POR CLÊNIO PLAUTO
FARIAS
O senador Jorge Viana publicou na página dele, na rede social
Facebook, nota intitulada "Kalu - arquiteta" em que se refere à filha, aprovada
no vestibular para arquitetura e urbanismo. A felicidade do senador sem dúvida é
a de um pai apaixonado e que quer uma filha formada, na área que ela escolheu, e
que possa contribuir para cidades melhores e planejadas.
Ex-prefeito de Rio Branco e
ex-governador do Acre, Jorge Viana fez muito ao recuperar prédios
públicos e revitalizar áreas centrais da cidade, trazendo para a população, de
novo, os espaços públicos, antes privatizados pela ocupação desorganizada de
comércios e ambulantes, que se amontoavam nas praças e vias publicas.
Fez
obras de impacto visual em Rio Branco, criou ícones na área central, como o
Parque da Maternidade, a Passarela Joaquim Macedo (estaiada, aos moldes das
pontes implantadas em países desenvolvidos), monumento à nossa bandeira,
revitalização dos mercados e seu entorno etc. Não se pode negar os investimentos
em projetos arquitetônicos e de urbanismo, na nossa cidade, nos últimos 12 anos.
Nada que um gestor não seja obrigado a fazer com o dinheiro
público.
Quando chegou ao governo do Estado, Jorge Viana montou equipes
de trabalho para realizar projetos, para captação de recursos e realizar as
reformas urbanas que hoje vivenciamos. Entre os membros, o jovem Marcus
Alexandre, que foi integrado à equipe de planejamento do Estado, mas a política
sempre ditou a forma de fazer. De lá para cá, só mudou o porte da estrutura
administrativa e dos investimentos em mão de obra, profissionais, funcionários e
contratados, para tocar os projetos públicos.
A política que acompanhou
as ações do governo estadual, principal interventor de obras públicas no
município, sempre foi desligada do planejamento urbano. Embora defasado, até
2006, era o Plano Diretor de 1986 que regulava o uso e ocupação do solo de nossa
cidade. Plano Diretor desconhecido pelo prefeito eleito de Rio Branco, Marcus
Alexandre, que afirmou, em campanha, que este só passou a existir pela gestão
atual, do prefeito Raimundo Angelim, que na verdade teve o mérito de fazer uma
revisão participativa daquele Plano Diretor.
O Estatuto das Cidades,
obriga aos municípios com mais de 20 mil habitantes a regulamentação do espaço
urbano, com a elaboração do Plano Diretor, instrumento da política urbana, da
gestão da cidade. Foi exatamente o Estatuto das Cidades que fomentou a
atualização do Plano Diretor de Rio Branco, que inicio em 2005, e findou em
outubro de 2006, com a sanção da Lei 12.611/2006, pelo atual prefeito.
No
período de revisão do Plano Diretor, havia poucas informações confiáveis do
município, quanto a seus aspectos econômicos, físicos e sociais. Foi feito um
levantamento de tudo que os órgãos oficiais dispunham de informações nas três
esferas. Com isso, foram realizados diagnósticos, mapas temáticos que
refletissem estes aspectos. Uma oportunidade única para arquitetos, engenheiros,
sociólogos e economistas e sociedade organizada, participar da revisão de um
Plano Diretor, principalmente, quando esta revisão era experimentada por um
conceito novo de planejar e de ver a cidade, que o Estatuto das Cidades trouxe
para os gestores públicos.
A complexidade do Plano Diretor não está
somente nas diretrizes, de índices, coeficientes, taxas e usos que qualificam os
espaços urbanos, mas também na orientação dos investimentos públicos para o
planejamento urbano, induzidos pelos instrumentos urbanísticos, tributários e
jurídicos, propostos ao enfrentamento das mazelas urbanas diagnosticadas. Neste
quesito, o Plano Diretor de 2006, pode ser criticado, pois dos instrumentos
propostos, poucos foram regulamentados e/ou aplicados, de fato, pelo executivo
municipal.
