Conheça estratégias e ferramentas usadas por escritórios de arquitetura para gerir o conhecimento

Por Giovanny Gerolla

Edição 219 - Junho/2012

A solução tem de estar à mão, a qualquer hora. Pense em um projeto de arquitetura como um produto resultante de um fluxo de informações provenientes das vontades do cliente, de soluções técnicas prévias e de análises do terreno. Quanto maior o escritório, ou quanto mais tempo de vida tiver, maior será a quantidade de informações e experiências a dividir, armazenar e consultar no futuro. Gerir conhecimentos é sistematizar tudo isso, para que haja acesso fácil e imediato a este know-how adquirido.

"Um escritório que tenha gestão de conhecimentos terá mais agilidade em dar respostas, produz melhor e mais em menos tempo, com menor número de idas e vindas, sem retrabalhos necessários e desnecessários", justifica o professor Silvio Melhado, do Departamento de Engenharia da Construção Civil da Escola Politécnica da USP e coordenador de uma linha de pesquisa em gestão de projetos.

Isso pode fazer toda a diferença em momentos em que a demanda de trabalho é intensa.

FERRAMENTAS ALIADAS
A gestão de conhecimento se dá paralelamente em diversos níveis - tecnológico, de materiais, de desempenho, de normas, de certificações, ou qualquer outro tipo de informação conectada ao trabalho do arquiteto. A plataforma BIM, por exemplo, permite reunir no modelo tridimensional as informações técnicas necessárias para o projeto como a especificação de materiais, suas características físico-químicas, resistências mecânicas e custos. "É possível compartilhar soluções de projeto (arquitetura, hidráulica, estruturas etc.) com informações cruzadas de bibliotecas, produtos e especificações, tudo em formato que propicie o intercâmbio entre softwares, e aqui é importante que os fornecedores e fabricantes dos sistemas construtivos nutram o sistema em parceria com os escritórios", afirma Silvio. Mas isso apenas em um projeto específico.

Mas quando se parte para o gerenciamento de várias obras do escritório, o ideal é uma ferramenta que integre as informações, mesmo que as mais simples. "Trabalhamos na base do Windows", relata o arquiteto Luis Capote, sócio do escritório Roberto Loeb Arquitetura, que dispõe de um sistema para que os servidores armazenem todos os projetos, suas etapas de desenvolvimento, últimas revisões, aprovação legal e concorrências.

Para facilitar a interação de conteúdos e, principalmente, a troca de conhecimentos entre sua equipe, a construtora e incorporadora Tecnisa dispõe, desde 2009, de uma plataforma para gestão do conhecimento chamada Tecnisawiki. De fácil interação, a ferramenta possui um editor de textos que recebe de PDFs a arquivos 3D.

Lá permanecem os registros de obra, projetos, indicadores de qualidade, assistência técnica, catálogo de melhores práticas, relatórios de pesquisa e desenvolvimento: tudo em um portal, que pode ser acessado de qualquer computador, via web. "Já arquivos de AutoCAD ficam no GDOC, outra plataforma de dados - está acessível somente a partir da empresa", explica a arquiteta e engenheira Juliana Pinheiro, assistente do departamento de desenvolvimento tecnológico da Tecnisa. "O Tecnisawiki facilitou o desenvolvimento de projetos interdepartamentais, melhorando o relacionamento entre pessoas que agora estão o tempo todo em rede", conclui.

QUEM SE ENCARREGA
A maioria dos escritórios de arquitetura brasileiros não sente a necessidade de investir em sistemas mais sofisticados para fazer a gestão do conhecimento e tampouco pensa em contratar um funcionário específico para a função. A prática, no entanto, já é comum em grandes escritórios internacionais como o norte-americano Skidmore, Owings & Merrill (SOM).

"Quando visitei o SOM há 30 anos, já havia um profissional de gestão de conhecimento. Eles têm escala de produção para isso", diz Roberto Loeb. "Caso contrário, não haveria como processar e gerir todo o conhecimento que vem de fora e é produzido dentro da empresa, e ainda encontrar tempo para atender estudantes e jornalistas, publicar, participar em reuniões com clientes e viajar."

Para Roberto, a realidade brasileira indica ser mais factível investir em sistemas complexos e profissionais capacitados para gestão em grandes escritórios de engenharia - "como esses com mais de mil funcionários". Mas reconhece o quanto seria benéfico para a sua empresa dispor de um gestor-arquiteto só para desenvolver uma base de dados. "Seria quase como uma governanta fantástica: entenderia nosso trabalho e teria uma visão mais aberta, capaz de concentrar o olhar administrativo sobre o projeto", diz.

QUANDO IMPLANTAR
Para Silvio Melhado, não é o tamanho da empresa que determina o melhor momento para a implantação de um sistema de gestão de conhecimento, mas sua consolidação no mercado. "Se a empresa está em uma fase muito inicial ou ainda não possui características bem definidas, não é o momento para isso, já que a base não está firme", justifica o engenheiro. "Mas há modelos de sistemas ajustáveis a diferentes tamanhos de empresa", defende.

REPERTÓRIO AMIGO
Uma obra, muitas vezes, revela quem é o seu autor pela presença de soluções que se tornam emblemas de um arquiteto. "Isso nos caracteriza no mercado. Temos algumas soluções estruturais, detalhes de portas ou balcão e iluminação natural, uma viga-vagão para residências ou nicho típico de lareira e TV que armazenamos para outros projetos", diz o arquiteto Pedro de Melo Saraiva, do escritório Pedro Paulo de Melo Saraiva Arquitetos Associados.

O perigo, segundo o arquiteto, é desenvolver projetos muito padronizados, sem abrir espaço para a criatividade. "Buscamos aprimorar as soluções que já foram aplicadas, para não perder nossa cara, nem o trabalho já feito", explica.

Por outro lado, Pedro entende que quem produz em volume de grande empresa não deve desperdiçar tempo, talento e trabalho. "A gente não faz gestão de um jeito muito profissional; aqui todos têm acesso para ver todos os projetos e há interação entre os arquitetos. Mas se a empresa crescer demais vai ser essencial ter um sistema de gestão de conhecimentos, porque começamos a perder o controle sobre a produção em cima deste ativo da empresa, que é o know-how gerado por nós e que marca nossa imagem."

Juliana Pinheiro, da Tecnisa, reconhece o risco de transformar seu processo criativo em copy-paste de projetos. Mas acredita que a ferramenta também ajuda a quem aposta - e precisa - de inovação. "Inovar só é possível a quem tem informações próprias, mas ao mesmo tempo sabe captar informações do mundo; quem se fecha vai sempre fazer mais do mesmo", aponta.

Para gerir bem o conhecimento

● Incentive a criação de grupos multidisciplinares em sua empresa para facilitar a troca de informações entre setores

● O gestor deve estar familiarizado à cultura da convergência tecnológica. Se este não é o seu caso, considere investir em cursos de especialização ou de pós-graduação lato sensu no tema. A Poli-USP, por exemplo, oferece cursos na área

● Se não pode dispor de uma pessoa só para capturar, analisar e redistribuir o conhecimento, delegue o serviço a uma ou mais pessoas do escritório

● Encontre um software fácil de utilizar e que consiga reunir as informações mais importantes de seus projetos

Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/219/gestao-do-conhecimento-porque-fazer-260431-1.aspx

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