Entre 4 de julho de 2014 e 8 de fevereiro deste ano o Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Trento e Rovereto - MARt, prestou uma homenagem ao arquiteto português Álvaro Siza com a exposição Álvaro Siza. Dentro do ser humano. Apresentamos a seguir o texto integral de apresentação do curador da exibição, Roberto Cremascoli, ilustrada por fotografias de Fernando Guerra e vídeos dos projetos de São Bento, Chiado e Malagueira.
Álvaro Siza. Inside the human being descreve a prática de um arquitecto.
Fá-lo, percorrendo o seu itinerário metodológico construído sobre 1) experiências pessoais, sobre 2) curiosidade (alimentando-se de tudo aquilo que o circunda, porque como ele próprio afirma a paisagem é tudo aquilo que existe no campo visível), sobre 3) a realidade que encontra onde actua e sobre 4) processos de transformação que inevitavelmente são o resultado da acção sobre a própria realidade, desde o momento em que se pensa até o pôr em prática. É o método Álvaro Siza, que utiliza o homem para medir o homem.
Fá-lo, percorrendo o seu itinerário metodológico construído sobre 1) experiências pessoais, sobre 2) curiosidade (alimentando-se de tudo aquilo que o circunda, porque como ele próprio afirma a paisagem é tudo aquilo que existe no campo visível), sobre 3) a realidade que encontra onde actua e sobre 4) processos de transformação que inevitavelmente são o resultado da acção sobre a própria realidade, desde o momento em que se pensa até o pôr em prática. É o método Álvaro Siza, que utiliza o homem para medir o homem.
Transformação, método. Como num processo evolutivo.
Reconstrução é o processo de transformação, acto intrínseco da prática arquitectónica.
O que importa é dar continuidade, transformando, com bom senso: Álvaro Siza recolhe e continua aquilo que foi deixado, utiliza o encontrado, modifica-o e permite a quem vem depois uma contribuição, uma participação nas mudanças (inevitáveis, necessárias).
O seu objectivo é o de melhorar a qualidade dos espaços e, por consequência, as condições de vida de quem os utiliza.
Para Álvaro Siza torna-se assim fundamento imprescindível da arquitectura pôr-se ao serviço do homem, colocar o seu saber a favor de uma intervenção colectiva. O homem e a cidade.
Reconstrução é o processo de transformação, acto intrínseco da prática arquitectónica.
O que importa é dar continuidade, transformando, com bom senso: Álvaro Siza recolhe e continua aquilo que foi deixado, utiliza o encontrado, modifica-o e permite a quem vem depois uma contribuição, uma participação nas mudanças (inevitáveis, necessárias).
O seu objectivo é o de melhorar a qualidade dos espaços e, por consequência, as condições de vida de quem os utiliza.
Para Álvaro Siza torna-se assim fundamento imprescindível da arquitectura pôr-se ao serviço do homem, colocar o seu saber a favor de uma intervenção colectiva. O homem e a cidade.
Fá-lo, em 1974 e até 1976 com as brigadas SAAL (Serviço Ambulatório de Apoio Local), juntamente com os amigos /colegas Nuno Portas, Alexandre Alves Costa, Adalberto Dias, Eduardo Souto de Moura, Domingos Tavares, logo depois da revolução dos cravos que – sem derramar sangue, sem disparar um tiro– depôs a ditadura em Portugal, vigente á mais de quarenta anos. Os arquitectos ajudam a população a organizar-se a fim de participar na transformação dos quarteirões, construindo as suas próprias casas. As habitações sociais da Bouça e de São Victor no Porto são um magnífico exemplo de community empowerment, um momento irrepetível de democracia.
Fá-lo, desde 1977 no plano de expansão da cidade de Évora, no quarteirão da Quinta da Malagueira, numa área de 27 hectares na qual constrói 1200 fogos sociais, com a população envolvida nos processos de restruturação do território. As linhas de casas em dois pisos, dispostas em fila, apoiam-se numa infraestrutura que distribui água e energia eléctrica, como o aqueduto de uma antiga cidade romana. Transforma a paisagem como um artifício histórico. Novas praças, ruas e jardins dão cor ás casas-pátio e sucedem-se entre os lotes. Os espaços interiores e exteriores são tratados do mesmo modo, com qualidade, porque na arquitectura de Álvaro Siza não existem espaços secundários. As suas pessoas são sempre iguais, no mesmo plano: acredita numa sociedade sem classes e num mundo de indivíduos sem títulos -Doutor ou Senhor Doutor. Aprende cada coisa com quem quer que seja.
Fá-lo, em Berlim (1980-1990) nos projectos dos Block 121 em Kreuzberg e em L’Aja (1984-1993) na zona de Schilderswijk: projectos de habitação social, construídos para imigrantes. Na Holanda, são montados protótipos dos apartamentos em pavilhões improvisados para recolher dicas sobre o projecto e discutir as suas variantes com a população.
Álvaro Siza era chamado in situ, no norte da Europa, porque ouvia e compreendia os problemas da comunidade, dando respostas imediatas. Sabia falar com as pessoas, como disse Pierluigi Nicolin.
Álvaro Siza era chamado in situ, no norte da Europa, porque ouvia e compreendia os problemas da comunidade, dando respostas imediatas. Sabia falar com as pessoas, como disse Pierluigi Nicolin.
Fá-lo, em Lisboa no Chiado (1988) quando é chamado imediatamente depois do incêndio provocado por um curto-circuito nos grandes armazéns. Álvaro Siza chega a Lisboa, ainda há fumo, e um quarteirão inteiro destruído. Entre o cruzamento das ruas do Carmo/Nova e Almeida Garret retomará vida, alguns anos depois daquele desastre, um importante espaço cívico e histórico da capital. A extraordinária beleza da intervenção devolve á luz uma atmosfera de outros tempos. O sucesso da revitalização do quarteirão, também do ponto de vista turístico, deve-se á reinvenção dos espaços colectivos. Com a abertura de algumas frentes sobre as ruas são criados novos pátios de uso público, zonas comerciais, de descanso e contemplação.
Fá-lo, na prática quotidiana.
Durante as comemorações dos quarente anos do programa SAAL, no passado 10 de Maio de 2014, Álvaro Siza declarou que a partir dos anos setenta a Europa interessa-se pela experiência portuguesa. É um momento irrepetível, de instabilidade política e social: a primavera de Praga, a revolução estudantil de Paris, a queda das Ditaduras de Portugal e Espanha, os grupos terroristas da Irlanda do norte, os anos de chumbo em Itália.
Descreve ao público presente as ardentes reuniões noturnas, semanais, com as cooperativas de habitantes.
Descreve ao público presente as ardentes reuniões noturnas, semanais, com as cooperativas de habitantes.
Diz: “sem conflito não há participação, há manipulação!”
“Participação não era ainda palavra maldita”.
“Participação não era ainda palavra maldita”.
9 de Junho de 2014
Roberto Cremascoli
Roberto Cremascoli
O texto foi mantido em português de Portugal, assim como na versão original.
Fonte: Romullo Baratto. "Álvaro Siza: Dentro do homem moderno, dentro do homem da Europa" 17 Ago 2015.ArchDaily Brasil. Acessado 17 Ago 2015. http://www.archdaily.com.br/br/771989/alvaro-siza-dentro-do-homem-moderno-dentro-do-homem-da-europa
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