Durante os últimos dias, tivemos a honra de entrevistar Oscar Niemeyer. Com ela, a equipe do ArchDaily Brasil pretende nao só homenagear o arquiteto pelo seu centésimo quarto ano de vida, mas também trazê-lo a uma discussão contemporânea sobre ensino, prática, tecnologia, inovação e, sobretudo, vida. Desfrutem desta, assim como sua arquitetura, sinuosa, solta e livre entrevista.
Como começou o seu escritório?
Meu escritório em Copacabana – o único que possuo – foi montado e organizado para atender, desde os inícios da década de 1950, as demandas que surgiam, de maneira cada vez mais intensa. Há pelo menos uns 13 anos sou aí o único arquiteto at work; toda a etapa inicial do trabalho que culmina no projeto básico é realizada por mim e, em seguida, confio o seu desenvolvimento a outros escritórios de arquitetura, principalmente àquele dirigido por meu colega e amigo Jair Valera e minha querida neta Ana Elisa.
Para Oscar Niemeyer, o que é arquitetura?
A meu ver, arquitetura é invenção. E, sob esse prisma de compreensão, é que realizo os meus projetos, sempre em busca da beleza, de soluções expressivas, diferentes, capazes de causar surpresa.
Para o senhor, que acompanhou tantas mudanças políticas e sociais, qual deve ser o papel dos arquitetos na nossa sociedade?
O arquiteto é um cidadão como outro qualquer; mantendo-se sempre livre para atender os mais diversos programas a ele apresentados, deve permanecer atento à necessidade de mudarmos a sociedade, fazer emergir um mundo mais justo e solidário.
Qual é a importância da inovação para seu escritório?
O nosso escritório sempre persegue a inovação, procurando eu próprio resguardar a arquitetura mais livre, tão pessoal e leve, que tenho defendido há mais de seis décadas. Venho proporcionando, com os meus projetos, aos engenheiros-calculistas oportunidades de promover inovações em sua área de atuação, como o meu amigo José Carlos Sussekind já reconheceu, na qualidade de principal responsável pelas estruturas que concebo, no livro de cartas que publicamos, Conversa de amigos (Editora Revan, Rio de Janeiro).
Qual a importância das redes de contatos para você? O “networking” (no sentido tradicional da palavra). Como aconteceu para o seu escritório e como foi a formação dessa rede que permitiu que o senhor começasse a fazer seu trabalho e pudesse continuar trabalhando?
Elas se tornaram fundamentais em nossa época.
Atualmente, qual é a importância da Internet para o seu escritório?
Acredito que a Internet seja mais útil a meus colaboradores em meu escritório – sobretudo àqueles que trabalham comigo na editoração da revista Nosso Caminho. O que estou aqui falando vale também para a Vera, minha mulher… É certo que o pessoal do escritório do Jair e da Ana Elisa tira muito mais proveito do que eu da rede mundial de computadores.
O que diria para alguém que quer estudar arquitetura? O que ela deve procurar em uma faculdade?
Que jamais deixe que o estudo das disciplinas de natureza mais técnica termine por embotar ou afetar negativamente a intuição criadora que o ingressante no curso venha a demonstrar. E que nunca substime a importância da leitura: é preciso ler sempre, sobretudo acerca dos assuntos situados fora da profissão.
O pretendente a realizar o bacharelado em Arquitetura deve buscar uma formação mais ampla e crítica – seja como profissional, seja como cidadão.
E depois, como se preparar para o mundo fora da faculdade?
Para tanto a leitura se revela fundamental. Eu me manifestei a respeito dessa questão em meu livro O ser e a vida, editado por meu amigo Renato Guimarães.
O que o senhor pode nos dizer a partir da sua experiência, da formação de um escritório, o desafio de levar adiante, gerenciar um escritório de arquitetura, como empresa e ao mesmo tempo manter-se consistente com a qualidade ou o tipo de arquitetura que oferece as pessoas?
Consegui formar um escritório em Copacabana uns 50 anos atrás, e há mais de uma década sou o único arquiteto na estiva. Elaboro o meu projeto, defino o projeto básico e, somente mais tarde, confio-o a um escritório que se ocupa do seu desenvolvimento – quase sempre àquele dirigido por minha neta Ana Elisa e pelo Jair Valera, meu grande amigo, conforme já expliquei.
Realizar um projeto corresponde a uma coisa muito pessoal, daí a decisão que tomei. E tudo caminha muito bem em meu escritório. Trata-se de uma deliberação que tem em vista a necessidade de preservar essa arquitetura mais livre, leve, voltado para a busca da beleza, da surpresa arquitetural. Uma arquitetura que tenho defendido há muito tempo.
Qual é a sua visão em relação ao estado atual da arquitetura brasileira?
Estou muito ciente do nível de qualidade que vêm sendo alcançado por arquitetos brasileiros e de fora do país. Cada arquiteto deve ter a sua arquitetura, cultivar, de maneira autônoma, a sua intuição criadora e fugir da repetição…
Fonte: http://www.archdaily.com.br/15179/archdaily-brasil-entrevista-oscar-niemeyer/
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