Os arquitetos Jacques Herzog e Pierre De Meuron deram uma curta entrevista à redação da revista AU após uma masterclass com Lelé, no evento ArqFuturo
Nilbberth Silva
O que você achou da obra de Lelé?
De Meuron - Ele tem uma contribuição muito forte para as questões do nosso tempo. Penso que Lelé é muito radical em sua posição e o admiro muito por isso, por focar-se em projetos públicos, de cunho social e também por sua abordagem sobre sustentabilidade. É um caminho muito interessante, fascinante.
Você vê relações entre sua obra e a dele?
Herzog - Sempre há uma relação entre as arquiteturas. O Lelé é de uma geração diferente e vive em outro contexto social, como mencionou. Está trabalhando principalmente com recursos mínimos em cidades menos organizadas. E é claramente da geração modernista, cuja crença em outra sociedade estava bem mais em foco. Também está mais interessado em assuntos técnicos - sobre isso mostrou diagramas impressionantes. Mas, maior que as diferenças é o interesse comum em arquitetura como um elemento importante da sociedade. É muito interessante ouvir isso hoje. O Lelé, como eu, nega e declina qualquer tentativa de separar e fragmentar a arquitetura, de dar à arquitetura um papel menor, como uma decoração. Somos totalmente contra essa tendência muito perigosa em nossa sociedade.
Jacques Herzog fez uma palestra nesta quarta-feira durante o evento ArqFuturo, no Auditório do Ibirapuera - momentos antes, tinha sido a vez do brasileiro Lelé mostrar seus projetos mais recentes ao público. A plateia, composta principalmente por estudantes, não chegou a lotar o Auditório Ibirapuera em São Paulo. Ouviu principalmente sobre as obras e o processo criativo dos arquitetos.
Lelé terminou sua apresentação com um projeto de uma igreja em um condomínio de Santa Catarina; Herzog mostrou um pavilhão recém-construído para um colecionador de arte na Alemanha.
"A figura do arquiteto generalista está desaparecendo, como a do médico clínico", disse Lelé em sua apresentação. "A arquitetura não pode ser pensada apenas como um desenho, um envelope externo, ou um projeto de interiores. Precisa estar preparada para a integração", concluiu. Ao sair do palco, foi efusivamente cumprimentado por Herzog.
Na discussão após as palestras, os dois concordaram que suas obras são bastante diferentes, frutos de contextos e valores diversos. E defenderam a necessidade do arquiteto de ser um generalista, capaz de coordenar especialistas na construção do edifício inteiro.
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