A cidade e as águas

Opinião de especialistas sobre a questão da água em meio urbano e projetos no Brasil e no mundo que propõem a retomada dos rios pelas cidades

Por Luciana Tamaki
Edição 234 - Setembro/2013
divulgação Realities: United, Berlim

Os projetos de retomada de rios e córregos pelas cidades são exemplos de como a presença da água pode se tornar um espaço de encontro e de mobilidade urbana democrática e sustentável. Entre estudos de caso nacionais e internacionais, especialistas expõem as dificuldades e os caminhos possíveis para uma convivência mais saudável das cidades com suas águas
divulgação Realities: United, Berlim

Foto: Mateus Sá
Roberto Montezuma
arquiteto e urbanista, presidente do CAU/PE
Quando uma cidade convive com a onipresença da água em seu território (como em Recife ou Amsterdã), as dificuldades de convivência saudável entre cidade e água aumentam? Ou é uma oportunidade?
No primeiro momento, parece uma condição ruim, pois não se trata de uma cidade normal. Para o gestor, então, a princípio é ruim, mas para o urbanista é uma grande oportunidade. Essa cidade tem que ser pensada de forma deferente sim. Em Amsterdã, por exemplo, ocorre uma situação atípica, o país está abaixo do nível do mar. Foi criado um sistema de canais controlados que transformou a cidade em patrimônio da humanidade. Ou seja, temos que entender urbanisticamente a cidade. A partir desse sistema de canais, novas ações territoriais foram baseadas nos princípios aprendidos ali, como as Ilhas de Wadden. São desdobramentos desse conhecimento técnico urbanístico que foi desenvolvido. Em Amsterdã, nos anos de 1960, a cidade dava as costas para o mar. Diante do crescimento pós-guerra, todos tinham carros, o nível de consumo era maior. Chegou a se pensar em secar os canais para transformá-los em vias de transporte. Porém, um grande impacto social criou uma nova visão urbanística, transformando- a em cidade-parque. Ou seja, a dificuldade foi transformada em oportunidade. A cidade hoje não dá as costas, mas sim enfrenta as águas, e os canais de Amsterdã são hoje Patrimônio Histórico da Humanidade. Situação semelhante ocorre em Recife. A cidade é uma planície d'água. Passo a passo, foi-se aterrando a área, ocupando-se o território, sem nenhuma expertise do padrão da Holanda. Com a saída dos holandeses do Brasil, a gestão governamental não entendeu como a ocupação poderia ser uma valorização. Recife passa pelo que Amsterdã viveu nos anos de 1960. Com exceção das praias, a cidade dá as costas às águas. Estamos vivendo a experiência de voltar a frente para as águas. De enxergar a água como setor vital à cidade, como força arquitetônica, urbanística, paisagística. É uma excelente oportunidade, se for vista com a larga visão que a prática de urbanismo propõe.
O braço do rio Spree que se separa do curso principal passa pelo centro histórico de Berlim. O projeto Flussbad (literalmente, piscina do rio) recebeu o bronze no International Holcim Award de 2012 e o ouro na edição regional europeia de 2011 com uma proposta de despoluição da água do rio e revitalização do entorno, criando inclusive uma piscina natural. Desenvolvido pelos arquitetos do realities:united, está na fase de viabilização, com conclusão prevista para 2020. Na seção superior do braço do Spree, um tipo de dique com 7.200 m² de área faz a purificação natural da água, com cascalho e plantas de águas rasas e fundas. A seção central do curso está hoje canalizada, e serão criadas duas escadarias para acesso à piscina natural de 745 m de comprimento. As alterações nessa área são mínimas, uma vez que pertence à Ilha dos Museus, Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco.
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Perspectiva da seção de filtragem
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Perspectiva da piscina natural
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Corte esquemático do sistema de filtragem

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