Os prós e os contras de virar noites fazendo projeto: a opinião de nossos leitores

Ateliê da Escola de Arquitetura da Universidade de Yale, 2008. Imagem via Ragessos / Wikipedia CC                                                          Ateliê da Escola de Arquitetura da Universidade de Yale, 2008. Imagem via Ragessos / Wikipedia CC

Recentemente publicamos em nossa página uma matéria que indagava nossos leitores sobre os efeitos da cultura de passar noites em claro nos ateliês das universidades fazendo os trabalhos de projeto. Perguntas como: “longas jornadas de trabalho são boas ou ruins para arquitetos e aspirantes a arquitetos?”; ou “fechar o ateliê à noite ajuda efetivamente a lidar com essa cultura?” levaram o publico a refletir sobre esse hábito tão recorrente nas escolas e faculdades de arquitetura no Brasil e no mundo.
A repercussão da matéria mostra que este é um assunto, no mínimo, controverso, levantando – nos mais de 60 comentários em nossa página oficial e (muitos mais em nossa página no Facebook) – opiniões que divergem, sobretudo, para duas vertentes: a ausência de uma grade curricular integrada prejudica o desempenho dos alunos e colabora para essa cultura de virar noites; e a desorganização dos estudantes seria a principal causa das noites em claro.
A sobrecarga de atividades e tarefas também foi bastante citada, sendo apontada quase como insanidade por parte dos docentes, e se relaciona estreitamente com a falta de uma organização curricular que integre melhor as disciplinas, tornando o aprendizado mais completo e menos exaustivo para os estudantes.
Alguns de nossos leitores também creditam a cultura das noites viradas à combinação da falta de organização pessoal com a desestruturação dos cursos de arquitetura, isto é, a responsabilidade seria compartilhada e a solução para o problema em questão deveria vir de ambas as partes.


Vale a pena virar noites fazendo projeto nas universidades?

Estudantes de arquitetura têm a reputação - talvez mais que qualquer outro curso - de virar noites, ou mesmo desaparecer dos círculos sociais por vários dias, para fazer seus projetos em um lugar frequentemente intimidador: o ateliê.

Veja o artigo: http://www.archdaily.com.br/br/764194/vale-a-pena-virar-noites-fazendo-projeto-nas-universidades

Há também opiniões menos acusativas, que apontam para uma inevitabilidade das longas jornadas de projeto; assim, a cultura das noites em claro no ateliê seria vista quase que de modo benéfico: melhor virar a noite em grupo na faculdade que sozinho em casa.
A seguir, compilamos alguns comentários que contribuíram para a discussão sobre os efeitos (positivos e negativos) desse hábito enraizado no ensino da arquitetura. As opiniões dos leitores foram divididas em seções, mas percebe-se que muitas delas se entrelaçam e poderiam figurar em mais de um dos tópicos definidos abaixo:

UMA MELHOR ORGANIZAÇÃO DO CURSO AJUDARIA A EVITAR NOITES EM CLARO
A complexidade das tarefas é elevada e talvez a questão pudesse ser resolvida com o uso de ferramentas de projeto mais adequadas:
O curso é muito complexo, é muita coisa para aprender e pouco tempo. Talvez se a faculdade tivesse mais que 5 anos ajudaria, mas é impossível isso e impossível não virar noites com tantas coisas a se fazer em um projeto, tenho um ateliê na minha casa e viro noites. Muitas universidade também só aceitam trabalho manual (á lápis). Talvez se deixassem entregar impresso com o uso da ferramenta AutoCAD, que dominamos muito, ajudaria a evitar noites sem dormir com lapiseira, esquadros etc.. [Thainan Pereira]

Um programa disciplinar pensado de modo mais global e integrado tornaria as entregas menos exaustivas:
Creio ser impossível passar o curso todo sem uma noite virada. Apesar da faculdade não oferecer um ateliê aberto durante a noite, é virtualmente impossível chegar em casa depois do segundo turno de faculdade e não se manter nas atividades da faculdade. Do contrário, não há tempo hábil para fazê-las. O curso de arquitetura e urbanismo é extremamente trabalhoso e as disciplinas de projeto costumam acumular tarefas para o final do semestre, quando também se acumulam provas das disciplinas teóricas. Acredito que as viradas de noite seriam menos frequentes se a distribuição das atividades ao longo das disciplinas fosse pensada de modo a facilitar a vida do estudante. O que quero dizer é que não é necessário perpetuar a cultura de sofrimento sobre a mesa de projeto, porque é mais eficiente para o aprendizado e a evolução da profissão um aluno que aprenda mais, que tenha uma visão global de arquitetura; e isso só seria possível se o foco da faculdade não fosse somente as disciplinas de projeto; ou, ainda, se o programa disciplinar fosse pensado de forma global, de modo a evitar o acúmulo de atividades e melhorar o rendimento e a aprendizagem multidisciplinar. Fechar o ateliê é menos importante do que repensar a forma de ensino e avaliação na faculdade de arquitetura e urbanismo. [Mel Sincas]

