O Observador Impertinente

Pela primeira vez, o Brasil recebe uma retrospectiva de Alberto Giacometti. O artista suíço estudou como poucos as formas do corpo humano e acreditava que uma escultura nunca estava pronta
por Bruno Moreschi

Dedicação Integral
Giacometti em seu estúdio na França,em 1958. O artista, que costumava fazer e refazer suas esculturas, quase não saía do ateliê
Giacometti
Foto © Paul Almasy/CORBIS/ Latinstock

Quando 2012 acabar, poderá se afirmar sem exageros que uma importante lacuna foi finalmente preenchida no cenário das artes visuais na América Latina. Isso porque São Paulo, Rio Janeiro e Buenos Aires receberão pela primeira vez uma mostra completa de Alberto Giacometti (1901-1966), um dos mais importantes e geniais nomes da arte moderna. Tirando a escultura Quatre Figures sur un Socle (Quatro Figuras em um Pedestal), de 1950, que integra a exposição e pertence ao acervo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, não há peças do mestre suíço no Brasil.
Em cartaz até 17 de junho na Pinacoteca do Estado de São Paulo e de 17 de julho a 16 de setembro no MAM carioca, a retrospectiva oferece um panorama bastante completo dos 40 anos de produção do artista. São cerca de 280 esculturas, pinturas, desenhos e gravuras, em uma seleção que inclui obras-primas como L’Homme que Marche I (Homem Caminhando I), de 1960, sua mais célebre versão da conhecida figura em bronze de um homem esquálido.
Duas publicações importantes sobre o artista são lançadas por aqui em abril, pela editora Cosac Naify. A primeira, Giacometti, é organizada pela própria curadora da exposição, Véronique Wiesinger, que dirige a Fundação Alberto e Annette Giacometti. Já Um Olhar sobre Giacometti foi escrita por David Sylvester, um dos mais festejados críticos de arte do século passado e amigo íntimo do homenageado. Em um relato bem pessoal, Sylvester não só analisa várias das obras atualmente em cartaz no Brasil como também revela as divagações que Giacometti tinha com a questão do olhar. Muitas vezes, o artista afirmou que via as coisas em escalas menores do que o normal – uma percepção que nos ajuda a compreender as anatomias pouco usuais de suas criações.

Fazer e refazer
Diferentemente de outros criadores do início do século 20, Giacometti sempre recebeu apoio incondicional dos pais para seguir o caminho que escolheu. Prova disso é um desenho de seu padrinho, Cuno Amiet. Ali está o menino de 9 anos abraçado a seu pai, enquanto esse observa orgulhoso os exercícios artísticos do filho. Com 13 anos, Giacometti já havia criado um monograma com suas letras iniciais. Estava pronta a assinatura para os seus futuros trabalhos.
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Uma de suas mais citadas influências é o pintor francês Paul Cézanne (1839-1906). O mestre suíço dizia que cenário e objetos passaram a ter para ele a mesma importância quando viu pela primeira vez as telas do pós-impressionista. Entretanto, foram as esculturas que fizeram dele um nome de prestígio. Apreciar suas peças de bronze e gesso é se deparar com um modo original e obsessivo de representar o corpo humano. Em uma entrevista para a televisão, o artista lembrou que fitava as pessoas nos cafés de Paris de uma maneira tão interessada que muitas vezes elas reclamavam de seu olhar impertinente. Mas, apesar de ser um observador atento, Giacometti teve poucos modelos. O de que mais gostava era Annette, sua mulher, hoje à frente da fundação responsável por seu espólio.
Circulava um boato na capital francesa de que o artista costumava fazer e refazer suas esculturas tantas vezes que não era raro destruir algumas delas. Ele não saía de seu ateliê por nada e cruzou o Atlântico apenas uma vez, meses antes de morrer, em 1965. Portanto, o que está em cartaz no Brasil atualmente é resultado do talento de um dos criadores mais insistentes do século 20, que afirmava que uma obra nunca termina: “Uma escultura é uma interrogação, uma questão, uma resposta. Ela não pode ser acabada nem perfeita.”

Bruno Moreschi é jornalista e artista plástico.

A EXPOSIÇÃO
Alberto Giacometti: Coleção da Fondation Alberto et Annette Giacometti. Pinacoteca do Estado de São Paulo (pç. da Luz, 2, SP). Até 17/6. De 3ª a dom., das 10h às 18h; 5ª, até 22h. R$ 6. Grátis sábado.

Fonte e reportagem completa: http://bravonline.abril.com.br/materia/o-observador-impertinente#image=176-av-giacomini-1

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