Principais quesitos em projetos de estação de transporte público

Por Giovanny Gerolla
Edição 245 - Agosto/2014

Foto: Nelson Kon

Uma estação de trem, metrô, intermodal ou parada de ônibus tem que ser eficiente, tanto para o momento histórico em que é projetada quanto para o futuro. É necessário considerar que os fluxos de usuários são cada vez maiores, e os critérios de qualidade desses equipamentos dependem do atendimento a um público de necessidades plurais, que pede preservação do patrimônio, da saúde e do meio ambiente.
"É possível pensar em materiais mais ou menos nobres, mas é importante não descaracterizar uma boa arquitetura", opina o arquiteto João Batista Martinez Corrêa, da JBMC. A obra pública, explica ele, tem que ter caráter educativo e cidadão: "Dentro do que é econômico e razoável, a arquitetura tem que despertar o interesse e o respeito pelo espaço".
Para que o público respeite o espaço público, é preciso que, antes, ele se sinta respeitado. Ricardo Corrêa, da TC Urbes, defende uma relação de continuidade urbana dentro de um raio de pelo menos 600 m, que contemple desenho universal, com acessibilidade clara, sinalização e segurança. "É um portal que leva gente de um lugar para outro", define.
De qualquer ponto dentro do raio contínuo, o usuário deve ser levado quase que naturalmente até o terminal. "As pessoas, seu fluxo e acesso às estações é que são a prioridade - não os veículos", diz. Isso inclui a comunicação dos horários de chegada e saída de trens e ônibus com exatidão, além de uma quantidade suficiente de bancos para esperas longas, e conforto térmico e acústico - há pessoas que passam oito horas do dia trabalhando nas estações.
Softwares que permitem estudar o que seria o comportamento do passageiro médio, com análise de imagens e modelos matemáticos para uma melhor previsão de fluxos em cada contexto sociocultural, também podem orientar a especificação de sistemas construtivos e materiais de revestimento ou de cobertura, sem contar o dimensionamento de corredores, escadas rolantes e rampas de acesso. "Isso evitaria o problema da má avaliação da demanda para novas estações em relação ao dimensionamento do espaço projetado, como ocorreu na Linha Amarela de São Paulo", critica o porta-voz do portal Mobilize Brasil, Marcos de Sousa. "Mal foram inauguradas, e estações como a Paulista já estavam superlotadas."
Marcos também critica a interrupção dos espaços de fluxo nos terminais de ônibus, trens e metrô pela inserção de pontos de venda de alimentos e propaganda. "Como geralmente não estão previstos em projeto, dificultam a passagem, criam pontos de aglomeração de pessoas, gerando ruído nos fluxos."
Por outro lado, à segurança não se faz concessões, sob nenhuma espécie de capricho. João Batista exemplifica considerando o pior cenário possível, no caso um incêndio em uma linha de metrô em horário de pico. "É preciso pensar que duas mil pessoas terão de correr dali ao mesmo tempo", alerta. Ambientes enclausurados e estreitos, que não tenham amplitude e vãos livres para rotas de fuga, são sinônimo de ineficiência.
Com relação à intermodalidade, vem se sacramentando a incorporação das bicicletas. São elas que tiram os carros da rua. "Ciclistas têm que parar o mais próximo possível da estação de embarque. Ele usa sua própria energia para poupar o trânsito, consumir menos combustível fóssil. A moeda de troca tem que ser facilidade e eficiência. Então, se ele não puder seguir com a bike dentro do ônibus ou do trem, é necessário haver um local seguro, coberto, gratuito e muito perto da catraca de acesso para estacioná-la", defende o arquiteto da TC Urbes.
Ainda tratando de facilidades aos passageiros, hoje há sistemas de sinalização que usam tecnologias 3G e 4G, a partir de aplicativos que auxiliam na identificação da localização do usuário para encontrar o melhor itinerário. Mas não só deve ser possível encontrar a melhor linha de ônibus para um determinado destino, como também poder contar com uma previsão fidedigna de horários de passagem ou tempo de espera até a chegada do próximo trem.

