Empresa chinesa produz 10 casas em 24 horas através de impressão 3D

Operário montando uma das paredes impressas

A Winsun New Materials, uma empresa de construção de Suzhou, China, construiu dez pequenas casas através de uma enorme impressora 3D. A máquina de 6,5 metros de altura utiliza fibra de vidro e cimento para produzir os elementos construtivos - as paredes, por exemplo - em camadas sobrepostas. Winsun estima que seu processo de impressão custa aproximadamente a metade do que custam outros métodos tradicionais. Em consonância com as rigorosas leis ambientais da China, a companhia planeja utilizar materiais de demolição na "impressão" de futuros edifícios. Saiba mais sobre este projeto ainda em desenvolvimento neste artigo publicado pelo Wall Street Journal.

Fonte: http://www.asbea.org.br/escritorios-arquitetura/noticias/empresa-chinesa-produz-10-casas-em-24-horas-atraves-de-311073-1.asp

Cidades inteligentes ou vulgaridade de interesses?

Houve alguma vez cidades estúpidas? Teriam sobrevivido as cidades, a construção humana mais complexa, se não houvesse inteligência coletiva? Somente a distribuição de água, a iluminação e a energia, a eliminação de resíduos, a construção em altura, o abastecimento de alimentos, a organização do transporte, etc. supõem tecnologias e modos de gestão de inteligência acumulada e de capacidade de inovação permanente. Agora a moda é descobrir que as cidades podem ser inteligentes. Se não fossem não existiriam.

Na realidade se trata de um reclame publicitário. Das cidades? Aparentemente sim, mas a fama dura pouco. Houve tantas cidades adjetivadas para atrair atenção e nenhuma memorável. Pela simples razão de que a todas é mais ou menos possível aplicar o adjetivo promissor. Além disso, este adjetivo quase nunca é qualificativo, mas define da cidade. Cidades patrimônio da humanidade? A UNESCO encontrou um nicho bastante lucrativo, é preciso pagar pelo título. Em toda parte encontramos patrimônio. Cidades globais? Saskia Sassen selecionou a principio três cidades globais, mas outras grandes cidades protestaram. Ampliou a lista, mas teve então que estabelecer categorias. Quase ninguém estava satisfeito. Além disso, se muitas eram globais, perdia-se o valor de distinção. No final, assim como Castells, acabou reconhecendo que todas as cidades, algumas mais e outras menos, têm dimensões e elementos globalizados.

Outras cidades se apoiam em diversos rankings que as favorecem. Cidades de negócios, atrativas para os investimentos, com áreas de prestígio para a localização de entidades financeiras e sedes de grandes empresas. Outras cidades vendem sua qualidade de vida, sua oferta cultural ou de lazer, sua imagem, seu potencial inovador, ou se autoproclamam “ecológicas” ou “sustentáveis”. Ou simplesmente se legitimam por sua história. Outras oferecem uma posição que favorece os intercâmbios, as conexões globais, sua inserção em uma macrorregião econômica. Enfim, todas as cidades acabam vendendo os mesmos atributos, todas possuem seus atrativos, todas se vestem de seda e se colocam a venda.

Como dizia Coco Chanel, “não existem mulheres feias, mas mulheres que não sabem se vestir”. Mas se os modelos exclusivos se tornam “prêt porter” perde-se o encanto da diferença. Solução: vender slogans e legitimar obras ou comprar serviços que não poderiam ser razoavelmente justificados como de interesse geral. Algo que atribua um bônus de distinção, algo etéreo que proporcione uma aura que acrescenta algo tão especial que as torne diferentes. Depois de mistificar a economia pós-industrial e de se embasbacar com a filosofia pós-modernista, surgiram novos conceitos-produtos urbanos entre banais e confusos: a cidade informacional, a cidade competitiva, a cidade do conhecimento, as cidades criativas e agora a moda é a cidade inteligente.

A cidade informacional? Certamente a proposta conceitual mais séria e consequentemente a que teve menos sucesso no mercado de valores urbanos dominantes. Propunha um modo de produção novo baseado nas redes propiciadas pela Internet. A cidade aglomerada já não era resultado das economias de aglomeração. A Internet rompia as barreiras do espaço e do tempo. Tudo era possível “just in time”. Mas tinha dois pontos falhos. Separava o modo de produção das relações de produção e assim descartava as contradições sociais. O modo de produção não depende da tecnologia, é bem o contrário. O surgimento e massificação do telefone e do automóvel, por exemplo, gerou transformações sociais, mas dão deu lugar a um novo modo de produção. O outro ponto questionável é que legitimava a dispersão urbana com seus efeitos de segregação e exclusão e seus custos ambientais que afetavam amplos setores da população. O proletariado atual trabalha com os computadores, mas tende a perder sua qualidade de cidadão. O conceito otimista de cidade informacional que maximiza as liberdades dos indivíduos é uma cortina de fumaça que esconde as relativamente novas formas de exploração.

A cidade competitiva é provavelmente a mais traiçoeira. Em primeiro lugar é um conceito absurdo, o território não é competitivo. Uma cidade pode ser mais ou menos atrativa para os turistas, congressistas, imigrantes ou a máfia. Seu governo ou suas elites podem competir para organizar um evento ou ser sede de uma organização internacional. Mas ninguém é proprietário do território ou da cidade, são em todo caso as gerações passadas, presentes e futuras. Mas este absurdo teórico é um conceito prático que serve para legitimar as operações especulativas, os custos sociais consequentes da redução do salário direto (monetário) e indireto (os bens e serviços que a cidade fornece a seus habitantes). A cidade competitiva, por sua vez “sobrelegitimada” pela perversão da cultura estratégica é hoje um instrumento “urbanicida”, pois serve para gerar enclaves na cidade aglomerada e marginalizações nas zonas urbanizadas sem cidade.

A cidade do conhecimento é paradoxalmente o conceito mais bobo de todos. Como sua irmã, a economia do conhecimento. Não há cidade sem conhecimento, é a capital social e intelectual de seus habitantes, sua organização política e urbana, suas atividades e suas pautas de convivência. A economia do conhecimento é um conceito vazio. Certamente a “teoria econômica” dominante não proporciona um conhecimento da realidade social, mas legitima a dissolução da cidade a favor da especulação urbana. Lamentavelmente os especialistas mais representativos da cultura urbana promovida pelos grandes meios legitimam o “urbanicídio” atual. No Congresso Smart City Expo World realizado recentemente em Barcelona (19-21 de novembro de 2013) foram convidados 4 palestrantes de grande prestígio e  honorários substanciais. Um deles trabalha para grandes empresas (como Coca Cola, Ford, etc.), para melhorar sua imagem ambiental. Outro deles pesquisa modelos de automóvel que ocupem menos espaço (“dobráveis”, por exemplo) para que cada pessoa tenha seu veículo. E um terceiro é um especialista do Banco Mundial, organização que em seu informe no final do ano de 2009, anos depois da explosão da crise financeiro-imobiliária, considerava os quilômetros quadrados urbanizados nas periferias dispersas como indicador de desenvolvimento econômico. O resultado já era conhecido, bancos insolventes, milhões de desalojados, habitações vazias e urbanização sem cidade. A tecnologia vem “sobredeterminada” pelas relações de poder na sociedade.

A cidade criativa é um conceito cuja principal “virtude” é ter enriquecido o quarto palestrante apresentado como grande figura no congresso de Smart Cities já citado. Refiro-me ao senhor Richard Florida, um trapaceiro, vendedor de fumo cuja contribuição mais conhecida é considerar como indicador de “criatividade” a porcentagem de gays na cidade. É verdade que a cidade é uma área propensa a criatividade. É algo muito conhecido e a prova é que as religiões monoteístas e os poderes políticos autoritários foram sempre inimigos da cidade. É o espaço que contém o tempo, que acumula memórias coletivas e conhecimentos diversos, é onde se misturam pessoas e atividades, onde são produzidas as trocas múltiplas, programadas ou não, onde aparecem as oportunidades geradas pelo acaso. Pessoas mais sérias e discretas explicaram anteriormente, de forma muito melhor e mais concisa. Foi o líder do Distrito da City de Londres que disse em um ato público em Buenos Aires (1997) que o melhor equipamento econômico da cidade era o “pub”, onde pessoas diferentes falam sobre tudo e com todos. Ou as inteligentes reflexões de Ascher sobre a “serendipity” que oferece a cidade compacta e plural e sua importância para a inovação.

E finalmente chegamos ao ápice desses conceitos díspares e frutos de interesses com a moda das Smart cities. Uma operação publicitária para que empresas ou grupos empresariais vendam suas “tecnologias” à ingenuidade de governos nacionais e locais, enquanto pretende convencer os cidadãos a viver em “cidades verdadeiramente inteligentes”. A inteligência urbana não é comprar os últimos produtos da tecnologia, mas aqueles compatíveis com as habilidades de comportamentos da população, o bom uso dos recursos, as prioridades sociais, as características morfológicas e o funcionamento do território. Jorge Hardoy me falava há muitos anos que visitando a cidade argentina de Salta, em zona subtropical, os responsáveis locais lhe mostraram, orgulhosos, duas fantásticas máquinas de recolher neve graças a um programa de cooperação com países nórdicos europeus. O problema é que nunca havia nevado e Salta. Depois do terremoto que afetou a Cidade do México em 1985, participei de um seminário organizado pelo Governo Nacional em que três especialistas norte americanos e um japonês pretendiam vender sistemas para prever a chegada de um terremoto. O japonês, o mais agressivo e cujo sistema era mais caro, teve que explicar que só poderia garantir que a informação chegasse à costa do México dois ou três minutos antes que o terremoto afetasse uma grade parte do país.

Minha Universidade ocupa três pavimentos de um edifício apresentado como exemplo de modelo mais avançado de arquitetura ecológica, graças às mais modernas tecnologias. Chama-se Mediatic e foi exaltado pela imprensa tola ou devidamente paga. Sustentável consumir energia em um clima mediterrâneo com 300 dias de sol por ano porque não se permite nenhuma abertura, o sol entra muito pouco e o ar nunca? Inclusive para ir de um pavimento para outro, o que é constante, deve-se necessariamente usar o elevador que te faz esperar e deve subir e descer vários pavimentos. O conceito de “cidades inteligentes” é simplesmente uma vulgaridade ridícula própria apenas de uma publicidade descarada  a serviço de empresas pouco escrupulosas e com clientes impressionados diante da novidade da “tecnologia”.

As cidades não merecem estes adjetivos que obstruem a visão da realidade, facilitam negócios às empresas que possuem tecnologia e justificam operações caras dos responsáveis políticos. Melhor seria ocupar-se com as cidades e os sistemas de cidades e não a urbanização cega e desregulada, reduzir as desigualdades sociais e garantir a qualidade de vida das populações urbanas e recuperar conceitos mais claros como o direito à cidade e a gestão democrática do território.

