reivindicações ou protestar se julga no direito de ocupar
esse espaço, para nele começar ou terminar manifestações, cujo palco é a
Avenida Paulista. Como se isso não bastasse, ele agora virou - no
intervalo entre uma manifestação e outra - lugar de reunião de
dependentes de droga, com o sério risco de virar uma espécie de
minicracolândia.
Já há algum tempo que os frequentadores do Masp e os milhares de
pessoas que passam diariamente por ali podem observar o número crescente
de dependentes e traficantes que se reúnem no vão livre e nas
imediações. É lamentável, mas não surpreendente, portanto, o que
aconteceu com a exposição do fotógrafo francês Yann Arthus-Bertrand, que
se realizava no vão livre. Por causa do incômodo causado tanto a
espectadores como a monitores por dependentes e moradores de rua, que já
se julgam donos desse espaço, os organizadores da exposição e a direção
do Masp tiveram de encerrá-la antes do previsto.
A exposição, montada originalmente em Paris, já foi levada a 110
países e, no Brasil, passou por três outras cidades - Rio, Brasília e
Belo Horizonte, atraindo em todas elas grande número de visitantes -
antes de chegar a São Paulo. Só aqui a falta de segurança levou a esse
desfecho lamentável.
Quando, na quinta-feira da semana passada, já era evidente que a
presença de dependentes e moradores de rua no vão do Masp ameaçava a
mostra, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana, em resposta a uma
indagação a respeito feita pela reportagem do Estado, informou que a
Inspetoria Regional da Avenida Paulista enviara uma viatura para o local
e a Guarda Civil Metropolitana ia intensificar suas rondas. A Polícia
Militar assegurou estar fazendo o mesmo, depois de alertada do problema
pelo setor de segurança do Masp, já tendo prendido três pessoas por
porte e uso de drogas nas imediações do museu.
Como nada disso alterou a situação que levou ao encerramento da
exposição, só se pode concluir que as autoridades tanto municipais como
estaduais não deram ao caso a atenção que ele merecia. As tímidas
medidas tomadas ou prometidas parecem indicar que para o poder público
não vale a pena um esforço maior para desalojar os dependentes,
traficantes e moradores de rua que estão tomando conta do vão livre do
Masp.
Uma forma de livrar o local tanto deles como dos manifestantes é
cercar o Museu. Isso "não eliminaria o problema, mas amenizaria a
situação", segundo o curador do Masp, Teixeira Coelho, mas todos os
pedidos feitos nesse sentido pela instituição foram rejeitados pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Para o
Iphan, tem de ser mantido o projeto arquitetônico original do museu, que
prevê acesso irrestrito ao vão livre. O curador considera "um atraso
essa posição do Iphan, pois a São Paulo de hoje não é a mesma da época
em que o Masp foi inaugurado".
Com uma cerca, se o Iphan se render à nova realidade da cidade, ou
com uma ação enérgica da polícia, o que importa é que o vão livre do
Masp não pode continuar como está. É inadmissível que uma instituição
cultural dessa importância tenha a sua segurança e a de seus
frequentadores - o Masp é um dos locais da cidade mais visitados por
paulistanos e turistas - ameaçadas por viciados, traficantes e grupos de
manifestantes que se julgam acima das leis e dos direitos dos demais
cidadãos. O Masp não pode ser reduzido à vulgar condição de "casa da
sogra", onde qualquer um faz o que bem entende.
Isto é algo simplesmente impensável em qualquer museu da Europa e dos
Estados Unidos, onde o patrimônio cultural é preservado a todo custo.
Esse é o bom exemplo que temos de seguir, sem medo de para isso ter de
recorrer à força policial para colocar cada um no seu devido lugar.
Fonte :
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,e-preciso-preservar-o-masp-,1098579,0.htm
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