A luz mágica - Fotografia

14/09/2012 · by Hiroshi · in Arquitetura. ·

Hisao Suzuki comenta e dá um testemunho sobre como descobriu um fenômeno natural que o ajuda em seu trabalho como fotógrafo.

O texto a seguir é do próprio Suzuki, traduzido por mim. Na foto acima: Gaspar House, projetado por Alberto Campo Baeza. Vejer, Espanha.

Ao final do dia, depois que o sol já desapareceu por detrás do horizonte, a luz remanescente ilumina o céu como um véu de seda, convidando aqueles que esperam pelo seu tempo de descanso a relaxar em um mundo de solidão. Do inanimado ao movimento, a luz preenche o silêncio que existe entre eles.

Eu senti que a luz do sol obriga vários objetos no mundo a se espressar. Quando são tocados pela luz, todas as coisas acordam e a vida se transforma em palavras e começa a falar.

Casa Rural, projetada por RCR Aranda Pigem Vilalta Arquitectes. Girona, Espanha

Entre todos os horários do dia a dia, eu amo o momento silencioso logo antes do nascer do sol e o movimento silencioso logo antes do dia escorregar para a noite onde descansamos.

O ar na Europa, particularmente na Espanha, é muito seco. Por existir menos umidade flutuando no ar, a luz chega de forma mais direta e o contraste entre a luz e sombra fica ainda maior. Em locais úmidos como o Japão, a umidade do ar age como um filtro que sauviza a luz e diminui a diferenca entre o claro e o escuro. O mesmo se faz verdade durante as mudanças do clima ao longo do dia, como a mudança da umidade que altera também a temperatura. Tudo isso é um conhecimento comum, onde a qualidade da luz muda conforme as estações.

Tudo o que foi falado ate agora, são as minhas opiniões baseadas em experiências tirando fotos em vários locais e situações diferentes. Eu não posso prová-las cientificamente, mas vendo os resultados entre vários filmes de fotos, posso dizer com uma boa margem de certeza que tudo o que disse está correto.

De Blas House, projetada por Alberto Campo Baeza. Madri, Espanha

Antigamente quando comecei a tirar fotos envolvendo arquitetura profissionalmente, eu lutei com o problema de capturar os prédios como um todo. Eu achava muito difícil conseguir colocar toda a fachada em uma foto sem perder os detalhes entre sombras muito escuras ou pontos muito iluminados onde os raios do sol ofuscavam a estrutura.

Que tipo de luz é melhor para fotografar? A diferença entre sombras oprimidas e pontos ofuscantes desaparece se voce esperar até a fachada inteira estiver sombreada da luz direta do sol, mas então o balanço final da imagem é destruído pela luz direta que bate em outras áreas fora do objeto a ser clicado, aumentando a quantidade de “ruído” na foto. Isso se tornou uma implicamente decepção que parecia longe de acabar. Foi aí que eu comecei a conscientemente procurar por uma luz mais suave que fosse suficiente clara mas que não criasse sombras.

Então eu fiz a grande descoberta que a luz universal pode ser achada todos os dias, por uns 20 minutos antes do nascer e do pôr do sol. É claro, embaraçoso o suficiente, essa não foi uma descoberta minha, mas é o conhecido fenômeno entre os fotografos chamado de “A Luz Mágica”.

Com a minha experiência era limitada ao estreito campo de trabalho de um estudio fotográfico, eu simplesmente demorei mais tempo que os outros para descobrir que essa “luz mágica” era a chave de tudo.

Como eu não gostava de céus limpos e uniformes, tive que me introduzir as maravilhosas expressões que o céu pode providenciar nessas horas do dia.

Até mesmo após o pôr do sol, quando o sol está escondido atrás do horizonte, ainda há luz suficiente refletida no céu para iluminar o chão. O contraste começa a desaparecer rapidamente – por exemplo, entre as sombras mais escuras sob os beirais dos edifícios e a as paredes brancas do lado oeste do prédio, recentemente brilhando sob o sol poente – como se ambos os lados decidissem parar de competir entre eles.

Fundação Ibere Camargo, projetada por Alvaro Siza Vieira. Porto Alegre, Brasil

Porém as paredes do lado oeste continuam a receber, mesmo que pouco, mais iluminação do que as paredes dos outros lados, mas mesmo assim não há perda de volume, comparada a iluminação frontal dos edifícios. Nessa hora, as partes do céu que ficam mais perto do horizonte ficam mais claras, com o brilho diminuindo à medida que se afasta verticalmente, intensificando o azul matiz das elevações mais altas. Enquanto o balanço da luz proveniente do céu vai diminuindo, vai ficando mais profundo e mais transparente, fazendo com que todo o prédio seja coberto uma uma suave e repousante luz.

O tempo para tirar essas fotos varia de acordo com o ambiente, altitude e estação, mas a luz que eu mais gosto não dura mais do que 20 minutos. Enquanto espero por estes poucos minutos, planejo a ordem e ajusto os ângulos das fotos. Antigamente eu tinha uma certa noção sobre essa “luz mágica”, mas não passava de meros pensamentos enquanto eu passeava logo cedo com meu cachorro. Agora, durante as seções de fotos, eu consigo sentir a atmosfera e noto bem a diferença.

Ao entardecer, apesar de todos os prévios preparativos, sempre ficam para a hora da foto os ajustes finais, e como o dia vai ficando escuro a cada minuto, esses ajustes tem uma prioridade máxima. Normalmente eu trabalho sozinho, usando uma grande variedade de câmeras que requerem inúmeros passos antes de simplesmente apertar o botão para tirar a foto. Por esse motivo estou sempre correndo para lá e para cá. Naturalmente, corro de um ponto da foto para outro. Se nesse momento o arquiteto está presente na obra para observar, frequentemente ele ouve coisas como “por aqui”, “deste lado”, “pode trazer o caixa de filme para mim?”.

Hisao Suzuki

Eu corro pelo local tão furiosamente que parece que quem observa não pode ajudar, mas uma mão sempre é bem vinda, melhor do que outras pessoas que ficam em volta somente se matando de tanto rir.

Essa luz mágica nao somente me fascina, como faz com que eu fique em forma com muito exercício!

Morar em Barcelona me dá o privilégio de estar sob vários tipos de luzes, onde posso encontrar muita gente, conhecer prédios e cidades. Escolher a fotografia como o meu trabalho e confiar na câmera para isso, jé vem gradualmente acontecendo nos últimos 30 anos.

Sinceramente eu estou muito feliz em poder mostrar as minhas fotos dessa maneira para as outras pessoas. Quando o dia vier, em que não existirão mais filmes para tirar fotos, eu provavelmente me adequarei aos tempos digitais modernos, dando meu próprio jeito e continuarei tirando “fotos” enquanto procuro pela minha “luz mágica”.

Via: japlusu

Fonte: http://arquitetesuasideias.com/2012/09/14/a-luz-magica-fotografia/

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