Arquiteto nega influência da tradição e da arquitetura japonesa em seu trabalho
Por Valentina Figuerola, do Rio de Janeiro
O arquiteto japonês Shigeru Ban começou a usar o papel como material de construção desde a década de 1980. De lá para cá, criou obras primas com o material, como a residência de verão de Yamanashi, na qual empregou 110 tubos de papel; a igreja de papel de Takatori, destruída em 1995 com o terremoto de Kobe, e o Museu Nômade, feito com tubos de papel e 148 contêineres. Apesar de ser referência quando o assunto é projetar e construir em papel, o arquiteto nega o rótulo.
Nega também a influência da arquitetura e tradição japonesas em seu trabalho. "Eu não sou influenciado pela arquitetura japonesa: sou japonês, mas estudei arquitetura nos Estados Unidos, nunca estudei no Japão", afirma Shigeru.
Em visita ao Rio de Janeiro para participar da segunda edição do Arq.Futuro, encontro de arquitetura promovido pela BEI Editora, o arquiteto respondeu a perguntas feitas pela revista AU em uma coletiva de imprensa realizada no dia 29 de março em um apartamento com vista para a praia de Ipanema. Confira trechos da entrevista abaixo, e a entrevista completa na edição de maio da revista AU (218).
Você usa o papel em elementos estruturais de uma edificação. Ele precisa estar associado a outro material para isso?
Sim. O papel resiste à compressão, assim como o concreto, mas precisa estar armado com o aço, que resiste à tração.
Dizem que o seu trabalho é fortemente influenciado pela arquitetura japonesa. Você concorda com isso?
Eu não sou influenciado pela arquitetura japonesa, tampouco pela tradição japonesa de construção: sou japonês, mas estudei arquitetura nos Estados Unidos, nunca estudei no Japão. Muitas pessoas também tentam me conectar com a tradição japonesa de construção, sendo que eu uso uma estrutura que não tem nada a ver com a arquitetura japonesa. Os jornalistas sempre tentam conectar um assunto com algo fácil para que o público possa entender. Provavelmente associaram o papel ao origami ou às telas da arquitetura japonesa... O papel não foi inventado pelos japoneses, existe em toda parte do mundo.
Como definiria seu estilo arquitetônico?
Antes de tudo, eu não quero ser considerado o arquiteto do papel porque o material é apenas uma paixão. Também uso aço, concreto e madeira. Só porque ninguém usa papel, as pessoas acham que sou bom em apenas criar edifícios em papel, o que não é verdade.
Você está experimentando outros materiais na arquitetura?
Estou interessado no bambu como material de construção. Mas não o bambu em colmos, que é mais difícil de ser aplicado às construções em função dos diferentes diâmetros e espessuras, e em função de sua baixa resistência à exposição solar. Estou fazendo experimentos com o bambu laminado, que é mais forte e mais barato.
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