Fonte: http://www.asbea.org.br/escritorios-arquitetura/noticias/cidades-inteligentes-ou-vulgaridade-de-interesses-311072-1.asp

XX Congresso Brasileiro de Arquitetos encerra suas atividades em Fortaleza

O XX Congresso Brasileiro de Arquitetos (XX CBA), promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), alcançou o resultado esperado pelos mais de dois mil e quinhentos congressistas, vindos de toda parte do Brasil. Foram quatro dias intensos de atividades que mantiveram salas e auditórios com capacidade lotada. Nesta edição, o evento apresentou como tema “Identidade e Diversidade Profissional” e prestou uma homenagem ao saudoso arquiteto Oscar Niemeyer. Paralelo à programação de minicursos e palestras, o XX CBA recebeu mais de três mil visitantes em sua feira de produtos e serviços.

Na sexta-feira, 25 de abril, último dia do Congresso, a movimentação começou no final da manhã, com uma coletiva para a imprensa cearense. Na pauta, a divulgação do posicionamento com relação à implantação de um binário nas avenidas Santos Dumont e Dom Luis, em Fortaleza, bem como as intervenções na Praça Portugal, prevista pelo Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito (Paitt) da Prefeitura de Fortaleza.  A despeito do anúncio, o debate sobre mobilidade urbana e patrimônio público integraram a programação científica do XX CBA, que recebeu mais de 80 conferencistas do Brasil e do exterior.

Participaram da coletiva o presidente do IAB-CE, Custódio dos Santos, acompanhado pelo vice-presidente, Rodrigo Ponce de Leon; o secretário geral adjunto, arquiteto José Otávio Santos; o diretor administrativo e financeiro e presidente da comissão organizadora do Congresso, Odilo Almeida; e Fabrício Porto Cavalcanti, diretor administrativo e financeiro adjunto. A imprensa foi recebida no auditório principal do Congresso. 

Seguindo a programação, aconteceu ao final da tarde de sexta-feira, a mesa temática “Cidades Sustentáveis”, ministrada pelo arquiteto cearense Fausto Nilo, junto do Presidente da Federação Panamericana de Associações de Arquitetos (FPAA), João Suplicy e de César Freitas, Presidente da Ordem de Arquitetos de Cabo Verde. Durante a explanação do tema foram indicadas soluções e viabilidades para assegurar a qualidade dos espaços públicos das cidades.

Em sua fala, o arquiteto Fausto Nilo destacou a importância das cidades como lugar privilegiado de intercâmbio e de desenvolvimento humano. Estruturar as cidades para facilitar as relações e garantir o seu melhor funcionamento implica em planejar e regular o uso do solo, as densidades urbanas, os sistemas de vias e múltiplos modos de transporte.

Legenda_-_apresenta%c3%a7%c3%a3o_da_carta_de_fortaleza_pelo_arquiteto_luiz_fernando_janot_do_conselho_superior_do_iab_(foto_02_walter_almeida)         Apresentação da Carta de Fortaleza pelo arquiteto Luiz Fernando Janot do Conselho Superior do IAB. ImageFoto: Walter Almeida

Ao fim do dia, houve apresentação da “Carta de Fortaleza”, documento formulado pelos arquitetos do XX Congresso Brasileiro de Arquitetos, que levanta princípios para a elaboração de uma agenda sobre arquitetura e planejamento urbano nas cidades brasileiras. O documento deverá ser entregue, ainda este ano, aos candidatos à Presidência da República, com as demandas sugeridas pelos profissionais do planejamento para o desenvolvimento sustentável das cidades a da qualidade da vida urbana.

Para Romeu Duarte, conselheiro vitalício do IAB e presidente da Comissão Científico do Congresso, “a Carta de Fortaleza espelha o momento urbano brasileiro. Aborda desde a temática da habitação, planejamento de cidades, situação do profissional de arquitetura e também atende aos reclames legítimos das manifestações do ano passado. Talvez, essa seja a primeira e mais qualificada resposta aos problemas que foram evidenciados pelas ruas”. O documento foi apresentado ao público participante em Plenária Geral, pelo relator arquiteto Luiz Fernando Janot, membro do Conselho Superior do IAB, após a Palestra Magna com o arquiteto português Gonçalo Byrne.

Apresentação da Carta de Fortaleza pelo arquiteto Luiz Fernando Janot do Conselho Superior do IAB. ImageFoto: Walter Almeida
Apresentação da Carta de Fortaleza pelo arquiteto Luiz Fernando Janot do Conselho Superior do IAB. ImageFoto: Walter Almeida

Fonte:Romullo Baratto. "XX Congresso Brasileiro de Arquitetos encerra suas atividades em Fortaleza" 28 Apr 2014. ArchDaily. Accessed 29 Abr 2014.  http://www.archdaily.com.br/br/601308/xx-congresso-brasileiro-de-arquitetos-encerra-suas-atividades-em-fortaleza?utm_source=ArchDaily+Brasil&utm_campaign=a892b847ae-Archdaily-Brasil-Newsletter&utm_medium=email&utm_term=0_318e05562a-a892b847ae-407774757

Cooperativa de crédito do CAU/BR: juros menores, projetos melhores

Créditos: Casa Sumaré, em São Paulo. Projeto de Isay Weinfeld. Foto de Nelson Kon

As providências para o CAU/BR firmar uma parceria estratégica com uma das maiores cooperativas de crédito do Brasil, visando a criação de uma cooperativa de crédito para arquitetos e urbanistas, entraram em sua fase conclusiva.

“O objetivo é prover aos profissionais capital para fazer frente às necessidades de desenvolvimento da atividade do arquiteto e urbanista, durante todo o período de seu ciclo produtivo, com recursos mais ágeis e as menores taxas disponíveis, livrando o arquiteto e urbanista da usura financeira dos bancos comerciais”, afirma o conselheiro Roberto Simon (SC), coordenador da Comissão de Planejamento e Finanças, que está à frente das negociações. A iniciativa, ressalta ele, será viabilizada sem aplicação de recursos do CAU/BR.

A minuta do acordo instituição financeira que apoiará a cooperativa já foi finalizada e está, no momento, em fase de aprovação pelo conselho diretor  da instituição. De parte do CAU/BR a aprovação para a criação da cooperativa foi oficializada pela 29ª. Plenária Ordinária realizada no último dia 10 de abril.

Para Haroldo Pinheiro, presidente do CAU/BR,  a cooperativa trará benefícios para a sociedade e para a categoria.

“O arquiteto recém formado poderá financiar, a baixo custo, a instalação de seu escritório, ou seja, a compra de mobiliário, computadores, impressoras, plotters e softwares de desenho”.

Já o arquiteto que possui escritório instalado há mais tempo e ganhou espaço no mercado, poderá ampliar seu negócio oferecendo aos clientes a possibilidade de financiar seu trabalho via cooperativa. “Não é raro um cliente que deseja o serviço de um determinado arquiteto, por afinidade com seus projetos, acabar contratando outro profissional, por questão de custos.  A cooperativa resolverá o problema, via financiamento, com juros menores que os dos bancos comerciais,  em benefício de ambos de ambos os lados”.

Não só os pequenos e médios empreendimentos serão atendidos pela cooperativa. Haverá condições de financiamento igualmente para os projetos  de maior porte.

“O maior ganho, porém, será a possibilidade de melhorar os serviços prestados, um objetivo sempre almejado pela categoria, o que resultará em edificações com maior qualidade, em benefício da sociedade”, conclui Haroldo Pinheiro.

Fonte: http://www.caubr.gov.br/?p=22004

Arquitetura, Desenvolvimento e Alienação

Claude Schnaidt -- (* 23. Junho 1931 em Genebra; † 22. Março 2007 em Paris). Militante comunista franco-suíço, arquiteto e teórico da arquitetura, professor de arquitetura, em Paris.

(Texto do capítulo de mesmo título em: Claude Schmidt: Ce n'est pas fini/No se acabó. Paris/La Habana, École d'architecture Paris-Villemin/lnstituto superior politécnico José Antonio Echeverria 1999, pp. 18-26. Compreende partes de conferencias feitas e artigos publicados sob o título Was ist Architektur? (O que é arquitetura?) em Humboldt-Universität de Berlim em 1988).

De Claude Schnaidtt ver também no blog Arquitetura e engajamento franksvensson.blogspot.com:  Arquitetura, uma definição, É no saber ensinado que a sorte real das pedagogias é jogadaPós-modernismo, e Droit à la Ville – (Intervenção apresentada por Claude Schnaidt -- Colóquio: Traces de futurs – Henri Lefebvre -- St. Denis,   4 de junho de 1994).

Tradução: Frank Svensson

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Do governo dos homens à administração das coisas, a Arquitetura é um dos elementos utilitários criados para apropriação da Natureza.  Como utensilio que envolve e serve ao homem, só existe por e para o mesmo.  Produto da mão e da mente humana resta objeto da Natureza, fragmento de matéria cujas leis são incontornáveis.  Uma vez criada, a arquitetura mesmo devendo sua existência e seu poder à atividade criativa, como instrumento inicia sua existência com uma vida autônoma, num sentido imaginário, num sentido real.

Criá-la consistiu em destacar o objeto útil da massa indefinida do Universo, dando-lhe uma realidade prática distinta da de outros objetos. Tudo aquilo que estabelece as relações do objeto com seu contexto material, o reintegra na indiferenciação aniquilando-o como eficiente produto humano.  Por exemplo, a ferrugem e a inadequação do dimensionamento da viga metálica causarão sua ruína. Isolada da Natureza, tendo ganhado uma forma e um nome próprios, relacionando-se com seus congêneres, o objeto se põe a dialogar com o Homem numa linguagem que parece vir do além. Desse modo, a atividade humana produtora de objetos faz-se criadora de ilusões. Sua relação com os objetos criados se desenvolve contraditoriamente. A atividade concretiza-se nos e pelos objetos perdendo-se simultaneamente. Os objetos a supõem, a encarnam, a contêm, mas a dissimulam. O que faz com que o Homem se atém ao mesmo. Fetichismo e alienação acompanham a realização humana.

