Cidades médias ‘desafiam’ arquitetos

Desenvolvimento de municípios como Bauru/SP mobiliza estudantes, que buscam conciliar crescimento com qualidade de vida

Mariana Cerigatto

   Enea_2011                                                                                                                                                   Conciliar o desenvolvimento urbano das cidades de porte médio com a qualidade de vida da população. Essa é uma preocupação contemporânea cada vez mais relevante na carreira de arquitetos e urbanistas, que buscam estratégias e soluções para garantir o desenvolvimento sustentável dessas cidades pensando no bem-estar de seus moradores.
Esse expressivo crescimento de cidades médias, como Bauru, foi o centro das discussões do 35.º Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo (Enea), que está sendo realizado na cidade desde o último domingo.
Aproximadamente 700 estudantes de arquitetura e urbanismo de todos os cantos do País estão acampados no Recinto Mello Moraes, onde continuarão até dia 17, para conhecer a história, a cultura e a identidade do município. Em meio a isso, os estudantes podem refletir problemas de cidades médias em pleno desenvolvimento.
“Essas cidades passaram a ser foco na discussão de arquitetos e urbanistas porque estão crescendo em um ritmo acelerado e até maior que as metrópoles”, explica a arquiteta Maria Fernanda Nery, que integra a comissão organizadora do Enea.
Portanto, é importante que o futuro arquiteto esteja preparado para lidar com problemas urbanos. “Temos que discutir questões de planejamento urbano dessas localidades. Precisamos pensar neste crescimento e nos antecipar para evitar problemas iguais aos das metrópoles que conhecemos hoje”, acrescenta Maria Fernanda.
E, para mostrar que o futuro profissional de arquitetura está atento às cidades de porte médio e que este tema ganha cada vez mais força entre profissionais e especialistas da área, a sede do evento do Enea ocorre pela primeira vez em uma cidade do porte de Bauru, fora dos grandes centros urbanos e de cidades turísticas.

 
Qualidade de vida
Para o diretor geral do evento, João Felipe Lança, a preocupação com a dinâmica e o crescimento urbano deve ser trabalhada na formação dos futuros arquitetos e urbanistas e já faz parte do dia a dia de muitos profissionais da área.
“O arquiteto era visto como alguém que só fazia trabalhos para a elite. Hoje, este profissional está mais acessível a toda sociedade”, expõe. “O arquiteto não é só alguém que desenha casas. Ele está preocupado com a cidade como um todo, com o ritmo de crescimento urbano e a qualidade de vida dos moradores”, ressaltou.
João Felipe identifica alguns problemas que surgem em meio ao crescimento acelerado de cidades médias. “O trânsito é um deles, cada vez mais caótico. Com a expulsão das classes mais baixas para a periferia, criamos também sérios problemas com a habitação. As áreas centrais, que são mais valorizadas, acabam ficando com extensas localidades desabitadas e a população precisa se deslocar em longas distâncias para trabalhar, pois tudo fica no centro da cidade”, assinala.
“Isso é ruim para o município, pois gasta-se mais com transporte, para levar energia até a periferia, água, iluminação todo tipo de estrutura”, aponta.

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‘Interior sem estereótipos’ é o tema
“O Interior sem estereótipos é o lema do 35.º Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo (Enea), que continua até o próximo dia 17 no Recinto Mello Moraes, em Bauru. Além de trazer à tona debates sobre o desenvolvimento de municípios de médio porte, o evento tem outro objetivo: resgatar a identidade do município e quebrar certos estereótipos que as pessoas atribuem a cidades do Interior, que estariam “atrasadas” e distantes de qualquer desenvolvimento tecnológico.
“Queremos mostrar que uma cidade que não tem tantos atrativos turísticos também tem seu valor. Bauru tem um patrimônio cultural importante, uma cultura, uma história, assim como desenvolvimento tecnológico e abriga uma realidade muito próxima à de uma metrópole”, frisa Maria Fernanda Nery, que integra a comissão organizadora do Enea.
O evento conta com diversas oficinas, workshops, palestras, apresentações de trabalhos e vivências. “Através das atividades de vivência e visitas históricas, levamos os estudantes a conhecer a cidade, os bairros e mostrar que em Bauru há arte, tecnologia, arquitetura. Essas características de uma cidade de porte médio devem ser valorizadas.”
As estudantes de arquitetura Mayara Pereira Silva e Núbia Mendes, ambas de 18 anos, vieram de Belo Horizonte e aprovaram o formato do encontro em Bauru. “Cada cidade deve ser olhada dentro de suas particularidades, sem estereótipos”, observam.
Para mais detalhes e informações sobre o 35.º Enea, acesse o site www. eneabauru2011.org.

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Serviços públicos
Visando o crescimento urbano com qualidade de vida, o diretor do Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo (Enea), João Felipe Lança, defende a necessidade de conciliar os serviços públicos com habitação e a qualidade de vida. “Quando conseguimos conciliar isso, é possível que se tenha uma cidade homogênea, uma cidade mais igualitária”, salientou.
Estudantes de arquitetura que vieram de Rio Branco, no Acre, puderam relacionar problemas de cidades que têm o mesmo porte de Bauru. Os universitários indicam que, por mais que estejam tão separadas pela distância, Bauru e Rio Branco compartilham semelhanças.
“As duas têm o mesmo porte e número de habitantes, que enfrentam problemas parecidos para se deslocar de um lugar para outro devido ao trânsito e poucos horários de ônibus circulares”, relataram os estudantes Myrtle Sylvan Matos e Silva, 23 anos, Luiz Phelipe Brito da Cunha, 18 anos, e João Carlos Guimarães da Silva, 19 anos.
Pensando nisso, o arquiteto tem o papel de mapear os problemas urbanos das cidades médias e tentar resolvê-los, concorda o grupo.

 

Fonte:http://www.jcnet.com.br/detalhe_geral.php?codigo=211546

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