Depoimentos de escritórios experientes mostram como se planejar para um concurso de arquitetura

Por Lucas Rodrigues

Edição 233 - Agosto/2013

Foto: Daniel Beneventi

A união de dois ditos populares, "Quem sai na chuva é para se molhar" e "Quem não belisca não petisca", define, para Bruno Padovano, o significado de entrar em um concurso de arquitetura. Bruno, hoje, participa de competições pelo Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo (Nutau) da USP, e já venceu concursos com escritório próprio, inclusive ao lado do então sócio Hector Vigliecca, que tem na bagagem mais de 80 certames. "Não existem critérios para entrar em um concurso. Existe a ausência deles. Se existissem critérios econômicos, por exemplo, um balanço do prêmio x custo, nunca entraríamos", diz Hector, confirmando o que todos os entrevistados dizem: é arriscar.

Se não é pela lógica financeira, então, por que investir em concursos? "A vantagem é a ginástica intelectual", opina Hector. Os concursos são uma boa oportunidade para desenvolver novas ideias: a participação traz aprendizados como a pesquisa, o contato com tipologias arquitetônicas diversas, além da visibilidade do trabalho e do escritório. "O companheirismo, a aprendizagem, a troca entre parceiros, a excitação com a expectativa dos resultados e a possibilidade de verificarmos nossas teorias e o que os nossos colegas estão realizando em seus escritórios e centros de pesquisa, é sempre gratificante", conclui Bruno Padovano.

CRITÉRIOS
Claro que para todo risco há limites - seja de tempo ou de conta bancária. É preciso avaliar o edital de cada concurso, principalmente a data de entrega, a remuneração e a tipologia. Eron Costin, arquiteto do Estúdio 41, vencedor do concurso para a estação brasileira na Antártica, alerta que a competição deve valorizar o trabalho com um prêmio ou um contrato a preço justo. Um cuidado importante é verificar se a organização é feita por uma entidade de confiança. "Os IABs dos Estados desempenham esse papel fundamental para a defesa do direito dos arquitetos frente aos contratantes", opina Eron.

Outros critérios também podem ser decisivos, dependendo do perfil do escritório, como a abrangência da proposta - nacional ou internacional - e a localização da obra. "Participamos mais de concursos nacionais, por ter mais afinidade e conhecimento dos temas locais", exemplifica Paula Zasnicoff, do mineiro Arquitetos Associados, vencedor do concurso para a expansão do Museu do Meio Ambiente, no Rio de Janeiro. Isso permite que o arquiteto visite o local proposto, por exemplo. "É importante ir ao lançamento do concurso e visitar o terreno quando for possível, para buscar entender o que realmente é necessário. Entrar em concursos distantes é mais arriscado", concorda Pedro Évora, do Rua Arquitetos, vencedor do concurso para a sede do Campo de Golfe Olímpico, no Rio de Janeiro.

PARCERIAS
Outra oportunidade são as parcerias entre escritórios ou com outros profissionais, como consultores. A troca de informações - tanto de linguagem quanto técnicas - somam para o repertório de todas as partes. "Concursos muitas vezes são complexos ou custosos. É uma chance para ampliar o conhecimento e dividir os riscos", avalia Pedro.

No Arquitetos Associados, a cada projeto é definida uma organização de trabalho. Isso permite a formação de equipes variadas, inclusive com a participação eventual de colaboradores externos. "Esse modus operandi dinâmico amplia a qualidade de resposta aos problemas de cada projeto e dilui a questão autoral", explica Paula - uma forma de trabalho que ocorre no dia a dia do escritório, e é replicada na participação de concursos.

DIVISÃO DE TAREFAS
Levar em conta as habilidades de cada membro do escritório é importante para ter um resultado rápido e eficiente. "Na produção do material a ser apresentado levamos em conta as habilidades daqueles que estão participando, ou seja, se alguém da equipe é muito bom em maquete, irá se concentrar nisso", explica Paula.

Apesar de haver divisões de áreas a serem trabalhadas, as concepções e ideias podem, e devem, ser tomadas em equipe. "A concepção inicial é feita com discussões em que todos podem opinar de maneira democrática. Não existe hierarquia nas tomadas de decisão", explica Eron. "O projeto avança para aquelas soluções que são aceitas pela maioria, quando não pela totalidade dos membros da equipe", conclui.

