Coluna Acústica no Mundo: Acústica de ambientes performáticos

acustica-no-mundeo-debora2(1)Por Débora Barreto*

Bem vindo mais uma vez às minhas viagens pelo mundo. Na edição passada, falei sobre o ICA e deixei para tratar do ISRA - International Symposium on Room Acoustics – numa edição separada por ser este, na minha opinião, um evento mais intimista e que objetiva o compartilhamento de informações entre um grupo restrito de profissionais da área de acústica. No ISRA, que aconteceu em junho no Royal Conservatory of Music (Toronto - Canadá), tive o prazer de conhecer e conversar com profissionais que se interessam especificamente pela área de acústica de ambientes performáticos, como Salas de Concertos, Teatros, Igrejas, entre outros.

A programação técnica do ISRA incluiu conferências sequenciais e posters. O evento permitiu um grande intercâmbio de conhecimento entre todos os participantes, pois não existem sessões paralelas – estivemos todos por todo o tempo juntos, interagindo de forma muito positiva.

Para mim, um dos grandes destaques foi a palestra de Sir Harold Marshall, um dos mais conceituados consultores e professores de acústica do mundo, que abordou a história de desenvolvimento do projeto acústico elaborado para o auditório Christchurch Town Hall (1972), na Nova Zelândia, até hoje considerado um dos locais com melhor acústica para concertos do mundo.

O formato diferenciado da sala levou ao desenvolvimento de um novo parâmetro de avaliação para salas de concerto, o LF (Lateral Fraction), cujos estudos se iniciaram a partir da percepção do consultor. Este parâmetro, que estuda o reforço da energia sonora das reflexões laterais, justificou a instalação de planos reflexivos soltos, compondo uma estética completamente diferenciada e arrojada, desenvolvida em conjunto com o arquiteto, autor do projeto.

Christchurch Town Hall

Achei muito interessante a palestra de Eckhard Kahle sobre acústica virtual e critérios de medição dentro de ambientes dessa natureza. Ele apresentou alguns questionamentos filosóficos, como a premissa de que, por melhor que sejam os equipamentos de captação sonora e precisão de seus resultados, nossos ouvidos sempre serão superiores. É preciso que estejamos atentos ao fato de que, muitas vezes,o simples fato de ouvir com atenção já pode orientar o profissional na correção de alguns problemas acústicos. Essa é uma visão que mostra a importância do ser humano no contexto profissional.

E, lógico, merece toda a minha admiração Leo Beranek.  Aos 98 anos, fez considerações brilhantes e atuais sobre as salas de concertos, trazendo novos estudos de parâmetros e sempre aberto a discussões. Ele é um exemplo de vida, de dedicação à profissão e sempre me faz pensar que nossa mente precisa estar sempre aberta e atenta.

Outras apresentações abordaram o tema da avaliação do nível de ruído em espaços de arte performática, questionando qual o real significado do silêncio (Why silence?). Ressaltou-se, também, a importância de um nível mínimo de ruído de fundo (background noise) para determinadas atividades - ou seja, nem sempre quanto mais silêncio melhor.

Dentre as visitas técnicas, vale mencionar o Koerner Hall (2009), pertencente ao Royal Conservatory of Music, com capacidade para 1.135 pessoas. A compatibilização entre arquitetura e tecnologias de áudio (elementos embutidos no forro) é fantástica. Existe uma forte interação entre acústica e arquitetura: forro acusticamente transparente, palco com dimensão ajustável e cortinas absorventes nas laterais.

Koerner Hall

Uma última visita técnica: o Four Seasons Center for Performing Arts (2006). A residência da Companhia Nacional de Ópera do Canadá e do Balé Nacional do Canadá possui cinco níveis de balcão e capacidade para 2.071 pessoas. Lá, o forro pode ser movimentado tanto para baixo quanto inclinado. Os ambientes possuem balcões e paredes difusoras.

Four Seasons Center for Performing Arts (Opera House)

Para finalizar, fiquei muito impressionada com um estudo que utiliza uma orquestra de loudspeakerno palco para simular músicas em salas de concertos. O estudo foi desenvolvido pelo time de acústica virtual da Aalto University, na Finlândia (coordenado pelo Dr. Tapio Lokki).  Com ele, foi possível escutar e obter um alto grau de fidelidade e percepção da influência da acústica de salas de espetáculos frente à mesma emissão sonora. Um dos pontos mais importantes nesse projeto é o fato de que a simulação pode e está sendo feita em várias partes do mundo, utilizando a gravação da mesma orquestra. Ou seja, é possível fazer as medições em vários espaços, comparando-os.

um alto grau de fidelidade e percepção da influência da acústica de salas de espetáculos frente à mesma emissão sonora. Um dos pontos mais importantes nesse projeto é o fato de que a simulação pode e está sendo feita em várias partes do mundo, utilizando a gravação da mesma orquestra. Ou seja, é possível fazer as medições em vários espaços, comparando-os.

Apresentação do estudo coordenado por Dr. Tapio Lokki

*Débora Barretto  é Arquiteta, Mestre em Engenharia Ambiental Urbana na Área de Poluição Sonora pela EPUFBA; Especialista em Acústica nas edificações pela UPM/Espanha; Conselheira da Sociedade Brasileira de Acústica – SOBRAC; Conselheira da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica – ProAcústica; Membro do Comitê de Estudos de Acústica da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT; e Diretora da Divisão de Acústica da Audium.

Fonte: http://vibranews.com.br/index.php?id=253

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