Você sabe o que a NBR 15575 muda na vida do arquiteto?

 


ARQ!BACANA entrevista o arq Henrique Cambiaghi para saber a resposta


A Norma Técnica de Desempenho NBR 15.575 foi aprovada no dia 12 de maio de 2008, entrou em vigor, no período de testes, em 12 de maio de 2010, e deveria ter começado a vigorar oficialmente em 12 de novembro de 2010 - depois de um período de seis meses para adaptação de todos os projetos protocolados. Mas, a partir de um pedido de prorrogação deste prazo feito pelo presidente da AsBEA, Ronaldo Rezende, decidiu-se adiar o prazo de vigência da norma para março de 2012.
O motivo de tanto "empurra-empurra" para que esta norma comece a vigorar, é a polêmica que ela vem causando no setor da construção civil. O objetivo da norma é regulamentar, nas edificações de até cinco pavimentos, questões como acústica arquitetônica, conforto térmico e desempenho hidráulico, por meio da especificação e aplicação de critérios mínimos para materiais e técnicas - desde pisos, paredes e esquadrias, até o fluxo de líquidos em tubulações, vibrações de máquinas e motores, entre outros -, a fim de melhor atender às exigências dos usuários de edifícios habitacionais. Além disso, a NBR 15.575 inclui um mecanismo de rastreabilidade para a construção, que permite, em casos de falhas de materiais ou estruturas, indicar e determinar responsabilidades.
Por isso tanta polêmica: e agora, com quem ficam as responsabilidades? O que muda para o arquiteto? Para entender isso tudo o ARQ!BACANA entrevistou o arq Henrique Cambiaghi, membro do Conselho Deliberativo da AsBEA, dos comitês de Legislação Urbana e de Tecnologia da AsBEA e do SECOVI. Confira!
ARQ!BACANA: O que estabelece a NBR 15.575?
Henrique Cambiaghi: A NBR 15.575 estabelece os critérios para desempenho das edificações. Embora tenha sido definida para edifícios residências de até cinco pavimentos, muitos dos seus parâmetros servem para qualquer tipo de edificação. Prevista para entrar em vigor em novembro último, foi recentemente adiada em função das dificuldades de sua viabilização e implantação, pois faltam informações da indústria de insumos da construção sobre o desempenho dos produtos aplicados nas obras.
ARQ!BACANA: O que isso significa para o arquiteto? De que maneira isso interferirá no seu trabalho?
Henrique Cambiaghi: O que muda será a forma das especificações dos materiais dos projetos. Não poderá mais ser por marcas e tipologias de produtos, mas deverá estar definido o desempenho dos materiais. Especial atenção dever-se-á ter nas questões de acústica, iluminação e estanqueidade. Entendo que será necessária a participação de consultores especializados. Por exemplo, para definir o desempenho acústico, em relação às áreas externas, deverão ser feitas medições de ruídos externos. Com isso, o consultor especializado, com auxílio de equipamentos apropriados, vai poder estabelecer quais ações deverão ser tomadas em relação às esquadrias e vidros. Não cabe ao arquiteto esta tarefa. Em relação ao conforto ambiental, também será necessário ter a assessoria de consultores especializados, para avaliar o desempenho de coberturas e vedos externos, em função do clima de cada cidade e da face de cada vedo externo. Por exemplo, uma cidade como Campos do Jordão tem comportamento diferente de uma Ribeirão Preto. Em resumo, estas ações dependem da contratação destes consultores pela empresa contratante, dona do empreendimento. Mas é importante entender que muitas questões abordadas pela Norma serão resolvidas na concepção do projeto e não só na especificação. A questão de insolação e controle de calor poderá ser resolvida com aberturas adequadas, conforme a face, e com elementos arquitetônicos como brises. O problema será o contratante entender a necessidade de incorporar outros elementos na arquitetura, o que, com certeza, vai "encarecer" a obra.
ARQ!BACANA: A norma implica em mais responsabilidades para os arquitetos? E os honorários, como ficam?
Henrique Cambiaghi: Esta é outra questão importante. Deverá, no meu entender, ser definido claramente a quem caberá a responsabilidade das especificações. Assim como num projeto completo, tem projetos e consultorias de diversas especialidades (estrutura, fundações, instalações hidráulicas e elétricas, ar condicionado, projetos de paisagismo, arquitetura de interiores, consultorias de esquadrias, impermeabilização, etc.). Entendo que a especificação também passará a ser mais uma especialidade. Esta tarefa também poderá ser desenvolvida pelo escritório de arquitetura, desde que este se capacite para tal, mediante uma remuneração específica, assim como os projetos de paisagismo, interiores, coordenação e compatibilização dos projetos têm remuneração específica.
ARQ!BACANA: Com a NBR 15.575 o arquiteto deverá ser mais técnico do que é hoje?
Henrique Cambiaghi: Sem dúvida. O leque de conhecimento do arquiteto deverá ser maior. Mas é mais uma tarefa. Assim como precisa conhecer as legislações urbanísticas de cada cidade que faz um projeto, terá que conhecer melhor as especificações técnicas. ARQ!BACANA: Acha que a norma acabará refletindo nos cursos de graduação em arquitetura?
Henrique Cambiaghi: Entendo que sim. A abordagem de temas técnicos nos cursos de arquitetura, em geral, não se aprofunda muito, ou não é levada muito a sério pelos alunos.
ARQ!BACANA: O que o arquiteto deve fazer para se preparar para esta mudança? Qual a melhor maneira de assimilar a norma?
Henrique Cambiaghi: Estudar a norma, participar de eventos e seminários e pressionar os fabricantes de produtos a apresentar o desempenho dos seus produtos.

Fonte: ARQ!BACANA.

1 comentários:

Unknown on 19 de janeiro de 2011 às 10:13 disse...

Será que a NBR 15.575 tem algum mecanismo que mostra como faremos para que os clientes entendam que terão que gastar mais com os projetos?

 
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