O histórico de uso das telas metálicas industriais em fachadas e o projeto da envoltória do Centro Paula Souza
Pedro Taddei, arquiteto e coautor do projeto do Centro Paula Souza
A pesquisa da linguagem e ambiência
A conformação do espaço arquitetônico resulta da evolução de diferentes rudimentos na elaboração do projeto, dentre os quais, a pesquisa da linguagem e ambiência. Os sistemas de envoltória translúcida da edificação permitem filtrar condições ambientais previstas e criar atmosferas que influenciam positivamente as atividades humanas, propiciando também acabamento tecnológico e valores estéticos, em consonância ao desenvolvimento da linguagem do edifício.
Grandes obras que utilizam texturas translúcidas para a filtragem da luz natural advêm emuma ambiência particular, utilizando recursos de linguagem, como é o caso do Instituto do Mundo Árabe, de Jean Nouvel, onde um sistema de diafragmas metálicos foto-sensíveis entre placas de vidro formam uma fachada de composição quadricular e tecnológica, assegurando uma luminosidade singular.
Os brises opacos, que são tradicionalmente utilizados como grandes aletas fixas ou móveis, ao barrar inteiramente os raios solares, acabam retendo grande parte da luminosidade natural e da visão de dentro e de fora. Por outro lado, elementos reticulados translúcidos podem garantir a filtragem da luz na dosagem necessária, impedindo o excesso da incidência direta dos raios solares sem obstruir a visão do ambiente externo, para quem está dentro, e de uma nuance dos objetos internos, para quem está fora.
As telas metálicas industriais, feitas de um reticulado de cabos e barras redondas de aço inox, têm sido utilizadas como elemento sobreposto a fachadas de vidro em diversos empreendimentos fora do Brasil, para cumprir a função de filtragem da luz e permeabilidade visual, com boa resistência a intempéries e qualidade estética.
Os primeiros estudos colocados em prática no escritório remontam a 2004, no projeto do Campus da Unesp na Barra Funda, complexo que envolve salas de aulas, laboratórios, centro de convivência, reitoria, creche e moradia. Na primeira etapa, foram construídos os dois blocos dos institutos de Física Teórica e de Artes (figuras 1 e 2), com demandas de salas de aula, laboratórios, auditórios, salas de pesquisa, bibliotecas, oficinas, ateliers, anfiteatro, teatro-escola, entre outros.
Os primeiros estudos colocados em prática no escritório remontam a 2004, no projeto do Campus da Unesp na Barra Funda, complexo que envolve salas de aulas, laboratórios, centro de convivência, reitoria, creche e moradia. Na primeira etapa, foram construídos os dois blocos dos institutos de Física Teórica e de Artes (figuras 1 e 2), com demandas de salas de aula, laboratórios, auditórios, salas de pesquisa, bibliotecas, oficinas, ateliers, anfiteatro, teatro-escola, entre outros.
Figura 1 - Instituto de Artes da Unesp |
Figura 2 - Instituto de Física Teórica da Unesp |
O sistema de fechamento adotado para ambos foi a instalação de uma envoltória de painel metálico com miolo de poliuretano expandido e chapa metálica perfurada afastada 0,5 m das alvenarias e janelas das fachadas. Este painel afastado protege os ambientes internos, trazendo benefícios de uma fachada ventilada, ao mesmo tempo em que não impede a abertura das janelas para a ventilação natural. Para as salas de aula (figuras 3 e 4), as chapas pintadas de branco tipo "cubana coniduri" filtram os raios solares, criando um ambiente com iluminação difusa sem impedir a visão do entorno. Este elemento repete-se nas áreas de público, onde tal efeito é desejável, como no hall principal (figura 5).
Figuras 3 e 4 - Sala de aula e detalhe do painel metálico com tela perfurada na Unesp |
Figura 5 - Hall do Instituto de Artes |
No projeto da Biblioteca de Jundiaí (figuras 6 e 7), de 2.500 m² de área e quatro pisos suspensos sobre pilotis, os pavimentos de leitura são fechados em painéis de vidro laminado. A partir dos bordos da cobertura, uma pérgola em vigas metálicas avança cerca de 5m em todo o perímetro, sustentando em sua extremidade um plano vertical de telas reticuladas em aço inox atirantadas ao piso, como um véu protetor que filtra a luminosidade excessiva e a incidência direta dos raios solares, sem, contudo, obstruir a visão tanto dos freqüentadores sobre o jardim circundante, quanto dos transeuntes sobre o interior da biblioteca.
Figuras 6 e 7 - Biblioteca de Jundiaí e detalhe da tela de aço inox |
Posteriormente, nos projetos para estações ferroviárias da CPTM, foi pesquisado um material de baixo custo que formasse uma camada de proteção das áreas públicas mantendo as qualidades da relação entre a filtragem da luminosidade e a permeabilidade visual.
Figuras 8 e 9 - Estação Jaraguá da CPTM e detalhe da camada de proteção |
No projeto da estação Jaraguá (figuras 8 e 9), a camada translúcida foi formada comuma chapa de aço galvanizado pintada e perfurada, afastada 1,80 m do fechamento de vidro do mezanino. O resultado éuma envoltória leve e transparente para a estrutura metálica de pórticos treliçados e arqueados, ancorados lateralmente na laje de piso, com cobertura de telhas metálicas e policarbonato.