Como os mísseis, a alienação funciona por vários estágios de acionamento de seus motores.  Com a divisão do trabalho em material e intelectual, o espírito pode liberar-se do real e construir a abstração, desenvolver teorias. As representações elaboradas substituem o conhecimento imediato, frustrando e abusando do mesmo. Tal desenvolvimento não impede a consciência de se imaginar ser outra coisa que não a consciência da prática reinante. Ao contrário, induz ao crime, possibilita as grandes fantasias ideológicas, oriundas de uma realidade, refratada em seguida através das representações existentes, selecionada e admitida pelos grupos sociais dominantes, erigindo-se em totalidade. Tais produtos espirituais mutilados não detêm em si mesmos nenhum poder. Tornam-se deformadores deturpando a linguagem, distorcendo os pensamentos, traduzidos por forma notadamente arquitetônica. Captados e deliberadamente usados pelo poder econômico e político tornam-se acentuadamente opressivos.  Os mestres veem-se obrigados a guardar seus subordinados em subordinação.  Devem vigiá-los, intimidando-os, incitando-os a trabalhar, a fim de consolidar o prestígio dos mestres. Valem-se de violências e teatralidade. Para violência contam com o aparelho de Estado, com as leis, os chefes, os encarregados, as armas ,,,  Para teatralidade, são as ideias, as obras, as festas, os monumentos executados que justificam a dominação.  Donde a profusão de imagens e palavras visando à auto exaltação da classe dirigente, à sua glorificação pelas classes dominadas, à desconsideração e à auto depreciação dos oprimidos.

A arquitetura e suas teorias mostram a que nível de refinamento podem ser levadas práticas mistificantes. Dar a impressão de que não existem perorando imperturbávelmente sob a carga semântica e o código simbólico dos castelos, dos bairrospavilionares e dos planos urbanos, tomando as gentes por atrasadas perpetuando seu apego aos fetichismos.

A relação do homem com seus fetiches é exatamente o que nós, marxistas, denomina-mos alienação. Manifesta-se como apego a si e perda de si; a capacidade do homem se lhe faz estranha subjugando-o e indomável.  Drama que não termina que pela reconquista dos homens de sua própria capacidade, pela supressão dos superfetiches, seja sob forma de mercadoria, do dinheiro, do capital, do Estado.

Marx evidenciou o papel fundamental do trabalho no fenômeno da alienação do Homem, considerando-o como a totalidade de seus atos, a totalidade dos seus feitos. O homem é definido por sua obra. Sendo espoliado, é desumanizado, alienado. Na sociedade capitalista, o trabalhador que cria a mercadoria é espoliado de sua criação, dominado pela mesma. Submetido como uma fatalidade às leis do mercado.
A propriedade privada, o capital representando o trabalho morto ligado ao trabalho vivo, tornando-se força autônoma, força adversa e estranha, esmaga os viventes. É a partir do trabalho, como se efetua na sociedade de classe, que podemos conhecer o processo pelo qual o homem produtor é destituído, coisificado.

O capitalismo não só produz objetos para sujeitos; produz sujeitos para objetos, ajusta a demanda à oferta. O trabalhador consumidor é seduzido pelo sistema, família, escolas, empresas, Estado, em função dos atos a realizar, conforme o lugar que lhe é designado nas relações de produção. O poderio social oriundo da cooperação na cada vez maior intensificação do trabalho é visto como uma ameaça pelos indivíduos. Na medida em que subsiste a divisão social do trabalho, a separação do trabalho manual do intelectual, da cidade e do campo, do produtor e dos meios de produção subsistem as raízes da alienação, Para extirpar tais raízes, os trabalhadores precisam se tornar donos do conjunto do aparelho de produção, decidir sua finalidade, organização da retribuição do trabalho, bem como, as grandes orientações da economia, e progredir rumo ao desaparecimento da divisão social do trabalho. Só assim poderão aceder a uma sociedade na qual os trabalhadores associados entre si são donos de seu destino.

O socialismo, porque conquistá-lo?

A teoria marxista da alienação propõe intensa luta pela autogestão socialista e anuncia claramente seu objetivo essencial: assegurar aos trabalhadores o pleno domínio de sua existência social na produção e em todas as esferas da vida. Nessa luta, os trabalhadores auto educam-se, auto transformam-se, tornam-se aptos a se auto gerirem. Marx pensou com razão que não se pode acomodar com o Estado, pois restará um poder alienante expressando sempre uma desapropriação do homem produtor.  Contudo contornar parece inevitável.  Com o enfraquecimento do Estado começa o surgimento de um novo tipo de Estado, o dos trabalhadores que devem conquistar o poder político para assuir a transformação das estruturas da sociedade. Tal período de transição pode tomar diferentes formas. Pouco importa a qualificação do regime de transição. O principal para que se realize a perspectiva comunista de autogoverno dos trabalhadores associados, reside na criação de órgãos de base assegurando aos trabalhadores a gestão direta dos meios de produção e na tomada do poder efetivo a todos os níveis da vida social.

Sabemos agora que a propriedade coletiva dos meios de produção pode não dar aos trabalhadores o poder nas empresas nem no conjunto da economia. Podemos aferir as consequências de uma revolução proletária que não transforma fundamentalmente as relações de produção. Além do curto período quanto os sovietesobreiros, de camponeses e militares realmente detiveram o poder de decisão nas fábricas, fazendas e bairros, os Soviéticos viram-se submetidos às ordens de direções centralizadas e acorrentadospela divisão social do trabalho.  Seus desejos de compensação às frustrações sofridas são compensados por consumo atraindo cada dia mais ao consumo do mundo capitalista sem nunca atingir o nível do mesmo, estimulando o desapontamento a ponto da catástrofe que não devemos perder de vista a origem: a castração da autogestão socialista.

O absenteísmo, a evasão, mesmo a recusa, de uma parte importante da juventude e crescente da classe obreira são fatos universalmente reconhecidos, Entre as causas múltiplas dessa atitude, podemos detectar uma revolta contra a repartição dos encargos, o trabalho repetitivo e desinteressante, a falta de participação nas decisões do processo de produção. Tal revolta é tanto mais viva que aumenta o nível geral de informação e se aprofunda entre a abertura cultural e o horizonte demarcado do trabalho em questão. William Morris viu isso acertadamente em dizendo: Se o mundo não pode trazer felicidade no trabalho, deve abandonar a esperança de felicidade. Porque o trabalhador não se encontra em seu trabalho dado o fato do trabalho negado como atividade criadora, é uma calamidade, um puro meio de satisfazer necessidades, que do indivíduo são amputadas suas carências criativas ativas não realizando sua soberania senão no não trabalho, ou seja, na satisfação de necessidades passivas, no consumo e na vida doméstica. Daí o drama das atividades do lazer hoje destituídas de sentido que como compensação à monotonia do trabalho e à pobreza das relações humanas no mesmo. Faz-se evidente não ser possível a emancipação do individuo social em seu tempo livre não havendo emancipação na atividade social principal: o trabalho.

O socialismo não tem escolha. Após o fracasso de distintas variantes de social-democracia e de democracia popular, é necessário  retornar às fontes e propor como alvo o trabalhador associado aos demais trabalhadores para regular a produção e as trocas, o produtor dominando o processo de produção ao invés de lhe ser subordinado, o homem total da práxis criadora. O socialismo porá fim ao trabalho desumanizado, engendrará outros tipos de consumo, de colaboração social e de desenvolvimento, gerará uma nova civilização, ou não haverá uma tal.

Tudo o tecnicamente possível é desejável e necessário?

Contrariamente às aparências e às ideologias que sustentam as sociedades industrialmente avançadas essas não são determinadas pela técnica, mas por grupos financeiros e tecnocratas que desviam a técnica de sua finalidade, entravando e distorcendo o progresso.  O poder libertário da técnica e do conhecimento perverte-se em força de subserviência. A oposição entre cultura e técnica, entre Homem e máquina, é um traço da alienação do trabalho engendrado pela exploração do homem pelo homem.

O trabalho retalhado, rentabilizado, embrutecedor, e percebido como maldição, com tudo o que daí diretamente decorre – os meios de produção, a técnica, os produtos industrializados – são percebidos como desumanos. Para que isso mude, a empresa não pode continuar sendo um lugar de subserviência; é necessário que a escola não seja um bastião de pura intelectualidade; que os trabalhadores, no seu conjunto, acessem ao conhecimento e ao poder. Quer dizer que a instauração do socialismo auto gestionário é a condição primeira da reincorporação da técnica à cultura, da edificação de um novo humanismo politécnico.

No início do nosso tempo, haveria de 200 a 300 milhões de habitantes sobre nosso planeta, um planeta de dimensões desconhecidas. Somos hoje 6 bilhões. Não há mais terra a descobrir. Enviamos naves ao Cosmos. Manipulamos as partículas invisíveis, O mundo que era imenso, bruscamente tornou-se minúsculo. A humanidade começa a considerar-se como um todo. Ameaçada de um suicídio nuclear ou ecológico, de um genocídio ampliado ao hemisfério Sul descobre que é fatal. Confrontada a seus insucessos existenciais é necessário pensar e agir diferente. Devemos todos fazer tudo que é de nosso alcance fazer?

A bem da verdade, a questão moral do bom uso do conhecimento não é nova. François Rabelais já advertira quando da Renascença:A questão ganhou outra dimensão quando a tragédia assolou o progresso, marcando sua sobrevida. Exatamente quando do lançamento da primeira bomba atômica e o processo criminoso da guerra nazista. Após Hiroshima, Albert Einstein declarou: não se pode fazer não importa o que. Em Nürenberg, as experimentações de médicos dos campos de concentração foram julgadas como crimes contra a humanidade. Não  importa o avanço, qualquer que tenha sido, da ideia de Gorbatchov dando-nos uma esperança anunciando uma nova maneira de pensar,Mas nada resultou por seu pensamento flutuar nas nuvens de uma humanidade indiferenciada, nos corredores de uma casa comumna qual alguns chefes de Estrado estrangeiros sonhavam com reconquistas por defender a perestroika. Isso para lembrar que um novo pensamento que não responde claramente a questão de sua finalidade – o que fazer, com e porque, em qual perspectiva? -- não há nenhuma chance de ser viável face ao pensamento do grande capital, que, esse sim sabe para onde vai e o declara  todos os dias sem ambiguidade.

A revelação (cuidadosamente ocultada) da falência do produtivismo é o grande acontecimento do fim do século XX.  O produtivismo não exclui o terceiro-mundo e os países socialistas do Leste europeu, ele avança suas trincheiras ao limite que a terra pode suportar. Os séculos de nova ordem mundial prometida em 1991 por George Bush e seus comparsas de grandes potencias industriais são impensáveis. Por isso esses senhores desarmam seus mísseis para fazer crer na novidade de sua ordem, mas escondem o outro arsenal que lhes permitiu avassalar o Iraque num abrir e fechar de olhos.

Os vencedores podem sem dúvida se desembaraçar de 4,5 milhões de  maltrapilhos que ameaçam estragar seu festejo. No entanto, supondo que sejam bem sucedidos, quem irá encher as placas de concreto, montar peças e latas de lixo vazias? Novos escravos que, por sua vez, também se revoltarão? Robôs que logo evidenciariam a desigualdade dos homens como completamente obsoletos?

