Estudo mostra a história de Palmas pela arquitetura e política

Por Jaqueline Carrara

Contar a história de Palmas do ponto de vista da Arquitetura e do Urbanismo certamente proporciona novas perspectivas para o entendimento atual da mais nova capital planejada do país. Será que o planejamento elaborado naqueles primeiros anos é condizente com a realidade de hoje? Como os ideais dos primeiros gestores e profissionais responsáveis por projetar Palmas se refletiram em cada detalhe da vida urbana das comunidades?
Analisar as diferenças entre a cidade planejada e a real foi a proposta da pesquisadora e professora da UFT, Patrícia Orfila, para mostrar como a construção de Palmas foi também a construção de muitos mitos e simbolismos que se estendem até hoje. O resultado do estudo está na primeira tese defendida no Doutorado Interinstitucional em História Social, desenvolvido pela UFT junto à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com o tema "Modernidades Tardias no Cerrado: Discursos e Práticas na História de Palmas (1990-2010)", a pesquisadora resgatou fatos, do princípio aos dias atuais da capital, que contribuissem para esse novo olhar.

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De acordo com Orfila, o planejamento de Palmas foi embasado nas mesmas ideias pelas quais Brasília foi concebida - mais de 30 anos depois da fundação da capital federal. Muitos dos erros se repetiram, diz a professora, e as propostas, de certa forma, desatualizadas não conseguiram se adequar à dinâmica da cidade e sair do papel."No memorial descritivo, temos o direcionamento de que Palmas seria uma cidade pensada para os pedestres. No entanto, é isso que vemos hoje?", questiona. O próprio título pretendido de "Cidade Ecológica do Ano 2000" é divergente, segundo Orfila, por conflitar com a realidade, por exemplo, do desmatamento de uma área de mais de 8 mil quilômetros quadrados de cerrado para a construção do primeiro quadrilátero de Palmas, sem qualquer planejamento ecológico.

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Nem para todos - Outro ponto ressaltado pela professora foi quanto ao surgimento dos bairros mais populares. Ela explica que no plano inicial não se projetou áreas para a população de menor renda; assim, foram se formando comunidades à margem das quadras centrais, a quilômetros de distância, sem qualquer infraestrutura - o caso dos Aurenys e do Taquaralto.
Nessa análise, entretanto, uma região foge à tendência e mereceu atenção especial da pesquisadora: a Vila União. Projetado para ser área nobre na capital, com vista privilegiada e proximidade à praça central, o bairro hoje não condiz com o planejado, de acordo com Orfila, devido a questões políticas. "O início da Vila União é um pouco do reflexo da história de Palmas, de como a política, seus personagens e interesses, influenciam nos rumos da população e na cara da cidade".

Mesmo com uma formação desordenada, quando se fala em vida urbana, são esses bairros que garantem o sentido verdadeiro de comunidade, afirma a professora. "Nas quadras do centro não temos a mesma interação entre as pessoas, o movimento das feiras populares, a frente das casas para a rua, características de um bairro", explica.

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Hoje - Para Orfila, quando se discute a expansão do plano diretor, novamente são ideais isolados conduzindo o futuro de toda uma cidade. "O planejamento de Palmas foi feito para cerca de 2 milhões de pessoas, e hoje ainda são 200 mil, sendo que a metade encontra-se até fora dessa área. Como expandir algo que nem se concentrou?", pondera.
Segundo ela, a ocupação da capital está pulverizada e seria bastante negativo falar em ampliação sem pensar em todo o aparato de infraestrutura que deve acompanhá-la. "Não é possível pensar em expandir determinadas áreas sem comprometer a qualidade vida de todos os cidadãos. Será preciso investimento e manutenção dessas regiões, e como garanti-los com tanto ainda por fazer?". Para a pesquisadora, é preciso que a população seja consultada e se faça ouvir para que tenha autonomia e responsabilidade por seus próximos rumos.

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Patrícia Orfila, Arquiteta e Urbanista (UFPA), Mestre em Engenharia Urbana (UFSCar), Doutora em História Social (UFRJ) e Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Tocantins (UFT) .

Fonte do texto : http://www.noticias.uft.edu.br/index.php?option=com_content&task=view&id=40226&Itemid=1

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