Solano Benitez, entre o sonho e a técnica

    Alta qualidade e baixo custo são as bases da arquitetura e do discurso do arquiteto paraguaio
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Perfil Idade: 48 anos. Característica profissional: desenvolver novas soluções para reduzir custos de obras. Material de destaque nos projetos: tijolo reutilizado de demolições. “Gosto de usá-los, deixando-os à mostra, com personalidade”.

Nem mesmo a agenda atribulada tira o arquiteto paraguaio Solano Benitez do foco que norteia sua produção há 20 anos: a busca por uma arquitetura para todos, com alta qualidade e baixo custo. A equação não é simples, mas as propostas de Benitez fazem refletir e abrem possibilidades para o futuro do morar nas grandes cidades. Ser latino-americano e viver em um país com problemas sociais, fez do arquiteto um incansável pesquisador de novas soluções desde o projeto até o canteiro de obras. De passagem por Curitiba, para as comemorações dos 35 anos do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUCPR, ele falou sobre a arquitetura moderna e como sua profissão pode ajudar no desenvolvimento social da América Latina.

 
Novas soluções construtivas, experimentação técnica e controle de custos norteiam a sua arquitetura. Como você chegou a esse processo?
Ter pouco dinheiro é sempre uma condição interessante. A criatividade surge quando você elimina um zero do seu orçamento. Desenvolvi esse pensamento desde que construí o meu escritório. Tinha aproximadamente US$ 5 mil e queria construir 100 m². Precisei transformar o custo da obra de US$ 350 o m² para US$ 50. A alternativa foi voltar-se para a maneira mais primária de construção, reaproveitando tijolos, aumentando a rentabilidade do concreto e controlando a produção para evitar desperdícios. A condição adversa nos faz pensar em outras possibilidades e isso é o dia a dia da arquitetura que procuro fazer.


Você é um dos nomes importantes da arquitetura latino-americana. O que a nossa realidade tem de peculiar para contribuir com o debate arquitetônico?
Estamos em um momento incrível, de crescimento e visibilidade. Mas ao mesmo tempo observamos muitas pessoas vivendo sem dignidade. Penso que quanto antes começarmos a mudar a lógica da habitação, melhor. No Paraguai, e também no Brasil, temos a casa do rico construída da mesma forma que a casa do pobre. Com isso, o pobre perde em conforto e, principalmente, em espaço. É preciso construir de forma mais econômica, diminuindo o desperdício e garantindo esse conforto. O caminho não é simples, mas é possível.

 
E qual é o papel dos arquitetos nesse processo?
O arquiteto tem de garantir que o homem habite a terra. Diferentemente de muitos profissionais da área, acredito que o olhar do arquiteto não deve se voltar para a história da cultura, mas para a história da técnica, dos recursos. É ali que descobrimos tudo o que o homem fez e tentamos fazer melhor. Outro ponto importante é a presença do arquiteto no canteiro, entendendo que a obra é um processo que pode ser modificado continuamente.

 
E os profissionais têm esse olhar?
Pensa-se muito na originalidade. Mas o que é ser original? Pensar nas condições de vida do outro é ser original. Por isso, defendo que a arquitetura se distancie um pouco da questão da forma e se invista mais na pesquisa de produção. Você, sendo arquiteto ou não, pode digitar “as dez melhores casas da América Latina” na internet e, a partir das fotos, com um software, pode “criar” um novo projeto. A importância do arquiteto, então, está em apresentar novas possibilidades na obra, na execução de forma inteligente.

 
O que o prêmio que conquistou na Suíça (BSI Swiss Architectural Award 2008) trouxe de novo para o seu trabalho?
Sinto-me mais vinculado ao mundo. Acho que deixaram de me ver como hippie e passaram a considerar o meu pensamento sobre as soluções para baixar custos, reduzir desperdício e ter obras mais sustentáveis. Hoje sou convidado para ministrar palestras em vários lugares e continuo mostrando que é possível construir, desenvolver-se e ter uma sociedade onde não haja mais da metade das pessoas morando em condições miseráveis, como acontece atualmente.

 
Em seus projetos, há tanto um olhar para a organização do interior das residências quanto para a decoração. Como é esse processo?
Nunca fiz projetos somente de decoração, não é a minha forma de trabalhar. Mas a arquitetura residencial prevê que alguém morará naquele espaço. A arquitetura de interiores vai além dos móveis. É o conforto térmico, visual, itens que fazem parte de um projeto bem executado.

 
Como é sua relação com os arquitetos no Brasil?
Tenho o privilégio de ter a amizade de vários anos com o Álvaro Puntoni e com Angelo Bucci, que foram os primeiros profissionais brasileiros que conheci. Admiro muito o trabalho do Paulo Mendes e do Villa Nova Artigas, mestres da arquitetura brasileira, especialmente a paulista.

 
Como definiria a fase atual da sua carreira? Há desafios novos?
Sempre terei desafios novos. A forma como trabalho é uma busca incessante por novidades e formas novas de fazer. Meu desafio diário é olhar para o outro e descobrir as necessidades dele.


Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/viverbem/casaedecoracao/conteudo.phtml?tl=1&id=1198017&tit=Entre-o-sonho-e-a-tecnica

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