Não há outra saída do que outro desenvolvimento: produzir outra coisa e de outra forma. Isto não é um sonho desde que aqueles que, de uma maneira ou de outra, resistem à bobagem e têm em mente, ainda confusamente, uma outra civilização; são muito numerosos: Niamey em Estocolmo, o urbanismo rural em Cuba, as aldeias da França. Eu vi recentemente os 300.000 camponeses que vieram demonstrar em Paris pela sua sobrevivência. Não eram os fantasmas de uma era passada. Raciocinaram por planejadores que não aceitam como inevitável a gestão capitalista dos recursos em uma França em processo de desertificação. Certamente, eles não chegaram ao final de suas lutas. Mas os tecnocratas do espaço económico europeu, os estrategistas da OCM, os gigantes da agro alimentação que os perseguem não têm mais futuro que seus imitadores do Leste os quais exauriram os campos para nutrir os monstros industriais, enfartar os gansos poloneses e húngaros para captar as divisas dos comedores defois-gràs, levar o Uzbequistão ao desastre com a cultura do algodão.

Muitas páginas da história louvando a expansão industrial e a mundialização do comércio já foram viradas, temo que venham ainda outras tão sangrentas. O livro está por terminar e não terá continuação.  Tem que ser escrito um novo livro começando por: Tudo o tecnicamente possível é desejável e necessário?

Produzir outra coisa e diferentemente para cambiar a vida

Após de dois séculos, a grande indústria e o mercado internacional menosprezaram as particularidades, extirparam as diferenças, uniformizaram o mundo. Em 1917 pensou-se que algo de novo seria construído, mas, gradativamente, o socialismo pôs-se a imitar o capitalismo.  Com atroz resultado. O terceiro-mundo gerara a esperança de um não alinhamento, mas atolou-se em dívidas por força de um crescimento segundo modelo imposto. Hoje está impossibilitado de resgatar suas dívidas e morre de fome. Com sua nova ordem mundial, suas maquinas, seus supermercados e suas forças armadas, o Capital anuncia sua determinação em fazer desaparecer da superfície do planeta tudo o que reste de anormal.

Entretanto, após dois séculos, as particularidades resistem obstinadamente. Passam à ofensiva desde que as circunstancias não lhes sejam por demais desfavoráveis. As hostilidades eclodem aqui e acolá, aumentam e se avivam. A reivindicação de identidade e de soberania que as motivou é muitas vezes marcada por individualismo,  corporativismo, nacionalismo, religiosidades, o que permite à força opressiva e repressiva se valer de ares de progresso e de modernidade. Ora, tão enganador que possa parecer, o futuro da civilização está em mãos dos que se batem pelo direito à diferença. Cada vez que é rejeitado um saber-fazer original, desmantelado uma rede de solidariedade marginal, destruída uma cultura periférica, a humanidade é amputada de uma parte de si mesma, diminuída de sua pluralidade e de sua capacidade de cooperação, da essência de seu sucesso.

Só pode haver modelo universal de desenvolvimento na mente dos imperialistas

O desenvolvimento necessário a ser promovido com toda urgência, é endógeno. Ele surge do foro interior de cada sociedade, definindo soberanamente sua visão ou seu projeto, contando com suas próprias forças. Tirando racionalmente partido de seus próprios recursos e cooperando com as sociedades que comungam seus problemas e aspirações. Isso implica as gentes se organizem para desenvolver o que são por e para si mesmos. Os resistentes à uniformização do mundo e a convocação das massas serão a alavanca desse outro desenvolvimento. Já se reagruparam numa multitude de associações, de partidos, de movimentos, de sindicatos, de cooperativas, de comunidades. Todas essas formações, oriundas de iniciativas de base, são movidas pela mesma vontade das gentes tomarem seu destino em mãos, de escapar da tutela do Estado, de agir fora e contra as leis do mercado. Constituem uma colossal força crescente na medida da nova ordem que se organiza, como pretendido por mais de cem anos. Os opressores querem tudo. Nós não podemos exigir menos. Queremos o mundo na totalidade de suas particularidades.

Agora se batendo heroicamente, aqui em Cuba, por vosso direito à diferença, buscai soluções que sejam vossas,  os exércitos de especialistas do marque Ting, de estilistas e arquitetos que se dedicam a empurrar as gentes para a massa do conformismo, a fazer falar os objetos, a lhes fazer significar outra coisa que não são a fim de  seduzir os compradores, de anestesiar os consumidores e de acrescer os lucros.

Povos inteiros se sublevam por acesso ao grande mercado de bugigangas reluzentes. Em 1992, cento e nove anos após a morte de Marx, fetichismo e alienação prosperam como nunca.  É equivocado no entanto pensar que a mistificação só funcione por violência, embriagues e besteira. Os mestres, os aproveitadores e seus lacaios não podem difundir  ilusões de um golpe de varinha mágica. As ideias – falsas ou verdadeiras – não ganham as consciências senão lançando suas raízes na experiência vivida. Não é porque a Igreja ensine que o Criador combinou, conforme a proporção, o fogo, a terra, a água, o ar para fazer o mundo, que a proporção justa seja um artigo de fé.  Não é porque os teóricos tenham decreta que uma coluna dórica devia ter oito diâmetros de altura que tal regra é indiscutível.

Para confeccionar todos os dias massa e reboco, é preciso respeitar certas proporções. Não é porque a mídia capitalista apregoa cada um para si que as pessoas se concentram quanto a si mesmos. Entre nós esse comportamento é mais gratificante do que a ação coletiva. Eis aí uma falha no processo de alienação que nos indica o que fazer. Se as ilusões lançam raízes na vida real, a melhor maneira de combatê-la é agir sobre a realidade e mudar a vida.  Outras experiências substituirão falsas ideias e estimularão  a busca de ideias mais exatas e eficazes. Outros produtos irão convencer os produtores e os consumidores que é possível fabricá-las, de obtê-las e viver de outra maneira.

Utopia? Talvez, mas em todo caso mais concreto da que consiste a crer que as coisas poderão persistir no estado em que se encontram num mundo onde o desenvolvimento muito problemático de um quarto de seus habitantes tem por corolário a regressão e a falência de todos os outros e, ao fim, o esvaziamento dos recursos naturais – se o apocalipse nuclear não sair do cenário, a vida.  Podem curvar-se ante o peso de dominações e afundar-se na barbárie.  No momento é a segunda possibilidade que domina. Terão consequências inevitáveis que me fazem compartilhar o otimismo de mensagem que um desconhecido afixou no monumento Marx-Engels em Berlim: Da próxima vez faremos melhor.

O mundo gira. Os homens podem se re-apropriar do poder que criaram por sua atividade social, se associarem e se autogerirem passando à administração das coisas e mudar.

Fonte: http://franksvensson.blogspot.com.br/2014/04/arquitetura-alienacao-e-desenvolvimento.html

Urbanismo tático em San Diego: a transformação de um estacionamento em parque

© Paul Krueger, via Flickr (imagem de referência)     © Paul Krueger, via Flickr (imagem de referência)

O urbanismo tático é a criação de projetos urbanos de baixo custo, rápidos de construir e temporários, com o objetivo de atrair pessoas e gerar um tráfego de pedestres no centro das cidades.

Em San Diego, nos Estados Unidos, uma organização está levando adiante um projeto que visa a ocupação de espaços urbanos. O terreno foi cedido pelo proprietário com a condição de “valorizar a comunidade” e a organização do projeto consultou a comunidade para saber o que eles gostariam de ver no novo espaço.

A Associação do Centro de San Diego interveio nas ruas instalando brinquedos infantis e realizando apresentações musicais ao vivo. Uma vez concluída esta etapa, querem dar a estes projetos um caráter de permanência no tempo, de modo a intervir em regiões não utilizadas dos bairros para transformá-los em novos locais de lazer, servindo ao público e dando uma nova imagem para lugar.

O primeiro projeto deste tipo que já está sendo gestionado consiste em construir um parque num estacionamento que o diretor da empresa imobiliária HP, Sumeet Parekh, entregou para dar mais valor à comunidade. Enquanto o projeto estava sendo administrado entre a organização e a empresa, os vizinhos também fizeram parte do processo através de uma consulta pública simples, mas ao mesmo tempo bastante direta. Ela consistiu em que os próprios moradores escrevessem suas propostas num painel que estava exposto num dos muros do terreno, o que viabilizou e evidenciou a participação cidadã.

1395345567_urbanismo_t__ctico_san_diego       © Claire Trageser, via kpbs.org

Enquanto alguns deram opções consideradas muito ambiciosas pela associação para as condições do lugar, como um estádio de futebol para o time local, a grande maioria entrou no consenso que a melhor opção era fazer um parque em meio aos edifícios que estão no entorno do estacionamento.

Estima-se que o parque seja inaugurado em junho e que não apenas conte com árvores e bancos, mas que também tenha instalações artísticas que se renovem periodicamente, visando atrair mais pessoas ao lugar.

O projeto do parque estará sob responsabilidade da empresa RAD Lab. Seu diretor, David Loewenstein, declarou sua visão do projeto explicando que “um estacionamento vazio não tem que ser um estacionamento vazio para sempre, mas pode se transformar em algo incrível. E não é preciso uma enorme quantidade de dinheiro e nem muito tempo, é preciso apenas pessoas que estejam dispostas a participar e que realmente queiram fazer alguma diferença”.

O financiamento do projeto será a cargo de Sumeet Parekh, diretor da HP, por considerar que “pequenas coisas como esta podem ter um efeito realmente transformador no bairro e queremos investir de outra forma nos bairros que nós trabalhamos”.

Veja o vídeo:

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=lzNwJV6ezng#t=5

Via Plataforma Urbana. Tradução Gabriel Pedrotti, ArchDaily Brasil.

© Paul Krueger, via Flickr (imagem de referência)
© Paul Krueger, via Flickr (imagem de referência)
© Claire Trageser, via kpbs.org
© Claire Trageser, via kpbs.org

Fonte:Constanza Martínez Gaete. "Urbanismo tático em San Diego: a transformação de um estacionamento em parque" 27 Apr 2014. ArchDaily. Accessed 28 Abr 2014.  http://www.archdaily.com.br/br/601293/urbanismo-tatico-em-san-diego-a-transformacao-de-um-estacionamento-em-parque?utm_source=ArchDaily+Brasil&utm_campaign=6a8b4edd76-Archdaily-Brasil-Newsletter&utm_medium=email&utm_term=0_318e05562a-6a8b4edd76-407774757

XX CBA – Carta de Fortaleza: Uma agenda sobre arquitetura e desenvolvimento urbano

 

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Os arquitetos e urbanistas brasileiros,                                                                                  reunidos em Fortaleza, Ceará, por ocasião do XX Congresso Brasileiro de Arquitetos, realizado nos dias 22 a 25 de abril de 2014, organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), entidade de representação de arquitetos e urbanistas brasileiros, com noventa e três anos de história e constituída em todos os Estados da Federação, reiteram o seu compromisso histórico com a democracia, a cultura, o desenvolvimento nacional e o bem-estar do povo brasileiro – ao mesmo tempo em que reafirmam os valores da arquitetura e do urbanismo como instrumentos para se alcançar tais objetivos bem como para a qualificação do espaço das cidades e do território nacional. Em um cenário de intensa urbanização, onde 85% dos 200 milhões de habitantes residem em centros urbanos, ampliam-se os desafios para os 110 mil arquitetos e urbanistas envolvidos com a promoção do espaço construído brasileiro.

