Entender a arquitetura tanto como projeto quanto como reflexão é a base do trabalho do colombiano Camilo Restrepo

Por Bianca Antunes Foto Rolex/Hideki Shiozawa
Edição 255 - Junho/2015

Foto: Rolex/Hideki Shiozawa

Camilo Restrepo foi o segundo arquiteto a subir no palco do Fórum Jovens Arquitetos Latino-Americanos (Fjal), que aconteceu de 6 a 8 de maio, em Fortaleza, para falar de seu trabalho - o primeiro tinha sido o brasileiro Vinicius Andrade (Andrade Morettin). O colombiano discorreu sobre seus projetos e sua maneira de trabalhar, criando conexões entre o fazer arquitetura na América Latina e trazendo experiências que se assemelham em muitos pontos com as dos profissionais brasileiros. Nascido em 1973, Camilo Restrepo faz parte de uma jovem geração colombiana que viu seu país se transformar. A cidade onde vive, ainda mais. Medellín venceu o estereótipo da violência e hoje é exemplo de um lugar em que o espaço público está sempre em debate. Tudo começou com uma série de obras públicas e concursos na gestão de Sergio Fajardo (2004/2007), gerenciadas pela Empresa de Desenvolvimento Urbano, que coordenava cada projeto e todas as secretarias envolvidas. Sem grandes obras naquela época, mas focando no que se chama de acupuntura urbana: projetos pontuais para necessidades reais, cujo resultado se espalha e melhora o entorno, e chega a áreas mais distantes.
O resultado dessa era, para Camilo, ainda é dúbio: há muitos arquitetos hoje que se preocupam mais com participar de concursos, com a fama e com publicações do que com pensar criticamente seu papel na cidade. E pensar criticamente é essencial na prática arquitetônica. "Entendo a arquitetura como prática reflexiva. É ver o projeto como um conteúdo que foi pensado, que pode ser discutido, que se pode escrever sobre ele. Um projeto capaz de unir uma série de questões relevantes para um grupo social ou para um tempo", nos explica nessa conversa realizada pouco depois de sua palestra, em Fortaleza.
Nesta entrevista, também avalia o sistema de ensino, a necessidade de focar em matérias que permitam os alunos a compreender a função da arquitetura e explica porque estágios profissionais durante a universidade devem ser abolidos.
Medellín era uma cidade estigmatizada pela violência. E hoje é exemplo de planejamento urbano e de bons projetos de arquitetura. Como aconteceu essa mudança, e de que maneira os arquitetos participaram dessa transformação? A mudança aconteceu, principalmente, por uma decisão política. A cidade já vinha integrando certos processos, mas nenhum político havia tido a capacidade de ler todos esses processos e de unir política e urbanismo ou política e transformação do espaço. Isso surgiu, basicamente, por decisão de Sergio Fajardo que quando chegou à prefeitura decidiu ter uma equipe muito qualificada, como Alejandro Echeverri, Felipe Uribe, uma série de arquitetos que começam a fazer projetos muito específicos. A principal pessoa nesse momento foi Alejandro Echeverri, que constrói um modelo de atuação, o projeto urbano integral (Pui). O Pui une todas as secretarias da prefeitura em um só projeto, para que todos caminhem para o mesmo lugar, atuem da mesma maneira. São construídas estratégias. Primeiro, lugares que sempre foram esquecidos começam a ser atendidos com projetos que se costuma chamar de acupuntura urbana, muito específicos e delimitados, em partes estratégicas do bairro. Não são projetos de grande escala. São vários e pequenos projetos distribuídos em territórios com condições específicas. No Pui, o que pode funcionar para um bairro não necessariamente funciona para outro. É sempre feito na medida, sobre como intervir em um lugar.
Que secretarias estão envolvidas?Quem organizou o projeto foi uma secretaria municipal chamada Empresa de Desenvolvimento Urbano (Edu). Eles faziam toda a gestão e a manutenção do projeto e coordenavam com as secretarias de educação, de segurança, da fazenda, de meio ambiente, de transporte. A empresa de metrô de Medellín também estava envolvida. Todas as semanas havia um comitê na sala do prefeito, para dar andamento ao projeto. Havia uma microgerência e cada projeto tinha um gerente. Essa era a garantia para haver uma linha direta para atender e responder às diferentes inquietudes, ou para controlar o projeto.
A Biblioteca Parque, de Giancarlo Mazzanti, é um desses projetos? Sim, é um dos projetos do Pui.
Quando começaram as transformações na cidade, os arquitetos estavam preparados? Como era a situação?Já havia um terreno preparado. Quando Jorge Perez era o decano da universidade, atraiu pessoas interessantes. Jovens arquitetos como Alejandro Echeverri, Carlos Mario Rodriguez e uma série de pessoas que fundamentaram discussões sobre temas que não existiam, como o espaço público. E Jorge estimulava esse tipo de discussão. De alguma maneira, quando Fajardo chega ao poder, muitos já tinham ideias e projetos consolidados, faltava apenas unir os pontos e enlaçá-los para construir projetos sobre os quais já se havia pensado. Muitos projetos realizados na escola acabaram sendo os projetos construídos pela prefeitura.

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