Especificação de portas de madeira para residências seguindo critérios de desempenho

POR ANDRESSA BASILIO
Edição 251 - Fevereiro/2015

Foto: Fran Parente

Portas em residências exercem múltiplas funções, como vedação de ambiente, controle de luminosidade, isolamento acústico e térmico. Esses aspectos têm parâmetros definidos na Norma de Desempenho, em vigor desde 2013. Na foto ao lado, portas do tipo camarão controlam as aberturas de um dos quartos da casa projetada pela CR2 Arquitetura, em São Paulo
O mercado brasileiro tem um longo caminho pela frente quando o assunto é especificação de portas de madeira para residência. Enquanto na Europa o desempenho é requisito básico cumprido pelos fabricantes, o que faz com que o diferencial seja o design, por aqui os produtores ainda tentam se adequar à recente normatização. Publicada em novembro de 2011, a ABNT NBR 15.930 - Portas de madeira para edificações classifica as portas de acordo com o tipo de ocupação, localização e uso. Essa classificação deixa para trás um conceito muito difundido de porta única, ou seja, aquela prescrita para diversos ambientes sem considerar fatores além das dimensões, critério construtivo e acabamento.
Além das duas partes já em vigor (1 - Terminologia e simbologia e 2 - Requisitos), há mais duas com publicação prevista para 2015: a parte 3 - Requisitos de desempenho e 4 - Instalação e manutenção. Ao final, a norma visará a aumentar o desempenho desses produtos e a evitar danos gerados por uso impróprio do material frente a condições específicas, como umidade e calor.
As exigências foram reforçadas em 2013, com a ABNT NBR 15.575 - Edificações Habitacionais - Desempenho, sobretudo em relação a aspectos antropodinâmicos e de conforto acústico, o que trouxe mais amparo para projetistas em relação aos critérios técnicos a serem adotados. "A Norma de Desempenho estabelece obrigações para todos os envolvidos em uma obra, começando pelo projeto. Com isso, o papel e a responsabilidade do arquiteto foram resgatados, o que tem provocado uma necessidade de adequação dos profissionais e também das escolas para formar novos projetistas com este foco", relata Roberto Pimentel Lopes, coordenador da Comissão de Estudos de Portas da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci).
De acordo com o pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e um dos principais responsáveis pela elaboração da NBR 15.930, Cláudio Mitidieri, as normas mostram a projetistas e construtores a importância das portas para o desempenho de uma edificação, e como, quando aplicadas ainda na fase do projeto, evitam patologias que surgem com o tempo. A ideia é reforçada por Cecília Reichstul, sócia do escritório CR2 Arquitetura: "A largura do vão da área de serviço permite a passagem da máquina de lavar? A porta precisa ter 100% de vedação? Essas e outras características precisam ser pensadas no projeto para que, durante o uso na residência, o cliente não passe por situações desagradáveis".

DESEMPENHO COMO CRITÉRIO
Beleza natural, durabilidade e conforto térmico e acústico fizeram da madeira a primeira matéria-prima usada pelo homem na construção de portas e janelas. Em residências, a porta tem múltiplas aplicações, como vedação de ambiente, controle de luminosidade, isolamento acústico e térmico e segurança. Atualmente no Brasil, quase todas as portas são fabricadas com madeira de reflorestamento, que sofrem processos de engenharia para aumentar a qualidade, e tratamentos químicos para preservar a durabilidade natural. "Os cuidados na especificação devem, portanto, começar na avaliação do produto junto ao fabricante, com atenção às indicações de uso e especificidades para as regiões do País", explica o coordenador da Abimci. Porém, o tipo de madeira e o tratamento usado não são considerados fundamentais. "O mais importante é a especificação da porta pelo seu desempenho e não pelos materiais constituintes", afirma o pesquisador do IPT.
Para especificar as portas de madeira por desempenho, é necessário o cumprimento de algumas etapas, começando pela exigência do certificado de conformidade ABNT NBR 15.930. O selo verde Forest Stewardship Council (FSC) também mostra que o fornecedor tem compromisso com o modelo de produção sustentável. "A certificação é muito importante, pois temos dificuldade de saber a procedência e a qualidade das folhas de portas no mercado", sinaliza a arquiteta Adriana Victorelli, da Neo Arq Projetos Exclusivos.
A segunda etapa requer o conhecimento do nível de uso da porta em relação ao tipo do empreendimento, que pode ser privado, coletivo ou público, e de acordo com os ciclos de abertura e fechamento. Em portas residenciais, geralmente são considerados tráfego moderado (20 mil ciclos e padrão dimensional da porta leve, com folha de 35 mm) e regular (50 mil ciclos e padrão dimensional médio, com folha de 40 mm).
Feito isto, define-se o local onde a porta será instalada - de uso interior ou exterior, abrigada ou exposta às intempéries - e o perfil de desempenho. A NBR 15.930 define cinco categorias que levam em conta o esforço e as situações às quais a porta será submetida:
- Porta interna (PIM) - áreas secas internas, como passagens, closets e dormitórios;
- Porta interna resistente à umidade (PIM-RU) - ambientes internos molháveis, como banheiros, lavabos e lavanderias;
- Porta de entrada (PEM) - entrada de unidades autônomas, abrigadas de intempéries;
- Porta de entrada resistente à umidade (PEM-RU) - entrada de unidades abrigadas de intempéries, porém com especificações de resistência à umidade, como varandas ou áreas de serviço;
- Porta externa (PXM) - entrada de unidades expostas à ação de intempéries, como porta de garagem.
"Os requisitos são mais rigorosos quanto mais rigorosa a condição de exposição, ou seja, crescem em rigor da porta PIM para a PXM", explica Mitidieri. O projeto também pode exigir performances adicionais como proteção contra fogo e isolamento acústico.
É justamente nesse ponto que há a interface da NBR 15.930 com a Norma de Desempenho que, apesar de não tratar de requisitos específicos, estabelece critérios para vedações verticais que se relacionam com paredes, portas e janelas. Isso significa que o conjunto de parede, porta de entrada, hall e porta de entrada de outra unidade precisa ter um determinado desempenho em relação a isolamento acústico. "Cabe ao fabricante fornecer o valor do índice de redução sonora da porta completa, com folha, marco, vedações, molduras e ferragens para o projetista fazer suas análises", aponta o pesquisador do IPT.

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Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/251/especificacao-de-portas-de-madeira-para-residencias-seguindo-criterios-de-338482-1.aspx

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