O XX Congresso Brasileiro de Arquitetos considera que:

O sistema urbano nacional apresenta-se como um riquíssimo patrimônio produzido pelo esforço e possibilidades do povo brasileiro. Suas preexistências ambientais e culturais e paisagisticas precisam ser reconhecidas e valorizadas. Suas dimensões históricas, econômicas, sociais e políticas são bases fundamentais e indispensáveis para o desenvolvimento do país.

O desenvolvimento da nação e o desenvolvimento urbano são processos interdependentes. As ações sobre a cidade não podem ser isoladas já que têm consequências sobre diversos aspectos da vida social em suas diferentes escalas.

A cidade é o lugar privilegiado do conhecimento e da inovação no mundo contemporâneo. Cada cidade é única. Embora detenham características e problemas em comum suas especificidades devem ser valorizadas.

O Brasil urbano apresenta um elevado passivo socioambiental e urbanístico cujo enfrentamento é prioritário para o desenvolvimento nacional. As cidades possuem condições precárias de saneamento, os seus sistemas hídricos se encontram fortemente comprometidos, o lixo não tem recebido a destinação adequada, o seu parque habitacional apresenta precariedades e um expressivo déficit qualitativo, os seus sistemas de mobilidade se encontram esgotados.

As cidades brasileiras demandam a implementação de políticas públicas integradas e participativas que garantam o direito à cidade, reconheçam as preexistências da natureza e da cultura e preservem o ambiente para as gerações futuras.

O Centro das cidades representa o território da cidadania, símbolo do espaço democrático e lugar de expressão da diversidade. Os centros precisam ser cuidados e valorizados permanentemente.

A desejada vitalidade do espaço urbano como lugar do encontro, essência das cidades, é determinada pela sua diversidade funcional em relação ao desenvolvimento econômico e sociocultural e pela adequada composição das construções em sua relação com as áreas públicas.

A gestão do uso, a ocupação e parcelamento do solo são elementos definidores do espaço urbano e, por isso, uma prerrogativa do Estado que deve ser preservada em função do interesse público e, portanto, não pode ser terceirizada.

Os sistemas de planejamento e projeto estão debilitados ou desconstruídos nos âmbitos federal, estadual e municipal. A má gestão de cidades e a falta de transparência levam ao improviso e a privilégios na promoção de obras públicas, fatores agravantes para a baixa qualidade construtiva, o alto custo das obras e a indução de reajustes e superfaturamentos.

A falta de planejamento democrático e participativo, em detrimento cidadania, concentra as decisões sobre a cidade ao arbítrio do poder executivo, ao tempo em que sobrevaloriza o papel da iniciativa privada na definição da forma urbana.

As regiões metropolitanas lugar de maior dinamismo econômico demandam estatuto próprio e de instancias de gestão compartilhadas entre estado, município e sociedade civil para a resolução de problemas em comum relacionados, por exemplo, à mobilidade, ao uso do solo, à habitação, ao saneamento, à saúde e à educação.

As cidades brasileiras devem assumir a capacidade de se organizar para prevenir adversidades e desastres ambientais urbanas provocados pelas mudanças climáticas e pelos efeitos predatórios de ocupações incompatíveis com os geográficos.

A construção de uma cidade inclusiva, participativa, equitativa, integrada e digna inicia-se na formação e educação dos habitantes, nos princípios de cidadania, no sentimento de pertencimento a uma comunidade e nos valores do bem estar geral com o objetivo central para o desenvolvimento social e urbano das nossas cidades.

O atual modelo de construção das cidades tem se apresentado insustentável. Uma mudança de paradigmas se torna necessária para enfrentar tempos de extrema complexidade.

O paradigma de desenvolvimento do mundo globalizado, baseado exclusivamente na economia de mercado, tem provocado distorções que se manifestam na estrutura das cidades, desvalorizando-as e aprofundando as desigualdades sociais.

Sobre Habitação e o Direito à Cidade, o XX Congresso Brasileiro de Arquitetos afirma que:

O Brasil democrático pressupõe a implementação de uma Política Habitacional que tenha como fundamentação a garantia do pleno Direito à Cidade a todo o cidadão.

Uma Política de Habitação democrática e urbanisticamente qualificadora há de prever o aproveitamento das áreas urbanas consolidadas, com oferta de variedades tipológicas, variedade de usos para além do estritamente habitacional e atendimento às diferentes faixas de renda, com perspectiva de viabilização de cidades compactas rompendo com o espraiamento.

O atendimento à demanda habitacional deve estar em sintonia com a adoção de políticas de mobilidade e do uso do solo que impeçam a expansão predatória das cidades. Programas habitacionais, como o Minha Casa Minha Vida, não devem ser fator de estimulo ao espraiamento predatório das cidades.

A demanda por habitação exige variados modos de produção habitacional que possibilitem às famílias, especialmente às mais pobres, a decisão de onde, como e em que condições construirão ou comprarão a sua moradia através de um Programa de Universalização do Crédito Imobiliário.

A cidade representada pelas favelas e pelos loteamentos populares constitui um patrimônio urbano e cultural que demanda urbanização, qualificação e regularização fundiária adequadas a estas comunidades urbanas

A superação da crise de habitação deve contemplar uma Meta Nacional de Urbanização dos assentamentos populares – favelas e loteamentos – acompanhada pela universalização dos serviços públicos e equipamentos sociais de qualidade, sublinhando-se as responsabilidades constitucionais dos municípios quanto ao uso e ocupação do solo urbano.

Sobre os serviços públicos e a mobilidade urbana, o XX Congresso Brasileiro de Arquitetos afirma que:

A equidade no acesso e usufruto da cidade é essencial para a vida urbana e para a democracia, com a universalização dos serviços públicos a toda a população em condições adequadas à nossa contemporaneidade.

A cidade deve assegurar uma multiplicidade de modais de transporte, inclusive, com o investimento no espaço publico para pedestres e a implantação de ciclovias. As metrópoles e as grandes cidades brasileiras demandam a implementação de políticas que priorizem o transporte público de alta capacidade – metrô, ferrovia urbana e hidrovia – integrante de rede intermodal que atenda aos deslocamentos impositivos e à diversificação de motivações, característica da contemporaneidade.

Pedestre antes que carro; calçada antes que rua; espaços públicos antes que obras de trânsito; transporte coletivo antes que o individual; transporte público antes que o privado.

Os investimentos públicos em mobilidade devem estar condicionados à existência de Planos de Mobilidade Urbana e Metropolitana Integrados, que garantam eficiência e conforto para o cidadão usuário. As cidades brasileiras precisam de um Fundo Financiador de Estudos e Projetos pelos municípios.

Sobre o planejamento e a gestão das cidades, o XX Congresso Brasileiro de Arquitetos afirma que:

Cada cidade precisa ser permanentemente planejada e projetada. O desenho urbano é uma ferramenta para pensar soluções democraticamente escolhidas e que atendam as demandas sociais , econômicas e culturais no âmbito da construção dos espaço habitado.

Igualmente, é necessária a incorporação do Projeto e do Desenho do Espaço Urbano como instrumento indispensável à política urbana, inclusive nas definições dos Planos Diretores de Desenvolvimento Urbano, para além da formulação de diretrizes, índices e desejos, além da efetiva consideração ao Estatuto das Cidades.

As cidades e Regiões Metropolitanas brasileiras demandam a implantação de Sistemas de Planejamento Urbano e Metropolitano reconhecidos como Função de Estado, fazendo parte de um processo permanente de acompanhamento e gestão.

A participação cidadã na formulação e acompanhamento de planos e projetos, com a transformação dos Conselhos Nacional, Estaduais e Municipais da Cidade em órgãos efetivos de deliberação, e um sistema de informações transparente e democrático.

Sobre o Projeto de Arquitetura e Urbanismo, o XX Congresso Brasileiro de Arquitetos afirma que:

Ao autor do projeto deve ser garantida a sua autoria e a sua participação em todas as etapas de elaboração e de desenvolvimento dos respectivos projetos, de forma a assegurar a integridade dos mesmos em todas as sua fases.

O concurso Público de Arquitetura e Urbanismo é a maneira mais democrática e transparente para a seleção técnica de projetos, devendo, portanto, ser obrigatória para a contratação de projetos de obras públicas.

Obras públicas devem ser licitadas ou financiadas somente a partir de Projeto Completo, asseguradas a independência e integralidade em relação à construção. A promiscuidade entre projeto e obra é danosa ao interesse coletivo. Quem projeta obra pública não constrói.

É necessário a garantia de recursos específicos para o custeio de Projetos Completos, considerando-os como investimento autônomo, dissociando-o dos orçamentos de obras, uma vez que o projeto é instrumento de qualificação dos investimentos e aplicação de recursos.

XX Congresso Brasileiro de Arquitetos

Fortaleza-CE, 25 de abril de 2014

VEJA A CARTA NA ÍNTEGRAhttp://servicos.iabdf.org.br/gerenciador/XX%20CBA-Carta%20de%20Fortaleza-25.04.2014.pdf

Responsabilidade Social marca documento aprovado em Conferência de Fortaleza

MP 630/13 perpetuaria uma reforma urbana antidemocrática

CONFERENCIA

Dos dias 22 a 25 de abril, arquitetos, urbanistas, especialistas e sociedade civil se reuniram em Fortaleza para debater o papel e  a importância dos arquitetos e urbanistas na I Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo promovida pelo CAU/BR.  Tendo como tema “Arquitetura e Urbanismo para Todos”, a conferência discutiu formação profissional, ética e cidadania, além de política públicas voltadas para o correto planejamento e desenvolvimentos urbanos. A Conferência de Fortaleza é um marco para o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil que trabalha, desde a sua criação, para ampliar os debate em torno da profissão e aproximar a Arquitetura  e Urbanismo da sociedade.

Confira a íntegra do documento:

I CONFERÊNCIA NACIONAL DE ARQUITETURA E URBANISNO

Arquitetura e Urbanismo para Todos

Garantir Arquitetura e Urbanismo para todos é o objetivo maior deste momento histórico, momento em que o Conselho de Arquitetura e Urbanismo materializa um projeto, que certamente constituirá o marco inicial de um relacionamento amplo com todos os segmentos que pensam e produzem os espaços de nosso habitat, através de um pacto para a criação de políticas inclusivas.