Figura 10 - Estação Francisco Morato da CPTM |
Figura 11 - Detalhe do elemento de fixação da chapa perfurada |
Na estação Francisco Morato (figuras 10 e 11), a mesma camada de chapa de aço galvanizado pintada tipo "cubana coniduri" foi afastada entre 1,70 m e 2,70 m da laje do edifício existente, mantido como um espaço de uso público. A estrutura de sustentação dessa camada translúcida foi elaborada como uma esquadria de perfis metálicos, ancorada por suportes tubulares fixados à estrutura de concreto.
Figuras 12 e 13 - Vista do saguão Estação Provisória de Francisco Morato e detalhe do fechamento |
Figura 14 - Vista da chapa metálica perfurada |
Na estação provisória de Francisco Morato (figuras 12, 13 e 14), a envoltória do saguãode estrutura em pórticos metálicos treliçados foi designada em telhas metálicas pintadas perfuradas. O processo de furação da chapa metálica é anterior ao perfilhamento no formato trapezoidal, o que permite manter o desempenho da rigidez e encaixe das telhas. Como resultado, obteve-se a proteção necessária às intempéries com ampla iluminação e ventilação naturais, alta visibilidade e baixíssimo custo.
O Centro Paula Souza e Etec Santa Ifigênia
Nas pesquisas de linguagem e ambiência, o relacionamento entre as camadas translúcidas de envoltória e a atmosfera desejável traz diferentes resultados em cada caso, agregando conhecimento aos novos projetos. No Centro Paula Souza e Etec Santa Ifigênia, os diferentes tipos de atividades foram agrupados em blocos e relacionados entre si segundo a organização espacial do conjunto.
Figuras 15 e 16 - Tela em aço inox no edifício administrativo e detalhe de fixação |
Figura 17 - Detalhe do passadiço de manutenção da tela e do painel de vidro |
No edifício administrativo (figuras 15,16 e 17), estão reunidas as atividades de escritório, com demandas de ampla luminosidade, proteção da incidência solar e transparência. Com planta retangular livre (figura 18) em quatro pavimentos sobre térreo e mezanino, prevaleceu nas fachadas o fechamento em vidro laminado e duas faces de concreto voltadas ao pátio interno, abrigando núcleos de circulação e sanitários. Sobre a fachada de vidro foi sobreposta uma tela reticulada em cabos de aço inox, afastada em 1 m nas faces maiores e 0,3 m nas faces menores, cumprindo a função de filtragem e transparência.
Figura 18 - Planta do edifício administrativo |
A função da camada metálica transparente é notória no contraponto à superfície de concreto, ao relacionar as diferentes materialidades com as atividades que abrigam. Para o observador no entorno, apenas nuances dos objetos internos são visíveis, ao passo queinternamente a tela é pouco presente, permitindo um panorama do entorno nos amplos ambientes de trabalho (figura 19).
Figura 19 - Vista interna da tela de aço inox |
As sobrecoberturas a 30 m de altura envolvem os blocos administrativo e de salas de aula (figura 20), restauram o perímetro do quarteirão e cumprem a função de amenizar a incidência dos raios solares sobre os ambientes internos. O uso de telhas zipadas perfuradas nestes elementos produz mais uma camada de filtragem da luminosidade, como observado nas experiências anteriores.
Figura 20 - Sobrecobertura entre edifício administrativo e Etec |
No edifício de salas de aula e laboratórios da Etec (figuras 21 e 22), o afastamento entre os dois blocos e a implantação das passarelas de circulação no perímetro exterior criaram um átrio protegido do movimento e do barulho exterior, ambiente propício à concentração que estas atividades exigem.
Figura 21 - Terceiro pavimento da Etec |
Figura 22 - Edifício da Etec Santa Ifigênia no Centro Paula Souza |
Para proteger as janelas voltadas ao átrio, foram instalados brises fixos com formato de meia asa de avião, afastados com passadiços de manutenção, em quantidade e posição calculada com diagramas de insolação para impedir que os raios solares incidentes atrapalhem as aulas (figuras 23 e 24).
Figuras 23 e 24 - Átrio entre blocos de salas de aula e detalhe de fixação dos brises |
Na biblioteca da Etec (figura 25), construída no espaço contíguo ao edifício remanescente incorporado ao conjunto, foi necessária uma maior proteção ao exterior para criar um ambiente introspectivo de leitura e proteger o acervo de livros. Desta maneira, a camada envoltória foi elaborada em brise de tubos lisos com pequeno espaçamento entre eles.
Figura 25 - Proteção de brises tubulares na área da biblioteca |
Conclusão
Linguagem e ambiência são palavras sinônimas na elaboração de um projeto de arquitetura. Sua simbiose determina grande parte do sucesso da empreitada, agregando valores materiais e poéticos na configuração do novo espaço urbano. A produção de conhecimento no processo de projeto e a sua divulgação contribuem ao desenvolvimento de novos sistemas construtivos, novas formas do habitar urbano para a transformação da realidade a sua volta.
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