Arquitetura sempre despertou a imaginação do homem, em monumentos realizados como o enigmático Stonehenge de Salisbury, na telona com filmes fantásticos e futurísticos, como o já mencionado no blog, Metrópolis de Fritz Lang e também no meio movido a imaginação, a literatura. Para este post, quero falar da imaginação utilizada como concreto armado para cidades fantástica, quero apresentar Ítalo Calvino e seu livro Cidades Invisíveis.
ÍTALO CALVINO 1923 /1985
Imagem do filme Metrópolis.
Stonehenge em Salisbury.
Ítalo Calvino foi um importante escritor italiano do século XX, foi formado em letras e uma de suas obras mais famosas é As Cidades Invisíveis, publicado em 1972, no livro o viajante veneziano Marco Polo descreve para o imperador Kublai Khan as cidades que visitara. É um livro constantemente exigido em muitos dos vestibulares, conta com a ajuda do fantástico para demonstrar a complexidade dos espaços da cidade, que sofrem processos de desterritorialização, sendo o espaço um elemento em constante transformação bem como outras questões que a narrativa de Calvino desperta.
Sendo uma ficção extremamente elaborada, chamo atenção para um conto em especial, Armila (em As cidades delgadas pg.:23), como não existem muitos espaços concretos, é preciso muita imaginação –pois é preciso imaginar um espaço novo- para construir a cidade mentalmente, nesse post não há muitas imagens ilustrativas para o livro,conto com a sua imaginação, leitor, para criar esta cidade invisível.
Na descrição de Calvino, Armila é uma cidade em que não há paredes, nem telhados, nem pavimentos, apenas um emaranhado de encanamentos de água que se ramificam a céu aberto, onde deveria haver andares. Nada se sabe sobre como a cidade ficou assim e, além dos encanamentos, o que se visualiza na cidade são jovens esbeltas debaixo de chuveiros suspensos no que o narrador chama de “vazio”, e é a partir dessa construção imaginária, dessa falta de um espaço concreto, falta de imagens de consumo visual, que Armila se constrói.
A imagem poética tem sempre um contexto. Em seu livro, Calvino bebe de várias fontes desde “Mil e Uma Noites” até as megalópoles que vemos no cinema, ele rompe com um princípio básico da construção, o abrigo, espaços protegidos de forças adversas, o refúgio.Em suas cidades o jogo de exterior e da intimidade nos é exposto,as barreiras se rompem, e os edifícios fazem esse diálogo sobre interior-exterior e põe em questão as determinações sobre espaço, a oposição do exterior e interior não é mais medida pela evidência de uma parede, mas pelas questões que dela emergem: Será que as pessoas hoje conseguiriam viver em uma sociedade em que não há privacidade, e que a suas vidas poderiam ser observadas por qualquer pessoa?O que significa a arquitetura em um edifício? O que define a cidade?
Para se pensar em uma resposta tem de ser proposto um pensamento sobre a cidade e a arquitetura tentando compreender os mecanismos sobre os quais se produz a cidade contemporânea como realidade sociocultural e física, mas longe de responder a essas questões, o meu intuito é outro, é deixar por esse post esses tijolos imaginários de Calvino.
A literatura é essencial justamente por estimular a imaginação e o sonho, a artista americana Nora Sturges se lançou no desafio de tentar colocar o fantástico e as linhas vagas sugeridas por Calvino em telas pintadas, você pode observar o trabalho dela no site da artista (http://pages.towson.edu/nsturges/index.htm) e comparar com o que você imaginou após ler esse livro imprevisível e irônico.
Marco Polo Among Idol Worshipers, 2005, oil on panel.Nora Sturges
“Ignoro se Armila é dessa maneira por ser inacabada ou demolida, se por trás dela existe um feitiço ou um mero capricho”(CALVINO, 1984, p.23), o fato é que as cidades estão cheias de histórias no tempo e a necessidade de ter de usar o que existe para alcançar o que é imaginado, nas cidades descritas na literatura, torna este livro mais sedutor. Então…como seria a SUA cidade visível/invisível?
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