Refletir sobre a ampla temática das atribuições e competências profissionais dos arquitetos e urbanistas remete ao âmbito das importantes questões que envolvem todas as etapas de ocupação do território. Etapas que devem ser pautadas por avaliações profundas de nossa atividade profissional, sem o que os objetivos maiores que embasam as intervenções em todas as escalas de nosso território, carecerão de fundamento.

É imprescindível que vejamos nossas cidades de forma ampliada, como o organismo vivo que está em constante transformação. A apropriação completa de todos os condicionantes, que interagem entre si para a criação das cidades, com as vocações peculiares de cada lugar e sua gente, garante que não se viole as principais simbologias que formam a identidade de cada uma delas. Os conteúdos advindos destas riquezas, processadas através da participação de todos os atores, elaboram seu desenvolvimento a partir da ocupação legítima de espaços públicos e privados.

A construção de espaços democráticos é vital à vida das cidades e depende da promoção de profundas reformas estruturais concretas de caráter político e urbano, que deverão superar nosso estigma de imobilismo. As discussões e proposições acerca de nosso habitat não dependem de fórmulas mirabolantes, mas de organização e promoções mínimas, onde de fato os interesses coletivos da sociedade predominem sobre os demais.

Os marcos regulatórios necessários a que retomemos as nossas responsabilidades sociais como categoria profissional, estão prontos, mas não construídos, tarefa habilitada por nosso perfil de abordagens interdisciplinares. A atitude de se tomar as rédeas de um complexo processo de construção de um novo paradigma que ultrapasse o discurso e reflete as expectativas e ansiedades de todos nós arquitetos e urbanistas, e para a concretização desta meta, utilizar a política, é o caminho para a feliz cidade e o primeiro passo em direção a uma consistente política urbana.

No que se refere à formação profissional, é fundamental não se derrapar no mercenarismo, tecnicismo, amadorismo e corporativismo, mas sim, unir-se com um compromisso entre iguais. O ensino como agente qualificador dos futuros espaços coletivos e privados tem, claramente, grande responsabilidade na formação destes profissionais que estarão de imediato, imersos em todo este leque de atribuições. A responsabilidade social torna-se muito mais ampla do que se supõe à primeira vista e deverá estar na raiz das futuras ações para a qualificação do ensino da arquitetura e urbanismo no País.

A perspectiva de ação que visualizamos a partir das competências necessárias ao cumprimento de todos os impositivos profissionais, determinados no conjunto dos marcos regulatórios existentes, determinará às Escolas de Arquitetura e Urbanismo, a formação de todas as atribuições.

O resultado do tema em questão também aponta para a responsabilidade social de todos os atores, complementadas pela obrigatoriedade das ações de fiscalização do exercício profissional, garantidas pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo, exigindo simultaneamente rigoroso cumprimento das atribuições e atitudes éticas dos profissionais.

A sociedade não é convidada à refletir ética juntamente com o Conselho , isso valoriza a iniciativa de construção de uma consciência ética de dentro para fora de nosso coletivo profissional. A construção de um cenário social, no qual alguns conceitos são aceitos, permite o diálogo que consolida a base para a construção da cidadania a partir de nossa percepção profissional. O conteúdo ético de nossas ações coletivas surge da consciência, da relação de iguais com objetivos semelhantes e com da relação e interação com espaços de vida e de viver.

Os conteúdos exarados nesta I Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo vêm ao encontro das demandas produzidas ao longo de décadas, que refletem realidades multidimensionais e diversificadas de um contexto nacional diferenciado e que buscam os registros de experiências vividas ao longo do processo de implantação e construção simultânea do Conselho de Arquitetura e Urbanismo. Especialmente os contidos nas Cartas de Goiânia, Boa Vista, Campo Grande e Gramado, editadas nas Reuniões de Presidentes dos Conselhos de Arquitetura e Urbanismo das Unidades Federativas, nas Conferências Estaduais realizadas pelos CAU/UF e nas contribuições exaradas pelo Colegiado Permanentes das Entidades Nacionais de Arquitetura e Urbanismo (CEAU).

O teor dessas cartas e contribuições, que serão incluídas na íntegra no relatório final, não contêm somente reflexões teóricas e preocupações no que concerne ao exercício da Arquitetura e Urbanismo em todo o território nacional, mas postulados importantes para serem analisados e apontarem possibilidades para o desdobramento de ações e estratégias de desenvolvimento social e urbano.

A Sociedade são os cidadãos, as entidades que os representam, as forças produtivas, o setor educacional, os partidos políticos, a imprensa e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Devemos estabelecer canais permanentes de diálogos com todos, ampliando a defesa de uma política de Estado para a Arquitetura e o Urbanismo, por cidades mais humanas e habitações dignas para todos. O momento é agora.

As ruas, em junho de 2013, pediram urbanidade, mesmo que de forma aparentemente desconexa. Há representantes do Executivo e do Legislativo que ainda não se conscientizaram disso, tamanho o equivoco da proposição da MP 630/13, já aprovada pela Câmara dos Deputados, que em síntese entrega para as empreiteiras o dever do Estado de planejar nossos espaços públicos, da pequena escola às grandes obras. É imperioso que o Senado rejeite a MP 630/13, não permitindo a perpetuação de uma reforma urbana inversa à necessária, em tudo antidemocrática.

A conferência de Fortaleza nos estimula a ampliar a condenação veemente da medida, somando novas forças com profissionais de diferentes áreas  de conhecimento, garantindo uma visão multidisciplinar. Nesse sentido, é essencial que os meios de comunicação, abram espaço para o debate democrático da questão, cumprindo seu papel de  difusor do contraditório e de apoio a uma vigorosa reflexão sobre o habitat brasileiro.

Fortaleza, 25 de abril de 2014

AQUI você tem acesso ao PDF

Fonte: http://www.caubr.gov.br/?p=22412

CAU/BR lança portal para divulgar Arquitetura junto ao público em geral


Além dos painéis de debates com a presença de importantes figuras representativas da Sociedade brasileira, o CAU/BR reservou uma surpresa para os participantes da I Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo, também destinada aos inscritos  do XX Congresso de Arquitetos do Brasil.

Trata-se de uma “cabine colaborativa” destinada a gravar depoimentos audiovisuais de profissionais da área sobre arquitetura contemporânea do Brasil e seus trabalhos. Os depoimentos farão parte do conteúdo do portal “Arquitetura e Urbanismo para Todos”, lançado pelo CAU/BR durante a Conferência. Em www.arquiteturaurbanismotodos.org.br é possível assistir a vídeos e acompanhar notícias e entrevistas sobre Arquitetura e Urbanismo, além de enviar sugestões de temas.

Estima-se a gravação de cerca de cem depoimentos durante a Conferência. Deverão ser entrevistados profissionais das mais diversas regiões do País, independentemente do tempo em exercício e do porte de seu escritório, para que se tenha uma visão federativa e pluralista do repertório.

Em sintonia com o tema do evento, segundo Haroldo Pinheiro, presidente do CAU/BR, a ideia é expandir o conhecimento das atividades dos arquitetos e urbanistas junto à população em geral. E assim colaborar para a criação de uma “cultura arquitetônica” no Brasil, hoje inexistente, o que tem levado governos, empresas privadas e cidadãos a negligenciarem na exigência de qualidade das obras que contratam. Faltam estímulos para a sociedade identificar o valor da fruição do espaço arquitetônico.

O jornalista, produtor independente e escritor Paulo Markun concebeu, coordena e participa diretamente do projeto. Ele, que por dez anos foi âncora do programa “Roda Viva” (da TV Cultura), entrevistou uma série de renomados arquitetos do País, que falam sobre o que caracteriza um bom projeto arquitetônico, como se chegar a ele e quais são os bons exemplos.  Entre outros, foram entrevistados Sérgio Parada, de Brasília; Roberto Moita, de Manaus; Bruno Ferraz e Marco Antonio Borsoi, do Recife; Alberto Botti, Décio Tozzi e Rosa Kliass, de São Paulo; e Silvio Podestá e Gustavo Penna, de Belo Horizonte;  e Luiz  Eduardo Índio da Costa, do Rio.

Nos últimos 40 anos, Markun tem produzido diversos  trabalhos para jornais, revistas e TVs, a reseptio da arquitetura e urbanismo do Brasil. Os mais recentes foram as séries documentais “Arquiteturas”, com 12 episódios, com obras significativas de todas as épocas,   “Habitar-Habitat”, com 13 episódios, sobre o modo de morar do brasileiro, para o SESCTV. Esses vídeos, por gentileza do SESC-SP,  que também farão parte do portal.

Por sua característica colaborativa, inédita no setor no País, o portal continuará a incorporar conteúdos dos profissionais após a Conferência, bem como do público em geral que poderá indicar temas, nomes ou lugares a serem abordados. O portal conterá ainda pequenos vídeos explicativos do Código de Ética e Disciplina do CAU/BR, outra contribuição do Conselho para a Sociedade, zelando pelo exercício responsável da profissão.

Fonte: http://www.caubr.gov.br/?p=22024

Ética na Arquitetura e Urbanismo foi o tema do 3º dia da Conferência

Arquitetos e especialistas convidados destacaram a aimportância do Código de Ética profissional

O Código de Ética e Disciplina do CAU/BR foi o ponto de partida dos debates no terceiro dia da Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo. “Pretendemos que seja uma discussão permanente da categoria. É a construção da cidadania a partir da nossa percepção profissional”, disse Napoleão Ferreira, conselheiro do CAU/BR pelo Ceará e coordenador da Comissão de Ética. Para o presidente do CAU/CE, Luciano Guimarães, a norma aprovada no ano passado é um instrumento de de “valorização, autorregulamentação e de defesa da boa atuação profissional”.

O debatedores convidados foram Márcia Tiburi, professora de Filosofia, e o jornalista Paulo Markun. De início, Márcia destacou que o grande problema que envolve a ética é que não se pode obrigar ninguém a ser ético. “As pessoas precisam se convencer por elas mesmas, é uma produção de uma subjetividade própria, com ela mesma e com o mundo em que ela vive”, afirmou. “É um conceito altamente filosófico, por isso é tão importante que se crie essa discussão, como o CAU faz com seu seu Código de Ética, principalmente numa sociedade tão avessa à reflexão”.

Para a professora, o desafio do Código de Ética está em construir um cenário social em que certos valores são respeitados. “A ética é a área do conhecimento que se gera ações com o objetivo de produzir convivência”, disse. “É uma reflexão no sentido amplo. Platão, Kant, Heidegger, Adorno, fazem essa discussão, sobre como proceder uma reflexão voltada para uma prática de vida”.