TATO, VISÃO, AUDIÇÃO
Além da inter-relação da estação com seu entorno, parte essencial de um projeto de infraestrutura urbana, os elementos que a compõem (como pisos táteis, catracas com sensores automatizados) devem ser cuidadosamente pensados e especificados. "Às vezes o piso tátil ajuda o deficiente visual, mas atrapalha o cadeirante, mães com carrinhos de bebê ou até mesmo pessoas que andam de salto. Além disso, há outros jeitos de cuidar de quem não enxerga, como especificar canaletas- guia que orientam bengalas, deixando o centro dos corredores livres para os fluxos", pondera Ricardo.
Nos pisos, independentemente da escolha por pedras ou materiais cerâmicos, é essencial que juntas não gerem trepidação - por isso recomendam-se as secas, não sextavadas. Também as superfícies devem ser lisas, mas antiderrapantes. E a questão não é só de segurança, mas também de acessibilidade e facilidade de manutenção dos fluxos de passageiros, sem a interrupção por ruídos. Por fim, materiais adotados têm de ser duráveis e fáceis de limpar. Afinal, os custos serão altos, e obra é pública.
Impossível não pensar que deve haver luz zenital. Se o sistema de cobertura adotado - seja de vidro, acrílico ou metálico - impedir a dissipação de gás carbônico por ser fechado, não se pode deixar de prever sistemas de exaustão e insuflação. "A cobertura é inteligente não por usar um material específico, mas pela forma como ele é aplicado, em cada situação, e como é relacionado ao programa de uso", explica Ricardo Corrêa.
Nesse ponto, o próprio design da cobertura faz toda a diferença. "O uso de telhas metálicas com isolantes (do tipo sanduíche) não garantem que o terminal de ônibus não ficará abafado; é preciso projetar ventilação cruzada, além do isolamento."
Ao mesmo tempo em que a cobertura deve dissipar gases e ruídos (sem ecos), proteções laterais em elementos vazados ou painéis perfurados são importantes para a ventilação.

Árvores estruturais
Estação Uruguai, na zona Norte do Rio de Janeiro, faz parte da extensão da Linha 1 do Metrô, ocupando antigo estacionamento de trens e carros conhecido como Rabicho da Tijuca. Com pés-direitos reduzidos e uma plataforma composta de 138 pilares de concreto, que impossibilitavam a sua nova função de uso, o JBMC Arquitetos apostou no desenvolvimento de um carrinho hidráulico capaz de girar, inclinar e transportar 23 pilares tipo árvore metálicos, que chegavam inteiros da fábrica, por espaços exíguos. Eles substituíram os pilares de concreto, com transferência de cargas que não prejudicou as paredes-diafragmas preexistentes. Os acessos à plataforma de embarque exigiram estudo à parte: como os corredores eram muito estreitos, escadas rolantes tiveram de ser inseridas de forma intercalada, a fim de não interromper fluxos de entrada e de saída de passageiros nem rotas de fuga para emergências.

Foto: Nelson Kon


FICHA TÉCNICA
ARQUITETURA JBMC Arquitetos (Beatriz Pimenta Corrêa, Cecilia Pires, Cynthia Melo, Emiliano Homrich, Frederico Freitas, Gabriela Assis, João Batista Martinez Corrêa, Pedro Câmara e Sandra Morikawa; estagiários Caio D'Alfonso, Carina Oshita, Diogo Luz, Mariana Nito, Nara Borges e Raffaella Yacar; técnicos Flávio Baraboskin e Marco Pelaes) e colaboradores Carlos Azevedo Arquitetura, Elcio Yokoyama Arquitetura
ÁREA CONSTRUÍDA 13.773,96 m²
CONSULTORES Paulo Ricardo Mendes (estrutura) e Milton Coimbra (ventilação e ar-condicionado)
CONSTRUÇÃO Construtora OAS
PROJETO DE FUNDAÇÕES E DE ESTRUTURA METÁLICA Casagrande Engenharia
PROJETO DE ESTRUTURA DE CONCRETO Noronha Engenharia/Casagrande Engenharia
ESTRUTURA METÁLICA Usiminas

Ônibus rápido
Edwiges Leal, da B&L Arquitetura, foi a responsável pelo projeto das seis estações centrais do sistema Bus Rapid Transit (BRT) de Belo Horizonte. Em área tombada, a estação deveria ter capacidade de receber um ônibus a cada dez segundos e apresentar transparência. A cobertura curvilínea de alumínio tem recheio de lã de vidro e não fecha o horizonte sobre o patrimônio histórico. O piso recebeu placa cimentícia de alta performance, impermeabilizada para suportar lavagem, e as portas são sinalizadas com piso tátil amarelo. Os pilares, cilíndricos, são interligados por arcos que escondem toda a fiação. A cada parada, há cinco catracas de cada lado, com uma sexta para portadores de necessidades especiais. As estações têm 5 m de largura por 85 m de comprimento, mais rampas laterais e escadas de acesso, somando 100 m. "Estão a 0,95 m do solo, para garantir embarque e desembarque no mesmo nível do ônibus", diz Edwiges. Estima-se que essas estações atendam, por hora, de 20 mil a 40 mil passageiros.
Foto: Jomar Bragança
 
