Quando a técnica encontra a arte: Angewandte, em Viena, reúne de Zaha Hadid a Greg Lynn

POR VICTOR SARDENBERG
Edição 257 - Agosto/2015



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Para os mais atentos à história, Viena tem curiosas ligações com o Brasil. A poderosa capital do antigo Império Austro-húngaro, esfacelado ao término da Primeira Guerra Mundial (1914/1919), é o local de nascimento de Maria Leopoldina que, no Brasil, casou-se com Dom Pedro I, deu à luz Dom Pedro II e virou até escola de samba carioca - a Imperatriz Leopoldinense. Foi de Viena que herdamos, fugido da Segunda Guerra (1939/1945), um dos maiores intelectuais que viveu por aqui no século passado: Otto Maria Carpeaux, autor da História da literatura ocidental, publicada em 1947 e até hoje a maior obra do gênero em língua portuguesa. Haveria outras semelhanças a citar, mas as diferenças em relação às nossas principais cidades são bem maiores. A começar pelo vento gélido que contrasta com o céu azul da cidade de Sigmund Freud.
Esse mesmo céu vienense é, provavelmente, a inspiração para o nome do escritório austríaco Coop Himmel(b)lau, cujas obras arrojadas estão por muitos bairros da metrópole de quase 2 milhões de habitantes. Ao perambular pela cidade cheia de neos, é comum tropeçar em algumas das construções anguladas desenhadas por seu diretor, Wolf D. Prix. Em tempo: "himmel blau" significa "céu azul" em alemão.
O radical arquiteto Wolf D. Prix sempre manteve um pé na prática profissional, com seu escritório reconhecido no mundo todo por obras inovadoras, e o outro na academia. Em 2005, fundou e começou a dirigir o curso de pós-graduação em desenho urbano da Universidade de Artes Aplicadas de Viena - a Angewandte - para os versados no intrincado idioma germânico.

Angewandte e arquitetos-estrela 

A escola tem recebido destaque no cenário arquitetônico global por seus estúdios dirigidos por nomes como Zaha Hadid, Hernan Dias Alonso, Hani Rashid, Greg Lynn e Reiner Zettl. Além disso, oferece um impressionante programa de palestras. Nos últimos anos, figurões como Mark Foster Gage, Achim Menges, Jeffrey Kipnis e Ben van Berkel falaram na série intitulada Sliver lectures.
Como é comum em escolas europeias, o edifício que abriga a universidade é um objeto histórico. Dentro dele, porém, a noção de história é trabalhada de maneira muito diversa da que estamos habituados. Caminhando pelo prédio que, no passado, abrigou o Ministério das Finanças austríaco, chamam a atenção os longos corredores escuros e com a aparência de bunker. Algo mais instiga o visitante: as pranchas com propostas de intervenções em escala enorme para cidades históricas. Quase como parasitas, essas plantas partem de uma reconsideração do que é a história do lugar, equilibrando- se na compreensão da cidade como campo, em uma visão a la Stan Allen, ou como objeto, alicerçada pelas mais novas teorias da Ontologia Orientada ao Objeto (OOO).
Nomes pesados dessa nova vertente ontológica na arquitetura são figuras constantes na escola. Entre eles, David Ruy e Peter Trummer. Na democrática Angewandte, as ideias da dupla são contrapostas a de professores como Patrik Schumacher e Sanford Kwinter em discussões públicas.
Vanguardista, a Angewandte proclama ter sido a primeira universidade de artes aplicadas na Europa. Nem sempre foi assim. Cria do Museu Imperial Austríaco de Arte e Indústria, a escola seguia um modelo historicista. Nesta visão, edifícios icônicos tinham a função de modelos a serem seguidos. Parecia algo conservador demais - principalmente para Viena. Ali, afinal, a virada para o século 20 não foi meramente uma curiosidade matemática no calendário. Mas um momento revolucionário nas artes. Data do século 19 a chamada Secessão Vienense, movimento articulado por uma nova geração de artistas modernistas que tomou conta do discurso, privilegiando a estética em relação aos interesses comerciais. Quando passou a ser dirigida por um dos membros da Secessão, Felician Von Myrbach (que viveu entre 1853 e 1940), a Angewandte se engajou nas questões da modernidade e assumiu o tom que reverbera até hoje: a simbiose entre artes aplicadas, a tecnologia, a sociedade e a experimentação.
Por lá estudaram nomes tão variados quanto Pipilotti Risti, Hugo Markl e Felice Rix-Ueno e lecionaram outros como Karl Lagerfield, Hans Hollein, Stefan Sagmeister e Joseph Beuys. Em 1970, a escola assumiu o formato atual de universidade, abrigando em torno de dois mil alunos de todo o planeta em seus cursos de arquitetura, artes visuais, desenho industrial e conservação e restauro, entre outros.

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Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/257/quando-a-tecnica-encontra-a-arte-angewandte-em-viena-reune-360171-1.aspx

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