Livro conta com fotos de Luiz Baltar, fotógrafo documentarista que desde 2009 acompanha o drama das remoções no Rio de Janeiro
Sob o argumento da realização de megaeventos esportivos, o prefeito Eduardo Paes promoveu a remoção de mais de 65 mil pessoas de suas casas no Rio de Janeiro – número superior aos despejos realizados por Pereira Passos e Carlos Lacerda juntos. Esta é uma das conclusões a que chegou Lucas Faulhaber em sua pesquisa de conclusão da graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal Fluminense. O levantamento resultou no livroSMH 2016: Remoções no Rio de Janeiro olímpico, alvo de recentes críticas do atual prefeito.
Em sabatina promovida pelo Portal UOL e pela “Folha de S. Paulo'' no dia 22 de Julho, Eduardo Paes classificou o livro como “conjunto de asneiras'' e “panfleto de oposição''. Sem citar data, o prefeito afirmou que será lançado, pela Prefeitura do Rio, “um site contestando esse livro e outras mentiras''. No entanto, durante a entrevista conduzida pelos jornalistas Mônica Bergamo e Mário Magalhães, que o questionaram sobre as remoções compulsórias, Paes não rebateu os dados apresentados na obra.
Faulhaber fez um mapeamento das remoções feitas pela gestão do prefeito Eduardo Paes entre os anos de 2009 e 2013. Os dados foram expressos em mapas que evidenciam a transferência da moradia de pessoas de baixa renda das áreas mais valorizadas da cidade para os limites da área urbana. Para o arquiteto, o processo visa a atender os interesses do mercado imobiliário.
Violação de direitos A jornalista Lena Azevedo foi convidada a colher histórias de pessoas atingidas pelas remoções. Por dois meses ela fez entrevistas com moradores que foram forçados a deixar suas casas em oito comunidades cariocas. Os relatos formam a segunda parte do livro. Somado aos depoimentos, um riquíssimo trabalho fotográfico de Luiz Baltar, fotógrafo documentarista que desde 2009 acompanha o drama das remoções no Rio, a obra evidencia a violação de direitos dessa população removida de forma compulsória.
O prefácio do livro é assinado pela arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, professora da Universidade de São Paulo (USP), que entre 2008 e 2014 foi relatora da Organização das Nações Unidas (ONU) para o direito à moradia adequada.
“Um dos pontos mais fortes deste estudo é trazer informações precisas e – por serem muito difíceis de encontrar e sistematizar – preciosas sobre as remoções dos pobres urbanos no Rio de Janeiro, no contexto do projeto de modernização pré-Copa e Olimpíadas. Quantas pessoas foram removidas, em que condições, sob quais justificativas e para onde foram são perguntas respondidas aqui. Mas o trabalho não se resume a apenas isto. As respostas são analisadas em sua lógica espacial. Mostram que as desapropriações e remoções têm uma geografia baseada num processo milimétrico de desconstrução de direitos e abertura de uma área da cidade como nova fronteira de expansão do mercado imobiliário” (trecho do prefácio assinado por Raquel Rolnik).
O livro SMH 2016: Remoções no Rio de Janeiro olímpico é uma publicação da Mórula Editorial e está a venda no site da editora, onde também é possível visualizar parte da publicação.
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