Arquitetos e especialistas convidados destacaram a aimportância do Código de Ética profissional
O Código de Ética e Disciplina do CAU/BR foi o ponto de partida dos debates no terceiro dia da Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo. “Pretendemos que seja uma discussão permanente da categoria. É a construção da cidadania a partir da nossa percepção profissional”, disse Napoleão Ferreira, conselheiro do CAU/BR pelo Ceará e coordenador da Comissão de Ética. Para o presidente do CAU/CE, Luciano Guimarães, a norma aprovada no ano passado é um instrumento de de “valorização, autorregulamentação e de defesa da boa atuação profissional”.
O debatedores convidados foram Márcia Tiburi, professora de Filosofia, e o jornalista Paulo Markun. De início, Márcia destacou que o grande problema que envolve a ética é que não se pode obrigar ninguém a ser ético. “As pessoas precisam se convencer por elas mesmas, é uma produção de uma subjetividade própria, com ela mesma e com o mundo em que ela vive”, afirmou. “É um conceito altamente filosófico, por isso é tão importante que se crie essa discussão, como o CAU faz com seu seu Código de Ética, principalmente numa sociedade tão avessa à reflexão”.
Para a professora, o desafio do Código de Ética está em construir um cenário social em que certos valores são respeitados. “A ética é a área do conhecimento que se gera ações com o objetivo de produzir convivência”, disse. “É uma reflexão no sentido amplo. Platão, Kant, Heidegger, Adorno, fazem essa discussão, sobre como proceder uma reflexão voltada para uma prática de vida”.
Márcia Tiburi destacou a importância de se criar uma cultura ética baseada na convivência
CONVIVÊNCIA NAS CIDADES - No caso específico da atividade profissional dos arquitetos, eles podem debater questões como a vida nas cidades, a sua relação com o espaço-tempo, a ecologia, o trabalho, classes sociais. “Temos que pensar a ética como prática de vida que envolve nossas escolhas. Como eu me torno um sujeito ético? Em um de meus livros, cito três perguntas básicas: Como eu me tornei o que eu sou? O que estamos fazendo uns com os outros? Como viver juntos?”
Ela sugeriu a convivência como um ponto de partida para essa reflexão. “Vocês constroem e destroem o espaço, têm que pensar na questão da convivência. Vocês são filósofos do concreto, também podem ser fascistas do concreto. Vocês são produtores do cenário que determina a convivência”.
“A ética é muito difícil porque ela nunca está pronta. É como a vda, tem que fazer e refazer todos os dias. É a prática da reflexão sobre essas três perguntas, nas miudezas do cotidiano”, afirmou. “Temos que refazer a ética a cada dia, e o Código de Ética pode ser uma inspiração para isso”.
O jornalista Paulo Markun sugeriu que arquitetos liderem um debate interdisciplinar sobre a cidade
A ÉTICA DO MARCENEIRO - Jornalista renomado, Paulo Markun teve uma carreira de destaque, com passagens pelos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, TV Globo e como apresentador do programa Roda Viva. Mas revelou uma frustação. “Sempre quis ser arquiteto, nunca consegui”. A fascinação pela profissão vem da convivência com Vilanova Artigas, que ele conheceu aos 15 anos. Na época da ditadura, o arquiteto recebia em sua casa vários jovens para conversas sobre Arquitetura, política e os mais diversos assuntos
Sobre ética, Markun lembrou a lição dada pelo jornalista Claudio Abramo, um dos ícones da profissão no Brasil. Escreveu Abramo: “sou jornalista, mas gosto mesmo é de marcenaria. Gosto de fazer móveis, cadeiras, e minha ética como marceneiro é igual à minha ética como jornalista – não tenho duas. Não existe uma ética específica do jornalista: sua ética é a mesma do cidadão”.
Outra lembrança veio de 1975, quando Markun organizou um encontro de 40 entidades de várias áreas, na Assembleia Legislativa de São Paulo para discutir as questões da cidade na antevéspera de posse do prefeito, que não era eleito na época. “Hoje as entidades profissionais como IAB, OAB e Associação Brasileira de Imprensa perderam a relevância, mais que isso, hoje não existem mais encontros interdisciplinares”, destacou. “As questões da cidade não têm mais tribunas que juntem as entidades. Quem pode liderar esse processo hoje são os arquitetos. Se vocês querem ocupar esse espaço, têm que falar para a sociedade, convocar outros setores”.
Ele sugeriu como bandeiras que podem unir vários setores a MP 630 e a reserva técnica, dois problemas que estão na pauta do Conselho de Arquitetura e Urbanismo. “Vocês têm uma rede de contatos que precisa ser acionada em relação a isso. A Gleisi Hoffmann devia estar aqui para explicar o que ela quer dizer com isso. Mas essa atitude demanda uma posição de orgulho com a profissão”.
Fonte: http://www.caubr.gov.br/?p=22310
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