© Cristiano Mascaro, via Vitruvius
Por Bernardo Brasil Bielschowsky e João Serraglio.
Numa rua estreita, entre residências em fileiras, flutua, há quatro metros e meio do chão, uma caixa: sem símbolos, toda em concreto aparente, ritmado horizontalmente pelas marcas das fôrmas de tábuas de madeira.
A caixa, de treze por trinta e três metros, e altura de sete metros e vinte centímetros, eleva-se sobre os telhados das casas através de quatro pilares esbeltos, de cinquenta por oitenta centímetros, que, recuados em relação à fachada principal, se soltam da caixa, apenas tocando o volume pelo lado de fora.
Esse volume que paira sobre a cidade descola-se da rua e do alinhamento das fachadas residenciais; um platô é conformado pelo vazio que a caixa cria ao se elevar, e a calçada entra pelo vazio, configurando uma praça coberta, que é também um mirante sobre o vale, enquadrado pela arquitetura de concreto.
Aproveitando o desnível de quatorze metros e vinte e cinco centímetros dos fundos do terreno em relação à rua, abaixo do ângulo de visão, funcionam os setores administrativos, o centro social, a biblioteca e as moradias, em três pavimentos semienterrados, com pé direito de três metros.
© Cristiano Mascaro, via Vitruvius
Na parte de cima, funciona o templo. Seu pé direito duplo de seis metros e vinte centímetros permite a disposição de um mezanino sobre a sacristia, instalada de maneira pouco usual na parte de trás do templo.
Aos dois programas solicitados –templo e centro social– aparece um terceiro: o próprio espaço público que invade o terreno privado.
© Cristiano Mascaro, via Vitruvius
Esse conjunto organiza-se através de módulos de sete metros e meio no sentido longitudinal, e quatro metros e trinta centímetros no sentido transversal. A área edificável do terreno foi dividida em nove partes iguais, paralelas à rua, numa proporção de 2:5:2 entre praça aberta, praça coberta e mirante. Os dois pilares, em cada lado, que sustentam a caixa, estão posicionados no ritmo 1:3:1. As construções foram projetadas com o auxílio de uma modulação de noventa centímetros.
Liberando espaço para a praça, o acesso à nave do templo concentra-se à esquerda do grande vazio –demarca-o e funde-se à ele através das paredes de vidro, que mantém a permeabilidade visual e inundam de luz a subida–. A entrada configura-se através de uma marquise de concreto, solta em relação ao grande volume, entre a caixa e o chão, alinhada com o caixilho das esquadrias de vidro e com o pequeno fechamento que arremata a parte posterior da construção.
Inicia-se um percurso através da rampa e da escada, saindo do espaço aberto e livre da cidade, o espaço da convivência, e penetrando no espaço confinado da nave.
Acessa-se o templo pelos fundos. Ao virar em direção ao altar, se tem a visão da nave, em sua simplicidade. Ao fundo, uma cruz flutua, banhada em luz. Nas paredes laterais, a via crucis executada em baixo relevo de concreto recebe a iluminação que banha as paredes. A iluminação zenital, indireta, vaza ao redor de toda a nave dando ênfase aos elementos simbólicos. As vigas que sustentam a laje superior, paralelas à fachada principal, com intervalos de um metro e oitenta centímetros de eixo a eixo, escondem as aberturas zenitais, protegendo a visão da luz direta.
© Cristiano Mascaro, via Vitruvius
Aliado ao drama que a luz confere ao ambiente, há o conforto térmico, propiciado pelas densas paredes de concreto aparente, e pelas aberturas junto ao chão do templo, que permitem que o ar fresco ingresse, empurrando o ar quente para fora, através de aberturas na laje de cobertura. Esses vazados pontuam como volumes as fachadas laterais.
© Cristiano Mascaro, via Vitruvius
Uma circulação vertical secundária, através de escadas, faz a conexão entre todos os seis pavimentos. Na parte da praça e do templo, essa ligação se dá através de uma escada helicoidal, em estrutura metálica, que dá acesso também a um mezanino, nos fundos do templo.
Sobre a caixa, contra o céu, apoiada sobre pilares inclinados, repousa outra caixa de concreto, menor, vazada pela frente e fundos, alcançando, em seu extremo mais alto, dezenove metros e trinta centímetros. É o campanário, que sustenta a cruz: única pista, desde a rua, de que dentro deste duro volume de concreto, suspenso sobre a cidade, funciona uma igreja.
© Cristiano Mascaro, via Vitruvius
Cita:Igor Fracalossi. "Clássicos da Arquitetura: Igreja São Bonifácio / Hans Broos" 02 Apr 2014. ArchDaily. Accessed 3 Abr 2014. http://www.archdaily.com.br/br/01-187129/classicos-da-arquitetura-igreja-sao-bonifacio-slash-hans-broos?utm_source=ArchDaily+Brasil&utm_campaign=2b413d78ff-Archdaily-Brasil-Newsletter&utm_medium=email&utm_term=0_318e05562a-2b413d78ff-407774757
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