Pedagogias Radicais: Instituto de Arquitetura e Urbanismo de Tucumán (1947–1952)

ArchDaily Brasil continua sua parceria com Radical Pedagogiesum projeto de pesquisa colaborativo plurianual em curso, liderado por Beatriz Colomina com uma equipe de estudantes de Doutorado da Escola de Arquitetura da Universidade de Princeton, apresentando uma série de casos paradigmáticos na educação arquitetônica. Neste artigo, Horacio Torrent (Professor Titular da Escola de Arquitetura da Pontificia Universidad Católica de Chile) apresenta o exemplo do Instituto de Arquitetura e Urbanismo daUniversidade Nacional de Tucumán, na Argentina, liderado por Jorge Vivanco e um grupo de arquitetos italianos convidados. O aspecto mais radical do instituto foi a real materialização da arquitetura vinculada a clientes e encomendas reais, sendo o campus da sua própria universidade o mais importante desses projetos.
Em 1947, os professores italianos Ernesto Rogers, Cino Calcaprina, Luigi Piccinato, Enrico Tedeschi e o engenheiro civil Guido Oberti foram convidados a ensinar na Escola de Arquitetura da Universidade Nacional de Tucumán. Jorge Vivanco, o diretor da escola contatou o grupo depois de participar do 6° Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM) em Bridgwater, Inglaterra. Vivanco também convidou os arquitetos argentinos Eduardo Sacriste, Horacio Caminos, Hilario Zalba, José Le Pera, Rafael Onetto, e Jorge Bruno Borgato. Juntos, esses professores foram parte de uma das experiências mais curtas e radicais no ensino arquitetônico na América Latina daquele tempo.
O grupo uniu-se ao Instituto de Arquitetura e Urbanismo, estabelecido como parte da reorganização da Universidade Nacional de Tucumán em um centro científico e cultural durante os anos progressistas da administração de Juan Domingo Perón. O instituto ignorou as práticas tradicionais de ensino e a orientação pragmática voltada à profissão da arquitetura então predominantes na Argentina, em vez disso combinou pedagogia e pesquisa, e uma franca aproximação às instituições públicas e companhias locais. Sua agenda girava em torno a uma aproximação racional que levava em conta as condições locais —que já haviam sido propostas pelo argentino Grupo Austral— bem como teorias organicistas apresentadas pelos professores italianos, alguns dos quais eram membros fundadores da Associazione per l’Architettura Organica (APAO), que também estava conectada à revista Metron.
Os projetos dos estudantes —incorporando conselhos dos professores e especialistas convidados— estavam diretamente relacionados a encomendas reais com as administrações locais e distritais como clientes. Os projetos abordavam uma grande gama de escalas, desde desenvolvimentos urbanos —as vilas operárias para Marapa, Ñuñorco, e os moinhos de açúcar Villa Alberdi— a edifícios —o centro cívico de Catamarca, uma escola e hotel em Purmamarca— e inclusive projetos que abordavam problemas regionais —o Plano Regulador de Jujuy-Palpalá.
O mais significativo desses projetos foi submetido para o campus da Universidade Nacional de Tucumán. Ele estava localizado no monte San Javier, nos arredores da cidade, compreendendo duas áreas distintas, no topo e na base do monte. As estruturas para o topo incluíam um centro comunitário, edifícios educacionais, e apartamentos, conectados por uma área de esportes e recreação. A proposta foi selecionada por Reyner Banham como o primeiro projeto de "megaestrutura" —o bloco de apartamentos estudantis tinha 480 metros de comprimento e foi projetado para acomodar 4000 pessoas.
O centro comunitário emergia como a peça central do projeto, desenvolvido como uma coberta gigante de cascas cônicas côncavas e convexas, sustentada por colunas de 20 metros testadas no laboratório estrutural do Politécnico de Milão. Era debaixo desse grande teto que a vida urbana da universidade teria lugar. Em ilustrações do projeto, a significância social e cultural do centro cívico era expressada através de uma referência direta à Piazza San Marco —um caso que só seria reconhecido mais tarde pela cultura arquitetônica moderna, durante os debates do 8° CIAM em 1950. O centro cívico proposto em Tucumán expressava a ideia de uma nova monumentalidade, advogando por uma dimensão cultural ao espaço urbano que poderia transcender o mero cumprimento da função para representar a própria vida social.
Eduardo Sacriste com seus alunos no Instituto de Arquitetura e Urbanismo em Tucumán
Eduardo Sacriste com seus alunos no Instituto de Arquitetura e Urbanismo em Tucumán
"Radical Pedagogies" é um projeto de pesquisa colaborativo plurianual em curso, liderado por Beatriz Colomina com uma equipe de estudantes de Doutorado da Escola de Arquitetura da Universidade de PrincetonAté o momento, o projeto envolveu três anos de seminários, entrevistas, pesquisa de arquivo, conferências de convidados, e quase 80 colaboradores de mais de duas dezenas de países. Nele e em projetos de pesquisa similares conduzidos pelo programa de Doutorado de Princeton, história e teoria da arquitetura são ensinadas e praticadas como um experimento em e de si mesmas, explorando o potencial para colaboração naquilo que é normalmente tido como um campo de empenho individual.
A terceira edição da exposição, titulada "Radical Pedagogies: Reconstructing Architectural Education", está atualmente em exibição no 7° Festival WARSAW UNDER CONSTRUCTION organizado pelo Museum of Modern Art in Warsaw. Versões anteriores foram apresentadas na 3ª Trienal de Arquitetura de Lisboa (2013) e na 14° Bienal de Arquitetura de Veneza, com curadoria de Rem Koolhaas (2014), onde foi premiada com uma Menção Especial.
Fonte: Torrent, Horacio. "Pedagogias Radicais: Instituto de Arquitetura e Urbanismo de Tucumán (1947–1952)" [Radical Pedagogies: Institute of Architecture and Urban Studies of Tucumán (1947-1952)] 22 Out 2015.ArchDaily Brasil. (Trad. Igor Fracalossi) Acessado 23 Out 2015

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