Uma perspectiva crítica da cidade modernista

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As cidades do século XIX passavam por problemas de saúde e salubridade. As ruas abrigavam pessoas, carruagens e cavalos. A partir de meados do século XIX a cidade de Paris passa pela reforma de Haussmann que sobre a ótica positivista trouxe o saneamento em larga escala para a cidade. Além disso, Paris passou a ter largos boulevares que tinham a função de controlar as revoltas e manifestações que ocorriam na cidade.
Quase um século depois, em 1933 surge a carta de Atenas que inaugura o movimento modernista. Daí surge o urbanismo modernista que a dá prosseguimento ao positivismo e remodela a cidade visando o bem estar do ser humano, mais especificamente no sentido da iluminação natural e na ventilação. Nesse ponto o urbanismo modernista tinha como foco o homem.
O urbanismo modernista trata a cidade como um meio que precise de ordem e para que isso ocorra, se define 4 funções básicas para a cidade : Morar, trabalhar, cultivar o espírito e circular. A cidade é definida em áreas monofuncionais, em que a circulação interliga as outras três funções. Circulação esta regida por automóveis, tempos modernos exigiam velocidade e eficiência.
No entanto o modernismo teve que lidar com a cidade construída, existente. Portanto para que a cidade modernista surgisse, era preciso apagar o passado e surgir com o novo. O urbanismo modernista, juntamente com a arquitetura apagou uma parte do passado; a segunda guerra mundial apagou outra. No entanto parte de um passado permaneceu, o urbanismo modernista não conseguiu apagar o velho e deve que conviver num espaço de diferentes tempos.
A cidade de Brasília é uma exceção já que foi uma cidade totalmente projetada a partir do “nada” em termos de ocupação anterior a construção da cidade, sendo assim a reprodução mais fiel do urbanismo modernista no mundo. Brasília recria as super quadras, com padrões de ocupação definidos e o uso da terra como uso coletivo e, portanto de todos. Além disso, no plano da cidade havia uma mistura de classes sociais morando nas superquadras trazendo uma diversidade social imprescindível para o bem estar público.
No entanto a separação das funções criou duas Brasílias: uma na escala monumental para o automóvel e outra da escala agradável nas super quadras. Mas fazendo isso a cidade perdeu sua vida urbana já que vida na cidade ocorre nos espaços entre os edifícios e nos espaços vazios e de funções misturadas na cidade. Projetaram-se espaços generalistas demais, onde pode ocorre tudo e o nada. O nada prevaleceu. A cidade não foi feita para as pessoas, mas sim e exclusivamente para o automóvel. Tudo isso em nome de um padrão de homem idealizado, algo que nunca ocorreu.
E por fim o planejamento rígido da cidade, ao invés de estimular a diversidade social, a excluiu e assim nascem as cidades satélites que crescem desordenadamente em volta da capital. Essas foram as consequências que geraram a derrota de um modelo urbanístico que fracassou e nos custa caro reproduzi-lo até hoje.
*foto: iwan baan iwan.com
Por Rogério Guimarães Misk Filho
PUC MINAS

Fonte: http://arquipelago.in/?p=678

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