Robert Cervero, doutor em planejamento urbano: O problema do trânsito não é o carro

   Robert Cervero 

                                                                                                                                                  Conte algo que não sei.

O Globo - Renan França

Ao longo das próximas décadas, cerca de 90% do crescimento da população urbana mundial ocorrerão no Hemisfério Sul. Se os países em desenvolvimento, como o Brasil, prosseguirem na mesma trajetória da década passada, haverá um impacto profundo na mobilidade urbana.

Quais medidas deveriam ser adotadas para reduzir os engarrafamentos?

Precisa-se taxar o uso de carros para tirar os veículos das ruas. Em Londres, por exemplo, cobra-se pedágio de quem quer entrar no Centro da cidade, e ele se torna gradativamente mais caro ao longo do dia: quanto mais carros entram no Centro, mais caro fica o pedágio.

Como a tecnologia pode ajudar nesse processo?

Aplicativos de carona são uma ótima alternativa. Na Califórnia, antes de pegar o próprio carro, os americanos acessam o celular para saber se há algum motorista disponível indo para o mesmo destino. Caso haja compatibilidade, os dois dividem os custos. Todo mundo sai ganhando.

O senhor acha mais difícil solucionar os problemas relativos ao trânsito em países subdesenvolvidos?

Há várias regiões no mundo que não aceitam o governo restringir o uso do automóvel. Em países em desenvolvimento esse pensamento é ainda mais forte. Muitas vezes, cidadãos trabalham duro para realizar o sonho de comprar um carro e ir ao trabalho no próprio veículo. Quando conseguem, eles não querem que ninguém interfira. Ter um carro significa ascender socialmente.

Como mudar o pensamento das pessoas se os anúncios ainda vendem a ideia de que carros são símbolos de status?

O carro foi uma boa invenção, mas precisamos usá-lo menos. A mudança de pensamento virá com o tempo. Se você pode desfrutar de um bom mecanismo de transporte público, verá que vale mais a pena investir o dinheiro de um carro em outras coisas. Mas ter um carro continua sendo útil. O problema do trânsito não é o carro, mas o uso excessivo que fazemos dele.

O senhor tem carro?

Tenho. Mas sou adepto do transporte público e do uso compartilhado de bicicletas. Preciso dar o exemplo aos meus alunos (risos).

As gerações mais novas estão mais comprometidas com o futuro?

Sim. Nos Estados Unidos e na Europa as pessoas que hoje têm entre 18 e 30 anos já não ambicionam, como os mais velhos, ter um veículo. Ao contrário, a maioria é a favor do pedágio para quem usa carro em horários de pico e apoia a economia do compartilhamento. Daí o sucesso de iniciativas como o aplicativo de caronas, o Uber. O dinheiro que deixam de investir em um automóvel é repassado para a compra de um novo celular ou para fazer uma viagem.

Qual cidade soube solucionar o problema da mobilidade urbana?

Eu diria que Copenhague, capital da Dinamarca. A cidade tem cerca de 400 quilômetros de ciclovias, e semáforos especiais adaptados ao ritmo da circulação ciclista. Cerca de 50% de todos os habitantes deslocam-se diariamente de bicicleta para trabalhar ou estudar.

Como avalia a mobilidade urbana no Rio?

O Rio está melhorando. A construção dos corredores de BRT foi uma medida acertada, mas precisa haver mais investimento em metrô e trens para que um grupo maior de pessoas possa utilizar o transporte público. O cidadão só deixa de usar o carro quando ele nota que o transporte público tem custo-benefício maior.

Robert Cervero, doutor em planejamento urbano. Diretor do Instituto de Desen

Fonte: http://www.asbea.org.br/escritorios-arquitetura/noticias/o-problema-do-transito-nao-e-o-carro-330391-1.asp

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