Cortesia de Flickr de Chrissy Olson
Em 2011, Un-HABITAT e Project for Public Spaces (PPS) assinaram uma cooperação de 5 anos que pretende chamar a atenção internacional sobre a importância dos espaços públicos nas cidades, fomentar trocas de ideias e educar uma nova geração de planejadores, projetistas, ativistas comunitários e outros líderes civis sobre os benefícios daquilo que chamamos “metodologia de placemaking”. Esta parceria está ajudando no desenvolvimentos de cidades onde pessoas de todas as classes sociais e idades possam viver em segurança social e econômica. Para alcançar este objetivo, foram publicados 10 passos informativos sobre as medidas que as cidades e comunidades podem tomar para melhorar a qualidade de seus espaços públicos.
Continue lendo para saber mais a respeito destes passos.
Joan Clos i Matheu, diretor executivo da UN-HABITAT acredita que “o que define o caráter de uma cidade são seus espaços públicos, não os privados. O que define o valor dos bens privados não são os próprios bens, mas os bens comuns. O valos daquilo que é público interfere no valor daquilo que é privado. Precisamos mostrar todos os dias que os espaços públicos são um bem da cidade.”
Construir cidades inclusivas, saudáveis, funcionais e produtivas é, talvez, o maior desafio da humanidade nos dias de hoje. Mas quando isso é alcançado, é o estopim para o desenvolvimento econômico, para o sentimento de comunidade, para a identidade cívica e cultural. Investir, mesmo que pouco, na qualidade dos espaços públicos significa um retorno para a cidade.
Tendo em vista que a urbanização é a realidade definitiva do século XXI e que ela ocorre mais rapidamente em locais sem planejamento urbano, UN-HABITAT e PPS consideram o método de placemaking para criar locais onde a comunidade se sinta incluída e engajada, e onde o projeto serve às funções básicas inerentes ao encontro e troca entre pessoas. O processo identificará e catalizará lideranças, fundos e investimentos locais, baseando-se nas qualidades e habilidades de cada comunidade, ao invés de simplesmente se basear em profissionais especialistas .
Os 10 passos são:
1. Melhorar as ruas como espaços públicos
Ruas são, fundamentalmente, espaços públicos das cidades, apesar de muitas apresentarem o conflito entre o tráfego de automóveis e pessoas. Por isso, o placemaking encoraja o planejamento das cidades voltado para as pessoas e os lugares, não apenas para os carros. A rua ideal deveria suportar diferentes modos de transporte, seja carro, bonde, bicicletas ou pedestres, e funcionaria de maneira paralela para cada um deles. Planejar uma hierarquia de corredores, variando de grandes bulevares a pequenas ruas pode propiciar uma maior interação entre as ruas e os edifícios. Criar ruas adequadas aos pedestres geralmente cria espaços de interação interpessoal e fomenta um sentido de comunidade que é impossível em ruas exclusivas para veículos.
2. Criar praças e parques voltados a múltiplas atividades.
Se as praças e parques públicos são planejados uso público, eles criam economias locais, orgulho cívico, conexões sociais e contato humano. Estes espaços servem como “válvulas de segurança” para uma cidade, onde pessoas podem encontrar tanto um local para relaxar, se o parque ou praça foi bem concebido, ou sentir medo e perigo se foram mal planejados. Os espaços públicos mais bem sucedidos são aqueles que abrigam múltiplos usos, com muitas atrações e atividades, onde os cidadãos podem encontrar pontos em comum e as tenções econômicas e étnicas podem passar despercebidas.
3. Fomentar a economia local através de mercados públicos
Historicamente, a função essencial dos centros urbanos era servir de ponto de cruzamento onde as pessoas se encontravam para trocar bens e ideias, e os mercados públicos foram o coração de maior parte das cidades desde os tempos antigos. Mercados são tradicionalmente os lugares mais produtivos e dinâmicos das nossas cidades, onde a troca de notícias, e boatos acontece e onde as pessoas solidificam os laços sociais essenciais para uma sociedade sadia. Mercados significam muitas coisas para as cidades, eles encorajam o empreendedorismo, sustentam as áreas rurais em torno das cidades, estreitando os laços entre o urbano e o rural, e proporcionam acesso à alimentos frescos. Substituir o mercado tradicional pelo supermercado provou não ter valor social algum e apenas deteriora os laços comunitários existentes.
4. Projetar edifícios que atendam a lugares
Edifícios com interiores interessantes podem ser bem sucedidos para alguns, mas é a arquitetura que extrapola o interior e avança em direção à rua, se relacionando com o tecido da cidade, que é mais importante para os espaços públicos, pois esta arquitetura é construída no contato com a escala humana. É especialmente importante investir em instituições públicas como museus, edifícios governamentais e bibliotecas pois eles se relacionam com seu entorno urbano e fomentam mais oportunidades de interação interpessoal.
