por Cinthia Reis
Edição 227 - Fevereiro/2013
A figura do projetista é a primeira que vem à mente quando o assunto são os caminhos de atuação que a profissão de arquitetura e urbanismo oferece. Entretanto, mais do que projeto de casas, edifícios, interiores ou planejamentos urbanos, quem se forma em arquitetura e urbanismo tem à sua volta uma gama de atuações tão importantes quanto a linha de projetos.
Acadêmicos, pesquisadores, críticos, editores, políticos ou fotógrafos são alguns dos caminhos profissionais que ainda estão dentro do ambiente da arquitetura e que são fundamentais para o aprimoramento da profissão como disciplina. E, independentemente da direção escolhida, o projeto faz parte da vida de qualquer profissional com um diploma de arquitetura e urbanismo nas mãos - ainda que não seja um projeto erguido com vigas e pilares. "Uma coisa é você escolher uma formação acadêmica, outra é escolher o que você vai fazer para o resto da vida", instiga Mônica Junqueira, arquiteta e professora livre-docente de História da Arquitetura Contemporânea na FAUUSP.
CONHECIMENTO ACADÊMICO
Uma boa universidade de arquitetura apresenta um novo mundo de possibilidades aos estudantes - e, muitos deles, não ligados diretamente ao ato de projetar. "Existe um monte de atividades que a formação de arquiteto apresenta. É preciso estar antenado com o que acontece no mercado, quais são os debates e as novas produções", conta Ruth Verde Zein, arquiteta, crítica de arquitetura, pesquisadora e professora da FAU-Mackenzie.
Ruth, no entanto, alerta: "a arquitetura se desdobra em várias formas de abordagem. Mas, em qualquer abordagem, continua sendo o assunto principal da faculdade". Por isso, lembra, se o aluno não gosta de entender arquitetura, não vai seguir qualquer outra área dentro da disciplina.
Sim, porque em qualquer dos caminhos escolhidos a discussão arquitetônica será muito presente, e é importante lembrar que as referências para o trabalho do arquiteto estão por toda a parte: os lugares em que passa, o olhar atento às novas construções, a percepção da cidade em que vive e aquelas que visita. "Inevitavelmente, o fotógrafo de arquitetura está sempre trabalhando, e tem de gostar disso", concorda Leonardo Finotti, fotógrafo especializado em arquitetura.
CONHECIMENTO ESPECÍFICO
Ainda que uma boa faculdade apresente possibilidades, não forma um aluno para outras profissões. "Apesar de fazer parte do mundo do arquiteto, uma faculdade de arquitetura não prepara o aluno para ser editor", endossa Cris Corrêa, arquiteta e diretora da Editora C4, especializada em publicações sobre arquitetura, que teve de aprender muito de sua atual profissão do zero. "Não tinha a menor ideia do que ia fazer na faculdade, apesar de gostar de arquitetura. Eu era da turma que gostava de pesquisar, de biblioteca, enquanto estava na cara que alguns colegas seguiriam para a área de projetos. Lia e pesquisava muito. E o olhar de arquiteto faz toda a diferença para minha profissão hoje", avalia.
O desafio de encarar uma nova profissão sem uma base teórica específica também fez parte do início de carreira de Nelson Kon. Com um agravante: um mercado de trabalho praticamente inexistente para fotógrafos especializados em arquitetura. "Eu não tinha interlocutor, aprendi com a vivência que tive", lembra Nelson. Sua estratégia foi trabalhar nos primeiros anos como fotógrafo de publicidade. "Isso me deu uma grande referência de técnica e de estúdio. E o repertório de arquitetura da faculdade somado ao que aprendi tecnicamente foi essencial para hoje eu ser um fotógrafo especializado", conta.
A arquitetura abre os olhos para enxergar os enquadramentos, as escalas, as distâncias, a importância da luz e, na prática, a fotografia está muito próxima a tudo isso. "É preciso aprender a construir a luz, sair do escuro para ir ao objeto iluminado. A iluminação natural é ferramenta básica do fotógrafo de arquitetura", diz Nelson.
EXPERIÊNCIA DO MUNDO
"O equipamento não faz o fotógrafo, mas o olho, a informação e estar sempre atento", conta Nelson Kon. É esse olhar sempre atento que todos os entrevistados concordam ser necessário: e acumular referências - e a aquela tão sempre falada bagagem cultural - é sempre uma boa maneira de ser um bom profissional e de saber escolher a área em que quer, e gosta, de atuar. "Esquece o fetiche do equipamento. É preciso ter cultura geral. A fotografia é um recorte no tempo e no espaço. Quanto mais repertório você tem, mais você se aprimora na atividade", avalia. Isso inclui livros, filmes, conversas, viagens, pesquisas e muito estudo.
Leonardo Finotti concorda. "Fotografia para ilustrar é muito básico, fotografia é mais inteligente do que isso, é um projeto que requer concentração, tempo e dedicação. Esse filtro gera uma mais-valia, porque quem me contrata sabe que irá receber um trabalho bem elaborado", analisa.
POR ONDE COMEÇAR Para Leonardo Finotti, a escolha pela fotografia foi natural: paralelamente ao curso de arquitetura, fazia disciplinas de fotografia como ouvinte, incluindo uma monitoria. Afinal, ninguém sabe o que quer se não experimentar, pesquisar, conversar, testar. E aproveitar as oportunidades que surgirem.
Quem pensa em seguir a carreira acadêmica, por exemplo, pode começar por uma iniciação científica. Ruth recomenda procurar um grupo de pesquisa. "A pesquisa se faz em grupo. Então, a dica é se inserir em um grupo de pesquisa e começar colaborando até adquirir confiança." Conversar com professores que sugiram temas é um começo para saber que lado da pesquisa seguir. "E buscar saber o que os outros estão pesquisando, produzindo e não ter a pretensão de querer reinventar a roda. A crítica é levantar polêmica e ser coerente. Teoria de arquitetura é fazer sentido na prática", conclui.
Outras dúvidas podem surgir no momento do ingresso no mercado de trabalho. "Fique atento às oportunidades e arrisque. Às vezes, achamos que o caminho que escolhemos é uma coisa e, quando trabalhamos de fato, vemos que não é", alerta Mônica. Cris faz coro: "É importantíssimo fazer estágio antes de realmente entrar para o mercado de trabalho. O começo da profissão é difícil e não dá para manter nenhuma profissão com idealismos".
Arquiteto não-projetista
Autor: iabtocantins
| Publicado em: quinta-feira, março 19, 2015 |
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Exercício Profissional
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