Cinema e Arquitetura: "No Buraco"

Via lamedialunaproducciones.com. Imagem © Ana Lorena Ochoa     Via lamedialunaproducciones.com. Imagem © Ana Lorena Ochoa

O documentário "No Buraco" (En el Hoyo, 2006), do cineasta mexicano Juan Carlos Rulfo, apresenta a fadigosa realidade dos trabalhadores em obras urbanas de grande envergadura, trazendo como caso de estudo a construção do segundo pavimento do Anel Periférico ao sul da Cidade do México, uma enorme ponte apelidada de "o segundo pavimento".

O filme, que recebeu o prêmio de melhor documentário internacional no Festival de Cinema de Sundance, nos mostra o lado humano da obra através das histórias pessoais de alguns dos seus construtores, revelando a cotidianidade de um trabalho que é realizado em arriscadas condições e com a morte rondando entre as máquinas e os ferros.

O documentário nos lembra que tudo o que projetamos será em algum momento construído, tijolo por tijolo, por outra pessoa. Pensamos nisso na hora de desenhar?

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"Mais de 15 milhões de almas e três milhões de veículos, buscam diariamente a melhor rota para chegar ao seu destino. 
Um belo dia começou a construção de uma ponte. Era a ponte mais longa da cidade. Escavações, pó, concreto... e pedreiros, muitos pedreiros, os personagens desta história".

Mitos e realidades: almas em troca de uma construção exitosa

"Todas as obras grandes necessitam almas para que (as) amarre, é como se jogasse fertilizante (...) Muitas pessoas aqui morreram por isso. Muitos dos meus companheiros as viram e elas já estão mortas, andam penando. Estas almas não foram tranquilas, praticamente foram vendidas", comenta uma das encarregadas da segurança da construção.

Apesar destas crenças formarem parte de uma série de mitos locais, apresentam o perigo constante que enfrentam seus construtores. Porque mesmo que tomem todas as medidas de segurança disponíveis, a morte ronda os locais de trabalho no México e no resto do mundo; uma porcentagem de mortes que parece inevitável para terminar de levantar a obra na sua totalidade. Em muitos casos, os construtores passam a ser um número, perdendo toda sua individualidade. Por isso, o valor deste filme.

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* Alguns arquitetos já abordaram este tema anteriormente; você pode rever a polêmica de Zaha Hadid em torno da morte dos trabalhadores no Qatar, ou o projeto da torre que cresce a medida que aumenta o número de trabalhadores mortos durante a construção dos estádios da Copa do Mundo de 2022.

A cidade em parêntesis: obra como espaço para as relações humanas

Um enorme fosso de terra e escombros se transforma no cenário onde surge uma profunda amizade entre os trabalhadores. Uma obra de infraestrutura pública que deve avançar o mais rápido possível para ser entregada a cidade, é por alguns meses o espaço onde um grupo de homens estabelece relações profundas, uma espécie de irmandade com abundantes risos e brincadeiras, que provavelmente acaba por colocar a última pedra no lugar. Pessoas que convivem na cidade em uma espécie de parêntesis, em um espaço físico momentâneo e em contínua mudança que eles poderão habitar somente uma vez.

Desilusões e esperanças

"Ando desiludido, mas logo passa. Já levo 10, 15 anos neste inferno. Você 'se ferra' e 'se ferra', mas quem leva os troféus?".

Alguns trabalhadores são mais otimistas que outros, mas nos seus comentários aparece essa desigualdade que os mantém literalmente 'no buraco'. Construtores que, apesar de não terem estudado, possuem uma grande quantidade de valiosos conhecimentos e destrezas; apreendidas em loco, com a experiência e sabedoria acumulada no passar dos anos. Como comenta outro dos trabalhadores, "faço tudo, menos nada". Qual arquiteto não gostaria de ter muitos destes conhecimentos construtivos?

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O filme é resultado de vivências e tarefas diárias de Chabelo, o Grande, Agustín, Vicencio, Tomás, o Bonitão, o Chómpiras e Natividad, trabalhadores que pela primeira vez possuem nome e sobrenome, histórias, um passado e um futuro por vir. Um grupo de construtores que trabalha sem saber muito bem para quem; que chega a obra para "ganhar a vida" e que termina encontrando um espaço cheio de experiências, companheirismo e crescimento. Trabalhadores que, mesmo não sendo vistos, formam parte fundamental da nossa arquitetura e sua possibilidade de concretizar-se.

FICHA TÉCNICA

Data de Estreia: 25 de Agosto 2006
Duração: 85 min.
País: México
Gênero: Documentário
Diretor: Juan Carlos Rulfo
Roteiro: Juan Carlos Rulfo
Produção: Eugenia Montiel, Juan Carlos Rulfo
Companhia de Produção: La Media Luna Producciones / Euphoria Films México
Edição: Leduc Navarro, Valentina
Som: Brucshtein, Natalia | Santos, Mauricio
Música: Leonardo Heiblum
Fotografias: Ana Lorena Ochoa

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SINOPSE

Por cada ponte construída - adverte um provérbio mexicano - o diabo exige almas para que elas se mantenham em pé. Inclusive, no México contemporâneo "todo projeto necessita uma alma na sua fundação", comenta uma das trabalhadoras do "Segundo Pavimento" do Anel Periférico do Distrito Federal.

Fisicamente pequeno, mas implacavelmente comprometido e carismático, o "Chabelo" enfrenta tenazmente cada momento do dia, sujo, esgotado e colocando em risco sua vida, mas com calma e resignação. Seu colega, o "Grande", é um construtor rude e misantropo que não tem medo de se entregar aos seus demônios pessoais e aos perigos da fossa e da construção. O "Guapo" anseia nostalgicamente pelo amor, enquanto chama a atenção das mulheres que passam pela obra.

Veja o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=D_w46yv4Zpo

Fonte: Franco, José Tomás. "Cinema e Arquitetura: "No Buraco"" [Cine y Arquitectura: "En el Hoyo"] 11 Set 2015.ArchDaily Brasil. (Trad. Camilla Sbeghen) Acessado 12 Set 2015. http://www.archdaily.com.br/br/772519/cinema-e-arquitetura-no-buraco

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