Como abrir um escritório próprio de arquitetura

Por Cleide Floresta
Edição 225 - Dezembro/2012


Qual a melhor hora para abrir um escritório? Ter ou não sócios? Quanto será preciso investir? São muitas as questões que se colocam à frente de um arquiteto que decide abrir seu próprio negócio.
Com histórias bem diferentes umas das outras, profissionais bem-sucedidos concordam em um ponto: ter algum tipo de experiência - seja em estágios, seja já profissionalmente - pode ser decisivo para o sucesso da empreitada.

EXPERIÊNCIA
O contato com o dia a dia da profissão prepara os arquitetos para além das funções técnicas, como buscar oportunidades, ouvir alguns "nãos" e até para convencer clientes de que são capazes de tocar seus empreendimentos. "Na arquitetura, muitas vezes, trabalhamos com o dinheiro que a pessoa juntou uma vida toda. É uma responsabilidade muito grande. E por isso mesmo se torna um desafio fazer o cliente te levar a sério quando se é muito novo e tem pouca ou nenhuma experiência", afirma Rodrigo Marcondes Ferraz, sócio do FGMF, escritório que abriu em 1999 com os então colegas de faculdade, Fernando Forte e Lourenço Gimenes. Tanto Rodrigo quanto Lourenço frequentaram estágios antes de partirem em carreira independente, mesmo sabendo desde cedo que o que queriam era ter o próprio escritório.
A experiência faz muita diferença, defende o arquiteto Marcelo Ferraz, sócio da Brasil Arquitetura, que foi estagiário de Lina Bo Bardi durante a construção do Sesc Pompeia e com quem trabalhou por 15 anos. "Comecei com ela em 1977. Ela abriu a cabeça da gente. Foi um contato com a verdadeira escola", afirma o arquiteto, que mesmo quando montou seu ateliê ao lado de mais quatro colegas de faculdade continuou a parceria com a arquiteta.

ESTÁGIO PRECOCE
Fernando Vidal, sócio do escritório RoccoVidal P+W, é mais categórico: os estudantes devem começar a trabalhar já no primeiro ano da faculdade. "É uma forma de a gente sair um pouco do sonho. Confrontar conceito e realidade. Encontrar o cliente", diz Fernando, que começou como estagiário no escritório em que hoje é um dos sócios. Mas, para diversificar seu conhecimento, durante um período ainda tocou projetos próprios e trabalhou com Kiko Salomão. "O Rocco é mais residencial, o Kiko mais corporativo. Com cada um tive uma experiência. Em 2001, virei sócio do Rocco e há um ano e meio começamos um processo de fusão com a norte-americana PW. Tudo para somar expertise."

SOCIEDADE
As sociedades são comuns em escritórios de arquitetura e, para os profissionais, a possibilidade de dividir as responsabilidades e o processo criativo são as grandes motivações para essas parcerias. "A arquitetura é um trabalho coletivo", ressalta Marcelo Ferraz. "Tem gente que consegue tocar um escritório sozinho. Para a gente [ele e o sócio, Francisco Fanucci], tem sempre um processo de criação que é muito discutido. Não sai nada daqui que o outro não esteja de acordo."
No escritório FGMF, a sociedade foi decisiva. "A gente tinha pouca experiência, o que nos fez aprender muita coisa na raça. Mas o fato de sermos em três acabou ajudando muito. Porque a gente juntava o conhecimento de todos, e cada um sabia algo a mais. Sozinho, teria sido muito mais difícil", afirma Rodrigo.
Para Fernando, porém, é fundamental que os sócios tenham os mesmos ideais, o que não significa ter as mesmas ideias. "As sociedades mais produtivas são aquelas de profissionais com características distintas", diz. Rodrigo faz coro com o arquiteto: "É até bom que eles pensem diferente, porque podem enriquecer a discussão e trazer soluções inovadoras. Mas, no que diz respeito aos rumos do escritórios, têm de pensar igual".

DIVERSIDADE DE COMPETÊNCIAS
Saber projetar é importante, mas isso não basta para quem decide ter seu próprio negócio. Fernando Vidal destaca que cada vez mais o mercado pede profissionais com uma visão global, o que significa ter várias competências, como entender um pouco de administração, marketing, novos negócios e até psicologia.
O arquiteto ressalta ainda a necessidade de os escritórios de arquitetura terem processos como em qualquer outro negócio. "Um dos grandes desafios é ter qualidade, inovação e processos. O equilíbrio em todos esses pontos é que garante o sucesso", diz, citando algumas etapas fundamentais, como captar novos negócios, obedecer a cronogramas e entender o cliente.
"Se o objetivo é abrir um escritório, tem de inventar o seu trabalho: entrar em concursos, ir atrás do cliente, convencer o prefeito. Criar um currículo, o que não é fácil", completa Rodrigo.



O custo para o registro varia de acordo com a região do País. As taxas e os honorários do contador podem ­car entre um e dois salários mínimos, podendo chegar a 2 mil reais
Fontes: Nathalia Sousa da Silva, assistente paralegal do escritório Watanabe, e Fernanda Zannoni, consultora de gestão para empresas de serviço

INVESTIMENTO
Quando o assunto é o quanto investir nesse começo, a decisão é do próprio empreendedor. Pode-se começar em casa, em um escritório coletivo ou em um espaço próprio - não existe opção melhor ou pior, mas a que cabe no orçamento. "Arquitetura é feita de pessoas, então o investimento é com computador e alguns programas. O escritório pode crescer à medida que entram os projetos", afirma Rodrigo. E o tamanho desse crescimento também deve ser definido pelo proprietário, que poderá dizer até onde quer chegar. "Tem gente que prefere ser um ateliê pequeno a vida toda. E isso precisa ser pensado antes."

FINANÇAS
Controlar o caixa é outro desafio no dia a dia do escritório. Para o sócio do FGMF, o importante é sempre ter uma reserva para cobrir os custos básicos. "Tem de separar as contas pessoais das do escritório, mesmo que seja um único dono. Porque esse dinheiro é que vai manter tudo de pé nos períodos mais fracos."
A arquiteta Marta Ardito, coordenadora do Grupo Técnico de Contratos da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA), cita, por exemplo, os primeiros meses do ano - historicamente fracos para a arquitetura - e quando se paga mais impostos. "E ainda tem o mês de dezembro, com 13° e outras taxas. O capital de giro é que mantém esses períodos", diz.

ARQUITETO E ADMINISTRADOR
"A primeira coisa que a pessoa precisa ter certeza ao abrir um escritório é que não quer mais ser arquiteto", afirma Marta. A frase é forte, mas o que a arquiteta quer dizer é que um dos desafios de quem toma a decisão de ter seu negócio é conseguir se dividir entre a parte administrativa e os projetos. "E muitas vezes será preciso delegar o que é mais prazeroso."
Decidido isso, diz a arquiteta, o profissional precisa pensar em alguns pontos importantes: analisar o mercado em que pretende atuar (potenciais clientes e concorrentes), fazer um planejamento estratégico para definir aonde quer chegar, estudar como será o marketing, buscar uma instalação, buscar amparo jurídico, fiscal e tributário com um advogado e contador para montar a empresa de acordo com seus planos.

Fonte:  http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/225/escritorio-proprio-de-arquitetura-274638-1.aspx

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