A organização da faculdade estimularia a organização do estudante:
Respondendo ao tema do texto; de nada serve a faculdade fechar suas portas, pois os alunos continuarão trabalhando em casa! A faculdade deve é rever seus conceitos, os programas e elementos cobrados para cada projeto. Cabe a faculdade sim organizar um cronograma de etapas e entregas auxiliando o aluno a se organizar. Pois um cronograma de trabalho organizado também faz parte da formação do Arquiteto. [Diego Both]

O mesmo tema para disciplinas diferentes:
O Felipe Aguiar levantou uma questão muito interessante em relação a uma "integralização" das matérias. Cada professor trabalha de forma isolada. Mas e se o mesmo projeto, por exemplo, de habitação coletiva, fosse usado para mais de uma matéria ao mesmo tempo? Talvez essa fosse uma solução muito efetiva, pois para um estudante que divide seu tempo entre faculdade e trabalho, as entregas de projeto se tornam um desafio cada vez maior. [Leonardo Santos]

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Screenshot do documentário "Archiculture". Cortesia de Arbuckle Industries                                                           Screenshot do documentário "Archiculture". Cortesia de Arbuckle Industries

SE OS ESTUDANTES FOSSEM MAIS ORGANIZADOS, NÃO PRECISARIAM VIRAR NOITES

Organizar o dia para dormir à noite:
Estou no terceiro ano da faculdade, e até então não virei uma noite sequer trabalhando... Sem "pré-conceituar" meus colegas, até porque tenho amigos que viram a noite também, mas a meu ver isso é um pouco de falta de organização do seu tempo. Trabalho em um escritório de arquitetura e estudo todos os dias a partir das 17:30 até 22:00, organizo meus trabalhos e projetos desde o começo do semestre, sabendo que no final é sempre muito corrido. Já perdi inúmeras festas e viagens com amigos, já fui dormir as 2 horas da manhã terminando de pintar projeto.. mas não virei a noite, ainda! E espero conseguir organizar meu tempo sempre, pra não precisar me desgastar tanto! Mas isso é de cada um, tenho amigos que preferem virar noite e no outro dia ter tempo de fazer academia ou descansar depois do almoço. Pra mim, meu dia é sagrado, tem que render.. e por isso vou tentar sempre de tudo pra não sacrificar minhas noites de sono. [Sofia]

O despreparo do estudante o leva a passar as noites em claro fazendo seus trabalhos de faculdade:
A postura de aspirantes a arquitetos durante a jornada da faculdade realmente é esta; passar as noites em claro fazendo seus projetos, quase sempre alterados toda semana pelos professores/orientadores. Não creio que isso seja incentivado pela faculdade, mas o despreparo de algumas pessoas faz desta a única saída. Meu ponto de vista que faz com que você não precise de noites e noites sem dormir é: ORGANIZAÇÃO! [Priscila Elias]

Organização, disciplina e foco:
Sou formada há 28 anos e nunca virei noite trabalhando, questão de disciplina e foco. Falta isto a muitos profissionais, que começam a fazer vários projetos ao mesmo tempo e não se organizam, nem quanto a prazos. [Rosi Hallak]
A maior culpa é do próprio aluno. É questão de organização sim. Costumava virar as noites logo quando iniciei a faculdade, depois de 3 anos aprendi a organizar meu tempo de estudo e raramente viro uma noite projetando... [Guilherme Breda]

OS ALUNOS ESTÃO SOBRECARREGADOS
Se não virar a noite, reprova na disciplina:
Como se o estudante tivesse outra escolha... O que ele pode decidir é se vai se entupir de trabalho ou reprovar a disciplina. Muitos alunos precisam trabalhar e nossos professores acreditam que todos ali vivem para a universidade, o que seria até um sonho, e estipulam prazos que muitas vezes acho absurdo. [Francisco]

A maior parte do tempo é gasto tentando "vender" o projeto para o professor:
É absurdo o volume de trabalhos que os estudantes têm, ainda mais se considerado que a maior parte dele é de desenho, tratamento de imagem ou diagramação. Até que ponto precisamos nos preocupar em "vender" nosso "trabalho" nos ateliês da faculdade? Não seria incrivelmente mais consistente destinar maior tempo e esforços no exercício da compreensão espacial, das dinâmicas sociais, e tantas outras formas de conhecimento que contribuem para uma boa arquitetura? [Luana Bessa]

