Mesmo premiado pela Finep, sistema não tem apoio para desenvolvimento e uso
Reginaldo Marinho na Feicom 2011
Reconhecimento internacional não faltam à tecnologia Construcell, premiada com medalhas de ouro no 28º Salão de Invenções e Novas Tecnologias de Genebra e no BBC Tomorrow’s World Live. No Brasil, entretanto, ela segue ignorada, queixa-se seu inventor, Reginaldo Marinho, que visitou o CAU/BR para falar do sistema que propõe o uso inovador de leves estruturas de resina plástica como contraponto às tradicionais soluções que utilizam concreto, metal e madeira.
A base construtiva é um prisma triangular. O triângulo é a forma de geometria plana mais simples e por isso indeformável. As faces laterais dos módulos prismáticos, fixadas por parafusos ou cola apropriada, atuam como treliças que criam uma casca cilíndrica com formato semelhante aos arcos romanos. A configuração geométrica resulta em um sistema de vigas polidirecionadas, diz Reginaldo Marinho, “assegurando elevada estabilidade estrutural, o que permite a construção de grandes coberturas autoportantes sem nenhuma coluna interna”.
Esquema do prisma
O sistema foi apresentado no Brasil em conferências no 19º Congresso Brasileiro de Arquitetos, em 2010, na 5ª. Bienal de Arquitetura de Brasília e outros eventos nacionais. A empresa Construcell foi constituída para participar do edital Prime da Finep e o seu empreendimento foi selecionado em primeiro lugar na classificação do Prime, recebendo a nota máxima (dez) em grau de inovação. A Finep assegurou às empresas que executassem integralmente o programa Prime receberiam, no ano seguinte, o apoio para o desenvolvimento da própria tecnologia, pois os recursos do Prime eram direcionados exclusivamente a atividades de consultoria. Até hoje, entretanto, a promessa foi cumprida.
As demandas para esse sistema são diversificadas e atendem a uma grande variedade de aplicações. ”O sistema Construcell pode ser usado em estádios de futebol, hangares, galpões industriais, centros de convenções, espaços culturais, armazéns, silos, estufas e outras construções que requeiram coberturas de grandes dimensões. O gramado natural dos estádios cobertos será diretamente beneficiado com a fotossíntese garantida pelo uso de módulos transparentes ou translúcidos”, afirma o inventor, paraibano de 66 anos, jornalista que não concluiu seu curso de Engenharia para se dedicar, há cinco décadas, ao ensino e divulgação da geometria descritiva, fonte de inspiração de sua criação.
Segundo seu criador, o sistema introduz dois novos paradigmas na Engenharia. “Será a primeira estrutura do mundo inteiramente em plástico e a primeira construção completamente transparente, quando os módulos também o forem. Todas as maravilhosas construções transparentes do mundo, como a Pirâmide do Louvre, são suportadas por estruturas de aço, que são opacas. Em Construcell, até os parafusos para a fixação dos módulos podem ser transparentes”. Sendo uma estrutura articulada, o sistema pode ser útil em áreas sujeita a abalos sísmicos. Cada módulo absorve e distribui os esforços gerados pela energia dos terremotos.
Trezentas garrafas PET seriam retiradas do ambiente para construir cada metro quadrado de área coberta. Os módulos poderão ser feitos também com calcita, betonita, fibras vegetais de sisal, coco ou os resíduos de madeira conhecidos como pó de serra. O sistema poderá ajudar ainda na recuperação dos resíduos de betonita usados como lubrificantes, pelas empresas petrolíferas, na perfuração de poços de petróleo e descartados na natureza.
Testes estruturais realizados pelo engenheiro Argemiro Brito aprovaram o uso do Construcell para vãos de 20 metros, com uso de prismas com espessura de três centímetros, que justapostas foram vigas de seis centímetros. Os prismas transparentes poderiam ser usados em locais com aproveitamento de energia solar. No caso de hangares e galpões eles seriam opacos. As resinas seriam tratadas com material antichamas e contra raios ultravioletas. O uso de insumos reciclados contribuiria para a construção de estruturas com custos inferiores às soluções convencionais. Contribuindo com o ambiente, seriam levadas para a obra apenas as peças a serem aplicadas.
Projeto de cobertura com uso da tecnologia
Para Reginaldo Marinho, a compreensão da realidade econômica brasileira, que nunca conseguiu incluir de forma eficaz a contribuição do trinômio Ciência/Tecnologia/Inovação no cardápio do desenvolvimento econômico, explica o “fracasso’ da tecnologia que inventou. “É ínfima a participação de produtos tecnológicos brasileiros na formação do Produto Interno Bruto, na pauta de exportações e da baixa competividade da indústria nacional. Não há como dissociar a nossa tecnologia desse panorama”.
“O documento mais contundente elaborado pelo governo brasileiro (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) para esse setor é de 1998, conhecido por Relatório da Inventiva Nacional. O documento apresenta um diagnóstico perverso da realidade brasileira no cenário de C&T. A partir desse diagnóstico, nada foi feito e o cenário tecnológico não sofreu alterações relevantes. A contribuição acadêmica continua próximo de 1% dos depósitos de patentes brasileiras, o que justifica o desprezo institucional por quem produz tecnologias radicais independentes do ambiente acadêmico”.
Dados da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Ompi), relacionados ao depósito de patentes, entre 1985 e 2011, indicam que o Brasil passou de 1.954 depósitos para 4.701 (crescimento de 2,40 vezes); o Japão passou de 274.348↗287.580 depósitos (crescimento de 1,04 vezes); Estados Unidos variou de 63.348↗247.775 (crescimento de 3,89 vezes); a Coreia saiu de 2.702↗138.034 (crescimento de 51,08 vezes) e a China foi de 4.065↗415.829 (crescimento de 102,29 vezes). “Esses números mostram claramente como as economias dessas nações evoluíram no período, com a contribuição tecnológica, o que lamentavelmente não ocorre no Brasil”, conclui Reginaldo Marinho.
Fonte: http://www.caubr.gov.br/?p=46209
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