DIVISÃO DE TEMPO
No Rua Arquitetura, os arquitetos não se organizam por tarefas, mas redefinem os horários. "Abrimos o turno da madrugada", brinca Pedro. Noites e nais de semana passam a fazer parte dos horários de trabalho, principalmente para não misturar o desenvolvimento de projetos contratados com os projetos para concursos. Por isso, na hora de entrar em um concurso, é importante avaliar o tempo disponível para eles. "A armadilha é o tempo. É bom ter cuidado para não morrer na praia", alerta Pedro. Uma vez denida a inscrição no concurso, é recomendável fazer um planejamento de atividades. Para Bruno Padovano, é importante pensar no tempo e pessoal disponíveis dentro dos prazos estabelecidos pelo edital. Bruno determina um limite interno, com pelo menos uma semana de antecedência ao prazo real do concurso.

"A área de intervenção, a tipologia, as leis da cidade em que será implantada a obra, tudo auxilia na determinação do prazo de trabalho", completa Eron. Seu limite para a conclusão do projeto é em média de três dias antes do prazo nal, "para dar tempo de fazer testes antes da impressão e para carmos tranquilos com relação ao envio do material."

GASTOS
O ideal é prever uma faixa de valores no planejamento nanceiro anual, embora poucos escritórios façam isso. Se não houve planejamento, resta avaliar caso a caso os gastos necessários. Essa avaliação, no entanto, não deve engessar as atividades do escritório. No caso do Estúdio 41, Eron considera a participação em concursos um trabalho de risco: "Quando não ocorre vitória ou premiação, dividimos os gastos entre a equipe".

DETALHES FINAIS
Há muitas armadilhas e erros básicos, como errar o endereço para o envio do material, se enganar com a data de entrega, ou não incluir todos os documentos necessários. Além, claro, de cumprir com todas as solicitações do edital. A boa apresentação do projeto, mesmo que não conte pontos, também ajuda, com um excelente padrão de representação que mostre o projeto de maneira clara e sem furos.

PRECOCIDADE
Arquitetos concordam que o tempo de experiência não deve ser um entrave à participação. "Escritórios jovens são ótimos participantes de concursos, sobretudo quando o júri busca inventividade", comenta Pedro. Por outro lado, Eron Costin avalia que a experiência traz ponderações mais maduras na avaliação de quais concursos são pertinentes para participar, além de ser uma vantagem na hora da execução do projeto.

Por isso, começar cedo é uma boa tática. Muitos concursos, por exemplo, são exclusivos para estudantes ou possuem essa categoria. Aqui, a relação tempo- dinheiro tem outros signicados e necessidades. "Ponderamos apenas os gastos diretos", conta João Miguel Silva, aluno da FAUUSP que venceu em 2012 o prêmio Soluções para Cidades com um grupo orientado por Angelo Bucci. Para a equipe, a experiência proporcionou maior autonomia quando comparada a projetos acadêmicos ou ao cotidiano de estágios. "É possível dar a cara a tapa para algumas soluções que poderiam ser deixadas de lado, em outras situações de projeto", conta João.

Dicas para participar de concurso

Foto: Daniel Beneventi

- Verique se o concurso é organizado por uma entidade de con ança
- Leia com atenção todas as solicitações do edital
- Avalie o investimento de recursos necessários
- Se possível, compareça ao lançamento do concurso e visite o terreno para entender melhor a proposta
- Buscar parcerias é uma boa opção para trocar conhecimento e dividir riscos
- De na a equipe e a função de cada membro do grupo
- Fique atento aos prazos de inscrição e de entrega do projeto
- Durante o planejamento, estipule um limite interno com alguma antecedência ao prazo real do concurso
- Providencie e cheque todos os documentos e comprovantes necessários
- Desenvolva uma boa apresentação da proposta, tanto estética quanto teórica

Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/233/artigo293490-1.aspx

0 comentários:

 
IAB Tocantins Copyright © 2009 Blogger Template Designed by Bie Blogger Template
Edited by Allan