Arquitetura sustentável: onde e como aprender

Por Ana Carolina Lourençon

Edição 212 - Novembro/2011

Shutterstock/Archidea

Placas solares, painéis fotovoltaicos, sistemas de captação de águas pluviais e estações de tratamento de esgoto doméstico com possibilidade de reúso da água tratada. Cada vez mais requisitados pelos clientes, sistemas como estes exigem dos arquitetos conhecimento técnico para serem incorporados aos projetos. O fato é que a maioria das faculdades brasileiras de arquitetura não oferece cursos sobre a aplicação deste tipo de tecnologia na construção, atendo-se, quase sempre, a disciplinas ligadas ao conforto térmico e acústico.

"Bons projetos das décadas de 1960 e 1970 já traziam consigo a preocupação de ser sustentável. Os arquitetos procuravam uma boa implantação para os edifícios, protegiam as fachadas mais solicitadas pelo sol e possuíam sistemas de ventilação cruzada. Mas a necessidade de ser sustentável aumentou junto com a preocupação da sociedade em relação ao desperdício de materiais e uso de produtos recicláveis", afirma o arquiteto Rodrigo Marcondes Ferraz, sócio do escritório FGMF.

O atual contexto exige da arquitetura mais do que a adoção de medidas criteriosas em relação à implantação, ventilação, orientação solar e sombreamento das aberturas, por exemplo. "Os clientes nos pedem inovações sustentáveis nos projetos, o que antes quase não existia. Hoje nos pedem reaproveitamento de água, consumo eficiente de energia e otimização da infraestrutura", explica o arquiteto Carlos Leite, que fez pós-doutorado na área de desenvolvimento urbano sustentável na Universidade Politécnica da Califórnia.

CURSOS OU ESPECIALIZAÇÃO?

Para atender a essas novas demandas, muitos arquitetos buscam aprimorar o currículo seja com cursos que duram algumas horas, seja com especialização latu sensu ou até mestrados e doutorados. "Certamente a especialização qualifica muito mais do que um curso rápido, mas depende da disponibilidade de tempo do aluno e do uso que ele quer fazer das informações. Não faz sentido fazer uma pós-graduação no assunto se o objetivo não é ser especialista em sustentabilidade", ressalta Carlos.

Ou seja, se a intenção for apenas conhecer sobre práticas sustentáveis e aprofundar-se sobre um tema ou outro, cursos rápidos cumprem bem este papel. Mas, se o intuito é tornar-se um consultor, uma pós-graduação é a opção mais recomendada.

PRINCIPAIS CURSOS

No Brasil, os cursos de pós-graduação são oferecidos por diversas faculdades como Belas Artes, Mackenzie, Fundação Getúlio Vargas e USP, em São Paulo, PUC, no Rio de Janeiro, Universidade Católica de Salvador, na Bahia, na Unifei, de Itajubá e Universidade Potiguar, no Rio Grande do Norte. Os temas dos cursos variam entre gestão de sustentabilidade, práticas em projetos ambientais, mudanças climáticas e gestão de recursos hídricos.

A Ufscar, em São Carlos, SP, e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, oferecem mestrado em sustentabilidade e gestão ambiental.

Existem ainda os MBAs, que podem ser encontrados na Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, na Universidade Salvador, na Bahia, e no GBC Brasil (Green Building Council), unidade de Goiânia.

Para quem não tem tanto tempo disponível para fazer cursos com duração mínima de seis meses, como é o caso de pós-graduações, especializações e MBAs, existe a opção de fazer cursos livres, que podem durar de algumas horas até alguns dias. Entre os temas mais comuns estão conceito e aplicação da sustentabilidade e impactos ambientais de projetos. Para quem deseja obter certificações em seus projetos, a Fundação Vanzolini, o GBC Brasil e a Academia de Engenharia e Arquitetura (AEA) oferecem cursos preparatórios sobre o tema.

CURSOS GRATUITOS

Existem cursos gratuitos oferecidos por alguns fornecedores de sistemas, como os de aquecedor solar, que dão treinamento para arquitetos com duração de dois dias em uma espécie de universidade, com material didático e professores especializados. Lá, aprendem-se detalhes como a inclinação e orientação solar adequadas dos coletores, posicionamento das placas e dimensionamento dos sistemas de aquecimento.

Além do treinamento, fabricantes oferecem atendimento pós-venda aos arquitetos com um sistema de tira-dúvidas e orientações. "Os cursos ministrados por fornecedores costumam ser proveitosos e pouco tendenciosos porque, afinal, a liberdade de especificação compete ao arquiteto", explica a arquiteta Ana Rocha Melhado.

FOCAR OU ABRIR? SOZINHO OU NA ESCOLA?

Ana acrescenta que é possível encontrar na internet uma vasta bibliografia sobre o assunto, com manuais à disposição dos arquitetos para download gratuito. Mesmo assim, acredita que fazer cursos com quem entende do assunto seja uma opção melhor do que ser autodidata. Outra opção é fixar o aprendizado em um item específico em vez de fazer um curso de sustentabilidade que corra o risco de ser amplo demais e ensinar pouco.

PROFISSIONAIS E MERCADO

As construtoras e escritórios de arquitetura que almejam certificações, como Aqua ou Leed, frequentemente contratam profissionais especialistas em construções sustentáveis e selos. O curso preparatório para tornar-se um especialista em Leed, o chamado Leed AP, é ministrado pelo GBC Brasil.

Para ser um consultor de sustentabilidade, não é obrigatório nenhum curso específico, mas tanto a Fundação Vanzolini quanto o GBC Brasil oferecem diversas modalidades de cursos específicos que introduzem a aprofundam o tema com disciplinas como construção sustentável e gestão de resíduos.

ESPECIFICAÇÃO DE MATERIAIS

Independentemente dos selos verdes, um bom projeto deve usar materiais que não agridam o meio ambiente e, sobretudo, possam ser recicláveis. Não existe um curso para saber especificá-los - isso se aprende na prática. Uma alternativa criada no Brasil é o selo de sustentabilidade dos produtos, o Sustentax. Ainda assim, segundo a arquiteta Ana Lúcia Siciliano, por mais ecologicamente correto que um material possa parecer, sua total eficiência depende de um estudo de caso. Isso porque seu uso deve depender de outros fatores como distância entre a obra e o local de extração, qualidade do transporte, possibilidade de reposição e manutenção.

Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/212/artigo240826-1.aspx

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