Talvez a solução seja trocar "quantidade" por "qualidade" através da integração das disciplinas:
Como o Leonardo Santos disse, não cabe à universidade regular a jornada de trabalho dos estudantes, porem, seria um problema, em especifico no curso de arquitetura, a integração dos professores, entre si, pois parece que eles nunca se veem, e passam toneladas de trabalhos para entregar toda semana, e isso faz com que nós, estudantes de arquitetura, percamos varias horas de sono para entregar os trabalhos. Acredite, fechar os ateliês não resolverá nada, pois ainda se pode trabalhar na casa de alguém do grupo ou na sua própria quando o trabalho for individual, mas se os professores se inteirassem um com a matéria do outro, e subsistissem a ideia de "quantidade" por "qualidade", essa sim seria uma ótima solução para este problema. [Felipe Aguiar]

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Screenshot da série "How I Met Your Mother"                                                        Screenshot da série "How I Met Your Mother"

RESPONSABILIDADES COMPARTILHADAS: FALTA ORGANIZAÇÃO POR PARTE DO CURSO E DOS ESTUDANTES

Cronogramas apertados acabam causando estresse e desespero:
O ateliê é uma ferramenta básica na troca de informações que até ajudam no rendimento dos trabalhos, portanto fechar o ateliê não é uma boa saída, já que geralmente nós (os alunos) estendemos nossos horários de estudos e acabamos levando para a casa, o curso é complexo e trabalhoso mesmo, o caso é que as faculdades deveriam organizar melhorar os cronogramas assim como os alunos, organizar horários, afim de não acumular atividades/avaliações apenas nos finais de semestre. Talvez uma boa forma seria trabalhar melhor a interdisciplinaridade, fazendo com que a grade curricular seja mais útil e dinâmica, por exemplo, avaliações que sirvam para mais de uma disciplina, ou um calendário menos cumulativo de atividades e mais distribuído, de forma que as entregas não se choquem, pois trabalhar com cronogramas muito apertados faz com que essa pressão seja muito forte, causando stress e desespero muitas vezes, isso acaba desgastando, porém isso vai de cada um de nós que devemos achar formas e horários mais produtivos e focar para render, já que muito também preferem trabalhar em horários diferenciados dos convencionais. [Alice Bortoluzzi]

Uma falha de ambos os lados:
Acredito que é uma falha de ambos os lados: na academia, onde o aluno e soterrado de tarefas e trabalhos, com prazos absurdos; e mesmo o aluno, que não sabe ou não consegue administrar o seu tempo. [Guilherme Ceon]

FECHAR O ATELIÊ NÃO MUDARÁ NADA

Trabalhar no ateliê com outros estudantes ajuda a tornar a atmosfera mais leve:
Sou estudante de arquitetura e quase sempre viro noites perto das entregas. Na minha universidade no Rio, os ateliês fecham, o que nos obriga a ir pra casa fazer nossos trabalhos. Quando fiz intercâmbio na Inglaterra, o studio era 24h, o que promovia uma dinâmica muito melhor entre os alunos, uma atmosfera de maior cooperação. E cada um podia fazer seu próprio horário. Nos obrigar a sair da faculdade de modo algum nos faz parar de trabalhar tanto. É muita coisa para fazer e nós não somos muito bem conhecidos em nos organizar no tempo a fim de fazer um pouco a cada dia. Pelo que eu vi até hoje, parece estar no sangue do estudante de arquitetura fazer tudo sob pressão, mais perto das deadlines; e geralmente nas madrugadas (o tempo que nos resta entre aulas e estágio). E fazer tudo sozinho acaba nos enlouquecendo. Estar num ambiente em que todos estão basicamente na mesma situação ajuda muito a deixar a atmosfera de estresse mais leve. [Camila Rodriguez]

Prazos apertados nas disciplinas + estágio = noites em claro
Bom, é complicado não "virar noites" com entregas de projetos completos com prazo de três semanas (pasmem!). Não podemos esquecer que a vida acadêmica de um estudante de Arquitetura e Urbanismo não se baseia - apenas - na disciplina de projeto. Há também grande energia aplicada em outras diversas matérias. Agora, é sabido que as longas jornadas de trabalho, em qualquer área, não são boas para saúde mental e física. Todo o excesso nos faz mal, não há dúvidas... Porém fechar os ateliês não é a solução mais eficaz. Em alguns casos, pode ser que resolva sim, mas na maioria das vezes, voltamos pra casa e continuamos o processo e acabamos por "perder" o tempo de deslocamento. Afinal, a entrega está aí! A decisão de prolongar o dia na noite, no final das contas, é do estudante.
Sendo assim, é como uma simples equação de (prazos apertados x diversas matérias) + estágio = noites mais curtas. [Anônimo]

