Para o arquiteto-diretor do estúdio mineiro de pesquisa Vazio S/A, Carlos Teixeira, as cidades estão repletas de "vazios" que podem ser transformados para que as pessoas possam usá-los
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De que forma o vazio pode ser preenchido para que as pessoas possam aproveitar melhor a cidade? Para Carlos Teixeira, autor de História do Vazio em Belo Horizonte (1999) e arquiteto-diretor do Vazio S/A, estúdio mineiro de pesquisa e prática na área, esses ambientes "abandonados" são lugares que podem ser reincorporados como uma forma de reconexão com a cidade. Teixeira participa hoje do 1º Congresso Internacional Espaços Públicos, organizado pela PUCRS. O evento reúne pesquisadores e profissionais que estudam o urbanismo e a arquitetura atual. Por e-mail, ele concedeu a ZH a entrevista a seguir.
O que são espaços colaterais?
Espaços colaterais são espaços ou sobras espaciais da cidade que, por algum motivo, foram desconsiderados e abandonados. Podem ser lotes vagos, lugares embaixo de viadutos, margens de rio que estão em áreas centrais ou periféricas. Espaços que podem ser reincorporados à cidade com uma nova proposta. Na minha palestra, vou falar da margem de um rio de Belo Horizonte, que é bastante degradada. Mistura espaços residuais que são consequência da transformação de um rio que se tornou esgoto, e que foi pouco a pouco abandonado por causa da decadência do centro da cidade. Há desperdício de espaço valioso para as pessoas. É no centro em que está a melhor oferta de transporte público, melhor equipamentos da cidade, e é nessa região que estão vários desses espaços colaterais. Alguns desses projetos servem para mostrar para as pessoas que algumas dessas áreas ditas indesejáveis devem ser tratadas como o futuro de uma nova densidade central da cidade.
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Qual o papel dos arquitetos e dos cidadãos nesses espaços?
Em termos práticos, as pessoas tem de que reivindicar uma melhoria nesses espaços. A sensibilidade do arquiteto pode antever algum tipo de transformação urbana. Essa antevisão e proposta só terão efeito se os moradores abraçarem a causa. Depende de duas partes: tanto de uma sensibilidade do poder público e de seus arquitetos para compreender que o futuro das cidades pode estar nesses locais não aproveitados quanto dos cidadãos que precisam abraçar e entender o potencial disso.
Quais exemplos o senhor pode dar de bons projetos?
O High Line Park em Nova York se enquadra perfeitamente no conceito de espaços colaterais. Originalmente, a High Line era uma linha de trem elevada construída em 1930 e que foi abandonada em 1980. O local ia ser demolido. Mas por iniciativa de pessoas e associação de moradores, uma quantia de dinheiro foi arrecada para revitalizar o local e transformá-lo em um parque suspenso. A prefeitura foi convencida da importância do projeto e entrou com uma parte do dinheiro. É um caso interessante que não acontece muito no Brasil, em que uma transformação urbana, que teve reflexões na cidade inteira, aconteceu à revelia do setor público. Foi uma movimentação que começou por causa de seus moradores.
Podemos ver um movimento global das cidades de fortalecimento do espaço público. Uma cidade para as pessoas. Como o senhor vê esse movimento no Brasil?
Acho que podemos ver uma maior consciência sobre o espaço público e sua importância nos últimos anos aqui no Brasil. O que pertence as pessoas não é só o que está do portão da casa para dentro, mas o que também está fora dele. As pessoas estão compreendendo que são responsáveis, sim, e podem tentar melhorar elas mesmas a qualidade do espaço público. No caso brasileiro, o que esbarra é uma cultura de pouco cuidado com o patrimônio público e, ao mesmo tempo, uma preocupação sobre segurança. Os cidadãos ainda enxergam tudo que não é privado como algo inseguro. Apesar disso, estamos presenciando uma mudança de mentalidade, ainda que de forma lenta, mas está acontecendo.
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As cidades brasileiras são muito pensadas para carros?
Nenhuma cidade brasileira, exceto Brasília, teve seu tecido urbano pensado para carros. Elas foram sendo destruídas e adaptadas ao longo das últimas décadas para um urbanismo rodoviário, que privilegia mais o carro em detrimento ao pedestre. No mundo, de uns oito anos para cá, e no Brasil, de uns três anos para cá, as pessoas estão cada vez menos ligadas ao carro e mais atentas à cidade fluida do ponto de vista do pedestre. Já existe uma mentalidade no Brasil, ainda que incipiente, um urbanismo pensado para o pedestre. O Congresso que está acontecendo traduz o que estamos conversando. É o tipo de evento que talvez não aconteceria há 10 anos. Esse também pode ser considerado um sintoma de mudança.
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