Lana Kantor
Além da ‘Cor do Ano’, a Pantone agora também lança tendências específicas para design de interiores no guia inédito Fashion Home + Interiors. Não entendeu nada até agora ou não sabe por quê esse poder foi conferido à Pantone? Nesse post você vai entender:
- O que é a Pantone e porque as tendências da empresa importam;
- Por que cores, design de interiores e padrão de consumo estão relacionados;
- Quais são as 9 paletas de cores e ambientes que vão inspirar o design em 2016.
Tudo aqui e agora. Vem ver:
imagem via Brain Pickings
O primeiro ponto que muitas pessoas confundem é: não, a Pantone não fabrica tintas. Na verdade, a Pantone criou uma ‘linguagem de cores’, o Pantone Matching System (PMS), que funciona como um grande dicionário para obter fórmulas de cores padrão.
Ok, mas qual a aplicação desse sistema? Bom, as cores são essenciais para a indústria criativa, e obter uma padronização é muito importante quando os produtos, tecidos e impressos precisam ser iguais. Com o sistema Pantone, é possível garantir que o vermelho de um objeto brasileiro seja o mesmo quando a peça for produzida na China, por exemplo.
A Pantone também conseguiu definir cores especiais, como fluorescentes e metálicas, que vão além do sistema de cores de um computador (RGB) ou de impressoras convencionais (CMYK).
via Eu Compraria
Formalmente, esses ‘dicionários’ foram batizados de ‘Color Guides’, e são vendidos e atualizados todo ano. Junto com eles, a Pantone também define a ‘Cor do Ano’ desde 2000. Em 2015, tivemos o tom Marsala - nesse post a gente dá dicas sobre a aplicação da cor na decoração e faz uma retrospectiva das Cores do Ano.
A empresa é tão relevante entre profissionais da indústria criativa que não é difícil encontrar itens promocionais com cores sólidas e a identidade da marca: de capinhas de celulares, canecas, bolsas, quadros, móveis a enfeites de Natal, todo mundo quer um pouco de Pantone.
Cena de Procurando Nemo da Pixar, via Lost in Internet
Mas a Pantone também não é só um sistema de cores. Como um Instituto, a empresa empresta influências de roupas, sapatos, bolsas, joias, da indústria do entretenimento e até da alimentação para compreender, e não simplesmente definir as tendências arbitrariamente.
Para Latrice Eiseman, diretora de cores da Pantone, a principal referência para descobrir quais serão as melhores combinações de cores são animações e filmes infantis, que utilizam muito bem o combo tecnologia + matizes diferentes.
E a caça por tendências - o famoso ‘coolhunting’ - não para por aí. A Pantone leva em consideração fatores econômicos e socioculturais a cada cartela. A diretora brasileira do Instituto, Blanca Liane, lembra que em momentos de crise, nos afastamos do preto e procuramos por tons menos contrastantes: diga adeus ao preto absoluto e comece a pensar em tons de branco e cinza.
Rosas e tons avermelhados também estão em alta, já que segundo Blanca, quando a sociedade passa por momentos difíceis, procuramos por tons que remetem ao amor (♥).
Para 2016, as cores foram pensadas em três grupos de consumo/lifestyle:
imagens via Refinery 29 e Stocksnap.io
Betapreneurs: é um estilo de vida baseado no consumo sustentável, que recusa supérfluos. É a volta para o básico: estética campestre, itens feitos à mão e tons de marrom. Assar o próprio pão, colher o próprio alimento e tomar café em xícaras de cerâmica são alguns dos hábitos desse grupo que procura satisfazer suas necessidades do jeito mais simples possível.
imagens via Mommy P, Divulgação
Urbanos (Hygge): você consegue imaginar São Paulo em 2065? Se é difícil ir de um ponto a outro na cidade hoje, no futuro, as pessoas de grandes metrópoles não vão investir em experiências nem tão agradáveis de deslocamento e começarão a valorizar as vizinhanças, organizadas em pequenos flats urbanos com espaços comunitários.
Seu vizinho vai ser seu melhor amigo e você vai retomar hábitos antigos, mais atualizados do que nunca: hortas domésticas, fotografia analógica, crochê, bordados à mão, coleção de selos e tudo o que remeter a um ar nostálgico será valorizado, junto a tons de vermelho escandinavo.
imagens via Venture Beat
Nômades: são de uma faixa etária jovem, que por terem um acesso mais facilitado ao consumo, não consideram comprar uma prioridade frente às experiências. Tudo tem potencial de ser compartilhável, sem perder uma estética clean e simples. A vida é reduzida a 100 itens, mas pelo menos três deles precisam ser eletrônicos.
Casa passa a significar onde você está ou onde coloca seus investimentos em arte contemporânea. Cinzas, beges e cores pálidas contribuem para essa estética de ‘menos é mais’.
Com esses grupos de consumo estabelecidos, a Pantone tem plena consciência de que embora as tendências de moda consigam ser atualizadas com mais facilidade, estilos de vida e investimentos em arquitetura, construção e interiores não são efêmeros para a maioria da população. E como você (finalmente!) vai ver, o conceito para Fashion Home + Interiors da Pantone pode dar o tom não só para 2016, mas para projetos em que a permanência é um critério importante:
imagem via Bol Entretenimento
Natural Forms (Formas Naturais)
Como o próprio nome já diz, essa paleta empresta referências da natureza. Não há espaço para materiais que pareçam sintéticos, dando um senso de substância e realidade. Os tons fogem de qualquer ambiguidade e são diretamente formulados a partir da coloração de argila, ferrugem, bege das ovelhas, o verde das folhas, bem como o ameixa do vinho e cobre.
imagen via DesignBuildIdeas
Dichotomy (Dicotomia)
Os opostos se atraem: cores opostas são combinadas através de tons mais claros de sua base. A paleta tem uma atmosfera contemporânea e pede por texturas tão inovadoras quanto: aço inoxidável, pedras e superfícies lisas são acentuadas com texturas.
imagem Divulgação
Ephemeral (Efêmera)
Como a efemeridade de uma bolha, essa paleta foi construída sobre tons pastel. A suavidade dos tons e essa relação delicada entre eles ganha destaque visual ao ser contraposta por tons de castanho, cinza e off-white.
