Lançamento conta com presença do arquiteto, considerado um dos expoentes da arquitetura brasileira
Os mais de 50 anos de carreira do arquiteto João Filgueiras Lima, mais conhecido como Lelé, exemplificados pela farta documentação de sua produção no CTRS, estão no livro A Arquitetura de Lelé: Fábrica e Invenção, que será lançado no dia 24 de maio, no Museu da Casa Brasileira, instituição da Secretaria de Estado da Cultura. O evento acontece em parceria com a Imprensa Oficial e conta com palestra de Max Risselada, arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda, sobre o livro e de Lelé, que vai contar mais detalhes sobre as suas obras recentes.
Com uma trajetória sempre comprometida com valores humanistas, iniciada nos canteiros de obras em Brasília ao lado do também arquiteto Oscar Niemeyer e do antropólogo Darcy Ribeiro, Lelé consolidou uma maneira única de ver e fazer arquitetura, que permanece como exemplo nos dias atuais.
Referência no campo da industrialização da construção, Lelé sempre usou a arquitetura como instrumento a serviço da sociedade. Com o uso do concreto armado, argamassa armada e estrutura metálica, promoveu a melhoria das condições de vida em diversas cidades brasileiras a partir de uma arquitetura produzida em série e eticamente orientada para a construção de uma espacialidade adequada ao homem e ao ambiente em que está inserida. Projetou hospitais, centros de reabilitação, escolas, fábricas, creches, passarelas, obras de saneamento básico, terminais de ônibus, mobiliário urbano e pontes.
O livro apresenta inicialmente um painel cronológico das centenas de obras de Lelé, elucidando o processo de racionalização do canteiro presente na trajetória do arquiteto, em sua série de fábricas implantadas ao logo dos anos. Em destaque na publicação, estão os sistemas e tecnologias desenvolvidos para a construção de passarelas que marcam a paisagem da cidade de Salvador; hospitais e centros de reabilitação do aparelho locomotor em diversas capitais; e a sede em várias cidades do Tribunal de Contas da União, construídas entre 1992 e 2010, na penúltima fábrica do arquiteto, a do Centro de Tecnologia da Rede Sarah (CTRS) – o nome Sarah é uma homenagem à esposa do presidente Juscelino Kubitschek.
Idealizada e criada inicialmente pelas conversas entre Lelé e o médico ortopedista Aloysio Campos da Paz, com a colaboração efetiva do economista Eduardo Kertész e do antropólogo Roberto Pinho, as unidades da Rede Sarah são uma experiência pioneira em busca de um modelo hospitalar de atendimento público exemplar para tratamento do aparelho locomotor. Trata-se de uma solução de excelência, que atendeu inicialmente a região de Brasília e, depois, outras cidades do país como Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Fortaleza, Goiás, Macapá, Maceió, Natal, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Salvador, Teresina e Vitória.
As unidades da Rede Sarah representam um exemplo quase único da utilização da arquitetura e do design como parte integrante e fundamental na implantação da nova proposta de atendimento hospitalar, salientando o aspecto interdisciplinar que embasa a concepção do ato de projetar para Lelé.
A continuidade desta experiência se deu com a criação do CTRS em Salvador para a construção de outros hospitais, iniciando com a unidade local. Através de pesquisas para o uso de argamassa armada, metalurgia, marcenaria com aglomerados e compensados, e injeção de plástico, houve consequente refinamento tecnológico. Foram evoluindo os sistemas de ventilação e iluminação natural com os diferentes sheds desenvolvidos para as coberturas, dutos de captação de ar com refrigeração através de pulverização de água, e estabelecimento de sistemas mistos de ventilação adaptados aos locais de implantação das unidades.
“O CTRS foi a experiência mais longa de um processo de fabricação unindo projeto e produção desenvolvido por Lelé. O Centro esteve ativo de 1992 a 2009 e contou com a base dos conhecimentos tecnológicos adquiridos nas décadas anteriores”, explica Max Risselada.
