A cidade de Jane Jacobs

Escritora e ativista política, Jane Butzner Jacobs, nascida em 4 de Maio de 1916 em Scranton, Pensilvânia, conseguiu, como nenhum urbanista, explicar a cidade com clareza, muita simplicidade e sabedoria. Autodidata, nunca se formou em Urbanismo, Arquitetura, Jornalismo ou em qualquer outra área, mas inspirada contra a visão modernista do conceito urbanista da época, estudou e apresentou suas reflexões sobre o dia a dia dos bairros americanos.

Assim, em 1961 teve publicado seu mais famoso livro “Morte e Vida de Grandes Cidades”, onde suas reflexões abrangem assuntos como os usos tecnocráticos modernistas, a segregação de usos, a preferência pelas baixas densidades e pelo mundo automotivo que negava as calçadas, os espaços públicos e o comércio de rua.

Jane Jacobs estudou as ruas e as calçadas como sendo a visão que a população tem da cidade. Segundo ela, uma calçada e uma rua interessantes formam uma cidade interessante e se elas parecerem monótonas, a cidade parecerá monótona. Agregados às calçadas, estão os edifícios, os espaços públicos, que dão significado a ela e além destes, são as situações que se criam sobre ela que trazem suas referências e características. As calçadas se transformam em balés de pessoas, situações e atividades. “O balé da boa calçada urbana nunca se repete em outro lugar, e em qualquer lugar está sempre repleto de novas improvisações” (Morte e Vida de Grandes Cidades – pág. 52).

(Livro sobre Jacobs na luta contra a via Lower Manhatan de Moses, em Soho. – Com o sucesso da mobilização, teve como resultado do cancelamento da construção, os galpões se vendendo a preços baixos e a renovação de um bairro que se tornou incrível, bem urbanizado e cheios de bares da moda.)

No segundo capítulo de Morte e Vida de Grandes Cidades, denominado “Os usos das calçadas: Segurança”, Jane Jacobs defende a dinâmica das ruas das metrópoles, sempre cheias de desconhecidos, ou seja, defende a alta densidade e ressalta que os urbanistas tinham que tê-la à vista, estudando o objetivo de fazer as pessoas se sentirem seguras diante dos desconhecidos, pois, quanto mais olhares uma rua recebe, mais segurança ela terá. Mesmo os bairros considerados tranquilos podem se tornar perigosos e não é um guarda municipal que muda as ocorrências na rua. Estudos devem ser feitos para cada uma das situações, como esta, que uma cidade vive.

Citando cidades como Los Angeles, Boston, Chicago, Nova York, estuda os diferentes tipos de rua e meios para mudá-las ou conservá-las, levando em conta a integração das crianças, a acessibilidade, refletindo sobre os meios de revitalização, sobre o caso das fronteiras etc. E diferentemente de Le Corbusier, que na época experimentava os tipos Cidades-Jardim, cheias de cercas e espaços próprios de recreação e o ideal da cidade bucólica de baixa densidade populacional, Jane Jacobs continuava sempre a defender o movimento da rua e a interação dentro e entre os bairros.

A escritora se preocupava em tornar a cidade viva. Em transformar a desorganização em ordem, ou algumas vezes em enxergar a desorganização como ordem. O livro causou um grande impacto nos urbanistas e políticos, tratando do planejamento urbano e mesmo 50 anos depois, vive a realidade das cidades atuais.

Jane Jacobs morreu em 25 de Abril de 2006, aos 90 anos em Toronto no Canadá, para onde mudou-se no final dos anos 60, com o marido (o arquiteto Robert Hyde Jacobs) e a família, como forma de protesto à Guerra do Vietnã. Ela deixou aos urbanistas seu modo de olhar as cidades, sua vontade de melhorá-las e boas horas de leitura. Aconselho a todos que leiam pelo menos alguns fragmentos do livro aos quais os assuntos lhes chamarem a atenção. Vale muito a pena!

“Na vida real, com certeza, há sempre alguma coisa acontecendo, o balé não tem intervalo, mas a sensação geral é serena (…)” (Morte e Vida de Grandes Cidades – pág. 56)

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Fonte: http://portalarquitetonico.com.br/a-cidade-de-jane-jacobs/

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