Foto: Jomar Bragança
 


FICHA TÉCNICA
ARQUITETURA E DESIGN B&L Arquitetura
ÁREA CONSTRUÍDA 585 m² (área da plataforma), 1.082 m² (em cada uma das seis estações)
EXECUÇÃO Consórcio Tratenge e Cetenco
PROJETO ESTRUTURAL MV Projetos (Via Consórcio Consol/ Enecom)
PROJETO maio de 2011
CONCLUSÃO DA OBRA 2014

Preservação da história
A nova estação intermodal de Estrasburgo, na França, devia ser transparente, como uma bolha de vidro, mas com conforto térmico. Para isso, a base geométrica do anexo ao prédio histórico do século 19 reproduz uma estrutura toroidal metálica - a repetição dos raios do toro em sequência forma um cilindro. Uma estrutura primária de arcos sustentados por colunas tubulares fixadas em cabos tensores gera a curvatura da bolha, e outros tensores, que radiam do arco como num aro de bicicleta, são fixados aos pés das colunas. A estrutura secundária são tesouras de cobertura, e uma estrutura terciária, sustentada por vigas, estabiliza o sistema de perfis metálicos curvos que recebem as folhas de vidro de 12 mm. O sistema é composto de folhas temperadas extra-brancas, frita cerâmica, folhas bicromáticas de densidade variável, laminados e filme de proteção solar (Southwall XIR 72/47). O espaço do eixo intermodal para linha TGV é amplo, com piso de granito levigado antiderrapante e acessos por escadas rolantes e rampas.
Um sistema de ventilação natural que usa túneis subterrâneos preexistentes para trocas com o ambiente fechado da bolha minimiza o gasto energético com sistemas de refrigeração ou exaustão de fumaça.

Foto: Michel Denancé
 


FICHA TÉCNICA
ARQUITETURA Arep - Jean-Marie Duthilleul e François Bonnefille
DESIGN RFR Group
EXECUÇÃO Glasbau Seele
ÁREA CONSTRUÍDA 2,5 mil m²
PROJETO ESTRUTURAL RFR Group
AÇO DA ESTRUTURA Glasbau Seele
PROJETO 2003-2007
CONCLUSÃO DA OBRA 2007

Desempenho metálico
As 57 estações BRT da Transoeste, no Rio de Janeiro, são um caso de uso extensivo de soluções metálicas - estrutura, cobertura e vedação - para agilizar as obras. Uma cobertura metálica suportada por longarinas e transversinas calandradas de seção "I" veste toda a plataforma e o berço de parada dos ônibus, e se dissocia do forro da plataforma, criando um colchão de ar para ventilação cruzada do entreforro. O forro é de painel autoportante de 100 mm de espessura, com isolamento de EPS e revestimento de chapa de aço de 0,5 mm, além de captadores eólicos. A ventilação natural também é favorecida pela grande dimensão da cobertura. Um domo translúcido captura luminosidade que é transmitida por tubo revestido de material reflexivo até um difusor. À noite, réguas e painéis de led entram em ação. Os fechamentos são feitos de esquadrias com vidro laminado de segurança e filtro de radiação (no embarque/ desembarque) ou de chapa de aço perfurada com barra antipânico para saída de emergência.

Foto: Celso Brando


FICHA TÉCNICA
ARQUITETURA E URBANISMO JC&S Arquitetos Associados - Jozé Candido Sampaio de Lacerda Jr., Maria das Graças Lacerda, Bárbara Freitas, Priscilla Chiesse, Daniel Kamitani, Alexandre Pessoa e Diogo Antonio de Souza, e estagiários Maria Clara Negrellos de Queiros Mattoso Moreira, Mariana de Oliveira Gomes, Frederico Miranda Bittencourt, Marcio da Silva Dias, Renata Saback Rodrigues
CONSULTORIA EM URBANISMO Dietmar Starke
PAISAGISMO JC&S Arquitetos Associados
LUMINOTÉCNICA Peter Gaspar Lighting Design
PROGRAMAÇÃO VISUAL LSD - Luiz Stein Design
ESTRUTURA E FUNDAÇÕES Perazzo Engenharia
ELÉTRICA E HIDRÁULICA Engeproj
CONSTRUÇÃO Odebrecht /Sanerio
ESTRUTURA, CHAPAS DE AÇO PERFURADO E TELHAS MBP/Projetec
DOMOS Solatube
PORTAS AUTOMÁTICAS Grupsa e Prime
VIDROS LOW-E Cebrace
CATRACAS Wolpac
PISO PODOTÁTIL Eliane
LUMINÁRIAS PowerLED
PAINÉIS MBP
AÇO INOX Pardox Aço Inox
DATA DO PROJETO 2011
DATA DA CONCLUSÃO DA OBRA 2012

Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/245/artigo324015-1.aspx

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