Também Giancarlo Latorraca destaca a visão pioneira e particular que caracterizam o trabalho de Lelé e constituem seu mais importante legado para a construção brasileira. “Sua arquitetura de fabricação serial contribui para a construção de uma nova espacialidade adequada ao homem e ao ambiente, integrada corretamente à paisagem e seu contexto sociocultural”, escreve Giancarlo na apresentação do livro. E acrescenta: “Lelé transita com naturalidade desde a complexa concepção construtiva de grandes espaços ao simples detalhe de um componente”.
Laços com a Bahia
Carioca, o arquiteto criou um forte laço com a Bahia, onde realizou diversas de suas obras – algumas delas viraram marcos de suas construções, como o Palácio Thomé de Sousa, em Salvador. Montado em apenas 14 dias, o prédio é um dos exemplos do domínio tecnológico que o arquiteto desenvolveu ao longo de sua trajetória. As passarelas, construídas no período de funcionamento da Fábrica de Equipamentos Comunitários (FAEC, 1985-1989), em Salvador, foram aprimoradas tecnicamente já na fábrica do CTRS. São equipamentos de infraestrutura urbana fundamentais para a cidade, estabelecendo a conexão entre as encostas por sobre as tradicionais avenidas de fundo de vale, muitas vezes conectadas a paradas e terminais de ônibus ou também junto ao acesso de edifícios de intenso uso público. A flexibilidade do sistema projetado, com utilização de cobertura e elementos de argamassa armada associados a uma treliça metálica, são hoje marca registrada da cidade de Salvador.
Livro
A realização deste livro celebra a exposição homônima montada em 2010, em homenagem ao arquiteto, no Museu da Casa Brasileira. A mostra contou com maquetes, fotografias, desenhos e vídeos selecionados pelos curadores:
- Max Risselada, arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Tecnologia de Delft, da Holanda, que dá apoio à mostra. Curador de exposições em que se destacam grandes painéis cronológicos comparativos (historic wall), foi responsável pelas premiadas mostras da representação holandesa na 4° Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, em 2000 – “Além do Modernismo, três momentos da arquitetura holandesa do pós-guerra (1945-1999)” e “Adolf Loos e Le Corbusier: Raumplan versun Plan Libre”.
- Giancarlo Latorraca, diretor técnico do Museu e organizador do livro “João Filgueiras Lima – Lelé”, publicado em Lisboa (Editorial Blau/Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 2000).
O livro conta com textos dos antropólogos Antonio Risério e Roberto Pinho, dos arquitetos Hugo Segawa, Márcio Correia Campos, Max Risselada e Giancarlo Latorraca. Neles, os especialistas detalham a importância do arquiteto, considerado por seus pares um dos pilares da arquitetura moderna do país.
Sobre João da Gama Filgueiras Lima, o Lelé
André Marques / Vitruvius
Carioca nascido em 1932, João Filgueiras Lima foi apelidado logo cedo por jogar futebol na posição de meia direita, a mesma de Lelé, um jogador conhecido na época por atuar no Vasco da Gama. Iniciou sua carreira ao lado de Oscar Niemeyer e Darcy Ribeiro nos canteiros de obras de Brasília. Atualmente, preside o recém-lançado Instituto Brasileiro de Tecnologia do Habitat (IBTH), com sede em Salvador, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. O primeiro projeto já está na prancheta: o Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região da Bahia. A ideia é criar um centro de pesquisas como o CTRS para fazer pesquisas, principalmente com pré-fabricados de argamassa armada.
Serviço Lançamento do livro: A Arquitetura de Lelé: Fábrica e Invenção
244 páginas
R$120,00
Data: 24 de maio, terça-feira, às 19h30
Palestra Max Risselada e Lelé, a partir de 19h30
Local: Museu da Casa Brasileira
Endereço: Av. Faria Lima, 2705 – Jardim Paulistano
Tel. 3032-3727
Acesso a portadores de necessidades especiais.
Site: http://www.mcb.org.br/
Fonte do texto:http://www.inteligemcia.com.br/32917/2011/05/23/museu-da-casa-brasileira-lanca-livro/
Museu da Casa Brasileira lança livro de Lelé
Autor: iabtocantins
| Publicado em: segunda-feira, maio 23, 2011 |
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