Passados seis anos, o Plano Diretor de 2006, sofreu revisões
menores, que não foi fruto de estudos aprofundados, tão pouco de suas
consequências, apenas para atender a interesses dos grupos que se propuseram a
fazê-las. Alterações de índices, coeficientes, taxas, gabaritos e aumento do
perímetro urbano (por duas vezes) uma delas para trazer a área da "Cidade do
Povo" para o urbano, e viabilizar o projeto de governo.
Daí vem à
necessidade de intervir no espaço urbano. Projetos de governo? Fica a pergunta.
Onde estão nossos projetos de cidade, na Cidade do Povo? Não. A resposta não é
uma crítica ao projeto urbano, mas a forma usada pelo administrador em lidar com
as obras necessárias às pessoas, à cidade. A priori, os projetos devem se
adequar ao planejamento urbano municipal, não ao contrário.
Ignorar o
planejamento do município é não acreditar no trabalho do arquiteto e urbanista,
que com outros profissionais, juntamente com a população definiram os rumos da
cidade. Na verdade, estes esforços conjuntos é que devem refletir e nortear a
gestão urbana, instituída no Plano Diretor. Ressaltando a competência do
executivo municipal, a quem cabe promover, regular, fiscalizar, e revisar esta
política urbana.
Há de se entender a dinâmica da cidade por seus
habitantes, principalmente daqueles afetados pelo planejamento. Portanto, não há
planejamento sem que eles se manifestem. Os projetos de governo se colocam à
frente da população. Porém, a Cidade do Povo é um projeto encomendado por
empreiteiras, em área convertida em urbana, por vereadores e deputados
desinformados, sem consultar à população de 50 mil habitantes, que, em tese,
serão os beneficiados pelo projeto, que foram excluídos do processo de criação
da cidade em que vão morar.
De outro lado, há a contratação de
escritórios de arquitetura, de fora do Estado, para elaboração de projetos de
maior relevância, como os do Parque da Maternidade, OCa, Arena da Floresta,
Biblioteca da Floresta, Aeroporto de Cruzeiro do Sul e Cidade do Povo, entre
outros. Podendo dar oportunidades, indistintamente, para escritórios de fora e,
também de dentro do estado, por meio de concurso público, relativos a projetos,
com referendo popular da melhor proposta apresentada. Porém, o único concurso,
promovido pelo governo da Frente Popular foi na gestão de Arnóbio Marques, um
Planetário, em área ociosa, da lagoa de decantação, já desativada, do Conjunto
Universitário, que até hoje não saiu do papel.
São os profissionais da
arquitetura e urbanismo que estudam as cidades e as edificações, necessárias ao
seu funcionamento. É o planejamento urbano que integra a cidade ao cidadão e
atende as suas necessidades: presente e futura.
Parabéns ao senador Jorge
Viana. Parabéns à futura arquiteta Kalu Brilhante Viana. Tenho certeza de que
você e sua geração terão mais oportunidades. Aprenderá na escola que a
valorização da profissão de arquiteto e urbanista depende de governantes
comprometidos com a técnica de planejar, projetar e construir
cidades.
Desde a antiguidade, a
história da arquitetura retrata bem esta verdade. Que assim faça o novo prefeito
eleito, que se aprofunde na discussão, para conseguir, de fato, reconhecer os
reais problemas de nossa cidade, por meio de seus munícipes, dos profissionais,
técnicos do quadro da prefeitura, a fim de estabelecer um projeto de cidade e
não de mandato.
Clênio Plauto de Souza Farias é arquiteto e
urbanista
Fonte: http://altino.blogspot.com.br/2012/11/politica-e-arquitetura-no-acre.html
Política e Arquitetura no Acre
Autor: iabtocantins
| Publicado em: quinta-feira, novembro 08, 2012 |
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