VIRAR NOITES É INEVITÁVEL

Não se trata de uma escolha, é simplesmente necessário:
Não é uma questão de procrastinação. Estudo arquitetura na Unicamp, e o curso é noturno, mas a dedicação é integral, e se não for, você será simplesmente um aluno medíocre, com notas baixas. Ninguém vira a noite porque quer, mas porque precisa. Principalmente quem trabalha. A Universidade dá muitos trabalhos, os quais exigem tempo e dedicação. Não acho que isso seja ruim, muito pelo contrário. Mas virar noites acaba sendo inevitável. [Ane Gomes]

Cabe ao curso alertar os estudantes sobre os riscos das longas jornadas:
Acredito que não cabe a universidade regular as jornadas de trabalho dos alunos, mas cabe a ela alertar sobre os riscos do esforço em excesso. Virar noites projetando sem dúvida não faz bem à saúde, mas em casos de emergência essa é a única alternativa. [Leonardo Santos]
Se fechar as salas das universidades, os alunos virarão a noite em outro lugar, não tem como evitar isso. [Amanda]

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Não somos os únicos. Imagem via Flickr / Usuário Simon Law                                                          Não somos os únicos. Imagem via Flickr / Usuário Simon Law

DICAS PARA EVITAR AS NOITES EM CLARO

Assuma o controle e otimize seu tempo:
O mundo procura nos transformar em máquinas, sempre. Acho que tentar controlar e otimizar o tempo é sempre a melhor saída para uns, embora não possa generalizar. Sou da opinião que tentar manter uma vida útil saudável, torna tudo mais produtivo. [Simara]

Organização e administração podem mudar sua vida:
Atualmente estou morando nos EUA e aprendi muito com a cultura deles no quesito organização. Todos os trabalhos são organizados semanalmente, então em todas as aulas temos que entregar algum resultado sobre os avanços dos trabalhos. Resultado: o máximo que já fiquei fazendo trabalho aqui foi ate 12:00, enquanto no Brasil, varava noite praticamente uma vez por semana. Ou seja, organização e administração podem mudar muito a sua vida. [Beatriz]

Organização desde o início:
Último ano de Arquitetura e nunca virei uma noite, todas as minhas notas de projetos são 9.0 ou mais. Não estou tirando onda, só quero passar aqui que organizando o seu tempo desde o primeiro momento que o projeto se inicia, não há correria. E ah, eu trabalho desde o primeiro ano também, namoro nos finais de semana e faço academia.. ou seja.. estudante de arquitetura é um povo chatíssimo! [Julian]

UM POUCO DE FILOSOFIA

Bem estar pessoal antes de tudo:
Como li hoje no blog de um professor (de filosofia, não de projeto). Existe um livro ''o direito à preguiça'' de um cara chamado Paul Lafargue para respaldar a minha opinião. Eu não viro noites, entrego pelas metades, mas não me esgoto, prezo muito mais pelo meu bem estar pessoal, e será assim na minha vida profissional. Não pretendo me condicionar a um estado doentio de estresse e males psicológicos por tostões ou a mera imagem questionável de aluno ''responsável''. [Eliara Sandim]
Pra mim é puro sadismo dos professores. [Paulo Modo]
Ateliê da Escola de Arquitetura da Universidade de Yale, 2008. Imagem via Ragessos / Wikipedia CC
Ateliê da Escola de Arquitetura da Universidade de Yale, 2008. Imagem via Ragessos / Wikipedia CC
Screenshot do documentário "Archiculture". Cortesia de Arbuckle Industries
Screenshot do documentário "Archiculture". Cortesia de Arbuckle Industries
Screenshot da série "How I Met Your Mother"
Screenshot da série "How I Met Your Mother"
Não somos os únicos. Imagem via Flickr / Usuário Simon Law
Não somos os únicos. Imagem via Flickr / Usuário Simon Law
 
Fonte:Romullo Baratto. "Os prós e os contras de virar noites fazendo projeto: a opinião de nossos leitores" 09 Apr 2015. ArchDaily Brasil. Acessado 10 Abr 2015.  http://www.archdaily.com.br/br/765097/os-pros-e-os-contras-de-virar-noites-fazendo-projeto-a-opiniao-de-nossos-leitores

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