Foucault e a Arquitetura
Panóptico a idéia de otimizar a vigilância, onde o indivíduo apartado dos outros é vigiado por uma torre
O suplemento Prosa do jornal O Globo nos relembrou, no último sábado dia 11 de janeiro de 2014, do aniversário de morte do filósofo francês Michel Foucault (1926-84), que neste ano que se inicia completará trinta anos de seu falecimento. Foucault já esteve mais na moda nos círculos arquitetônicos ou intelectuais, basta ver sua presença em livros como A cidade como um jogo de cartas de Carlos Nelson dos Santos, ou o Declínio do homem público de Richard Sennet, ou mesmo Towards a New Architectural de Marshal Bermann. Todos citavam as interligações feitas pelo filósofo francês entre dominação e ordenamento do espaço, ou entre poder e arquitetura ao longo da história humana. Muito do pensamento de Foucault sobre arquitetura foi publicado numa entrevista que levou o título de O Olho do poder, como destaca Mauricio Puls em seu livro Arquitetura e Filosofia. Sem dúvida que a arquitetura é a linguagem do poder, pois durante toda a história humana, os monumentos e as grandes obras sempre foram a expressão do domínio exercido por reis, papas, presidentes e governadores. O poder pode declinar em sua tirania, ampliando sua representividade, mas a arquitetura e a ordenação do espaço permanecem uma arte aprisionada por ele, pois apenas nele, se encontram os recursos para sua realização. Foucault menciona, que a história dos espaços é a história dos poderes, desde as pirâmides do Egito, passando pela acrópole da Grécia Antiga, a Praça de São Pedro em Roma, ou ainda Washington e Brasilia, há sempre uma profunda vinculação entre arquitetura e poder.
A estrutura do Panóptico adotada no tema do presídio
Um dos exemplos de ordenação espacial mais citados para descrever a identidade entre arquitetura e poder é o Panóptico projetado por Betham, como arquétipo que otimiza a vigilância sobre o cotidiano humano contemporâneo, e que será aplicado como uma tese ao ordenamento da fábrica e do escritório burocrático modernos. Uma analogia entre o espaço da prisão, onde a torre de controle vigia os presos, e, estes últimos não sabem o que ocorre dentro dela. Foucault aponta este procedimento como a emergência da sociedade disciplinar, onde o indivíduo é isolado em sua cela, sente a vigilância de todos, mas não consegue saber se na torre de controle o vigia está presente ou não. Um estado consciente e permanente de visibilidade, onde a sociedade como um todo se torna espionável, mas ao mesmo tempo, esta espionagem não pode ser verificada. Algo, que veio a tona recentemente, com o controle das grandes corporações envolvidas com as tecnologias de informação e comunicação, como o google e o facebook. A aplicação espacial desta tese está presente no escritório paisagem das corporações burocráticas e na linha de montagem fordista da fábrica moderna que pretendem conferir eficiência e produtividade ao funcionário e ao operário, que pode estar sendo vigiado e por isso se comporta adequadamente. Segundo Foucault, "as técnicas que tornam útil a multiplicidade cumulativa de homens aceleram o movimento de acumulação do capital." FOUCAULT, Michel - Vigiar e Punir - Editora Vozes Petrópolis 2000 pg 183
Apesar destas colocações, um pouco catastróficas e pessimistas, o mesmo Foucault também alertava de forma clara, que não existia um objeto capaz de assegurar de forma integral a opressão ou a liberdade. A arquitetura "só pode produzir efeitos positivos quando as intenções libertadoras do arquiteto coincidem com a prática real das pessoas que exercitam sua liberdade. " FOUCAULT, Michel - Space, knoledge and power - Routledge Nova York 2001 pg 372. Enfim, não há um objeto que possa ser classificado como do reino da opressão ou da libertação, quem consolida estes processos é a prática humana cotidiana...
Fonte: http://arquiteturacidadeprojeto.blogspot.com.br/2014/01/foucault-e-arquitetura.html
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