A cartela fica ainda mais interessante quando pensamos que mesmo em tons pastel, as cores podem assumir acabamentos em neon e materiais iridescentes, que dão mais personalidade aos ambientes.
Você pode conferir 6 ambientes decorados com essa tendência nesse post do bim.bon.
cena do filme ‘The Grand Budapest Hotel’, via Cinedork
Lineage (Linhagem)
Tradição, herança e árvores genealógicas: tons convencionais, que remetem a paletas parecidas com o que pensamos de Velho Mundo e monarquias europeias ganham certa irreverência pela extravagância e alto contraste. Tons batizados de Caviar e Champagne encontram o ‘Vermelho Marciano’ e tons púrpuras.
imagem via HomeDecorIdeas
Soft Phocus (Foco suave)
Tons pastéis, mas nem tanto. É o retorno ao minimalismo dos anos 90, quando as cores foram minimizadas. Descritas como sutis, ‘mudas’ e cobertas pela névoa, as cores são ideais para decorar ambientes de passagem, halls de entrada e lavabos. Como base, encontram força no dourado (Starfish) e no marrom (Major Brown).
imagem via New York Post
Bijoux
Bijuteria? Não. Na tradução do francês, bijoux significa ‘joia’ e corresponde a uma tendência crescente de trazer intensidade (e até um pouco de drama) aos ambientes. Ouro não poderia faltar, mas a paleta encontra equilíbrio com esse tom de 'taupe' - um marrom acinzentado.
Aqui está permitido brincar com a opacidade do vidro, resinas, acrílico, mosaicos e até mesmo com o esquema de iluminação. Assim como a Lineage, essa paleta pede cuidado no uso, já que a mistura dos tons pode ficar (muito) exagerada.
imagem Divulgação
Merriment
Merriment não tem tradução para o português, mas pode ser entendido como um estado de espírito divertido, como o que costumamos sentir nas férias de julho ou na véspera de Natal quando crianças - e para quem tem a mesma sensação até hoje :)
Os tons são vibrantes e geram contrastes alegres. Há um toque retrô (ou uma piada interna) bem integrada na paleta - a ‘Era de Aquário’ (Aquarius) resgata o turquesa.
imagem Divulgação
Footlose
Sabe aquela mesma sensação do filme de dançar e deixar tudo (ou um pouco de tudo) para trás. Essa ideia de ‘eu mereço férias’, happy hour e esse relax reparador de aproveitar o mundo lá fora foi o que inspirou essa paleta. Acampar nem que seja no próprio quintal, relaxar em uma varanda ou buscar qualquer coisa que nos tire do frenesi do cotidiano e buscar um pouco de recreação. Divirta-se com os tons:
imagem via EnjoyHome
Mixed Bag
Opa, mais um termo sem tradução direta. Mixed Bag funciona como uma colcha de retalhos entre diversas culturas e influências de várias nações, uma mistura de padrões ecléticos. É aqui que a cor de 2015, o Marsala, se encontra. Já demos dicas de como integrar essa cor na decoração nesse post.
Depois desse intensivão sobrecores, padrões de consumo e Pantone, percebemos que há uma dicotomia na própria construção das tendências. Vemos tons pastel e paletas sutis coexistirem com vermelhos densos e muito brilho. No Brasil, o azul é sempre bem recebido, diferente do púrpura/roxo, que carrega um tom fúnebre para alguns gostos.
imagem via Blogspot
A ambiguidade dos tons farão seus amigos perguntarem se aquilo é um verde amarelado, vermelho amarronzado e vocês não sairão da discussão ‘verde água, azul esverdeado ou turquesa?’ tão cedo.
Para suavizar, tons escuros substituem o preto e recuperamos os motivos florais, listras e grafismos divertidos. Voltamos a brincar com a decoração, superando o medo de exagerar ou repetir as extravagâncias das décadas passadas. Na dúvida, aposte em uma cor ou objeto de destaque.
imagem via Zur
Coroas, corujas (e sua simbologia) e palavras, letras e frases como motivos decorativos vão continuar a fazer parte dos nossos ambientes, principalmente nesse contexto de mensagens instantâneas sem parar.
Nos materiais, há inovação com apostas na cortiça, feltro, poliuretano e diferentes tons de madeira, mas o tradicional pede muito concreto, mármore, baquelite - o precursor do plástico, que remete àqueles telefones de disco - e metais, com destaque ao cobre. Já tínhamos previsto essa e a tendência de design industrial nas nossas apostas para 2016. Vem ver.
imagem Divulgação
E depois de tudo isso - sei que o post foi longo ;) , qual a sua tendência preferida? Converse com a gente nos comentários.
com informações de Lexus Groupe, Design Ideas, Blueport, The Register, Global Influences
Lana Kantor | Redatora
Padawan entre palavras, heavy user de referências de cultura pop, nem tão sutis tentativas de colocar um pouco de humor e gentileza no mundo. Em constante batalha contra o hábito de ver séries sem parar, começando a partir do próximo episódio. | lana@bimbon.com.br
Fonte: http://www.bimbon.com.br/arquitetura/pantone_define_tendencias_de_interiores_e_consumo_para_2016
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