© flickr joseatorralba
–Não vive já ninguém em casa –me dizes–; todos se foram. A sala, o dormitório, o pátio, jazem despovoados. Ninguém já fica, pois, que todos partiram.
E eu te digo: Quando alguém se vai, alguém fica. O ponto por onde passou um homem, já não está só. Unicamente está só, de solidão humana, o lugar por onde nenhum homem passou. As casas novas estão mais mortas que as velhas, porque seus muros são de pedra ou de aço, porém não de homens. Uma casa vem ao mundo, não quando a acabam de edificar, senão quando começam a habitá-la. Uma casa vive unicamente de homens, como uma tumba. Daqui essa irresistível semelhança que há entre uma casa e uma tumba. Só que a casa se nutre da morte do homem. Por isso a primeira está de pé, enquanto a segunda está deitada.
Todos partiram de casa, em realidade, porém todos ficaram em verdade. E não é o recordo deles o que fica, senão eles mesmos. E não é tampouco que eles fiquem em casa, senão que continuam pela casa. As funções e os atos se vão de casa de trem ou avião ou a cavalo, a pé ou se arrastando. O que continua em casa é o órgão, o agente em gerúndio e em círculo. Os passos se foram, os beijos, os perdões, os crimes. O que continua em casa é o pé, os lábios, os olhos, o coração. As negações e as afirmações, o bem e o mal, se dispersaram. O que continua em casa, é o sujeito do ato.
© Da tradução: Igor Fracalossi
Referência: VALLEJO, César. “No vive ya nadie…”. Em “Poemas en prosa” (1923-1929), Obra poética completa, Madrid: Alianza Editorial, 1994.
Fonte: Vallejo , César . "Poesia e Arquitetura: Não vive já ninguém… / César Vallejo" 22 May 2012. ArchDaily. Accessed 23 May 2012. http://www.archdaily.com.br/49629/poesia-e-arquitetura-nao-vive-ja-ninguem-cesar-vallejo/
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