Como as cidades deveriam se preparar para o envelhecimento da geração "boomer"?

Plano para a Jaypee Sports City conta com um parque contínuo de 16km que envolver um denso tecido urbano de edifícios altos e baixos. Cortesia de CannonDesign     Plano para a Jaypee Sports City conta com um parque contínuo de 16km que envolver um denso tecido urbano de edifícios altos e baixos. Cortesia de CannonDesign

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, um dos maiores agentes de mudança social foi a geração "boomer", aqueles que nasceram nos anos que sucederam a guerra e que, devido ao grande aumento na taxa de natalidade, representam uma quantidade desproporcional da população. Mas qual será o efeito do envelhecimento desse grupo em nossas cidades? Nesse artigo, originalmente publicado na Metropolis Magazine como "How Boomers Will Shape the Future of Our Cities" o diretor da CannonDesign, Peter Ellis, destaca as necessidades de sua geração ao passo que ela envelhece.

Sou um arquiteto e projetista de cidades. Também faço parte da geração boomer, a faixa demográfica com mais de 65 anos que, por conter um grande número de pessoas, está criando uma imensa bolha no topo da pirâmide populacional.

Todavia, não estamos envelhecendo como as gerações que nos precederam. "Seremos capazes de dar às pessoas uma década a mais de saúde plena, graças ao que podemos fazer nos laboratórios agora", diz Brian Kennedy, Presidente e CEO do Buck Institute for Research on Aging em Novato, Califórnia. As ameaças primárias de muitas doenças podem ser controladas, permitindo que as pessoas continuem produtivas aos oitenta, noventa anos e além.

Como esse "revolução" na longevidade humana afetará nossas cidades? Diferentemente de nossos pais, boomers não mudaram para comunidades de aposentados, preferindo, por outro lado, permanecer o maior tempo possível em seus bairros urbanizados - onde podem continuar a ter uma vida ativa.

A qualidade de nossas vidas depende, claro, de mais que os mais recentes avanços nas pesquisas biomédicas. Compreendemos agora que nosso ambiente físico e comportamento são a raiz de muitas de nossas doenças crônicas. Essa crescente consciência salienta nossa demanda por comunidades sustentáveis que proporcionam um estilo de vida ativo e saudável. Minha geração quer permanecer fisicamente ativa, então, ela se deslocou para bairros caminháveis com várias opções de serviços e equipamentos conectados por uma rede de percursos para pedestres e ciclistas.

O projeto de meu escritório para a Jaypee Sports City incorpora muitas dessas estratégias. O plano para essa cidade inteiramente nova, localizada próximo a Nova Deli, Índia, estabelece uma rede de corredores verdes que envolvem quadras de alta densidade com edifícios baixos e altos. Esse parque contínuo e caminhável modera o clima quente e úmido da região, retém as chuvas das monções, proporciona água potável e conecta todos os bairros e equipamentos sociais da cidade.

Em nossas cidades existentes estamos começando a recuperar a esfera pública dominada pelo automóvel, trocando o asfalto por ruas verdes, parques e espaços cívicos. Uma cidade como Portland, líder em espaços urbanos verdes, está começando a quantificar o impacto das políticas ambientais na saúde de seus cidadãos.

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Cidades como Portland, que lideram na criação de espaços urbanos verdes e caminháveis, estão agora começando a quantificar os efeitos dessas políticas na saúde pública. Imagem © Flickr CC user Ian Sane        Cidades como Portland, que lideram na criação de espaços urbanos verdes e caminháveis, estão agora começando a quantificar os efeitos dessas políticas na saúde pública. Imagem © Flickr CC user Ian Sane

Se os boomers pretendem permanecer ativos, nosso sistema de saúde nacional também precisa de uma transformação radical. Para diminuir os custos médicos, alcançar melhores resultados e sustentar a ideia de "envelhecer no seu bairro", é necessário descentralizar o tratamento de hospitais de cuidado intensivo para postos de saúde e ambulatórios, além de empregar o tratamento domiciliar ou em centros comunitários, quando possível. Trabalhando juntamente com a Capital District Health Authority em Halifax, Nova Scotia, criamos um plano para relocar o sistema de saúde centralizado da cidade para centros de saúde comunitários. Esses centros oferecem programas individualizados, ajudando os pacientes a fazerem melhores escolhas quanto a seu estilo de vida. Além disso, a saúde da população de cada distrito pode ser monitorada, permitindo a identificação e tratamento de doenças crônicas. O design e os profissionais da medicina estão agora começando a entender que o projeto da comunidade - seus edifícios, infraestrutura, equipamentos sociais e parques - interferem na saúde de sua população bem além das quatro paredes de um quarto de hospital.

Também temos que levar em consideração que muitos da geração boomer não terão economias o bastante para garantir um envelhecimento confortável e digno. O lado bom disso é que mais idosos permanecerão fazendo parte da força de trabalho e contribuindo com a economia. Essa é uma oportunidade para modelos de trabalho inovadores que ofereçam produtos e serviços ao mercado boomer - assistência domiciliar mais acessível e compassiva, por exemplo.

Mas ao passo que devemos desenvolver serviços e equipamentos que tornem nossas comunidades mais vibrantes e acessíveis, muitos cidadãos podem não estar aptos a participar devido à sua saúde, idade avançada ou limitações financeiras. Isso exerce uma pressão negativa na receita e custos de saúde e serviços sociais da cidade. Precisaremos abordar a própria estrutura e responsabilidades de nossas instituições, nossas comunidades, nossas famílias e nossa parte enquanto indivíduos que fazem parte de um contrato social. Muitas escolhas difíceis terão que ser tomadas.

Minha geração não é a única a desejar um ambiente urbano estimulante, estamos junto com os jovens Millennials, que estão se mudando para nossas cidades em números cada vez maiores. Com efeito, buscamos muitas qualidades semelhantes da vida urbana. Juntas, as gerações boomer e millenial compreendem metade da população de uma cidade típica dos EUA. Unidos, seremos uma força poderosa de mudança. Empreendedores inspirados e líderes comunitários reconhecem que tanto jovens profissionais como pessoas mais velhas contribuem para promover o engajamento comunitário. Isso é, de fato, a cidade e seu melhor, o tempero que faz valer a pena viver. Gostaria de imaginar que haverá um coro cada vez mais alto clamando por mudanças profundas que trarão nossas cidades para mais perto da visão de Jane Jacobs de uma comunidade urbana ideal. Esperamos ser participantes ativos não na "vida e morte" de nossas grandes cidades, mas de sua ressurreição.

Peter Ellis, FAIA, lidera o escritório de projetos urbanos CannonDesign, com projetos em Dubai, China, Alemanha e Estados Unidos.

Fonte:Peter Ellis. "Como as cidades deveriam se preparar para o envelhecimento da geração "boomer"?" [How Should Cities Prepare for an Aging Boomer Population?] 17 Mar 2015. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado 17 Mar 2015.  http://www.archdaily.com.br/br/763903/como-as-cidades-deveriam-se-preparar-para-o-envelhecimento-da-geracao-boomer?ad_medium=widget&ad_name=most-visited-index

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