Márcia Tiburi destacou a importância de se criar uma cultura ética baseada na convivência

CONVIVÊNCIA NAS CIDADES - No caso específico da atividade profissional dos arquitetos, eles podem debater questões como a vida nas cidades, a sua relação com o espaço-tempo, a ecologia, o trabalho, classes sociais. “Temos que pensar a ética como prática de vida que envolve nossas escolhas. Como eu me torno um sujeito ético? Em um de meus livros, cito três perguntas básicas: Como eu me tornei o que eu sou? O que estamos fazendo uns com os outros? Como viver juntos?”

Ela sugeriu a convivência como um ponto de partida para essa reflexão. “Vocês constroem e destroem o espaço, têm que pensar na questão  da convivência. Vocês são filósofos do concreto, também podem ser fascistas do concreto. Vocês são produtores do cenário que determina a convivência”.

“A ética é muito difícil porque ela nunca está  pronta. É como a vda, tem que fazer e refazer todos os dias. É a prática da reflexão  sobre essas três perguntas, nas miudezas do cotidiano”, afirmou. “Temos que refazer a ética a cada dia, e o Código de Ética pode ser uma inspiração para isso”.

O jornalista Paulo Markun sugeriu que arquitetos liderem um debate interdisciplinar sobre a cidade

A ÉTICA DO MARCENEIRO - Jornalista renomado, Paulo Markun teve uma carreira de destaque, com passagens pelos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, TV Globo e como apresentador do programa Roda Viva. Mas revelou uma frustação. “Sempre quis ser arquiteto, nunca consegui”. A fascinação pela profissão vem da convivência com Vilanova Artigas, que ele conheceu aos 15 anos. Na época da ditadura, o arquiteto recebia em sua casa vários jovens para conversas sobre Arquitetura, política e os mais diversos assuntos

Sobre ética, Markun lembrou a lição dada pelo jornalista Claudio Abramo, um dos ícones da profissão no Brasil. Escreveu Abramo: “sou jornalista, mas gosto mesmo é de marcenaria. Gosto de fazer móveis, cadeiras, e minha ética como marceneiro é igual à minha ética como jornalista – não tenho duas. Não existe uma ética específica do jornalista: sua ética é a mesma do cidadão”.

Outra lembrança veio de 1975, quando Markun organizou um encontro de 40 entidades de várias áreas, na Assembleia Legislativa de São Paulo para discutir as questões da cidade na antevéspera de posse do prefeito, que não era eleito na época. “Hoje as entidades profissionais como IAB, OAB e Associação Brasileira de Imprensa perderam a relevância, mais que isso, hoje não existem mais encontros interdisciplinares”, destacou. “As questões da cidade não têm mais tribunas que juntem as entidades. Quem pode liderar esse processo hoje são os arquitetos. Se vocês querem ocupar esse espaço, têm que falar para a sociedade, convocar outros setores”.

Ele sugeriu como bandeiras que podem unir vários setores a MP 630 e a reserva técnica, dois problemas que estão na pauta do Conselho de Arquitetura e Urbanismo. “Vocês têm uma rede de contatos que precisa ser acionada em relação a isso. A Gleisi Hoffmann devia estar aqui para explicar o que ela quer dizer com isso. Mas essa atitude demanda uma posição de orgulho com a profissão”.

Fonte: http://www.caubr.gov.br/?p=22310

Conferência debate formação e compromisso social dos arquitetos

Regulamentação profissional esteve entre os temas mais debatidos por arquitetos e especialistas convidados

Mesa do segundo dia de debates da I Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo

Com foco em formação e exercício profissionais e compromisso social na atuação de arquitetos e urbanistas, o segundo dia de debates da I Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo contou com a participação dos arquitetos e urbanistas Antônio Francisco de Oliveira, 1º Vice-Presidente do CAU/BR e coordenador da Comissão de Exercício Profissional, e Fernando Costa,  conselheiro do CAU/BR pelo Rio Grande do Norte. Para ampliar o debate estiveram presentes os convidados Nilson José Machado, Professor Titular da Faculdade de Educação da USP e o jornalista Hélio Campos Mello, fundador da revista “Brasileiros”.

Um dos principais temas debatidos foi a regulamentação da profissão, instituída inicialmente pelo Decreto 23.569, de 1933, depois pela Lei n° 5.194, de 1966, e atualmente pela Lei nº 12.378, de 2010 –, e que tonou restrita ao portador de diploma de arquiteto, concedido por instituição de ensino devidamente credenciada, a atuação profissional. Como lembrou o texto base que guiou o debate (confira aqui a íntegra), ao regulamentar uma profissão o Estado brasileiro, ao mesmo tempo, concede um “privilégio” aos profissionais autorizados a exercê-la, e atribui a estes mesmos profissionais uma “enorme responsabilidade”.

O texto lembrou ainda que para justificar a regulamentação profissional, não basta que a profissão seja tida pelos que a exercem como importante para a Sociedade. Ao contrário, é necessário que, pela Sociedade, a profissão seja assim percebida. Seria, então, fundamental que o cidadão se sinta beneficiária da regulamentação, pois, de outra forma esta seria entendida como mera defesa de interesses corporativos.

Presidente da mesa, o arquiteto Antônio Francisco reiterou que a profissão de arquiteto é um bem social e por isso, a prática profissional deve visar o atendimento às necessidades sociais. “Somente com esse compromisso realizado faz sentido a profissão ser reconhecida como importante. Para ser uma profissão regulamentada, ela precisa se mostrar relevante”, destacou.

O docente Nilson José Machado também discutiu em termos de regulamentação. “Profissional é uma pessoa que exerce uma atividade regulamentada e autorregulada. É preciso ter a autorregulação, eles não podem se submeter acriticamente às leis do mercado nem às decisões de governos. É preciso ter competência técnica e compromisso público”.

Presidente da Mesa e 1º Vice-Presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil Antônio Francisco de Oliveira

FORMAÇÃO PROFISSIONAL -  Fernando Costa, conselheiro do CAU/BR  e mediador do debate, abordou a formação de profissionais de arquitetura e urbanismo e lembrou que atualmente 8.000 arquitetos e urbanistas lecionam nas faculdades e universidades. Segundo o arquiteto, uma das perguntas do Censo do CAU/BR era a satisfação com a formação, 83% disseram estar satisfeitos com a formação profissional.

No entanto, o debatedor e docente Nilson José Machado, não deixou de salientar a importância da formação permanente. “Esse é um fato novo. Os currículos não podem pretender ter tudo, eles devem ter uma formação inicial que preveja o retorno do profissional em cursos periódicos”, salientou.

Sobre compromisso social, o professor da Faculdade de Educação da USP reiterou que é preciso ter um projeto de país, um projeto de sociedade. “Nós carecemos de projetos em um sentido maior. Na Educação, tivemos educadores como Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Cristovam Buarque, estudiosos e educadores que tinham um projeto de país. E acrescentou, “é preciso não derrapar no mercenarismo, no tecnicismo, no amadorismo nem no corporativismo”.

Jornalista e debatedor Hélio Campos Mello

Jornalista, Hélio Campos Melo, trouxe a experiência como fundador e editor da revista “Brasileiros” para o debate. Lembrou que as manifestações ocorridas em junho de 2013 colocam as discussões que envolvem a Arquitetura e Urbanismo em outro patamar. Enquanto área conectada com a responsabilidade social, o jornalista propõe aos arquitetos um olhar social. “Não é preciso ser arquiteto de madame nem um Paulo Mendes da Rocha, mas é preciso ter um conceito de cidadania”, cobrou.

Para o presidente do CAU/BR, Haroldo Pinheiro, a discussão do segundo dia de debates é de importância basilar. Ele questiona se a atual formação dos profissionais de arquitetura e urbanismo atende às necessidades sociais e de mercado. “Os egressos estão saindo com a formação generalista que é tradição de nossa profissão? Temos visto trabalhos formidáveis de estudantes ainda mais com as novas tecnologias, mas estão resolvidos os problemas técnicos, tecnológicos da nossa profissão?”, indaga o presidente.

O arquiteto e urbanista Fernando Costa é conselheiro do CAU/BR pelo Rio Grande do Norte.

Fonte: http://www.caubr.gov.br/?p=22232

Conferência de Arquitetura destaca necessidade da ação política de arquitetos

Primeiro dia de debates mostrou caminhos para trazer temas de interesse da Arquitetura e Urbanismo para a discussão política com toda a sociedade

A I Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo abriu sua série de debates com o tema “O CAU, a Sociedade e as Políticas Públicas”. O primeiro dia de discussões contou com a participação dos arquitetos e urbanistas Jeferson Salazar, presidente da Federação Nacional dos Arquitetos (FNA) e Cláudia Pires, conselheira do CAU/BR por Minas Gerais; além dos debatedores convidados Maria Alice Rezende de Carvalho, historiadora e socióloga da PUC-RIO, e Washington Novaes, jornalista especializado em questões ambientais e urbanas (veja aqui os currículos dos debatedores). O objetivo deste primeiro tema é encontrar meios de o CAU atuar de forma propositiva e eficaz nas políticas públicas que afetam o dia-a-dia das populações que vivem nos centros urbanos, utilizando equipamentos públicos e transportes coletivos.

A discussão foi precedida de um texto-base preparado pela Comissão Organizadora da Conferência. O texto afirma que a sociedade brasileira conquistou uma série de avanços para a qualificação de suas cidades, como a aprovação do Estatuto das Cidades, que obriga os municípios com mais de 20 mil habitantes a terem Plano Diretor; a criação do Ministério e a estruturação de uma política Nacional de Cidades calcada nos eixos do saneamento, planejamento urbano e mobilidade e da habitação; e a Lei de Assistência Técnica para a construção, reforma ou ampliação da habitação dos brasileiros com renda familiar de até três salários-mínimos. “Mesmo assim, o conjunto é frágil. Falta incluir os profissionais de Arquitetura e Urbanismo na ponta da prática cotidiana desta política”, diz o documento.

Um dos caminhos apontados para esse objetivo, afirma o texto, é incentivar a aliança de entidades profissionais de arquitetos e urbanistas com organizações sociais que defendam a qualidade de vida na cidade, a preservação do patrimônio, a proteção de comunidades submetidas a remoção forçada e violenta, a manutenção e preservação de espaços públicos de uso coletivo, de forma a garantir a estas organizações suporte técnico-científico da categoria e, desta forma, ampliar o conhecimento das potencialidades e importância da Arquitetura e Urbanismo no cotidiano do espaço construído.

Jeferson Salazar, presidente da FNA, coordenou a mesa

NOVO MOMENTO – Jeferson Salazar, que atuou como presidente da mesa de discussão, destacou que a Conferência tem o objetivo de fazer o debate entre os arquitetos e destes com a sociedade. “Precisamos fazer com que Arquitetura e Urbanismo façam parte do cotidiano da população brasileira, não como uma coisa estética, para se ver, mas como algo que faça parte da cidadania”, afirmou.