5. Conectar a agenda de saúde pública com a agenda de espaços públicos
Não é novidade que as cidades saudáveis oferecem a seus cidadãos infraestruturas básicas, como água potável, instalações sanitárias, acesso a alimentos saudáveis e segurança nas áreas públicas. Equipamentos de saúde deveriam servir como centros comunitários, bibliotecas deveriam proporcionar serviços de saúde e educação, mercados públicos deveriam ser fontes de alimentos frescos, baratos e nutritivos e os sistemas de transporte deveriam encorajar as caminhadas e reduzir o tráfego de carros e a poluição do ar. Quando as pessoas sentem uma sensação de pertencimentos em suas cidades, as são mais aptas a cuidar do ambiente comum e de si mesmas, resultando na redução do stress diário e na criminalidade.
6. Reinventar o planejamento comunitário
Quando for o caso de planejar projetos em comunidades estabelecidas, é muito importante identificar os talentos e habilidades daquela comunidade – pessoas que podem fornecer uma perspectiva histórica, visões de como a área funciona e um entendimento do que é realmente significativo para as pessoas do local. Planejadores deveriam sempre se relacionar com instituições locais e envolvê-las do início ao fim, já que as comunidades tem, em geral, uma visão mais global de seus espaços públicos que os profissionais, e podem auxiliar no desenvolvimento dos projetos. Bons espaços públicos são flexíveis e respondem às evoluções do ambiente urbano, portanto, mantendo a comunidade em relação com os espaços garantirá que estes se adaptem às mudanças delas.
7. Poder de 10
O princípio da Poder de 10 é a importância de se oferecer uma variedade de coisas para se fazer em uma localização – fazendo um lugar mais que a soma de suas partes. Por exemplo, um parque não deve ser apenas um parque, mas um parque com uma fonte, um playground, uma barraquinha de comida, uma biblioteca pelas redondezas, etc. Se um bairro possui 10 lugares, e se em cada um há 10 coisas diferentes para se fazer, então este bairro está no caminho certo; e se uma cidade tem 10 bairros como este, todos os cidadãos terão acesso a excelentes espaços públicos próximos às suas casas.
8. Criar uma agenda de espaços públicos compreensível
Tanto estratégias de cima para baixo quanto de baixo para cima são necessárias para desenvolver, melhorar e organizar os espaços públicos – lideranças são essenciais, mas estratégias de base são também parte integral do sucesso. Uma cidade deve avaliar honestamente os espaços públicos e tomar decisões ousadas baseadas nestas análises. Por exemplo, a cidade de Nova Iorque decidiu implantar uma praça pública em cada um de seus 59 distritos comunitários; Chicago decidiu implementar uma pequena taxa para novos empreendimentos, buscando financiar melhorias nas áreas públicas; no Brasil foi lançada uma ambiciosa iniciativa de construir 800 praças públicas em comunidades de baixa renda em todo o país ao longo dos próximos 3 anos.
9. Mais leve, mais rápido, mais barato: experiências pequenas e inteligentes
Por outro lado, maior nem sempre é a melhor solução – ou a única estratégia. Pequenas iniciativas, como criar locais de descanso, uma calçada, um café, organizar um evento comunitário, planejar um jardim ou pintar faixas de pedestres podem ter um efeito positivo nas comunidades e em seus espaços públicos. Assentamentos informais, sobretudo, já estão habituados a estratégias inovadoras e de pequena escala que se propõem a repensar o ambiente. Portanto, implantar pequenas mudanças aqui e ali pode gerar bons frutos.
10. Reestruturar o Governo para potencializar os espaços públicos
Não há como fugir disso: são necessários líderes locais, investimentos e outros recursos para criar espaços públicos bem sucedidos. Raramente há uma estrutura de poder nas comunidades que tenha em foco a criação de ambientes públicos – a estrutura pública existente muitas vezes impede a criação de espaços público bem sucedidos. Cada departamento governamental tem, em geral, uma abordagem específica e muito limitada – o sistema de transporte lida com o tráfego, os parques com as áreas verdes, etc. – mas se o objetivo de um governo e das instituições públicas é criar lugares, comunidades e regiões mais prósperas, civilizadas e atrativas para as pessoas, então os processos de governo devem mudar para refletir este objetivo. Remover os obstáculos burocráticos para rapidamente acrescentar valor aos lugares e demonstrar potencial futuro é um passo fundamental que deve ser tomado pelas administrações.
Como estas estratégias em mente, o UN-HABITAT e o PPS esperam que mais comunidades ao redor do mundo assumam a responsabilidade de criar melhores espaços para seus habitantes e façam disso sua prioridade que alimentará o desenvolvimento urbano futuro.
Referência: PPS Publication
Fonte: Baratto , Romullo . "Dez modos de transformar as cidades através de placemaking e espaços públicos" 05 May 2013. ArchDaily. Accessed 06 May 2013. http://www.archdaily.com.br/112017/dez-modos-de-transformar-as-cidades-atraves-de-placemaking-e-espacos-publicos/?utm_source=ArchDaily+Brasil&utm_campaign=e38c8ba4e9-Archdaily-Brasil-Newsletter&utm_medium=email&utm_term=0_318e05562a-e38c8ba4e9-407774757
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