Vida-arte

O autor do famoso Não Verás País Nenhum e de outros 40 livros passeia por Inhotim, oásis de obras contemporâneas surpreendentes, mata nativa e jardins incríveis no interior mineiro

 Ignácio de Loyola Brandão
Claudia - 09/2014

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Bruno Senna

 

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Flor-cadáver. Não se assustem com o nome. Ela é raríssima, linda e considerada a maior flor do planeta. Vê-la é um privilégio de quem vai a Inhotim. Espécie nativa da Ásia, ela floresceu pela primeira vez no Brasil em 2010. Inhotim é o único lugar da América Latina que possui um exemplar. A flor fica na Estufa Equatorial e é apenas uma das centenas de razões pelas quais você deve ir a Inhotim. As outras são as 500 obras de arte de um dos maiores museus abertos do mundo, onde se pode conhecer a história da arte contemporânea brasileira e internacional.
Inhotim só tem um problema. Acontece que, indo uma vez, você quer ir outra. Tendo ido uma segunda, acha que ainda não viu tudo e programa nova visita. Adorável hábito! Inhotim se faz e se refaz, e sentimos a cada vez que algo foi acrescentado à nossa vida. Lugar não estático, cambiante, tem sempre coisa nova.
Os adultos se apaixonam pelas obras de arte inseridas no parque e pela atmosfera. As crianças e os jovens, pelos passeios dentro de um jardim que é bosque, é floresta. Quantas vezes vi a meninada espantada em meio às obras de Adriana Varejão, Tunga, Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Amilcar de Castro, Lygia Pape... Ali é onde se desperta para a arte.
Inhotim? Do que eu falo? De uma das maravilhas do Brasil, o Instituto Inhotim (ao ouvir Parque Inhotim, saiba, é a mesma coisa), em Brumadinho, Minas Gerais, a 60 quilômetros de Belo Horizonte. Desça no aeroporto de Confins, alugue um carro ou apanhe um ônibus. Museu a céu aberto, dentro de uma área de visitação de 110 hectares mais uma Reserva Particular do Patrimônio Natural de 145 hectares, situada no domínio da Mata Atlântica. Há jardins, galerias, edificações e fragmentos de mata, cinco lagos ornamentais e incontáveis espelhos-d¿água. O jardim botânico tem 5 mil espécies e a maior coleção de palmeiras do mundo, com 1,5 mil tipos. Burle Marx foi inspiração desse parque.

Bruno Senna

    Caleidoscópio, do dinamarquês Olafur Eliasson

Décadas atrás, era a fazenda de um americano chamado Timothy. Como era difícil para os caboclos mineiros pronunciarem tal nome, abreviaram para Tim, ao qual acrescentaram o respeitoso Nhô (senhor). Nhô Tim. Daí a Inhotim foi um passo.
Você desce em um imenso estacionamento e não tem a menor ideia da grandeza. Apanhe um dos carrinhos disponíveis ou vá a pé, devagar. Aconselho levar tênis, pois a caminhada é o charme. As descobertas são espaçadas e lentas. Há monitores, se você quiser, mas apanhe mapas e roteiros e faça suas escolhas. Todas levarão a momentos inusitados. Os caminhos são largos, seguem em curvas, estreitam, tornam-se atalhos. Súbito você atravessa um gramado e se vê à beira da água. Tudo sombreado, com canteiros de flores que não se repetem. Desestresse total.
Conforme o trecho escolhido, você depara com a Piscina, de Jorge Macchi, na qual cada degrau traz uma letra do alfabeto. Ou encara o Narcissus Garden, de Yayoi Kusama, com bolhas resplandecendo ao sol. Ou dá com a meninada correndo por dentro das paredes coloridas de Invenção da Cor, de Hélio Oiticica. E o que dizer dos alucinantes ambientes vermelhos de Cildo Meireles? O que seria loucura na vida normal torna-se arte - e a gente vê que não é insanidade, é prazer.
Recomenda-se que as fotografias de Miguel Rio Branco sejam vistas "com reservas" pelas crianças, mas mandei meus netos entrarem e eles curtiram e "conheceram" a vida. Visite o Galpão de Janet Cardiff e Georges Bures Miller. Sente-se, ouça os sons que chegam em línguas e tons que se alternam e vá mudando de cadeira; tive tempo, é excitante.
A certa altura, você vai perceber que está diante de coisas inimagináveis em matéria de arte. Vai sentir a extensão da palavra arte ouvindo sons da terra, no Sonic Pavilion, de Doug Aitken. Um tubo traz para alto-falantes instalados em uma redoma de vidro os sons que sobem das profundezas, vindos de 200 metros abaixo da terra, estranhos e indefiníveis.

Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/cultura/vida-arte-instituto-inhotim-807434.shtml

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