Claudia Pires, mediadora do debate, destacou que a Conferência marca um novo momento para a Arquitetura brasileira. “Esta Conferência é o momento de aferirmos se o rumo que temos tomado é o certo. Estamos vivendo um momento paradigmático de retomada da profissão, de recuperar o papel da profissão dentro dos governos federal, estadual e municipal”, afirmou.

Claudia Pires, conselheira do CAU/BR, mediou o debate com a plateia

A historiadora e socióloga Maria Alice Rezende de Carvalho, destacou que a Conferência, mais que uma festa da corporação, é o momento em que arquitetos e urbanistas refazem a boa tradição de pensar a cidade como projeto civilizatório, uma pedagogia do bem-viver. Ela fez uma crítica severa à MP 630, que permite a licitação de obras públicas sem a definição do projeto, deixando a cargo das empreiteiras todas as definições sobre a construção.

Segundo a professora da PUC Rio, coordenadora do Núcleo de Estudos e Projetos da Cidade, a MP 630 atrofia o poder público. “No limite, ela entrega o governo da cidade a alguém que não foi eleito para isso. A própria dimensão da politica sairá chamuscada”, afirmou. Ela convocou os arquitetos e urbanistas a tomarem para si a liderança de um processo político que reúna diferentes atores sociais em torno desse debate. “A política é a forma de aproximar o arquiteto da vida pública. As cidades estão infelizes, estamos infelizes com elas, a politica é o caminho da felicidade”.

Usando como exemplo os protestos de junho de 2013, ela lembrou que há alguns anos a população tem tentado encontrar caminhos de aproximação com o poder público, se organizando, mas esse associativismo mas não tem encontrado caminhos para se expressar de forma eficiente. Para ela, o documento final da Conferência pode ser o primeiro passo na construção de uma política urbana aberta à participação.

Maria Alice de Carvalho, da PUC-Rio, disse que arquitetos precisam dialogar com outros atores sociais

A CIDADE COMO TEMA TRANSVERSAL – “O passo seguinte é o encontro com outros atores que também têm como foco a cidade. A Constituição tem instrumentos de participação que não estamos sabendo usar. Esse encontro vai além das instituições pertinentes aos arquitetos, o documento pode ir além e constituir um embrião de uma carta de princípios que alinhe diferentes atores da sociedade civil em nome da gestão democrática das cidades. Se bem sucedido, esse documento pode colocar a intervenção urbana como problema público”, afirmou.

Maria Alice destacou que, muitas vezes uma linguagem performática, dramatúrgica, faz parte desse processo. Como, por exemplo, os acidentes automobilísticos que mobilizaram os Estados Unidos contra os motoristas que dirigem alcoolizados. “Isso alinhou a sociedade americana, mas isso não foi feito apenas pelo discurso, foi feito com cenas de famílias que perderam seus filhos e pais, isso alinhou várias entidades, operadores da justiça, de seguros, da indústria automobilística. Os problemas se tornam públicos quando há esse alinhamento”, disse. “A democratização tem a ver com esse alinhamento, que constrói um vocabulário, que constrói um ponto de debate comum a vários atores”.

Ela deu dois exemplos de agenda que podem mobilizar vários setores da sociedade brasileira: a governança metropolitana e a mobilidade, que hoje é a que mais afeta na qualidade de vida dos cidadãos. “Essa agenda existe, mas o mais difícil é mudar o paradigma. Precisamos construir um novo paradigma de participação e articulação. É preciso que a gente comece a entender como a pesquisa, o debate, os encontros podem dar consistência a um programa democrático”.

A IMINÊNCIA DA INSUSTENTABILIDADE – Washington Novaes, que possui mais de 57 anos de experiência como jornalista, listou uma série de dados e estudos que comprovam a necessidade urgente de uma mudança de paradigma na vida urbana, especialmente nas grandes metrópoles. Mas primeiro, ele definiu sua opinião sobre a MP 630. “Acho um escândalo, um deboche com a sociedade brasileira”.

Ele destacou que atualmente todas as questões tem âmbito planetário, somos afetados por tudo que acontece no mundo. Por isso, é preciso começar as discussões sociais a partir das questões mais amplas que expõem nossos limites e que condicionam as propostas de solução.

O jornalista Washington Novaes apresentou dados sobre a insustentabilidade das cidades modernas

“São muitos os diagnósticos de insustentabilidade global em várias áreas”, afirmou. “Um deles é o consumo de recursos do planeta, a ONU diz que já consumimos 30% além da capacidade de reposição da natureza. Hoje esse consumo é de 7 toneladas anuais por habitante. Ou seja, 49 bilhões de toneladas de recurso naturais por ano. Não há como sustentar isso aí. Já se fala em viagens interplanetárias para buscar esses recursos”.

Outro dado impressionante é que pelo menos um terço da população mundial não tem acesso à agua de qualidade. Um bilhão de pessoas no mundo não tem energia em suas residências, muitas usam o carvão, que é o formato mais poluente. “Precisamos de políticas públicas que influenciem o trabalho em todas as áreas, como na área de serviços, transportes e mobilidade urbana”, disse. A contradição é que, mesmo com todos esses sinais, o Brasil continua a dar incentivos fiscais para a produção de automóveis. No ano passado, foram 872.000 novos veículos produzidos com incentivos fiscais no ultimo ano.

Outro problema que precisa ser enfrentado, segundo o jornalista, são os padrões de construção das edificações, que são muito antigos. “Temos que renovar os materiais”.

Para Washington, o CAU deve lutar para tornar visíveis à sociedade os problemas da MP 630. “Hoje a sociedade não tem meios para se manifestar. Mais da metade dos artigos da Constituição de 1988 não é cumprida. A sociedade não reage e tem que aprender a ter projetos nessa direção”.

Fonte: http://www.caubr.gov.br/?p=22156

6 cidades que trocaram suas rodovias por parques urbanos

As autoestradas construídas nas cidades são muitas vezes pensadas como uma solução para congestionamento de veículos. Entretanto, a teoria da demanda induzida tem demonstrado que quando os motoristas contam com mais vias, optam por seguir usando este meio ao invés de utilizar o transporte público ou a bicicleta e, como resultado, o congestionamento não diminui.

Por isso, existem cidades que têm optado por acabar com o espaço dos automóveis e, onde havia autoestradas, hoje há parques urbanos e ruas menos congestionadas.

A seguir mostramos seis casos deste tipo. Alguns já estão concluídos, enquanto que alguns ainda estão em fase de construção. Para a surpresa de alguns, a maioria dos projetos estão nos EUA, o que reflete que os projetistas deste país estão estudando as políticas de transporte européias, tal como lhes contamos em nosso artigo sobre quais são as “9 razões do porquê os EUA são mais dependentes do automóvel do que a Europa” (Parte I e Parte II).

Harbor Drive, Portland – EUA

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Uma das primeiras autoestradas estadunidenses que foi eliminada para dar lugar a um parque foi Harbor Drive, localizada em Portland, construída na costa do rio Willamette. Em 1974 começaram os trabalhos de transformação que deram lugar ao parque Tom McCall.

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A ponte Hawthorne, que era original da autoestrada, foi mantida e se transformou em uma ponte para ciclistas e pedestres, conectando a Primeira Avenida com o parque.

Cheonggyecheon, Seul – Coréia do Sul

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A autoestrada elevada de Cheonggyecheon, em Seul, foi construída sobre um canal homônimo. Mas ante à contaminação ambiental e o ruído que geraram os mais de 160 mil veículos que transitavam por ela diariamente, o prefeito Lee Myung Bak lançou um plano para demoli-la e construir um parque em seu lugar.

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A proposta construída foir projetada por Kee Yeon Hwang, que considerou a despoluição do canal e lhe devolveu seu papel como lugar de encontro. Além disso, a recuperação este espaço público fez diminuir os níveis de ruído e a temperatura do entorno.

Pier Freeway, São Francisco

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No início de 1980, em São Francisco, começou-se falar de um plano para demolir a autoestrada California 480 com a ideia de se construir em seu lugar um parque. No entanto, somente em 1991 a autoestrada de dois andares foi demolida – após ter sido danificada pelo terremoto de 1989. Estudos concluíram que reconstruir a autoestrada era muito mais caro do que fazer um parque.

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Atualmente o lugar tem uma das melhores vistas da baía de São Francisco e conta com muitos quilômetros de passeios para pedestres e ciclistas.

Madrid Río, Madrid

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No ano de 2000 foi iniciado o projeto Madrid Río, que buscava recuperar a margem do rio Manzares. Tarefa difícil por conta dos trechos da autopista M-30 que o atravessavam.

Como no local havia diversas construções históricas, como a Puente de Segovia - a ponte mais antiga da cidade -, a Ermita Virgen del Puerto e a Puente del Rey, o projeto considerou sua recuperação para manter a história da cidade em meio ao parque. Além disso, a Puerta del Rey, uma construção datada do reinado de José Bonaparte, pôde enfim voltar a sua localização original, já que havia sido deslocada durante a construção da autoestrada.

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Em 2011 o parque foi aberto, oferecendo aos cidadãos espaços para prática esportiva, passeios e conhecimento a respeito da história da cidade. Neste caso, a autoestrada não foi demolida completamente, mas o trânsito dos veículos foi desviado por túneis subterrâneos.

Park East Freeway, Milwaukee

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Nos anos 60, um projeto previa que o centro da cidade fosse cercado pela autoestrada Park East Freeway. No entanto, os moradores próximos começaram a se opor, argumentando que o projeto causaria muito ruído contaminação. Por este motivo, a autoestrada nunca foi terminada e certas partes foram demolidas entre 1999 e 2002 para o desenvolvimento do projeto Park East Corridor que, quando inaugurado, permitirá um livre acesso do centro da cidade até o rio.

1396886956_milweakee_2© trevor.patt, via Flickr

No total, o novo parque possui 60 hectares, dos quais 24 foram destinados a novas construções para revitalizar a região. Até o momento, a porção norte do parque é a que mostra maiores avanços através da remodelagem das principais avenidas que se conectam com o centro da cidade.

Alaskan Way, Seattle

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Em 2001 um terremoto danificou o viaduto da autoestrada Alaska, em Seattle. Inicialmente pensou-se em reconstrui-lo, entretanto optou-se por fazer um túnel subterrâneo com quatro pistas para que na superfície o passeio Bahía Elliot se una com o resto da cidade através de um novo espaço de pedestres. A inauguração do parque está prevista para o próximo ano.

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Via Plataforma Urbana. Tradução Arthur Stofella, ArchDaily Brasil

© trevor.patt, via Flickr
© trevor.patt, via Flickr

Fonte:Constanza Martínez Gaete. "6 cidades que trocaram suas rodovias por parques urbanos" 25 Apr 2014.ArchDaily. Accessed 27 Abr 2014.  http://www.archdaily.com.br/br/601277/6-cidades-que-trocaram-suas-rodovias-por-parques-urbanos

 
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