Aurélio Martinez Flores (1929-2015) O arquiteto anônimo mais celebrado nas últimas décadas



Colagem de Aurélio Martinez Flores Foto divulgação [Galeria Raquel Arnaud]
É possível notar hoje uma tentativa intensificada de apurar a arquitetura e arquitetos que por razões políticas, mas principalmente ideológicas, se mantiveram apartados dos meios de divulgação tradicionais nas últimas décadas e nos pouparam de seu trabalho, que agora escavamos fascinados. Estes arquitetos, assim como Aurélio Martinez Flores, dizem ter escolhido o anonimato, mas prefiro apostar que tinham a consciência apurada de que não seriam bem-vindos no discurso predominante de seu tempo. Na atualidade o discurso se esvaziou e ao vir à tona estes autores, suspiramos ansiosos por uma herança outra que não aquela que nos têm entorpecido.
Há seis meses tínhamos convidado Aurélio para participar da XI Semana Viver Metrópole, evento organizado pelos estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie. Martinez Flores fez uma única exigência, através de sua colaboradora Mirna Zambrana – um espaço com facilidade de acesso, pois já tinha dificuldades em se locomover. Infelizmente, acabou declinando o convite mais tarde. Insistimos em uma troca de emails posterior, até que Mirna nos informou sobre o estado de saúde delicado de Aurélio. Infelizmente, já naquele momento tinha percebido que era tardia a minha tentativa de divulgar o trabalho do arquiteto entre meus colegas.
Reservado – e, consequentemente, desconhecido nestes tempos de grande exposição midiática –, só descobri o trabalho do Aurélio vasculhando entre livros na estante empoeirada de um sebo três anos atrás. A semelhança com os trabalhos de Isay Weinfeld e Márcio Kogan me chamou a atenção de imediato; a própria concepção gráfica de seu único livro (2001) me fez recordar da primeira publicação, e ainda recente, de Isay Weinfeld (2008). Acredito que os dois aprenderam mais do que arquitetura quando eram alunos de Aurélio no Mackenzie (1975) – Isay, principalmente, que foi seu sócio, aprendeu que a postura reclusa de Aurélio, dava ao trabalho a aura distinta e faz uso inteligente dessa virtude até hoje. Kogan, por outro lado suprimiu a sensibilidade pelas belas composições – colagens de objetos sentimentais sobre fundo branco – e contaminou-se pela geometria explícita e pelos poucos momentos em cores de Aurélio.
Ainda que autor desta "escola" de apenas dois alunos, estes alunos, agora professores, inspiram boa parte dos estudantes e trazem pelo menos metade do prestígio internacional do que se tem produzido recentemente no campo da arquitetura no Brasil. O arquiteto mexicano Aurélio Martinez Flores, radicado no Brasil desde os anos 1960, faleceu em São Paulo no dia 7 de junho de 2015. Pela via indireta dos seus alunos, talvez seja ele o arquiteto anônimo mais celebrado nas últimas décadas.

sobre o autor
Felipe SS Rodrigues é arquiteto e urbanista formado pela FAU-Mackenzie (2014) com estudos complementares na New Jersey Institute of Technology (2012), e no Pratt Institute em Nova Iorque (2013). Colaborou com o arquiteto Isay Weinfeld (2011), e com Rem Koolhaas no OMA de Roterdão (2013).

Fonte:  http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/15.093/5566

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