Recentemente apresentado no Festival É tudo verdade, o documentário "Os irmãos Roberto" projeta na tela a qualidade dos traços arquitetônicos de Marcelo (1908-1964), Milton (1914-1953) e Maurício (1924-1996). Nele, se veem a beleza do Aeroporto Santos Dumont, a ousadia do prédio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e as soluções nada óbvias para prédios de classe média. Sorte dos cariocas, que podem apreciar essas obras passeando pelas ruas da cidade. Professora de história da arquitetura da PUC, Ana Luiza Nobre recomenda começar o roteiro desse percurso com o Edifício Morro de Santo Antônio, na Rua do Lavradio.
- Construído na década de 1930 com a assinatura de Marcelo Roberto, o prédio tem clara influência da Bauhaus (a escola de arquitetura e design de vanguarda alemã).
Mas a primeira grande obra dos irmãos Marcelo e Milton - o caçula Maurício vai se somar à dupla nos anos 1940- merecia um longa-metragem à parte. Primeiro ícone modernista do Rio, a ABI, na esquina das ruas Araújo Porto Alegre e México, até hoje desperta paixões.
Projeto da ABI venceu disputa com Niemeyer
- Em 1936, o presidente da ABI, Herbert Moses, promoveu um concurso para o prédio, e nele houve dois ilustres perdedores: Oscar Niemeyer e Jorge Machado Moreira, que viriam a ser dois nomes importantíssimos do modernismo. Mas o projeto dos Roberto é de uma vanguarda absurda. Na época, chocou os conservadores, por não ter janelas nas fachadas. Eles optaram por brise-soleils, a fim de assegurar um clima agradável em todos os pavimentos, controlando a entrada da luz do sol e facilitando a ventilação - diz a arquiteta Fabiana Izaga, estudiosa da obra dos irmãos.
Não à toa, ilustra Fabiana, quando da publicação do catálogo "Brazil Builds" - lançado em seguida à exposição homônima no Museu de Arte Moderna (MoMa), em Nova York, - uma foto resolve o enigma sobre o impacto da ABI na linha evolutiva da arquitetura brasileira.
- Na foto, há a ABI com Museu Nacional de Belas Artes e a Biblioteca Nacional ao fundo. O contraste entre dois belos ícones da nossa arquitetura com o arrojado prédio com tom de Mondrian explica reações extremamente contrárias retratadas pela mídia da época e outras encantadas com as soluções dos Roberto - diz Fabiana.
Concluído somente seis anos depois da ABI, o outro grande ícone do modernismo da época, o Edifício Gustavo Capanema, no Centro, teve Lúcio Costa à frente de uma equipe brilhante - formada por Carlos Leão, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconcellos e Jorge Machado Moreira - e consultoria do arquiteto franco-suíço Le Corbusier. Professor da Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFF, Luiz Felipe Machado diz que o nome de Corbusier não era frequentemente citado no famoso escritório MMM Roberto.
- Walter Gropius e Mies Van Der Rohe, da Bauhaus, além de um certo arquiteto desconhecido francês, André Lurçat, contemporâneo de Corbusier, eram mais presentes em suas conversas - diz Luiz Felipe.
E, para o professor, a qualidade construtiva das obras dos Roberto pode ser explicada pelo o que ele chama do "saber construir brasileiro", herança dos portugueses. Um dos exemplos dessa química é o Aeroporto Santos Dumont.
- Eles não fizeram somente a estação de passageiros. Os hangares foram construídos com vãos enormes e tiveram tecnologia avançada. Na época, as pessoas saíam do avião, entravam no hall principal e se deparavam com um lugar magnífico que se abria para a cidade com um jardim de Burle Marx.
Já o arquiteto João Calafate destaca outro lado, e não menos importante, dos irmãos Roberto: os edifícios residenciais. Ele descreve os prédios com a autoridade de quem já morou em dois deles: o Edifício João M. Magalhães, na Rua Voluntários da Pátria, e o Júlio de Barros Barreto, na Rua Farani, ambos em Botafogo.
- As diferentes fachadas do Júlio de Barros Barreto são obras-primas. Os Roberto sempre tiveram preocupação com a ventilação, o controle da luz do sol e a vista dos apartamentos. O meu, por exemplo, tem 90 metros quadrados e parece muito maior, tamanha a qualidade da divisão - diz o arquiteto.
Calafate toca num ponto em que o documentário de Ivana Mendes e Tiago Arakilian deve chamar mais a atenção do espectador:
- Os prédios dos irmãos Roberto são uma prova de que se pode construir com qualidade. Alguns prédios deles têm grande quantidade de apartamentos e muita qualidade arquitetônica.
O arquiteto Milton Fefferman mostra outro lado da questão:
- Com as leis de construção do Rio, os irmãos Roberto teriam dificuldade de fazer sua arquitetura, famosa no mundo inteiro.
Prédios como esses mostram que o Rio pode ter mais do que as belezas naturais.
Fonte: http://br.noticias.yahoo.com/magia-dos-irm%C3%A3os-roberto-tela-cinema-ao-vivo-011855398.html
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